terça-feira, setembro 30, 2003 |
Portugal próspero
Às vezes dou por mim a descobrir soluções para os problemas do país. A propósito do recente e fiasquento "Dia Europeu sem Carros", ocorreu-me uma maneira de, com um golpe só, catapultar o país para o pelotão da frente na corrida Europeia: o Dia sem Gajas.
A iniciativa decorreria assim: as forças policiais estabeleceriam cordões de segurança que encaminhassem as mulheres todas do país para centros comerciais e hiper-mercados, onde passariam o dia em compras, quadrilhice, invejas e restantes coisas que elas gostam de fazer quando se vêem umas com as outras. Isto provocaria um aumento brutal do consumo que, como se sabe, tem um efeito tonificante sobre a economia.
Os homens deslocar-se-iam para os seus postos de trabalho, como habitualmente. E, tal como de costume, passariam uma parte da manhã a discutir bola. Findo este período, e uma vez que não haveria gajas nas redondezas, só lhes restaria trabalhar, até porque seria necessário reforçar o orçamento familiar por forma a cobrir os gastos delas. Isto constituiria um acréscimo de produtividade assinalável, com reflexos óbvios no ritmo de crescimento económico.
À noite, quando todos regressassem a casa, os homens estariam com uma rebarba tão grande que saltariam sem hesitações para a espinha das respectivas, fossem elas cinzentos coirões, volumosas matronas ou frescas moças. Escusado será dizer que rapidamente se inverteria a tendência para o envelhecimento da população por força deste frenesim concepcional.
Aí está como revolucionar o país com custos mínimos. Seguro que esta medida me fará eleger nas próximas eleições legislativas, aviso desde já que não pretendo oferecer cargos públicos a ninguém. Estes serão antes vendidos a preços módicos e proporcionais às regalias que ofereçam. As receitas reverterão para o erário público, depois de descontada uma pequena Taxa de Criatividade, a ser aplicada na Fundação Belo Menir. Eu depois forneço o IBAM da conta nas Ilhas Caimão.
Às vezes dou por mim a descobrir soluções para os problemas do país. A propósito do recente e fiasquento "Dia Europeu sem Carros", ocorreu-me uma maneira de, com um golpe só, catapultar o país para o pelotão da frente na corrida Europeia: o Dia sem Gajas.
A iniciativa decorreria assim: as forças policiais estabeleceriam cordões de segurança que encaminhassem as mulheres todas do país para centros comerciais e hiper-mercados, onde passariam o dia em compras, quadrilhice, invejas e restantes coisas que elas gostam de fazer quando se vêem umas com as outras. Isto provocaria um aumento brutal do consumo que, como se sabe, tem um efeito tonificante sobre a economia.
Os homens deslocar-se-iam para os seus postos de trabalho, como habitualmente. E, tal como de costume, passariam uma parte da manhã a discutir bola. Findo este período, e uma vez que não haveria gajas nas redondezas, só lhes restaria trabalhar, até porque seria necessário reforçar o orçamento familiar por forma a cobrir os gastos delas. Isto constituiria um acréscimo de produtividade assinalável, com reflexos óbvios no ritmo de crescimento económico.
À noite, quando todos regressassem a casa, os homens estariam com uma rebarba tão grande que saltariam sem hesitações para a espinha das respectivas, fossem elas cinzentos coirões, volumosas matronas ou frescas moças. Escusado será dizer que rapidamente se inverteria a tendência para o envelhecimento da população por força deste frenesim concepcional.
Aí está como revolucionar o país com custos mínimos. Seguro que esta medida me fará eleger nas próximas eleições legislativas, aviso desde já que não pretendo oferecer cargos públicos a ninguém. Estes serão antes vendidos a preços módicos e proporcionais às regalias que ofereçam. As receitas reverterão para o erário público, depois de descontada uma pequena Taxa de Criatividade, a ser aplicada na Fundação Belo Menir. Eu depois forneço o IBAM da conta nas Ilhas Caimão.
segunda-feira, setembro 29, 2003 |
Some guys have all the luck
O Robert Palmer morreu. Aos 54 anos, com um ataque cardíaco, em Paris. Foi um dos reis da "soul" branca (eu sei que a definição é discutível, mas quero que se foda) e daquele rock orelhudo dos anos 80. Andava sempre cercado de gajas boas e ganhava dinheiro a cantar coisas de uma profundidade extraordinária: "Doctor, Doctor, give me the news/I've got a bad case of loving you"; "Might as well face it/You're addicted to love"; "You're simply irresistible".
E morreu. Pronto. Não tive oportunidade de falar com ele antes do último suspiro, mas suspeito que não se deve ter arrependido da vida excessiva e debochada que, consta, viveu. Com ele, morre também um certo modelo de "estrela" rock: tinha sucesso porque tinha; foi um dos pioneiros nessa nobre arte de fazer videoclips com muitas gajas muito boas; não passava horas em ginásios e cantava o que lhe apetecia com uma voz que era dele e não uma milagre das técnicas de edição digital.
Robert Palmer pode não ter sido um dos gajos que têm a sorte toda. Mas, parece-me, morreu como viveu: addicted to love e algumas outras coisas...
O Robert Palmer morreu. Aos 54 anos, com um ataque cardíaco, em Paris. Foi um dos reis da "soul" branca (eu sei que a definição é discutível, mas quero que se foda) e daquele rock orelhudo dos anos 80. Andava sempre cercado de gajas boas e ganhava dinheiro a cantar coisas de uma profundidade extraordinária: "Doctor, Doctor, give me the news/I've got a bad case of loving you"; "Might as well face it/You're addicted to love"; "You're simply irresistible".
E morreu. Pronto. Não tive oportunidade de falar com ele antes do último suspiro, mas suspeito que não se deve ter arrependido da vida excessiva e debochada que, consta, viveu. Com ele, morre também um certo modelo de "estrela" rock: tinha sucesso porque tinha; foi um dos pioneiros nessa nobre arte de fazer videoclips com muitas gajas muito boas; não passava horas em ginásios e cantava o que lhe apetecia com uma voz que era dele e não uma milagre das técnicas de edição digital.
Robert Palmer pode não ter sido um dos gajos que têm a sorte toda. Mas, parece-me, morreu como viveu: addicted to love e algumas outras coisas...
De orelhas em pé - III
Via TSF me chega a notícia da condenação, por parte do Conselho Jurisdicional (CJ) da Ordem dos Enfermeiros, de duas enfermeiras envolvidas num caso de negligência grave. Um rapaz foi internado em Coimbra para uma operação rotineira a um quisto no pescoço e horas depois da operação morreu por asfixia causado por um edema (inchaço, pro povo) na garganta, para o qual terá tentado alertar as enfermeiras sem sucesso; aparentemente elas não ligaram, ou atribuíram-no a "fita" do paciente.
A coisa ainda toma contornos mais bizarros: o dito CJ reconhece diversas circunstâncias atenuantes às enfermeiras - campaínhas que não funcionavam, organização do espaço que coloca a sala das enfermeiras longe dos pacientes, etc.
E, no entanto, as enfermeiras foram punidas com a mais pesada sanção admitida pela dita ordem - suspensão da prática profissional por período de até 2 anos. Isto é, todas as atenuantes reconhecidas às enfermeiras não chegam para as ilibar da grosseira negligência de que o CJ as considerou culpadas.
Fiquei em choque, claro. Mas o que é isto?, uma ordem que não se fecha em hermetismos corporativos para proteger até à insanidade um dos seus? Que não aproveita as deficientes condições em que têm de actuar os nossos profissionais de Saúde para sacudir a culpa para cima do Governo? Que entende serem o rigor e a exemplaridade o caminho a seguir para dignificar uma classe profissional?
sexta-feira, setembro 26, 2003 |
Eutanásia |
Eis um assunto delicado e incontornável nestes últimos dias. Não pretendo discutir, aqui, os prós e contras de uma legalização global da eutanásia, apenas tentar compreender que circunstâncias levam à necessidade de cometer tal acto. Optar entre "viver e morrer", avizinha-se-nos tarefa fácil. Igualmente fácil, terá sido para Vincent Humbert, de apenas 21 anos, optar entre "respirar e morrer". Não foi a primeira, mas sim a última questão com a qual o rapaz se viu confrontado. Já antes, havia escrito ao presidente Chirac manifestando-lhe a sua vontade. Vincent tinha Vida, efectivamente, apenas não tinha como vivê-la.
O jovem francês, resolveu então colocar um ponto final na sua existência recorrendo, para o efeito, ao apoio de sua mãe, Marie Humbert, que lhe injectou um produto tóxico. Refira-se que Vincent ficara tetraplégico na sequência de um grave acidente de viação.
Faleceu hoje, após aquela que viria a ser a derradeira tentativa de pôr um fim à sua vida. Antes, pediu para que sua mãe não fosse julgada por tê-lo auxiliado, alegando que a atitude dela seria "a mais bela prova de amor do mundo". Efectivamente, parece-me que, dadas as circunstâncias, foi uma prova de amor - e de fogo - de enormes dimensões. Uma prova que poucos de nós - arrisco mesmo a dizer quase nenhuns - imaginamos poder vir a enfrentar um dia. Se Marie atendeu ao pedido do filho, já a lei atropelarará a sua vontade ao julgar a mãe. Não quero com isto dizer que não se deva aplicar a lei. Apenas me entristece pensar que o inimaginável sofrimento de Marie, não se quedará pela perda do seu rebento.
No fundo, acredito que Marie sabia ser impossível sacrificar a vida do filho, sem que a sua fosse também posta em causa.
Foi apenas, mais uma mãe, incapaz de negar ao filho fosse o que fosse. Até a morte, assim ele a desejasse...
Inquestionável, foi a coragem de ambos.
PERTENCER
Dizia o Mimosa, aqui em baixo: "...Coimbra é também minha!"
Talvez por não ser de Coimbra, tendo a pensar o contrário: não encaro Tomar como a minha terra mas sim como a terra de onde eu sou. Em Tomar, nada me pertence, à excepção de uma terça-parte da casa paterna em futuras (e queira Deus que bem distantes) partilhas. Sou eu que pertenço a Tomar e invade-me um orgulho estranho e difícil de explicar de cada vez que lá chego e penso que é dali que eu sou.
Durante 18 anos vivi ali todos os dias (ou quase) e pude ver uma cidade a crescer com calma, aprendi-lhe os horários, conheci-lhe cada rua, fui sendo moldado por aquele espaço. Há já 9 anos que moro em Lisboa, mas é de Tomar que eu sou - é uma condição imutável, uma segunda pele.
Não quero escrever um panfleto turístico ou exortar quem se sacrifica a ler isto para visitar aquela cidade. Só queria mesmo confessar esta existência de uma qualquer parte de mim que foi criada por Tomar. Não acho que me tenha feito melhor ou pior, apenas contribuiu para me fazer assim.
