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Vareta Funda

O blog dos orizicultores do Concelho de Manteigas


segunda-feira, maio 31, 2004

I - DE COMO EU NÃO TENHO POSTADO E DE COMO TODA A GENTE TEM MUITA PACIÊNCIA

Pois é, não tenho tido tempo para nada, nem mesmo para conviver com os meus amigos virtuais (e não só).

Depois de mil comentos, só lhes posso gabar a paciência, uma vez que, nesta altura, apenas permanecem os resistentes e aqueles que estão na crista da onda - o que quer que isto signifique.

Meus amigos, novas postas virão, assim como novos dias verão a luz.

Até breve.

quinta-feira, maio 27, 2004

CAMPANHA PIRILAMPO MÁGICO



Este é o 18º Ano de existência desta campanha.
Destina-se a apoiar as pessoas portadoras de deficiência mental e multideficiências e, simultaneamente, apoiar as organizações sem fins lucrativos que lhes prestam apoio. Este ano começou dia 22 de Maio e vai até dia 13 de Junho.
Pode-se apoiar esta iniciativa adquirindo os pirilampos, pins, Cds, t-shirts.
Vai haver uma Gala no Coliseu dos Recreios no dia 1 de Junho.
Este ano o pirilampo terá as cores da selecção nacional.

Comecei a comprar o Pirilampo Mágico quando a minha sobrinha mais velha nasceu. Acho que o facto de ela ter nascido saudável me fez pensar nas crianças diferentes.
Quando nasceu a minha outra sobrinha, passei a comprar dois. Depois, nasceram-me dois enteados, passei a comprar quatro. Agora, sempre que nasce outra criança na família compro mais um. Às vezes, vejo nesta atitude, semelhanças com as promessas dos católicos. Mas não me ralo.
Este ano vou comprar mais um pelo Cutivinho e outro para o Príncipezinho.

sexta-feira, maio 21, 2004

SEXTA-FEIRA... E ATÉ JÁ



Hoje não traduzo. Deixo-vos só mais um poema desse mestre que é o David Sylvian. É a minha mensagem para este fim-de-semana e para algum outro em que eu não possa cá estar.

How Little We Need To Be Happy

She fell
No jewels for the hurt
When she fell
Where is the mother?

Draw back the sheets
Shake off the sleep and complete me
As I complete you
There's a universe of disappointment to be lost

How little we need to be happy
How little we need to be really happy


And you my girl
Did I forget to sing?
You, brimming with life and with joy
And curiousity

And the lights won't go out
The stars refuse to dim
And everything goes on but not as before

"They removed his voice
And the silence overwhelmed him"
How little it takes

Some of us are undecided
We might come to you
To find a new way out of this one
She should pull us through

What have they done to you?
Come here let me hold you
Cry all your tears
The sorrows that threaten to overwhelm you

Let's rise up again

David Sylvian, Blemish

I'll rise up again. Até já.

quinta-feira, maio 20, 2004

Treatra 1

Mega-store de produtos para casa. Balcão de atendimento ao cliente. Uma rapariga, de madeixas loiras apanhadas em rabo-de-cavalo e pele impecavelmente lisa (à força de maquilhagem), afadiga-se com uns papéis. Aproxima-se um casal, na casa dos 30 anos, de ar vagamente distraído. Caminham próximos, mas não juntos.