É uma parte feita dos fins de tarde com mães a passearem crianças que foram buscar à escola. Dos pequenos rituais do passeio pela Corredoura. Das escolas, dos colegas, dos amigos, dos vizinhos. Dos cafés e dos bares. Das Bandas Filarmónicas no Coreto. Das visitas ao Castelo e Convento. Das bibliotecas. Dos jogos de hóquei em patins. Da Mata dos Sete Montes. Das aulas perdidas para ficar à conversa. Do Bolo de Bolacha do Snack-Bar "Cristina". Da Feira de Santa Iria. Da montra da loja de brinquedos. Da minha rua. Da minha casa.
Não sei se Tomar precisa ou não de mega-concertos, mas sei que eu preciso dela, de saber que está ali e que vai guardando a minha história.
Dizia o Mimosa, aqui em baixo: "...Coimbra é também minha!"
Talvez por não ser de Coimbra, tendo a pensar o contrário: não encaro Tomar como a minha terra mas sim como a terra de onde eu sou. Em Tomar, nada me pertence, à excepção de uma terça-parte da casa paterna em futuras (e queira Deus que bem distantes) partilhas. Sou eu que pertenço a Tomar e invade-me um orgulho estranho e difícil de explicar de cada vez que lá chego e penso que é dali que eu sou.
Durante 18 anos vivi ali todos os dias (ou quase) e pude ver uma cidade a crescer com calma, aprendi-lhe os horários, conheci-lhe cada rua, fui sendo moldado por aquele espaço. Há já 9 anos que moro em Lisboa, mas é de Tomar que eu sou - é uma condição imutável, uma segunda pele.
Não quero escrever um panfleto turístico ou exortar quem se sacrifica a ler isto para visitar aquela cidade. Só queria mesmo confessar esta existência de uma qualquer parte de mim que foi criada por Tomar. Não acho que me tenha feito melhor ou pior, apenas contribuiu para me fazer assim.
É uma parte feita dos fins de tarde com mães a passearem crianças que foram buscar à escola. Dos pequenos rituais do passeio pela Corredoura. Das escolas, dos colegas, dos amigos, dos vizinhos. Dos cafés e dos bares. Das Bandas Filarmónicas no Coreto. Das visitas ao Castelo e Convento. Das bibliotecas. Dos jogos de hóquei em patins. Da Mata dos Sete Montes. Das aulas perdidas para ficar à conversa. Do Bolo de Bolacha do Snack-Bar "Cristina". Da Feira de Santa Iria. Da montra da loja de brinquedos. Da minha rua. Da minha casa.
Não sei se Tomar precisa ou não de mega-concertos, mas sei que eu preciso dela, de saber que está ali e que vai guardando a minha história.
De orelhas em pé - II
A SIC passou uma reportagem sobre o helicóptero alugado para combate aos incêndios pelos Bombeiros de Lamego e o seu aparente (mau) uso em passeios turísticos. O Ministro da Administração Interna demitiu o Coordenador da Protecção Civil e Bombeiros de Viseu e exonerou o Comandante dos Bombeiros de Lamego em resposta.
Mas será que ninguém dá umas caldaças nesta gente? Há uns anos tínhamos o homem que espumava cola Cisne a recusar-se demitir Secretários de Estado que cometiam gaffes imperdoáveis para não "perder a face". Agora temos um que afasta sumariamente detentores de cargos públicos com base em notícias televisivas. Que se lixem os procedimentos disciplinares, a presunção de inocência e o direito de defesa: chuto no cu e 'tá a andar de mota. É claro que não é ao bolso do Ministro que vão, se tudo não passar de um mal-entendido ou de um exagero da SIC e os agora afastados exigirem indemnizações por tudo e mais umas botas...
Pode, porém, acontecer outra coisa. O ministro já sabia da história e tem prova suficiente para garantir a veracidade da reportagem e a legitimidade da acção. Pergunto-me, então: estava à espera de quê, sr. Ministro?
quinta-feira, setembro 25, 2003 |
De orelhas em pé - I
Fresquinho da TSF: Tribunal Constitucional deu razão ao recurso interposto por 3 dos arguidos do caso Casa Pia, considerando que houve atropelo dos direitos constitucionais deles por parte do Juiz Rui Teixeira. Transcrevo, de cabeça, a entrevista da jornalista ao advogado do embaixador Ritto:
- Senhor Doutor, acha que se pode dizer que o juiz Rui Teixeira errou?
- Claro que se pode dizer. É isso mesmo que este acordão diz. O juiz, certamente na melhor das intenções, violou alguns direitos constitucionais dos arguidos.
- E acha que há responsabilidades a assumir?
- Não, não acho (...) *clic*
Desliguei o rádio. Ontem o Juiz era bestial, hoje já é besta. É o Futebol a chegar à Justiça. Já sabíamos da chegada do Futebol à política (Loureiros, Boavista, frigoríficos, batatas, need I say more?), já conhecíamos a chegada da Política à Justiça (os votos dos colectivos nos Supremos Tribunais não são contados em "1, 2, 3..." mas sim em "PSD, PS, PS, PSD, PP...").
Ficamos ansiosamente à espera que, depois disto, seja a hora da Justiça chegar à Política e ao Futebol.
O MEDO DA FOME
Pobrete mas alegrete; remediado; pobrezinho mas honrado - este substrato mental do nosso povo ainda persiste, apesar do sobre-endividamento dos agregados familiares. Aliado a este traço de um pouco científico "carácter nacional" vem o medo de morrer à fome.
Há algumas frases sintomáticas deste sentir português: "É preciso é muito"; "Antes faça mal que se estrague"; "Quem não é para comer não é para trabalhar"; "Vinho e pão antes no estômago que no chão"; "Tão bom como a trancada só mesmo a feijoada" ou ainda o célebre dito de espírito "Com um cozido à portuguesa é que a coisa fica tesa".
De pouco valem os avisos dos cardiologistas ou nutricionistas: o medo da fome é tão arreigado que muitos portugueses estão pré-programados para se auto-destruírem, de refeição em refeição até ao traque final. E isto é bom, porque, na ressaca do fim do Império, são esses os portugueses que têm uma ideia concreta de um projecto nacional: depois de descobertos os limites do planeta, parta-se à descoberta dos limites das paredes do estômago.
Em que outro país haverá tanta apetência por esses monstros sagrados da pastelaria fina como as Bolas de Berlim, as Tranças, os Caracóis ou mesmo as Patas de Veado?
Em que outro país se pode encontrar, em banquetes pós-modernos que já põem de lado as cascatas de camarão, essa verdadeira pérola que é um ganso esculpido em torresmo?
Em que outro país se privilegia um prato típico que consiste em enfiar para dentro de uma panela tudo aquilo que houver à mão de legumes e carnes frescas e enchidos (com um arrozinho de lado, não vá o cozido cair-nos na fraqueza)?
E como é que se permite que este desígnio pátrio vá coexistindo com a moda das saladinhas e das quiches?!
Na muito avisada formulação de uma amiga minha:
Quiches doces ou salgadas
São para "tias" desasadas
Eu por mim cá me besunto
Com uma sande de
Pobrete mas alegrete; remediado; pobrezinho mas honrado - este substrato mental do nosso povo ainda persiste, apesar do sobre-endividamento dos agregados familiares. Aliado a este traço de um pouco científico "carácter nacional" vem o medo de morrer à fome.
Há algumas frases sintomáticas deste sentir português: "É preciso é muito"; "Antes faça mal que se estrague"; "Quem não é para comer não é para trabalhar"; "Vinho e pão antes no estômago que no chão"; "Tão bom como a trancada só mesmo a feijoada" ou ainda o célebre dito de espírito "Com um cozido à portuguesa é que a coisa fica tesa".
De pouco valem os avisos dos cardiologistas ou nutricionistas: o medo da fome é tão arreigado que muitos portugueses estão pré-programados para se auto-destruírem, de refeição em refeição até ao traque final. E isto é bom, porque, na ressaca do fim do Império, são esses os portugueses que têm uma ideia concreta de um projecto nacional: depois de descobertos os limites do planeta, parta-se à descoberta dos limites das paredes do estômago.
Em que outro país haverá tanta apetência por esses monstros sagrados da pastelaria fina como as Bolas de Berlim, as Tranças, os Caracóis ou mesmo as Patas de Veado?
Em que outro país se pode encontrar, em banquetes pós-modernos que já põem de lado as cascatas de camarão, essa verdadeira pérola que é um ganso esculpido em torresmo?
Em que outro país se privilegia um prato típico que consiste em enfiar para dentro de uma panela tudo aquilo que houver à mão de legumes e carnes frescas e enchidos (com um arrozinho de lado, não vá o cozido cair-nos na fraqueza)?
E como é que se permite que este desígnio pátrio vá coexistindo com a moda das saladinhas e das quiches?!
Na muito avisada formulação de uma amiga minha:
Quiches doces ou salgadas
São para "tias" desasadas
Eu por mim cá me besunto
Com uma sande de
Coiratos
Graças a Deus, sou bronco. Não me demoro a reflectir sobre a natureza das relações, não sigo as acesas discussões sobre ética ou estética e, como tal, não tomo partido achegando comentários inteligentes, não perfilho ideologia apresentável ou sequer reconhecível, nem tenho sistema de pensamento. Aliás, agora que penso nisso, nem sequer tenho muito pensamento (parece paradoxal, eu sei, mas com esforço vocês percebem). Não posso, por essa razão, ser considerado um intelectual por ninguém que preze um mínimo de honestidade.
O que é bom. Não ser intelectual liberta-me para imensas coisas divertidas e permite-me perseguir um objectivo tangível para todo o ser humano, o da satisfação. Se fosse um intelectual, ver-me-ia obrigado a sofrer na busca dessa coisa vaga que é a felicidade. Eu (que sou bronco, recorde-se) definiria a felicidade como um estado de satisfação continuada. Ora, qualquer coisa continuada é uma chatice de morte, coisa bem à medida dos intelectuais que gostam de se chatear de morte.
Uma das coisas que me dá satisfação é ver (bom) futebol. Um bom jogo de futebol, empolgante e animado, com alternância no marcador, golos, movimento, empenho e resultado imprevisível, é coisa quase orgásmica. A tensão sobe em contínuo até ao desfecho final, que é explosivo quando a equipa pela qual torcemos ganha. E mesmo que perca ou empate, se foi no final de um bom jogo de futebol, saímos sempre eufóricos. É no fundo como dar um grande pirafo e, chegado o fim, sentirmo-nos realizados ou insatisfeitos. São considerações de ordem estética, mas o papinho cheio já ninguém nos tira.
A analogia com a queca não acaba aqui. Tal como na dita, um jogo de futebol acaba com o último apito do árbitro e pronto. Podemos tirar umas fotos e fazer uns vídeos, usá-los para rememorar e evocar esse momento mais tarde, mas acabou ali. Não há consequência no disfrute de um jogo de futebol, tal como não a há nas quecas. Valem por si, pelo durante. A seguir outros/as haverá, mas aquela, única e irrepetível, encerra-se a si mesma.