Ela: Boa tardes.
Recepcionista: Boas tardes. Em que posso ajudá-los (disparando um sorriso imaculadamente branco e radioso)?
Ela: Venho fazer uma devolução.
R: (endurecendo as feições) Ah. E que vem a senhora devolver?
Ela: (com um ligeiro aceno de cabeça) O meu companheiro.
R: Então? Tem algum problema?
Ela: Não… nada de especial. Só que… não dá, pronto. Não consigo.
R: Muito bem. Vamos já tratar disso, então. Trouxe a factura?
Ela: Claro, tenho-a aqui comigo. Se bem me lembro, a vossa loja garantia satisfação, certo?
R: Sim, claro. Se não ficou satisfeita procederemos ao reembolso..
Ela: (sorrindo triunfante) Óptimo.
R: (voltando-se para ele) E o senhor, também quer fazer a devolução?
Ele: Não, eu não adquiri a minha companheira. Saiu-me numa promoção. Duas embalagens de 24 latas de cerveja Pelintra dava direito a 6 canecas com os emblemas de clubes da Liga Excelsa ou uma companheira. Eu já tinha as canecas, por isso…
R: Ah, muito bem. Senão, processávamos o pedido de reembolso em conjunto. (durante uns minutos introduz dados no computador que tem habilmente escondido atrás do balcão). Prontinho. Já está tratado. Quanto é que tinha gasto?
Ela: Dois anos da minha vida.
R: Certo. (teclando algo) Ser-lhe-ão creditados dois anos no fim da sua vida.
Ela: Ah, não está certo!
R: Como não?
Ela: Ora, eu perdi dois anos agora. Quero recuperá-los é agora, não quando for velha!
R: (sorrindo) Não se preocupe, que isso não vai acontecer.
Ela: Não?
R: Não. A senhora já não tem muito tempo de vida.
Ela: Não? Que maçada…
R: Não fique aborrecida! Agora, além do pouco que tinha, tem mais dois anos.
Ela: É… visto assim, até que nem está mal. Mas afinal, quanto mais é que eu tenho?
R: Deixe ver… (consultando o computador)
Ela: Posso ver também?
R: Bem… não devia, mas…
(vira o monitor para que ambas o vejam)
Ela: Só?!? Que chatice…
R: Pois… olhe, paciência.
Ela: O que é esta barra vermelha?
R: É o acidente de viação em que vai perder o baço.
Ela: Que raio de sorte me calhou. E logo eu, que conduzo com tanta cautela.
R: Não vai ser culpa sua, parece-me. De qualquer forma, é neste acidente que vai contrair a lesão renal que acaba por matá-la.
Ela: Enfim… se tem que ser…
R: (voltando-se para o homem) Eu lamento, mas não lhe posso mostrar a sua ficha. Bem vê, o senhor não é cliente…
Ele: Oh, não se preocupe. A gente já sabe como são estas coisas das promoções, eles nunca ficam a perder, né?
Ela: Deixa lá, que mesmo sem ser em promoção…
Ele: Lá estás tu. Não és capaz de ser objectiva com porra nenhuma. Vais ter os teus dois anos de volta, não vais? Eu, se quiser, vou-me queixar ao Totta.
Ela: Pffff… só por te ter aturado, devia até receber mais seis meses! Sempre a choramingar, que não tens sorte nenhuma…
Ele: Bem, eu não tenho que aturar esta merda, pois não? Está resolvido, quero que te lixes e que sofras muito nos dois anos e mais-não-sei-quê que te resta. Ciao!
(sai furioso, sob os olhares delas…)
Ela: Ai, que raiva! E pensar que este cabrão tem a vida toda pela frente!
R: Eu se fosse a si, não me preocupava muito com isso…
Ela: Como não? Eu tenho pouco tempo de vida e este esterco vai continuar por aí! Não é justo!
R: (sorrindo) Eu não lhe devia dizer isto, mas… se tivesse esperado até à semana que vem, já não poderia devolvê-lo…

terça-feira, maio 18, 2004

MINI-POST DE DESBLOQUEIO

Como não me sobra muito tempo para o livre pensamento, profundo, fundamentado, sólido e bem estruturado, aqui deixo o meu pequeno contributo para que haja harmonia entre os comentadores.

Posto porque posso, porque me deixam e porque tenho gosto nisso.

E porque me chateia a espera do carregamento dos comentários.

Comentem livremente e com o prazer de uma boa conversa, como eu o faço.

Até já.

NOTA: este post é de consumo rápido. Façam-me o favor de postar algo com conteúdo. Rapidamente.

segunda-feira, maio 17, 2004

SER BENFIQUISTA...

GANHAR E PERDER

sexta-feira, maio 14, 2004

SEXTA-FEIRA... EHHHHH!



Não é de hoje nem de ontem - acho que sempre fui assim. Sempre tive esta queda para o "middle of the road". Tanto na música como na literatura como noutras coisas: sempre me fascinaram os projectos ou objectos que quase "chegaram lá", ao panteão da imortalidade, mas caíram no esquecimento quase generalizado. Dos grandes génios, das obras fundamentais, toda a gente se lembra. Eu prefiro fazer os inventários daquela faixa intrigante entre a mediania e a mediocridade. Mediania e mediocridade é como quem diz: sê-lo-á aos olhos da maioria mas não aos meus, que me lanço em cruzadas para defender o valor de coisas a meu ver injustiçadas.

Tudo isto vem a propósito daquele que é um dos meus discos "de Verão" favoritos. Foi lançado em 1989 e deixou os seus autores sem contrato discográfico, pondo fim a uma carreira conjunta de grande sucesso. O All Music Guide dá-lhe uma estrela - de um a cinco - e considera-o "flat-out bad". Se não me engano, nunca foi reeditado. Tanto pior. Eu gosto dele e gosto muito. É, e digo-o sem vergonha, o meu álbum favorito dos The Style Council e chama-se "Confessions of a Pop Group".

Há quem o ache pretensioso, pomposo e deslumbrado. Eu não. Acho até que é o único álbum desde o fim dos The Jam em que o Paul Weller respeita o facto de fazer parte de um grupo. Mick Talbot mostra - a quem tivesse dúvidas - que é um bom pianista e Dee C. Lee ganha finalmente espaço para mostrar a sua voz sóbria e bonita. É um disco de... pop, jazz-pop, chamem-lhe o que quiserem. É um disco de Verão, cáustico mas feliz, harmonioso, bem arranjado, tranquilo e... feliz, pronto.

O Paul Weller escreve grandes canções. Não quer dizer que seja um letrista de mão cheia, mas lá se safa. Nesta sexta-feira de calor mas com nuvens, que nos deixa na incerteza quanto ao fim-de-semana que vamos ter, dou-vos a ler, na língua de Helena Marques e Fernando Campos, a simpática demanda pessoal que abre o álbum, tendo como título uma daquelas verdades incontestáveis: It's a Very Deep Sea - o que vem provar que esta canção não foi escrita na Foz do Arelho.


It's a very deep sea

I'll keep on diving 'till I reach the ends,
Com a hipnose regressiva talvez fosse melhor
dredging up the past to drive me round the bends,
Mas lá vou revendo os passos que dei enquanto menor
what is it in me that I can't forget
Quero achar o momento que marcou o que veio a ser
I keep finding so much that I now regret.
E afastar os escolhos do que me faz arrepender
But no, on I go down into the depths
Às tantas mais valia não me maçar e estar quieto
turning things over that are better left
Em vez de lembrar tanta coisa que não passou de projecto
dredging up the past that has gone for good
"Trazer à tona memórias idas" - tem efeito algum?
trying to polish up what is rotting wood.
Antes pensar que o que não fiz não passaria de merdum

Something inside takes me down again
Mas volta e meia lá mergulho eu com as ventas no passado
diving not for goblets but tin cans
Fuçando entre carrinhos partidos e papéis de rebuçado
dredging up the past for reasons so rife
P'ra quê invocar dias de euforia ou ennui?
passing bits of wrecks that once passed for life.
E esfregar a cara na inconsequência de coisas que vivi?

But I'll keep on diving till I drown the sea,
Mergulho nestes vinte e oito anos de arrecadação
of things not worth, even mentioning
E chafurdo entre pérolas e coisas que não valem um colhão
perhaps I'll come to the surface and come to my senses
O que importa é emergir preparado para o presente
but it's a very deep sea around my own devises.
Qu'amanhã é fim-de-semana e eu estou todo contente/ Satisfeito por ser novo e não ter a alma doente (riscar o que não interessa)

The Style Council, Confessions of a Pop Group

Pronto. Traduzindo uma letra de um grupo com um nome como "The Style Council" o meu conselho de fim-de-semana não podia ser outro: abracem a futilidade. Antes alienado pela televisão que perdido na introspecção.

quarta-feira, maio 12, 2004

Um mail

Recebi ontem um e-mail muito interessante. Sou pessoa cuidadosa no que escrevo e, sobretudo, como o escrevo. Correio electrónico, Short Message Service, conversas de MSN, YahooMessenger, chat ou afins não escapam a esta minha regra e recebem o mesmo cuidado, como vos poderá garantir quem já tenha entabulado qualquer tipo de comunicação comigo.