Aqueles que não conseguem viver bem consigo próprios gostam de discutir os jogos de futebol, e desses não rezará esta história. É gente deprimente, que julga ser possível convencer o parceiro de esgrima que "o-meu-afecto-é-melhor-que-o-teu-afecto". Interessam-me, sobretudo, os intelectuais e a sua relação com o futebol. A forma como precisam de contextualizar o fenómeno desportivo, de enquadrar o modelo desportivo - Escola de Virtudes - na actual sociedade, de escalpelizar as relações promíscuas do futebol com a política, de reflectir sobre a forma como a televisão acabou por matar o futebol-empolgamento, criando o monstro do futebol-negócio, etc., etc., etc. Ad nausea.
Felizmente, sou bronco. Posso dizer de peito aberto que gosto de bola sem ter que explicar nada e deleitar-me com as fintas do Quaresma ou do Cristiano Ronaldo ou do Deco ou do Figo, ad infinitum. Ou, pelo menos, ad próximo fim-de-semana.
Numa coisa, porém, eu e os intelectuais estamos de acordo. Mas que raio de graça é que têm as sandes de coiratos?
Graças a Deus, sou bronco. Não me demoro a reflectir sobre a natureza das relações, não sigo as acesas discussões sobre ética ou estética e, como tal, não tomo partido achegando comentários inteligentes, não perfilho ideologia apresentável ou sequer reconhecível, nem tenho sistema de pensamento. Aliás, agora que penso nisso, nem sequer tenho muito pensamento (parece paradoxal, eu sei, mas com esforço vocês percebem). Não posso, por essa razão, ser considerado um intelectual por ninguém que preze um mínimo de honestidade.
O que é bom. Não ser intelectual liberta-me para imensas coisas divertidas e permite-me perseguir um objectivo tangível para todo o ser humano, o da satisfação. Se fosse um intelectual, ver-me-ia obrigado a sofrer na busca dessa coisa vaga que é a felicidade. Eu (que sou bronco, recorde-se) definiria a felicidade como um estado de satisfação continuada. Ora, qualquer coisa continuada é uma chatice de morte, coisa bem à medida dos intelectuais que gostam de se chatear de morte.
Uma das coisas que me dá satisfação é ver (bom) futebol. Um bom jogo de futebol, empolgante e animado, com alternância no marcador, golos, movimento, empenho e resultado imprevisível, é coisa quase orgásmica. A tensão sobe em contínuo até ao desfecho final, que é explosivo quando a equipa pela qual torcemos ganha. E mesmo que perca ou empate, se foi no final de um bom jogo de futebol, saímos sempre eufóricos. É no fundo como dar um grande pirafo e, chegado o fim, sentirmo-nos realizados ou insatisfeitos. São considerações de ordem estética, mas o papinho cheio já ninguém nos tira.
A analogia com a queca não acaba aqui. Tal como na dita, um jogo de futebol acaba com o último apito do árbitro e pronto. Podemos tirar umas fotos e fazer uns vídeos, usá-los para rememorar e evocar esse momento mais tarde, mas acabou ali. Não há consequência no disfrute de um jogo de futebol, tal como não a há nas quecas. Valem por si, pelo durante. A seguir outros/as haverá, mas aquela, única e irrepetível, encerra-se a si mesma.
Aqueles que não conseguem viver bem consigo próprios gostam de discutir os jogos de futebol, e desses não rezará esta história. É gente deprimente, que julga ser possível convencer o parceiro de esgrima que "o-meu-afecto-é-melhor-que-o-teu-afecto". Interessam-me, sobretudo, os intelectuais e a sua relação com o futebol. A forma como precisam de contextualizar o fenómeno desportivo, de enquadrar o modelo desportivo - Escola de Virtudes - na actual sociedade, de escalpelizar as relações promíscuas do futebol com a política, de reflectir sobre a forma como a televisão acabou por matar o futebol-empolgamento, criando o monstro do futebol-negócio, etc., etc., etc. Ad nausea.
Felizmente, sou bronco. Posso dizer de peito aberto que gosto de bola sem ter que explicar nada e deleitar-me com as fintas do Quaresma ou do Cristiano Ronaldo ou do Deco ou do Figo, ad infinitum. Ou, pelo menos, ad próximo fim-de-semana.
Numa coisa, porém, eu e os intelectuais estamos de acordo. Mas que raio de graça é que têm as sandes de coiratos?
quarta-feira, setembro 24, 2003 |
Ajoelhou, vai ter que rezar.
Notícia do "Público" de hoje: "Vaticano decreta 37 actos proibidos nas missas"
Um deles é a da participação de mulheres como auxiliares nas celebrações litúrgicas. Diz a notícia do Público (e as aspas são deles, não minhas...), que tal participação é inadmissível a menos que exista uma "razão pastoral", sublinhando que os sacerdotes "nunca se devem sentir obrigados a procurar raparigas para esta função". Ficam assim salvaguardadas as razões pastorais que assistam o procurar raparigas para outras funções. É bom ver que a igreja acompanha os tempos.
Para evitar conflitos de interesses com os empresários da área do lazer, são proibidas palmas e danças durante as missas. Os irmãos Rocha e João Loureiro já se manifestaram satisfeitos com esta decisão, que corresponde a uma reclamação antiga por parte dos empresários da noite; a quantidade de igrejas onde se dançava estava a retirar clientela aos bares e discotecas. A Câmara Municipal de Coimbra também se manifestou agradada com a decisão, já que prevê uma maior disponibilidade dos fiéis para aplaudir os Rolling Stones.
Notícia do "Público" de hoje: "Vaticano decreta 37 actos proibidos nas missas"
Um deles é a da participação de mulheres como auxiliares nas celebrações litúrgicas. Diz a notícia do Público (e as aspas são deles, não minhas...), que tal participação é inadmissível a menos que exista uma "razão pastoral", sublinhando que os sacerdotes "nunca se devem sentir obrigados a procurar raparigas para esta função". Ficam assim salvaguardadas as razões pastorais que assistam o procurar raparigas para outras funções. É bom ver que a igreja acompanha os tempos.
Para evitar conflitos de interesses com os empresários da área do lazer, são proibidas palmas e danças durante as missas. Os irmãos Rocha e João Loureiro já se manifestaram satisfeitos com esta decisão, que corresponde a uma reclamação antiga por parte dos empresários da noite; a quantidade de igrejas onde se dançava estava a retirar clientela aos bares e discotecas. A Câmara Municipal de Coimbra também se manifestou agradada com a decisão, já que prevê uma maior disponibilidade dos fiéis para aplaudir os Rolling Stones.
terça-feira, setembro 23, 2003 |
OUTONO
Já chegou. Vai-se insinuando, como uma gaja que se oferece para nos passar a roupa a ferro e acaba a viver connosco. Vai roubando umas horas ao sol, vai despindo umas árvores, vai atirando umas crianças para a escola. E assim como espalha pelo chão as folhas mortas, aniquila as ilusões e os fogos-fátuos dos amores de Verão.
O Outono, e não a Primavera, é um hino à necessidade de recomeço. É também um poderoso murro nas ventas, que nos ensina que muito pouco está garantido. Sinto-me a entardecer e a ganhar idade de cada vez que dou por um Outono que chega - e sinto-me sempre feliz com isso.
Já chegou. Vai-se insinuando, como uma gaja que se oferece para nos passar a roupa a ferro e acaba a viver connosco. Vai roubando umas horas ao sol, vai despindo umas árvores, vai atirando umas crianças para a escola. E assim como espalha pelo chão as folhas mortas, aniquila as ilusões e os fogos-fátuos dos amores de Verão.
O Outono, e não a Primavera, é um hino à necessidade de recomeço. É também um poderoso murro nas ventas, que nos ensina que muito pouco está garantido. Sinto-me a entardecer e a ganhar idade de cada vez que dou por um Outono que chega - e sinto-me sempre feliz com isso.
segunda-feira, setembro 22, 2003 |
Um Novo Mundo - II
Há um protelar inadmissível na adaptação dos léxicos aos tempos modernos. Os avanços da tecnologia em todas as frentes criaram novas situações cuja definição esbarra em obstáculos linguísticos inaceitáveis. Deixo aqui o meu contributo, na forma de três conceitos e sete neologismos, e informo antecipadamente o Dr. Malaca Casteleiro que estarei disponível para negociar os royalties deste meu trabalho, aquando da próxima edição do dicionário da língua portuguesa.
I - As novas formas do acto sexual
Esgotadas e esticadas até ao limite todas as vias convencionais de satisfação sexual, buscou o homem o nirvana através da tecnologia e acabou por estabelecer mais alguns objectos de estudo sexológico:
- o sexo arial ou teclatio, conduzido por um par de seres humanos fisicamente desligados, que conduzem um ritual de estimulação mútua através da sugestão induzida pela escrita num teclado.
- o sexo auricular ou otolingus, semelhante ao anterior, mas envolvendo a voz transmitida por aparelhos de telecomunicação, vulgarmente telefones.
- o protossexo taquigráfico, que consiste na substituição de satisfação sexual por trocas rápidas de mensagens vazias de conteúdo.
II - As novas patologias comportamentais
- aginose, perturbação do comportamento masculino provocada pela ausência prolongada de contacto físico com fêmeas da mesma espécie.
- sobrandria, tendência obsessiva para se fazer rodear do maior número possível de homens.
III - Os novos desvios à norma sexual
- iconofilia, atracção sexual por representações planas (imagens estáticas ou registos videográficos) de homens ou mulheres.
- silicofilia, desvio comportamental que consiste na substituição de objectos de atracção humanos por tudo o que envolva computadores.
- detritifilia, tendência doentia para sublimar a ausência de vida própria na partilha de relações falhadas com outros detritífilos.
IV - As novas sexualidades
- ambissexual, o que tem, simultaneamente, comportamentos, tendências e atracção por ambos os sexos.
- metassexual, o que julga estar para além do sexo, normalmente por força da total incapacidade de se satisfazer ou de satisfazer terceiros.
Há um protelar inadmissível na adaptação dos léxicos aos tempos modernos. Os avanços da tecnologia em todas as frentes criaram novas situações cuja definição esbarra em obstáculos linguísticos inaceitáveis. Deixo aqui o meu contributo, na forma de três conceitos e sete neologismos, e informo antecipadamente o Dr. Malaca Casteleiro que estarei disponível para negociar os royalties deste meu trabalho, aquando da próxima edição do dicionário da língua portuguesa.
I - As novas formas do acto sexual
Esgotadas e esticadas até ao limite todas as vias convencionais de satisfação sexual, buscou o homem o nirvana através da tecnologia e acabou por estabelecer mais alguns objectos de estudo sexológico:
- o sexo arial ou teclatio, conduzido por um par de seres humanos fisicamente desligados, que conduzem um ritual de estimulação mútua através da sugestão induzida pela escrita num teclado.
- o sexo auricular ou otolingus, semelhante ao anterior, mas envolvendo a voz transmitida por aparelhos de telecomunicação, vulgarmente telefones.
- o protossexo taquigráfico, que consiste na substituição de satisfação sexual por trocas rápidas de mensagens vazias de conteúdo.
II - As novas patologias comportamentais
- aginose, perturbação do comportamento masculino provocada pela ausência prolongada de contacto físico com fêmeas da mesma espécie.
- sobrandria, tendência obsessiva para se fazer rodear do maior número possível de homens.
III - Os novos desvios à norma sexual
- iconofilia, atracção sexual por representações planas (imagens estáticas ou registos videográficos) de homens ou mulheres.
- silicofilia, desvio comportamental que consiste na substituição de objectos de atracção humanos por tudo o que envolva computadores.
- detritifilia, tendência doentia para sublimar a ausência de vida própria na partilha de relações falhadas com outros detritífilos.
IV - As novas sexualidades
- ambissexual, o que tem, simultaneamente, comportamentos, tendências e atracção por ambos os sexos.
- metassexual, o que julga estar para além do sexo, normalmente por força da total incapacidade de se satisfazer ou de satisfazer terceiros.
UMA CASINHA NO CAMPO
Por mais voltas que dê à cabeça, não consigo perceber o fascínio que muita gente tem por uma segunda habitação "no campo". Ao fim-de-semana, é vê-los partir - ou chegar, dependendo de onde se encontrem - carregados de caixas de comida, trouxas de roupa, produtos de limpeza, malas térmicas e embalagens de Dystron Toalhetes (fora de casa...). Tudo isto para se irem aborrecer nuns casinhotos infectos, com duas janelitas miseráveis, de onde vêem "o campo".
A maioria das "casas de campo" são feitas para que quem lá vive se proteja desse mesmo "campo" - dos rigores do clima, de predadores de outros tempos, de vizinhos sociopatas com licença de porte de arma... Tais casas, à semelhança de quase todas as outras, são feitas para as pessoas se esconderem e não para disfrutarem do ambiente circundante.
A ideia do pecado ajuda a explicar essa circunstância. Numa casa, isolado do resto do mundo, o Homem pode pecar: pode ser um fornicador guloso e invejoso, desrespeitador da mulher do próximo, sodomita, avaro e irascível. Numa casa, uma pessoa pode-se esconder e pode ser tudo aquilo que não quer mostrar.
Expliquem-me, então, qual o valor acrescentado de ir pecar para "o campo" em casas que lhe viram as costas e nos isolam em paredes? Porque é que as pessoas que durante a semana se escondem nos seus apertados T-qualquer-coisa procuram a libertação e a tranquilidade escondendo-se no campo?
Rumem ao "campo", sim, mas para o viverem - sem paredes. Os montes alentejanos são "engraçadinhos", mas fará sentido ir para uma casa em que, quando se quer ver, ouvir ou cheirar o"campo", se tem que vir à rua?
Para mim, o campo faria sentido com uma casa assim:
Farnsworth House, de Mies van der Rohe
E não, este post não me foi encomendado pelo lobby vidreiro da Marinha Grande.
Por mais voltas que dê à cabeça, não consigo perceber o fascínio que muita gente tem por uma segunda habitação "no campo". Ao fim-de-semana, é vê-los partir - ou chegar, dependendo de onde se encontrem - carregados de caixas de comida, trouxas de roupa, produtos de limpeza, malas térmicas e embalagens de Dystron Toalhetes (fora de casa...). Tudo isto para se irem aborrecer nuns casinhotos infectos, com duas janelitas miseráveis, de onde vêem "o campo".
A maioria das "casas de campo" são feitas para que quem lá vive se proteja desse mesmo "campo" - dos rigores do clima, de predadores de outros tempos, de vizinhos sociopatas com licença de porte de arma... Tais casas, à semelhança de quase todas as outras, são feitas para as pessoas se esconderem e não para disfrutarem do ambiente circundante.
A ideia do pecado ajuda a explicar essa circunstância. Numa casa, isolado do resto do mundo, o Homem pode pecar: pode ser um fornicador guloso e invejoso, desrespeitador da mulher do próximo, sodomita, avaro e irascível. Numa casa, uma pessoa pode-se esconder e pode ser tudo aquilo que não quer mostrar.
Expliquem-me, então, qual o valor acrescentado de ir pecar para "o campo" em casas que lhe viram as costas e nos isolam em paredes? Porque é que as pessoas que durante a semana se escondem nos seus apertados T-qualquer-coisa procuram a libertação e a tranquilidade escondendo-se no campo?
Rumem ao "campo", sim, mas para o viverem - sem paredes. Os montes alentejanos são "engraçadinhos", mas fará sentido ir para uma casa em que, quando se quer ver, ouvir ou cheirar o"campo", se tem que vir à rua?
Para mim, o campo faria sentido com uma casa assim:
Farnsworth House, de Mies van der Rohe
E não, este post não me foi encomendado pelo lobby vidreiro da Marinha Grande.
E se um dia destes um de nós não aparecesse mais?
Um dia, talvez numa energúmena segunda-feira, dávamos conta que o Vareta deixava de aparecer. Imagino os comentários:
- Andou a copular no fim-de-semana e agora descansa, abençoados FP.
- Foi a Tomar tomar e a tomar por Tomar ficou.
Mas, com o prolongamento da ausência viria a angústia. Nunca iríamos saber a que Ministério pertencia. E qual seria a sua categoria? Será que foi despromovido para acessor de algum Ministro? Para sempre na ignorância, na saudade por quem nunca vimos.
Dou comigo a pensar nos amigos do blog. Não por falta de outros, que os tenho, poucos mas bons, alguns há mais de trinta anos, mas por alguma razão que me escapa ao fraco entendimento que possuo por estes mistérios virtuais.
Um dia destes, por acaso até sei que foi no dia em que as aulas começaram, fui jantar a um restaurante no Vasco da Gama. E porque o Zeca se tinha estado a lamentar por ter deixado a Princesa baixinha dele na escolinha pela primeira vez, dei comigo a observar um casal que jantava com a filhota de mochila às costas, e a pensar que podia muito bem ser o meu amigo, bloguista.
Ontem, instalada na sala com a família, acompanhei o jogo do Glorioso-Porto. E não é que me enfureci muito menos, com as sarrafadas dos nortenhos, do que é meu tradicional costume? E tudo porquê? Pela mesma razão que não posso deixar de ver um bebé sem deixar de pensar no do meu amigo Zezinho. Será menino ou menina?
Ainda hoje ouvi uma notícia sobre um ante-projecto de um circuito para bicicletas ao longo do Mondego, de Coimbra à Figueira da Foz. Eu moro em Lisboa, perto da Baixa. Rua sobe, colina desce. Demoro duas horas a acabar de acordar de manhã, as notícias ficam todas num limbo até as voltar a ouvir a horas decentes. Esta fixei-a, obviamente, porque imaginei o meu amigo Mimoso a pedalar para o atelier do padrinho, com uma quantidade daqueles tubos que os arquitontos usam para guardarem as suas criações, ao ombro.
Será isto preocupante?
Um dia, talvez numa energúmena segunda-feira, dávamos conta que o Vareta deixava de aparecer. Imagino os comentários:
- Andou a copular no fim-de-semana e agora descansa, abençoados FP.
- Foi a Tomar tomar e a tomar por Tomar ficou.
Mas, com o prolongamento da ausência viria a angústia. Nunca iríamos saber a que Ministério pertencia. E qual seria a sua categoria? Será que foi despromovido para acessor de algum Ministro? Para sempre na ignorância, na saudade por quem nunca vimos.
Dou comigo a pensar nos amigos do blog. Não por falta de outros, que os tenho, poucos mas bons, alguns há mais de trinta anos, mas por alguma razão que me escapa ao fraco entendimento que possuo por estes mistérios virtuais.
Um dia destes, por acaso até sei que foi no dia em que as aulas começaram, fui jantar a um restaurante no Vasco da Gama. E porque o Zeca se tinha estado a lamentar por ter deixado a Princesa baixinha dele na escolinha pela primeira vez, dei comigo a observar um casal que jantava com a filhota de mochila às costas, e a pensar que podia muito bem ser o meu amigo, bloguista.
Ontem, instalada na sala com a família, acompanhei o jogo do Glorioso-Porto. E não é que me enfureci muito menos, com as sarrafadas dos nortenhos, do que é meu tradicional costume? E tudo porquê? Pela mesma razão que não posso deixar de ver um bebé sem deixar de pensar no do meu amigo Zezinho. Será menino ou menina?
Ainda hoje ouvi uma notícia sobre um ante-projecto de um circuito para bicicletas ao longo do Mondego, de Coimbra à Figueira da Foz. Eu moro em Lisboa, perto da Baixa. Rua sobe, colina desce. Demoro duas horas a acabar de acordar de manhã, as notícias ficam todas num limbo até as voltar a ouvir a horas decentes. Esta fixei-a, obviamente, porque imaginei o meu amigo Mimoso a pedalar para o atelier do padrinho, com uma quantidade daqueles tubos que os arquitontos usam para guardarem as suas criações, ao ombro.
Será isto preocupante?
sexta-feira, setembro 19, 2003 |
Louva-a-Deus
Têm sido às centenas de milhar os e-mail (ou correio-e, como propõem algumas instâncias...) que me enviam perguntando "Quem és tu?" e "Posso-te conhecer-te melhor?". Claro que não respondo: sou funcionário público, não tenho tempo. Mas face a tanta insistência e porque me convém para aquilo de que vos quero falar, deixo-vos umas luzes sobre um traço da minha personalidade.
Todos os dias de manhã, enquanto trato da minha higiene íntima e escolho os atavios que me irão tapar o corpo durante boa parte do dia, perco uns bons 5 minutos a escolher O DISCO que vou ouvir naquele período e que vai, acreditem, marcar as próximas 12 ou 15 horas. Escrevo em maiúsculas porque é uma escolha muito importante: posso ficar mais enérgico, ou mais melancólico, ou mais concentrado, ou "à berma" do suicídio consoante o disco que ouço de manhã. E digo "disco" e não "cd" porque vou alternando entre esse formato e o vinil, essa segunda paixão da minha vida, ali ao lado da famlia e logo atrás das gajas.
Ontem, a escolha correu-me bem: ouvi o "From gardens where we feel secure", da Virginia Astley, de 1983, em edição da saudosa Fundação Atlântica. É um disco que apenas pretende ser bonito, é uma banda sonora de um dia feliz e tranquilo, uma pequena e humilde obra prima, daquelas que só poderia ser feita por uma mulher. A voz da Virginia Astley, que neste álbum se ouve numa única música, "A summer long since past", é de uma candura que só posso definir como pós-orgásmica. É uma voz que se quer proteger, livre de maldade, bonita e apaziguadora.