Dentro deste espírito cabe direitinho o princípio de dar títulos elucidativos, imaginativos, chamativos ou apenas curiosos aos meus e-mails, na secreta convicção de que o seu destinatário começará por aí a formar a sua opinião acerca do que eu estou a tentar transmitir. Reciprocamente, quando recebo correio começo por antecipar o conteúdo pela forma como vem anunciado, mesmo antes de olhar para o remetente. Será abusivo da minha parte proceder assim? Claro que não, é meu direito inalienável ser preconceituoso da forma que entender. Quem deseja, de facto, entender-se comigo rapidamente percebe com que linhas me coso, já que disso não faço segredo a ninguém. Mas deixemos a introdução e passemos ao caso que vos quero relatar.

Dizia eu que recebi um mail com o seguinte assunto: "resposta". Assim, tal e qual, sem capitalização no início, sem pontuação no fim, nada. Seco, críptico e quase anónimo, já que o remetente nada me dizia. Aberta, a referida mensagem rezava assim:

"se não tem o que fazer, vá tomar nesse cú nojento como vc. enfia os vírus no seu rabo."

Pronto, já perceberam que o remetente era brasileiro. Mas isso em nada influi na minha apreciação, já que sei de muitos e bons brasileiros que escrevem português tão bem ou melhor que qualquer indígena luso, seja na forma que nos é mais familiar, seja na que medra impune do outro lado do Atlântico. A minha primeira reacção foi uma sonora gargalhada, como está bom de ver. A seguinte foi a de sentir um desdém intenso pela besta que assim expande a sua raiva perante uma intrusão inesperada, sem se informar sobre as reais possibilidades de ela ter, de facto, tido origem numa conta de mail minha. Para mais, a referida conta está sediada no Hotmail, que tem protecção anti-viral em toda a sua rede. Trata-se, obviamente, de um vírus que simula o remetente a partir de um qualquer endereço da lista de contactos do computador afectado - coisa que dispensa explicação para quem perceba de computadores mais que a utilidade do botão "On-Off". Em seguida - e como terão percebido por esta explicação mais detalhada - comecei a ficar incomodado com a impunidade e arrogância da criatura que assim fez explodir a sua própria imbecilidade em PC alheio. Irritam-me as pessoas que julgam apressadamente e sobre terceiros desconhecidos fazem cair represálias, sejam elas absurdas e patéticas como esta ou outras mais danosas.

Decidi-me a escrever um poste sobre esta maré de incivilidade que sobe imparável no mundo, lá como cá como por todo o lado, denunciada impiedosamente pelo Último Paladino dos Valores Verdadeiros (eu, antes que perguntem), quando me dei conta que estava a fossar no mesmo lodo. O tipo pode ter tido o seu trabalho todo lixado por um vírus, e é estupidamente presunçoso da minha parte presumir que é defeito dele não saber como funcionam os vírus. Se ele tivesse enviado um mail com cabeça, tronco e membros, escrito no português que eu cultivo e prezo, tê-lo-ia elucidado, mesmo que a mensagem fosse tão venenosa quanto a que efectivamente mandou. As possibilidades são (quase) infinitas, mas eu julguei-o como me apeteceu.

Volto à primeira reacção e rio-me. Cagando e andando, está tudo bem. Menos mal, que tive assunto para um poste.


OS NERVOS



"Ai meu Deus... Será que me vou lembrar dos passos todos? E se o playback instrumental não arranca? E se o microfone me cai das mãos? Se calhar mais valia usar um daqueles pequeninos e colá-lo na testa com fita cola... Acho que estou mais gorda... A poder de tanta comida turca... Sim... Afinal Istambul é na Turquia... E eu a pensar que era na Eurovisão... Será que pareço muito ordinária com este vestido? Comparada com aquela serigaita de Chipre pareço a Irmã Lúcia, mas mesmo assim... É pena a música ser muito mexida, senão ainda punha um xaile... Ficava assim típico... Bom. Rapariga, tu respira fundo e vamos lá ensaiar. 'Eu não sei como foi/Não sei que me mordeu'... Não, porra. Não é isto. Deixa-me lá ver o papel. Ora... Lai lai lai, lai lai lai... E ataco isto com voz sexy ou aquele ar sofrido e doce que fui cultivando? E se ninguém de Portugal telefona a votar em mim? Só pensam no Figo... Qual Figo qual porra! Eu é que sou a selecção de todos nós! 'E lá estavas tu/A sorrir p'ra mim/Eu nunca... eu nunca... perlimpimpim?' Fosca-se! Não meto isto na cabeça. É dos nervos. Antes isto que uma diarreia. E se eu me esqueço de entrar quando fôr a minha vez? Ando habituada a ouvir a Catarina Furtado a dizer 'P'ró palco!'... Aquela sonsa... Estava convencida que era o outro que ia ganhar mas fodeu-se! Bem feito! Humpf! Não é à toa que me chamo Sofia Vitória! Aquela putéfia de Andorra vai cantar antes de mim... Oxalá te caia um projector em cima, vaca de merda! E a seguir a mim é o casal de parolos de Malta... Que merda de companhia... Pode ser que isso me ajude a brilhar. 'Foi magia/Quando eu te toquei/E o beijo que neguei'. Foda-se! Estou nervosa. Não me lembro da letra. Será que dá para usar teleponto?"

terça-feira, maio 11, 2004

RENHAM e BLOGORIZICULTORES

RENHAM - Palavra de estrutura estranha, arquitectada recentemente, neologismo. O que traduz? Mais um post sobre o nham que ocorreu no passado dia 8 de Maio, em Coimbra? Não, porque eu não fui.

No entanto, já conheci alguns dos comensais e imagino que os rapazinhos e as rapariguinhas tenham honrado a sua condição de Blogorizicultores do Concelho de Manteigas. Sim, porque esta coisa de ser Blogorizicultor tem muito que se lhe diga.

E o que é, afinal, um Blogorizicultor? Tracemos-lhe o perfil. Em primeiro lugar, seja do sexo masculino ou do sexo feminino - sim, porque é inaceitável um tertium genus - tem que ser uma pessoa bem disposta. E isto não quer dizer que tem que estar sempre a rir ou a contar piadas. De modo geral, tem que dominar a técnica do comento. Depois, as ideias vão surgindo naturalmente. E aí, é um desfiar de rosário, com muitas Avé Marias pelo meio e Pais-nossos à mistura.

E mais?” – perguntam-me ansiosamente.

Bom, depois temos as idades. Não há uma idade definida para participar nestas coisas e tornar-se um Blogorizicultor. Imagino que apenas os jovens de cento e vinte anos, que não tenham muito contacto com as novas tecnologias e já estejam um pouco desligados do Mundo pelas mazelas da antiguidade, não se interessem pela Blogorizicultura. De resto, temos, certamente, um pouco de tudo.

Socialmente, basta um computador ligado à net, seja numa barraca ou num palácio, e já lá estamos.

Claro que há provas de fogo para se chegar a Blogorizicultor. Não é preciso revelá-las, a maior parte de nós conhece-as bem…

E - quem diria? - a maioria dos Blogorizicultores são pessoas decentes.

Resultado do processo? Gera-se a Amizade, que de virtual passa a efectiva e real.

Muito mais há para dizer, mas deixo isso para outros ou para outra altura.

Tenham um resto de bom dia.

segunda-feira, maio 10, 2004

REALIDADES PARALELAS

Era Queima das Fitas mas não vi grelos queimados. Nem vi rasganços das capas. Nem ouvi gritos académicos - graças a Deus! Há já cinco anos e meio que me apercebo da tolice que é festejar o fim dos anos de estudo... Que fizessem uma cerimónia fúnebre, ainda era como o outro. Mas celebrar? Enfim...

Era Queima das Fitas mas isso não interessava. A única coisa que se poderia queimar eram alguns neurónios que padecessem às mãos do volume alcóolico. Terei queimado alguns, parece-me provável. Mas quando cheguei a Coimbra estava sóbrio. Eu conto...

Fui apanhar o comboio à estação do Entroncamento. O Entroncamento é a prova provada de que, se Deus existe, não é arquitecto nem urbanista. Mas adiante. Chego à bilheteira quando faltavam dez minutos para a chegada do comboio que precisava de apanhar. À minha frente estava um senhor cuja provecta idade lhe permitia pagar só meio bilhete - nada de mal, desde que o senhor soubesse para onde queria ir...

- E esse comboio vai para Lisboa?
- Vai.
- E tem ar condicionado?
- Tem.
- E os lugares são marcados?
- São.
- Então queria um bilhete.
- Ora então são...
- NÃO! Espere! Quanto é que é um bilhete até Santana-Cartaxo? É que me lembrei agora que tenho passe entre o Cartaxo e Lisboa...