Com tudo isto, saí de casa com uma certeza reforçada: nada há de mais avassalador que uma mulher bonita. Para emparceirar com um princípio tão absoluto, só existe uma expressão, um sorridente "Foda-se!"...
E chegamos ao cerne, ao parágrafo onde o título se explica. Reside em mim uma certa pulsão - e perdoem-me o neologismo - "louva-a-deusica". As perfeições somadas de um corpo feminino, das mecânicas do prazer, dos orgasmos mútuos, levam-me por vezes a pensar, no "afterglow" (foda-se, arranjem-me uma expressão portuguesa bonita para "período pós-coito"...), que podia morrer ali, assim, feliz e tranquilo.
Claro que tudo se desvanece momentos depois - o melhor é mesmo ir morrendo muitas vezes, sem cair no erro do macho louva-a-deus de fecundar a fêmea antes do último suspiro.
Têm sido às centenas de milhar os e-mail (ou correio-e, como propõem algumas instâncias...) que me enviam perguntando "Quem és tu?" e "Posso-te conhecer-te melhor?". Claro que não respondo: sou funcionário público, não tenho tempo. Mas face a tanta insistência e porque me convém para aquilo de que vos quero falar, deixo-vos umas luzes sobre um traço da minha personalidade.
Todos os dias de manhã, enquanto trato da minha higiene íntima e escolho os atavios que me irão tapar o corpo durante boa parte do dia, perco uns bons 5 minutos a escolher O DISCO que vou ouvir naquele período e que vai, acreditem, marcar as próximas 12 ou 15 horas. Escrevo em maiúsculas porque é uma escolha muito importante: posso ficar mais enérgico, ou mais melancólico, ou mais concentrado, ou "à berma" do suicídio consoante o disco que ouço de manhã. E digo "disco" e não "cd" porque vou alternando entre esse formato e o vinil, essa segunda paixão da minha vida, ali ao lado da famlia e logo atrás das gajas.
Ontem, a escolha correu-me bem: ouvi o "From gardens where we feel secure", da Virginia Astley, de 1983, em edição da saudosa Fundação Atlântica. É um disco que apenas pretende ser bonito, é uma banda sonora de um dia feliz e tranquilo, uma pequena e humilde obra prima, daquelas que só poderia ser feita por uma mulher. A voz da Virginia Astley, que neste álbum se ouve numa única música, "A summer long since past", é de uma candura que só posso definir como pós-orgásmica. É uma voz que se quer proteger, livre de maldade, bonita e apaziguadora.
Com tudo isto, saí de casa com uma certeza reforçada: nada há de mais avassalador que uma mulher bonita. Para emparceirar com um princípio tão absoluto, só existe uma expressão, um sorridente "Foda-se!"...
E chegamos ao cerne, ao parágrafo onde o título se explica. Reside em mim uma certa pulsão - e perdoem-me o neologismo - "louva-a-deusica". As perfeições somadas de um corpo feminino, das mecânicas do prazer, dos orgasmos mútuos, levam-me por vezes a pensar, no "afterglow" (foda-se, arranjem-me uma expressão portuguesa bonita para "período pós-coito"...), que podia morrer ali, assim, feliz e tranquilo.
Claro que tudo se desvanece momentos depois - o melhor é mesmo ir morrendo muitas vezes, sem cair no erro do macho louva-a-deus de fecundar a fêmea antes do último suspiro.
quinta-feira, setembro 18, 2003 |
Reformem esses F.P.
O nosso Porco continua na senda do seu mais que inevitável processo de engorda.
Muitos portugueses também... Regressados ao trabalho, para além dos quilitos a mais, voltam a padecer da coluna por serem cruelmente obrigados a estar dias a fio sentados a uma secretária. A eles, crescem-lhes as panças porque desistiram do ginásio - "não é preciso, para Junho volto lá"; a elas, incham-lhes as barriguinhas por não terem sabido resistir a um "Iu luc veri braun" ou a um "puta crime on iu" de um qualquer galã bronzeado. No último caso, as consequências são preocupantes: aumenta a taxa de aborto e o número de mães solteiras. Pior ainda, e isto a médio/longo prazo, aumenta o número de criancinhas que querem entrar para os Pauliteiros de Miranda, sendo isto fruto da falta de uma "referência masculina" em casa, se bem que, em alguns dos casos, a mulher substitui-se ao homem quase na perfeição, no que à frondosa pelugem diz respeito.
Se para alguns é o inferno, para outros, o fim das férias significa... férias! Refiro-me a alguns F.P. (leia-se Funcionários Públicos e não aquilo que lhes chamam frequentemente), que podem agora descansar, após um longo e penoso mês a levantarem-se às 9h da matina para se porem a caminho da praia com toalhas, chapéus-de-sol, cadeiras e geleiras às costas.
Aproveitanto a por muitos almejada Reforma da Função Pública, propunha que esta previsse apenas um mês de trabalho para os F.P., sendo este um dos meses de Verão, é claro, provada que está a capacidade e tendência que têm para madrugar durante esta bela estação. Um mês de trabalho efectivo daria certamente para compensar os onze meses que passam a coçar fungos.
Desta forma, Portugal iria para a frente e não teria que voltar a ouvir alguns dos energúmenos que insistem em clamar o inverso.
O nosso Porco continua na senda do seu mais que inevitável processo de engorda.
Muitos portugueses também... Regressados ao trabalho, para além dos quilitos a mais, voltam a padecer da coluna por serem cruelmente obrigados a estar dias a fio sentados a uma secretária. A eles, crescem-lhes as panças porque desistiram do ginásio - "não é preciso, para Junho volto lá"; a elas, incham-lhes as barriguinhas por não terem sabido resistir a um "Iu luc veri braun" ou a um "puta crime on iu" de um qualquer galã bronzeado. No último caso, as consequências são preocupantes: aumenta a taxa de aborto e o número de mães solteiras. Pior ainda, e isto a médio/longo prazo, aumenta o número de criancinhas que querem entrar para os Pauliteiros de Miranda, sendo isto fruto da falta de uma "referência masculina" em casa, se bem que, em alguns dos casos, a mulher substitui-se ao homem quase na perfeição, no que à frondosa pelugem diz respeito.
Se para alguns é o inferno, para outros, o fim das férias significa... férias! Refiro-me a alguns F.P. (leia-se Funcionários Públicos e não aquilo que lhes chamam frequentemente), que podem agora descansar, após um longo e penoso mês a levantarem-se às 9h da matina para se porem a caminho da praia com toalhas, chapéus-de-sol, cadeiras e geleiras às costas.
Aproveitanto a por muitos almejada Reforma da Função Pública, propunha que esta previsse apenas um mês de trabalho para os F.P., sendo este um dos meses de Verão, é claro, provada que está a capacidade e tendência que têm para madrugar durante esta bela estação. Um mês de trabalho efectivo daria certamente para compensar os onze meses que passam a coçar fungos.
Desta forma, Portugal iria para a frente e não teria que voltar a ouvir alguns dos energúmenos que insistem em clamar o inverso.
É a cultura, táver?
Sou uma pessoa muito ocupada, mas arranjo sempre tempo para me manter actualizado. Por essa razão, não dispenso a consulta diária à imprensa de referência em Portugal. Hoje caiu-me no goto uma entrevista da inimitável Paula Bobone a uma dessas publicações, a "Dicas". Com a devida vénia, transcrevo algumas passagens e dispenso-me de comentar, dada a clareza das ideias expostas. Noto, apenas, que a graciosa criatura, que um dia mencionou serem as borboletas as suas aves favoritas, é assessora principal do Ministério da Cultura.
(sobre o aparecimento em revistas...)
"As pessoas que são fotografadas várias vezes, como a Lili Caneças, ou eu própria, se um dia chegarem a uma festa e não houver um fotógrafo nem alguém a pedir-lhes uma declaração para o jornal, essas pessoas acham que morreram."
(sobre o seu último livro, "Socialíssimo"...)
"Neste livro (...) falo das razões estéticas da pedofilia com personagens da pedofilia [sic] que entraram em grandes livros, indico e ensino como se educam as crianças desde pequeninas (...)"
(ainda sobre o seu livro...)
"Com este livro, pretendo dar às pessoas um pouco de cultura, porque apesar de as pessoas poderem ter aprendido a saber estar, a ter maneiras, poderão não ter a cultura de que precisam, por isso dou informações sobre os livros que se devem ler (...)"
Sou uma pessoa muito ocupada, mas arranjo sempre tempo para me manter actualizado. Por essa razão, não dispenso a consulta diária à imprensa de referência em Portugal. Hoje caiu-me no goto uma entrevista da inimitável Paula Bobone a uma dessas publicações, a "Dicas". Com a devida vénia, transcrevo algumas passagens e dispenso-me de comentar, dada a clareza das ideias expostas. Noto, apenas, que a graciosa criatura, que um dia mencionou serem as borboletas as suas aves favoritas, é assessora principal do Ministério da Cultura.
(sobre o aparecimento em revistas...)
"As pessoas que são fotografadas várias vezes, como a Lili Caneças, ou eu própria, se um dia chegarem a uma festa e não houver um fotógrafo nem alguém a pedir-lhes uma declaração para o jornal, essas pessoas acham que morreram."
(sobre o seu último livro, "Socialíssimo"...)
"Neste livro (...) falo das razões estéticas da pedofilia com personagens da pedofilia [sic] que entraram em grandes livros, indico e ensino como se educam as crianças desde pequeninas (...)"
(ainda sobre o seu livro...)
"Com este livro, pretendo dar às pessoas um pouco de cultura, porque apesar de as pessoas poderem ter aprendido a saber estar, a ter maneiras, poderão não ter a cultura de que precisam, por isso dou informações sobre os livros que se devem ler (...)"
quarta-feira, setembro 17, 2003 |
UM PAI
Que eu saiba, ainda não tenho descendência. Anos e anos a porfiar, a
escolher o terreno, a abrir regos e a espalhar a semente... tudo sem
colheita que se apresente. Posso ser um "agricultor" pouco próspero,
mas tiro gozo do que faço e o facto de não ter filhos não me enche de
desgosto. Ainda.
Passei o fim-de-semana com os meus pais (creio que a própria Agência
Lusa noticiou a ocorrência, pelo seu desmedido interesse). Estava eu
a falar com o Senhor meu Pai quando me ocorreu o seguinte: o homem só
se aproxima verdadeiramente da imagem de Deus quando procria.
Esqueçamos, por momentos, o ventre e a mulher que o tem e centremo-
nos no gajo. Deus criou o homem à sua imagem, dizem. Consta também
que Deus é um só, sendo três ao mesmo tempo: a belíssima construção
da Santíssima Trindade, Pai, Filho e Espírito Santo. Ora, como é que
um comum mortal consegue ser assim, uma só entidade tripartida? A
resposta é simples: procriando.