Bom. Quando o senhor se despachou, chegou a minha vez. "Boa tarde. Queria um bilhete no comboio das 19h para Coimbra B." Esta frase parece simples. Menciono a hora do comboio. Menciono o destino. Presumo que tem todos os ingredientes para ser entendida por um "bilheteiro" com uma barriga que era testemunho de muitos anos de experiência profissional. Mentira. A minha frase era opaca para o seu entendimento... "Mas no Pendular?". Sei lá eu. Sei que há um comboio às 19h e já é muito... "Sim, no das 19h", arrisco. A resposta é críptica: "São nove érios e cinquenta e o comboio sai às 21h20." Seguro, mesmo na fronteira, o "Foda-se" que ameaçava fugir dos confins da minha cavidade bocal. "Não... Ó meu amigo, eu preciso de ir no comboio das 19h." Isto foi dito no tom de voz mais calmo que pude conseguir, enquanto o relógio me mostrava que eram 18h56. "Então deixe cá ver...", diz-me o bilheteiro enquanto desdobra um horário... "Ora... às 19h... às 19h há um mas é Intercidades! O senhor tinha-me dito Pendular!". "Olhe, peço desculpa. Eu quero mesmo é ir neste das 19h.", disse eu, esperando que não fosse preciso imolar-me para arrancar o perdão de tão zeloso funcionário. "Então são sete érios e meio. O comboio pára na linha 5."

Olhei para o relógio. Corri para a linha 5, feliz por ter conseguido o bilhete que queria. O comboio chega à hora. Entro na carruagem indicada pelo bilhete, vejo que o lugar que me correspondia estava ocupado e sento-me num outro, ao lado de uma pacata senhora. Depois da estação de Fátima (vulgo Chão de Maçãs, oficialmente Vale dos Ovos - é sempre bom mostrar que se conhece, ainda que modestamente, este nosso cantinho...) chega ao pé de mim o Senhor Revisor. Como cidadão exemplar que sou, estendo-lhe o bilhete. O Senhor Revisor olha para mim. Olha para o bilhete. Olha para mim. A mão direita está suspensa no ar com o pica-pica a postos para perfurar o título de transporte. A imagem parece parada artificialmente. Até que o Senhor Revisor abre a boca e diz: "Este bilhete não é para este comboio." Só isto. Mais nada. Cessaram as conversas. Fez-se silêncio. Só se ouvia o barulho ténue de cabeças a voltarem-se na minha direcção. "Como assim? Este não é o Intercidades para Coimbra?". Confesso-vos que duvidei da minha sanidade mental... "Vareta, moço, mas tu já nem sabes apanhar um comboio?..." Felizmente não era tanto assim. O Senhor Revisor explicou: "Este bilhete é para o Intercidades que sai do Entroncamento às 20h56." Só isto. Mais nada. A populaça à volta sorri à espera de sangue, à espera que o revisor me expulse a pontapé e me atire para a via férrea a alta velocidade. "Mas eu pedi ao seu colega da bilheteira um bilhete para este das 19h." Suspense. Toda a gente aguarda a última palavra do Senhor Revisor. "Não há problema. Ainda há alguns lugares." O meu suspiro de alívio foi apagado pelas expressões de desilusão dos outros passageiros que se viram forçados a regressar ao desalento da paisagem e das reprimendas da mãe da criança que ameaçava vomitar se não lhe comprassem batatas fritas.

Cheguei a Coimbra à hora a que tinha dito que chegaria a Coimbra. Sou um homem de palavra. As pragas que roguei ao senhor da bilheteira do Entroncamento não foram sérias. Retiro-as. Chegara a tempo ao meu destino e isso é que importava. A minha humilhação pública numa carruagem de comboio é uma coisa de somenos para quem tem a minha estatura moral.

O milagre tecnológico da telefonia móvel permitiu-me saber onde era o Restaurante em que me iria encontrar com gente de tão duvidosa reputação. Chegado às imediações do Restaurante Alfredo (homenagem clara a esse belíssimo programa de entretenimento que os Estúdios do Monte da Virgem pariram há muitos anos, chamado "Canto Alegre", em que uma das personagens repetia ad nauseum "Ó Alfredo! Intéi parece bruxedo!"), vejo o Menir, o nosso Valderrama com a sua frondosa cabeleira afro, acompanhado de uma misteriosa figura. "É um gajo? É um ecoponto? É um Fiat Multipla?"... a dúvida - a que a minha miopia talvez não seja alheia - dissipou-se quando o Menir me anuncia: "Este é o Feio, Porco e Mau." Olhando para o indivíduo em questão, aquela frase parecia uma verdade lapidar. Mas, afinal, o moço não é mau. Ainda assim, 66,6% de verdade num nick já é apreciável.