Vejamos: Deus Pai originou Deus Filho, Jesus Cristo, pela intervenção
do Divino Espírito Santo, que emprenhou Maria na forma de pomba. A
analogia é muito clara, pois o homem torna-se Pai fazendo um Filho a
qualquer gaja pela intervenção do caralho, vulgo Espírito Umas Vezes
Mais Santo Que Outras. Pai, Filho, Vergalho - ora aí está o
sentimento de comunhão com Deus a que um homem sério e honrado deve
aspirar. Claro que o Divino foi mais esperto: arranjou uma família de
acolhimento para o Petiz Jesus, poupando-se assim a uma série de
despesas. Mas isso não nos pode espantar, pois não deverá nunca o
homem arrogar-se ao papel de Deus, ainda que muitas vezes se façam
milagres para conciliar as fraldas, o leite e as cadeirinhas, com os
bilhetes para o futebol e a subscrição do SexyHot...
Em suma, para se ser pai, e à falta de pomba, é mesmo preciso ter
colhões.
P.S. - Serve o exposto para clarificar que quem procria recorrendo à
fertilização in vitro não pode aspirar à Santidade...
Que eu saiba, ainda não tenho descendência. Anos e anos a porfiar, a
escolher o terreno, a abrir regos e a espalhar a semente... tudo sem
colheita que se apresente. Posso ser um "agricultor" pouco próspero,
mas tiro gozo do que faço e o facto de não ter filhos não me enche de
desgosto. Ainda.
Passei o fim-de-semana com os meus pais (creio que a própria Agência
Lusa noticiou a ocorrência, pelo seu desmedido interesse). Estava eu
a falar com o Senhor meu Pai quando me ocorreu o seguinte: o homem só
se aproxima verdadeiramente da imagem de Deus quando procria.
Esqueçamos, por momentos, o ventre e a mulher que o tem e centremo-
nos no gajo. Deus criou o homem à sua imagem, dizem. Consta também
que Deus é um só, sendo três ao mesmo tempo: a belíssima construção
da Santíssima Trindade, Pai, Filho e Espírito Santo. Ora, como é que
um comum mortal consegue ser assim, uma só entidade tripartida? A
resposta é simples: procriando.
Vejamos: Deus Pai originou Deus Filho, Jesus Cristo, pela intervenção
do Divino Espírito Santo, que emprenhou Maria na forma de pomba. A
analogia é muito clara, pois o homem torna-se Pai fazendo um Filho a
qualquer gaja pela intervenção do caralho, vulgo Espírito Umas Vezes
Mais Santo Que Outras. Pai, Filho, Vergalho - ora aí está o
sentimento de comunhão com Deus a que um homem sério e honrado deve
aspirar. Claro que o Divino foi mais esperto: arranjou uma família de
acolhimento para o Petiz Jesus, poupando-se assim a uma série de
despesas. Mas isso não nos pode espantar, pois não deverá nunca o
homem arrogar-se ao papel de Deus, ainda que muitas vezes se façam
milagres para conciliar as fraldas, o leite e as cadeirinhas, com os
bilhetes para o futebol e a subscrição do SexyHot...
Em suma, para se ser pai, e à falta de pomba, é mesmo preciso ter
colhões.
P.S. - Serve o exposto para clarificar que quem procria recorrendo à
fertilização in vitro não pode aspirar à Santidade...
terça-feira, setembro 16, 2003 |
Andam a matar Portugal!
Ainda não fechou a época da carne descoberta e da erecção dolorosa e já vamos em mais de 15% da área florestal do nosso país consumida pelas chamas. Façam contas: mais 5 anos como este e vamos passar a brincar com as crianças à sombra da rama das batateiras e os esguios talos das couves portuguesas vão ser rodeados, aos fins-de-semana e feriados, por famílias em alegres piqueniques.
Não vou, como é óbvio, entrar na discussão das causas próximas e longínquas de semelhante desastre. Vou antes falar de uma das menos conhecidas consequências e alertar para toda uma área de socorros urgentes que não está a ser acautelada!
Ao contrário do que certas luminárias sobre-púdicas um dia se lembraram de engendrar, a profusão de apelidos de inspiração arbórea no nosso país não deriva da necessidade que os judeus convertidos tiveram de apagar um traço tão conspícuo da sua ancestralidade. Os Pereiras, Castanheiras, Figueiras, Pinheiros e etc. que enchem as listas telefónicas tiveram a sua raíz familiar bem próximo das raízes propriamente ditas, num processo em tudo semelhante ao dos indígenas americanos que nomeavam a sua prole com nomes tão descritivos quanto "Bisonte Coxo", "Falcão do Entardecer" ou "Sem Televisão". É tradicional e pacífico, neste país, constituir família no recato dos espaços florestais; parece-me, no mínimo, justo e terno que se homenageie de alguma forma o folhoso leito conceptual.
Os incêndios, e a destruição de matas que causam, são um atentado à já parca taxa de natalidade dos portugueses! À falta de locais abrigados de olhares indesejáveis, onde vão desabrochar as famílias embrionárias deste país? É urgente estabelecer fornicadores de campanha e instalá-los perto das povoações deste país empobrecido, porque poucos são os que têm dinheiro para fazer crescer a indústria da hotelaria e o país virá, indubitavelmente, a ressentir-se desta perturbação procriativa. A não serem tomadas estas medidas, receio bem que no próximo ano o número de nascimentos caia drasticamente, e que cresçam de forma preocupante as famílias Areias, Rocha, Robalo, Sardinha e similares.
Ainda não fechou a época da carne descoberta e da erecção dolorosa e já vamos em mais de 15% da área florestal do nosso país consumida pelas chamas. Façam contas: mais 5 anos como este e vamos passar a brincar com as crianças à sombra da rama das batateiras e os esguios talos das couves portuguesas vão ser rodeados, aos fins-de-semana e feriados, por famílias em alegres piqueniques.
Não vou, como é óbvio, entrar na discussão das causas próximas e longínquas de semelhante desastre. Vou antes falar de uma das menos conhecidas consequências e alertar para toda uma área de socorros urgentes que não está a ser acautelada!
Ao contrário do que certas luminárias sobre-púdicas um dia se lembraram de engendrar, a profusão de apelidos de inspiração arbórea no nosso país não deriva da necessidade que os judeus convertidos tiveram de apagar um traço tão conspícuo da sua ancestralidade. Os Pereiras, Castanheiras, Figueiras, Pinheiros e etc. que enchem as listas telefónicas tiveram a sua raíz familiar bem próximo das raízes propriamente ditas, num processo em tudo semelhante ao dos indígenas americanos que nomeavam a sua prole com nomes tão descritivos quanto "Bisonte Coxo", "Falcão do Entardecer" ou "Sem Televisão". É tradicional e pacífico, neste país, constituir família no recato dos espaços florestais; parece-me, no mínimo, justo e terno que se homenageie de alguma forma o folhoso leito conceptual.
Os incêndios, e a destruição de matas que causam, são um atentado à já parca taxa de natalidade dos portugueses! À falta de locais abrigados de olhares indesejáveis, onde vão desabrochar as famílias embrionárias deste país? É urgente estabelecer fornicadores de campanha e instalá-los perto das povoações deste país empobrecido, porque poucos são os que têm dinheiro para fazer crescer a indústria da hotelaria e o país virá, indubitavelmente, a ressentir-se desta perturbação procriativa. A não serem tomadas estas medidas, receio bem que no próximo ano o número de nascimentos caia drasticamente, e que cresçam de forma preocupante as famílias Areias, Rocha, Robalo, Sardinha e similares.
segunda-feira, setembro 15, 2003 |
A vingança da Santa Madre
Em tempos há muito idos, casar era para toda a vida. Era um compromisso grave e sério, de índole em tudo semelhante à decisão do cirurgião no momento de cortar - um erro e estragava-se uma vida (ou duas, ou mais). O galope dos anos aligeirou a forma como íamos vendo essa instituição (ainda sancionada, se não material, pelo menos espiritualmente, pela Igreja) ao ponto de nos arrogarmos o direito de exercer um certo espírito crítico sobre o sacramento do matrimónio e passar a interpretar com alguma ligeireza a letra do juramento de fidelidade e amor eterno. Coisas absolutamente ilegítimas, que a palavra de Deus não é passível de interpretação.
Tivemos que esperar pelo 25/4 para ver consagrado constitucionalmente um direito óbvio de todo o ser humano - o direito à asneira. O direito a dizer "prontos, enganei-me". O direito a dizer "deves estar é parva se julgas que eu te vou amar com 75 kg da mesma maneira que te amava quando tinhas 48...". No fundo, e em última análise, o direito que duas pessoas, que um dia partilharam uma concepção do mundo e um projecto de futuro, têm a divergir e seguir por estradas diferentes.
Ora, a Igreja não gosta de ceder espaço. E vai daí, infiltrada que estava (e está) em todo o tecido da nossa sociedade, cuidou atempadamente de preparar a sua vingança. Ela aí está, dissimulada: disse-me uma amiga, conscienciosa divorciada, que lhe foi dito e por ela verificado no Código Civil, que os laços familiares criados pelo casamento não se extinguem pela consagração do divórcio! Cuidem-se pois, ó incautos! No momento de escolher cônjuge, atentem bem na família deste. Mais até do que no próprio, pois se do dito cônjuge vocês se podem livrar por via administrativa, a puta da sogra e os cabrões dos cunhados vão sê-lo para a vida toda.
Em tempos há muito idos, casar era para toda a vida. Era um compromisso grave e sério, de índole em tudo semelhante à decisão do cirurgião no momento de cortar - um erro e estragava-se uma vida (ou duas, ou mais). O galope dos anos aligeirou a forma como íamos vendo essa instituição (ainda sancionada, se não material, pelo menos espiritualmente, pela Igreja) ao ponto de nos arrogarmos o direito de exercer um certo espírito crítico sobre o sacramento do matrimónio e passar a interpretar com alguma ligeireza a letra do juramento de fidelidade e amor eterno. Coisas absolutamente ilegítimas, que a palavra de Deus não é passível de interpretação.
Tivemos que esperar pelo 25/4 para ver consagrado constitucionalmente um direito óbvio de todo o ser humano - o direito à asneira. O direito a dizer "prontos, enganei-me". O direito a dizer "deves estar é parva se julgas que eu te vou amar com 75 kg da mesma maneira que te amava quando tinhas 48...". No fundo, e em última análise, o direito que duas pessoas, que um dia partilharam uma concepção do mundo e um projecto de futuro, têm a divergir e seguir por estradas diferentes.
Ora, a Igreja não gosta de ceder espaço. E vai daí, infiltrada que estava (e está) em todo o tecido da nossa sociedade, cuidou atempadamente de preparar a sua vingança. Ela aí está, dissimulada: disse-me uma amiga, conscienciosa divorciada, que lhe foi dito e por ela verificado no Código Civil, que os laços familiares criados pelo casamento não se extinguem pela consagração do divórcio! Cuidem-se pois, ó incautos! No momento de escolher cônjuge, atentem bem na família deste. Mais até do que no próprio, pois se do dito cônjuge vocês se podem livrar por via administrativa, a puta da sogra e os cabrões dos cunhados vão sê-lo para a vida toda.
sexta-feira, setembro 12, 2003 |
O Novo Mundo - I
Isto de andarmos a pautar as nossas condutas por valores anteriores ao ZX-Spectrum provoca conflitos irresolúveis. O advento da internet, a velocidade a que se processam as coisas actualmente e a dinâmica desenfreada das relações no mundo de hoje colocam desafios fascinantes ao Homem Actual. Entenda-se por "Homem Actual" aquele que tem consciência da inutilidade de lutar contra a mudança e procura integrar os princípios e valores que assimilou durante os seus verdes anos com as novas realidades.
Um dos maiores problemas que se colocam actualmente é o da linguagem - e não falo dessa adolescência contagiosa que se manifesta no uso indiscriminado do "k", no encadeamento obsceno de consoantes sem vogais, na perda completa da noção de acentuação e pontuação, etc. Falo de realidades que não têm tradução verbal e, sobretudo, de palavras que constituem autênticos obstáculos ao desenvolvimento do Homem Actual. Uma dessas palavras é "Fidelidade".
Fidelidade é uma daquelas palavras que traduzem um conceito específico e incontestável, como Virgindade ou Gravidez. Não se pode ser "quase virgem" ou estar "um pouco grávida". Da mesma maneira, ou se é fiel, ou não. Isso, por si só, não seria problema se a palavra não transportasse uma violentíssima carga ética. Ser fiel é bom. Ser fiel é propriedade dos "bons". Ser fiel é uma aspiração, um sacerdócio, um nirvana ético.
Ora, nos tempos que correm, mais que um engulho, a fidelidade é um desperdício. Não sendo possível desvalorizar a palavra ou o valor moral do conceito subjacente, devemos tentar re-equacionar as premissas. Proponho por isso que a partir de agora seja, senão desejável, pelo menos admissível, ser fiel a vários(as). Mulheres/homens, empregos, ideologias ou partidos, religiões, clubes, etc., pouco importa. O Homem Actual é complexo, vasto, tri-dimensional, multi-tarefa. Ficar ancorado num porto só é um disparate.
Isto de andarmos a pautar as nossas condutas por valores anteriores ao ZX-Spectrum provoca conflitos irresolúveis. O advento da internet, a velocidade a que se processam as coisas actualmente e a dinâmica desenfreada das relações no mundo de hoje colocam desafios fascinantes ao Homem Actual. Entenda-se por "Homem Actual" aquele que tem consciência da inutilidade de lutar contra a mudança e procura integrar os princípios e valores que assimilou durante os seus verdes anos com as novas realidades.
Um dos maiores problemas que se colocam actualmente é o da linguagem - e não falo dessa adolescência contagiosa que se manifesta no uso indiscriminado do "k", no encadeamento obsceno de consoantes sem vogais, na perda completa da noção de acentuação e pontuação, etc. Falo de realidades que não têm tradução verbal e, sobretudo, de palavras que constituem autênticos obstáculos ao desenvolvimento do Homem Actual. Uma dessas palavras é "Fidelidade".
Fidelidade é uma daquelas palavras que traduzem um conceito específico e incontestável, como Virgindade ou Gravidez. Não se pode ser "quase virgem" ou estar "um pouco grávida". Da mesma maneira, ou se é fiel, ou não. Isso, por si só, não seria problema se a palavra não transportasse uma violentíssima carga ética. Ser fiel é bom. Ser fiel é propriedade dos "bons". Ser fiel é uma aspiração, um sacerdócio, um nirvana ético.
Ora, nos tempos que correm, mais que um engulho, a fidelidade é um desperdício. Não sendo possível desvalorizar a palavra ou o valor moral do conceito subjacente, devemos tentar re-equacionar as premissas. Proponho por isso que a partir de agora seja, senão desejável, pelo menos admissível, ser fiel a vários(as). Mulheres/homens, empregos, ideologias ou partidos, religiões, clubes, etc., pouco importa. O Homem Actual é complexo, vasto, tri-dimensional, multi-tarefa. Ficar ancorado num porto só é um disparate.
quinta-feira, setembro 11, 2003 |
Tradições a rever
Como alguém dizia num outro espaço de convívio, sou de Portugal e também sou português. Gosto do nosso país, ainda que não tenha suecas e predominem as vizinhas de 121 kgs...Tenho orgulho na sua história, com as suas páginas douradas e com os imprescindíveis rolos de papel higiénico para limpar a muita merda que também foi feita. Tenho orgulho na sua cultura e nas suas tradições. Mas há algumas coisas a necessitar de uma urgente revisão.
Esta é uma delas:
Pode ser cu-rioso e até cu-rial exibirmos como tradição uns grupos de homens vestidos com umas saias e umas rendas, dançando "alegremente" e batendo com os seus pauzinhos nos pauzinhos dos outros. Mas, nos tempos que correm, parece-me premente desenvolver uma nova forma, menos "duvidosa", de folclore mirandês. Vistam-lhes umas calças, porra! Troquem os paus por outra coisa que não tenha fitinhas à volta e, de caminho, ponham umas gajas ao barulho! Assim, respeitar-se-ia a tradição e teríamos uma manifestação cultural com menos potencial de "desvio" para as crianças de Miranda e de todo o país...
Como alguém dizia num outro espaço de convívio, sou de Portugal e também sou português. Gosto do nosso país, ainda que não tenha suecas e predominem as vizinhas de 121 kgs...Tenho orgulho na sua história, com as suas páginas douradas e com os imprescindíveis rolos de papel higiénico para limpar a muita merda que também foi feita. Tenho orgulho na sua cultura e nas suas tradições. Mas há algumas coisas a necessitar de uma urgente revisão.
Esta é uma delas:
Pode ser cu-rioso e até cu-rial exibirmos como tradição uns grupos de homens vestidos com umas saias e umas rendas, dançando "alegremente" e batendo com os seus pauzinhos nos pauzinhos dos outros. Mas, nos tempos que correm, parece-me premente desenvolver uma nova forma, menos "duvidosa", de folclore mirandês. Vistam-lhes umas calças, porra! Troquem os paus por outra coisa que não tenha fitinhas à volta e, de caminho, ponham umas gajas ao barulho! Assim, respeitar-se-ia a tradição e teríamos uma manifestação cultural com menos potencial de "desvio" para as crianças de Miranda e de todo o país...
A primeira vez
Manda a razão (e os donos desta taberna apelidada de blog) que eu bote "faladura" acerca de um qualquer tema que me atinja os chavelhos. Ora, falar por falar nunca fez bem o meu género, muito menos escrever por escrever ( feito até hoje só alcançado pela enfadonha Margarida Rebelo Pinto). Para si, caríssimo leitor, resolvi abrir uma excepção.
Confesso que sinto receio ao redigir estas linhas, receio de não estar à altura dos magníficos textos atrás apostos, mas, por outro lado, é mais um batalha a enfrentar e não há-de ser pior que a de, na noite passada, ter conseguido achar o "pipo" da minha esbelta vizinha de 23 anos e 121Kg, completamente às escuras e depois de ter virado uma garrafa de "Cardhu". Ocorreu-me agora, na sequência do brilhante raciocínio de alguém que li muito recentemente, que também a esta singela senhora deveria ser imputada a obrigatoriedade de carregar um aviso de "perigo de morte por asfixia".
Isto de escrever num blog, tem que se lhe diga! Começo a achar que nunca deveria ter ido além do papel de mero comentador. Isso é que era vida, pá! Os bloguistas ou blogueiros (alguns mesmo paneleiros, presumo), fodiam a cabecinha toda para tentar escrever qualquer merda cheia de "rinhónhós", depois ia lá eu e mais uns quantos desgraçar a vida aos gajos com comentários de elevado teor construtivo. Mas pronto, talvez esta seja mais uma daquelas coisas em que o que custa é a primeira vez.
Se teve paciência para ler esta estopada até ao fim, certamente acabou de ganhar o céu... ou um esgotamento, quem sabe...
Manda a razão (e os donos desta taberna apelidada de blog) que eu bote "faladura" acerca de um qualquer tema que me atinja os chavelhos. Ora, falar por falar nunca fez bem o meu género, muito menos escrever por escrever ( feito até hoje só alcançado pela enfadonha Margarida Rebelo Pinto). Para si, caríssimo leitor, resolvi abrir uma excepção.
Confesso que sinto receio ao redigir estas linhas, receio de não estar à altura dos magníficos textos atrás apostos, mas, por outro lado, é mais um batalha a enfrentar e não há-de ser pior que a de, na noite passada, ter conseguido achar o "pipo" da minha esbelta vizinha de 23 anos e 121Kg, completamente às escuras e depois de ter virado uma garrafa de "Cardhu". Ocorreu-me agora, na sequência do brilhante raciocínio de alguém que li muito recentemente, que também a esta singela senhora deveria ser imputada a obrigatoriedade de carregar um aviso de "perigo de morte por asfixia".
Isto de escrever num blog, tem que se lhe diga! Começo a achar que nunca deveria ter ido além do papel de mero comentador. Isso é que era vida, pá! Os bloguistas ou blogueiros (alguns mesmo paneleiros, presumo), fodiam a cabecinha toda para tentar escrever qualquer merda cheia de "rinhónhós", depois ia lá eu e mais uns quantos desgraçar a vida aos gajos com comentários de elevado teor construtivo. Mas pronto, talvez esta seja mais uma daquelas coisas em que o que custa é a primeira vez.
Se teve paciência para ler esta estopada até ao fim, certamente acabou de ganhar o céu... ou um esgotamento, quem sabe...
Uma aventura sueca
A Suécia é branca durante metade do ano. Durante a outra metade também é branca, mas, como não há sol, parece preta. E fria. A Suécia é uma espécie de Shangri-La on the rocks. De lá se sabe ser toda a gente, pelo menos, muito bem remediada e o Governo providenciar tudo o que o cidadão necessita. Não quero jurar, mas creio que por lá existem renas, alces, caribus (ou outros quaisquer cavalos com cornos), focas, ursos, cineastas deprimentes e gajas boas. Muitas gajas, muito boas.
Os suecos são um povo em paz consigo próprio e com o mundo, o que é invejável. Não se ouve falar de convulsões sociais na Suécia, movimentos laborais vigorosos, vagas de fundo ou opinião pública inflamada. Poder-se-ia concluir que é um país de frouxos, mas isso seria um exagero grosseiro. Os suecos, se calhar, são o país pacífico que se conhece porque não deixam as questiúnculas ganhar proporções epidémicas: se há azar, resolve-se logo. Seja advogado, carpinteiro, terceiro-escriturário, paquete ou ministro, quando incomoda para além da conta é chumbado sem dó. Foi assim com Olof Palme e foi agora com a ministra Anna Lindh.
A Justiça ganha muito com isto. Não há mega-processos com centos de testemunhas e arguidos, que se arrastam anos a fio pelos tribunais até prescreverem. A coisa fica-se por um julgamento, que até podia ser sumário, com um único arguido e veredicto mais que conhecido. A Saúde também não se queixa, porque não há dezenas de feridos - alguns em estado grave - a entupir as urgências, as camas e as listas de espera do Serviço de Saúde Sueco. Ganham as contas públicas, porque a classe política sueca é reduzida em número e com tendência a reduzir-se cada vez mais. Ganha a imprensa sueca, que não tem grande espaço para os fait-divers e matérias correntes, podendo assim dividir os seus profissionais entre os bons, que tecem longos, profundos e incompreensíveis comentários sobre a génese do horror, e os maus que se dedicam às questões de sociedade. Ganha a Educação, que evita entupir os programas com a discussão das nuances da ética, da política, da economia, das artes, etc. Ganha a administração interna, porque não necessita de investir numa polícia que fica sempre mal na rua e é, frequentemente, depositária de indivíduos mal formados, mal educados, mal adaptados ou, simplesmente, maus (aqui posso ter confundido com Portugal, mas não tenho a certeza).
A Suécia é um país pão-pão, queijo-queijo. É um país a preto-e-branco. Eu, a preto-e-branco, gosto de fotografia, e as fotografias das suecas prefiro-as a cores.
A Suécia é branca durante metade do ano. Durante a outra metade também é branca, mas, como não há sol, parece preta. E fria. A Suécia é uma espécie de Shangri-La on the rocks. De lá se sabe ser toda a gente, pelo menos, muito bem remediada e o Governo providenciar tudo o que o cidadão necessita. Não quero jurar, mas creio que por lá existem renas, alces, caribus (ou outros quaisquer cavalos com cornos), focas, ursos, cineastas deprimentes e gajas boas. Muitas gajas, muito boas.
Os suecos são um povo em paz consigo próprio e com o mundo, o que é invejável. Não se ouve falar de convulsões sociais na Suécia, movimentos laborais vigorosos, vagas de fundo ou opinião pública inflamada. Poder-se-ia concluir que é um país de frouxos, mas isso seria um exagero grosseiro. Os suecos, se calhar, são o país pacífico que se conhece porque não deixam as questiúnculas ganhar proporções epidémicas: se há azar, resolve-se logo. Seja advogado, carpinteiro, terceiro-escriturário, paquete ou ministro, quando incomoda para além da conta é chumbado sem dó. Foi assim com Olof Palme e foi agora com a ministra Anna Lindh.
A Justiça ganha muito com isto. Não há mega-processos com centos de testemunhas e arguidos, que se arrastam anos a fio pelos tribunais até prescreverem. A coisa fica-se por um julgamento, que até podia ser sumário, com um único arguido e veredicto mais que conhecido. A Saúde também não se queixa, porque não há dezenas de feridos - alguns em estado grave - a entupir as urgências, as camas e as listas de espera do Serviço de Saúde Sueco. Ganham as contas públicas, porque a classe política sueca é reduzida em número e com tendência a reduzir-se cada vez mais. Ganha a imprensa sueca, que não tem grande espaço para os fait-divers e matérias correntes, podendo assim dividir os seus profissionais entre os bons, que tecem longos, profundos e incompreensíveis comentários sobre a génese do horror, e os maus que se dedicam às questões de sociedade. Ganha a Educação, que evita entupir os programas com a discussão das nuances da ética, da política, da economia, das artes, etc. Ganha a administração interna, porque não necessita de investir numa polícia que fica sempre mal na rua e é, frequentemente, depositária de indivíduos mal formados, mal educados, mal adaptados ou, simplesmente, maus (aqui posso ter confundido com Portugal, mas não tenho a certeza).
A Suécia é um país pão-pão, queijo-queijo. É um país a preto-e-branco. Eu, a preto-e-branco, gosto de fotografia, e as fotografias das suecas prefiro-as a cores.
quarta-feira, setembro 10, 2003 |
Uma Janela sobre o Futuro
Esta é uma imagem do futuro. Os belogues têm destas coisas, permitem assombros tecnológicos anteriormente reservados aos laboratórios militares das grandes potências (militares, não falo dos editores deste belogue), às divindades encartadas e aos Grandes Mestres com consultórios montados em Miratejo.
Não falo, como é óbvio, do camelo a cagar uma pirâmide. Isso pode ser visto um pouco por todo o lado, que a nossa sociedade é fértil em camelos que cagam - por tudo e por nada - coisas bem maiores. Falo do "aviso". E da sua dimensão e conspicuidade. Falo do insulto gratuito que constituem ao fumador (O quê? Isto faz mal???), da hipocrisia que lhe está por trás (se mata, proíba-se, porra!) e do ridículo que é ter um ícone moderno assim violentado.
De qualquer forma, espero com curiosidade ver os BMW, Mercedes, Porsche e restantes latas com letras igualmente garrafais rezando "Guiar mata", os skates, patins em linha, snowboards e skis decorados a "Cair mata", o clipper do "Cutty Sark" ou o famoso Grouse esmagados sob um "Beber mata", etc.
Vem aí um mundo melhor para todos nós. Um mundo em que as maternidades vão trocar as tradicionais palmadas nos tutus dos recém-nascidos por tatuagens, efectuadas a sangue frio nas tenras partes dos petizes, dizendo "Foder mata".
Esta é uma imagem do futuro. Os belogues têm destas coisas, permitem assombros tecnológicos anteriormente reservados aos laboratórios militares das grandes potências (militares, não falo dos editores deste belogue), às divindades encartadas e aos Grandes Mestres com consultórios montados em Miratejo.
Não falo, como é óbvio, do camelo a cagar uma pirâmide. Isso pode ser visto um pouco por todo o lado, que a nossa sociedade é fértil em camelos que cagam - por tudo e por nada - coisas bem maiores. Falo do "aviso". E da sua dimensão e conspicuidade. Falo do insulto gratuito que constituem ao fumador (O quê? Isto faz mal???), da hipocrisia que lhe está por trás (se mata, proíba-se, porra!) e do ridículo que é ter um ícone moderno assim violentado.
De qualquer forma, espero com curiosidade ver os BMW, Mercedes, Porsche e restantes latas com letras igualmente garrafais rezando "Guiar mata", os skates, patins em linha, snowboards e skis decorados a "Cair mata", o clipper do "Cutty Sark" ou o famoso Grouse esmagados sob um "Beber mata", etc.
Vem aí um mundo melhor para todos nós. Um mundo em que as maternidades vão trocar as tradicionais palmadas nos tutus dos recém-nascidos por tatuagens, efectuadas a sangue frio nas tenras partes dos petizes, dizendo "Foder mata".
O PRIMEIRO POST DE SUBSTÂNCIA
O que é que se pode escrever como "verdadeiro" texto inaugural neste Porco? Manifestos editoriais fodem-me a paciência. Declarações de princípios, essas deixo-as para as putas, quando exigem sexo seguro. Uma escritura notarial? A publicação no Diário da República? Um décimo primeiro Mandamento? Uma citação inspiradora? Não. Nada disso se adapta ao Porco.
Isto não é fácil. No fundo, é como uma linha de engate: ou bem que resulta e ficamos com a esperança reforçada de que irá haver prolongamento e grandes penalidades no grande derby de colchão; ou bem que nos humilhamos e nos conformamos com a ideia de comprar "Atrix" ou qualquer outro creme para as mãos... Com este primeiro naco de toucinho do colectivo suíno, passa-se um pouco a mesma coisa: ou esta merda vos estimula ou a arrumam mentalmente numa gaveta onde estão o jornal "O Dia" e outras publicações de interesse como a "Calibre 12", a "Sentinela", o "Despertar do Zêzere" e os romances com a chancela da editora Escritor...
Este nosso porquinho é como um mealheiro. Aqui vão sendo depositadas as nossas poupanças, escritas nestas ou noutras paragens, apenas com o intuito de, um dia mais tarde, quando a bebida, a vida sexual alucinante e uma dieta pobre em vitaminas se tiverem encarregado de fazer desaparecer o que resta desse material esponjoso a que ainda temos a coragem de chamar cérebro; nesse dia futuro, dizia, poderemos vir aqui e mostrar a quem quiser ver que houve um tempo em que esse cérebro existia e era desaproveitado em disparates. As contribuições que aqui vamos pondo, fruto de um qualquer entusiasmo momentâneo, são, assim, exemplos de uma proto-tesão. Qualquer leitura que deles façam é uma relação consumada, é uma poderosa ejaculação, é, porventura, o momento de concepção de novos bacorinhos.
Que comece, então, o processo de engorda.
O que é que se pode escrever como "verdadeiro" texto inaugural neste Porco? Manifestos editoriais fodem-me a paciência. Declarações de princípios, essas deixo-as para as putas, quando exigem sexo seguro. Uma escritura notarial? A publicação no Diário da República? Um décimo primeiro Mandamento? Uma citação inspiradora? Não. Nada disso se adapta ao Porco.
Isto não é fácil. No fundo, é como uma linha de engate: ou bem que resulta e ficamos com a esperança reforçada de que irá haver prolongamento e grandes penalidades no grande derby de colchão; ou bem que nos humilhamos e nos conformamos com a ideia de comprar "Atrix" ou qualquer outro creme para as mãos... Com este primeiro naco de toucinho do colectivo suíno, passa-se um pouco a mesma coisa: ou esta merda vos estimula ou a arrumam mentalmente numa gaveta onde estão o jornal "O Dia" e outras publicações de interesse como a "Calibre 12", a "Sentinela", o "Despertar do Zêzere" e os romances com a chancela da editora Escritor...
Este nosso porquinho é como um mealheiro. Aqui vão sendo depositadas as nossas poupanças, escritas nestas ou noutras paragens, apenas com o intuito de, um dia mais tarde, quando a bebida, a vida sexual alucinante e uma dieta pobre em vitaminas se tiverem encarregado de fazer desaparecer o que resta desse material esponjoso a que ainda temos a coragem de chamar cérebro; nesse dia futuro, dizia, poderemos vir aqui e mostrar a quem quiser ver que houve um tempo em que esse cérebro existia e era desaproveitado em disparates. As contribuições que aqui vamos pondo, fruto de um qualquer entusiasmo momentâneo, são, assim, exemplos de uma proto-tesão. Qualquer leitura que deles façam é uma relação consumada, é uma poderosa ejaculação, é, porventura, o momento de concepção de novos bacorinhos.
Que comece, então, o processo de engorda.