E jántamos. As descrições abaixo postadas são suficientemente aldrabadas para terem ideia do que não se passou. Jantámos, alguns partiram nessa altura, alguns resistiram e foram às Noites do Parque, cortesia da sociedade Mimosa&Irmão, Lda. Fomos com amigos do Mimosa que merecem uma palavra de apreço: serem amigos daquele gajo é um exemplo como poucos de caridade cristã. Eu sei e vocês sabem que ele não vos merece, mas o Senhor é bom e levará isso em conta.

No recinto à beira-Mondego plantado, o cenário foi de miséria. Aquecidos por Alabastro, Monte Velho, Onix-Fónix, Sagres, Jameson, Johnnie Walker, Espetadas de Morangos em Granizado de Qualquer Coisa Alcoólica e tudo o mais que viesse, os convivas resistentes (os outros que não eu, claro) caíram direitinhos no estereótipo do "gajo maduro que ainda pensa que é novo". Eu mantinha a minha pose serena e impassível. Se alguém me perguntava de que curso era ou o que fazia ali, respondia que estava só a queimar tempo até à hora do meu electro-cardiograma. Mas os outros? Senhores! Os outros estavam loucos! Falavam de música, falavam deles próprios, contavam histórias, lembravam-se dos ausentes, riam-se, bebiam, fumavam... Uma miséria! Depressa percebi porquê. Era a música. Eles agora querem é rock... Depois dá nisto!

E pronto. Na manhã seguinte, enquanto os outros ainda dormiriam tranquilos, eu penava para chegar a tempo ao comboio que me levaria à terra natal e à normalidade reencontrada. Se ouvirem histórias malévolas sobre pessoas que encostam as costas do telemóvel ao ouvido e dizem "não ouço nada" ou sobre despertares com distúrbios gástricos será tudo mentira. Tudo!!

Ficaram mais esclarecidos sobre o que se passou? Claro que não. O "nham" já não é um encontro de pessoas que "se conhecem da internet"; é um grupo de amigos que se junta menos vezes do que queria. Por mais caras novas que vão aparecendo, por mais ausências que se verifiquem, já não há gelo para quebrar. Ainda me fascina este processo: em vez de ter sido um grupo de amigos que se juntou para criar um blog, criou-se um blog que acabou por juntar um grupo de amigos - e um grupo em expansão.

A mim, quem me tira os clássicos... E à vinda, na manhã seguinte, lembrei-me desse clássico: "Coimbra é uma lição..." Foi mesmo uma lição. Aprendi algumas coisas. A arte beirã de bem receber. A generosidade singular de um gajo do Porto. E, acima de tudo, isto: um pão com chouriço, às 5h da manhã, não é necessariamente o melhor ingrediente para "ensopar" o álcoól ingerido.

O meu obrigado ao Mimosa, à "sua", aos seus amigos, à VD, à tt e ao "seu", ao Zeca e à "sua", ao Papa, ao aRMAS, ao FPM e ao Menir. E aos que não foram mas queriam ter ido. E aos que não foram e não sabiam bem se queriam ou não. O som daquela noite faz parte do meu "the sound that makes the world go round", como diriam os Lamb.


O nham

Coimbra. Em má hora demandei esse lugar decrépito e bafiento, cuja única e dúbia virtude é a de ter sabido convencer um rei boçal e estróina a lá instalar um estabelecimento de ensino superior. Por muito que tentem contornar a questão, é insofismável que muito da problemática do ensino em Portugal se funda nesse acto irreflectido e eivado de equívocos - mas avancemos, que disso não falarei agora.
Dizia eu que me tirei de cuidados, e do meio intelectual e culturalmente estimulante em que me encontro imerso 99% do meu tempo, para visitar essa terra frouxa e morna. Não é Norte nem é Sul, não é fria nem é quente, nem bonita nem feia, etc., etc. Até a porra do rio não se decide se é coisa a sério ou se fica por ser um ribeiro. Tristeza. E porque cometi eu tamanha imprudência, perguntarão vocês (e espero que o façam para o telefone 96285401)? Anunciava-se um convívio entre algumas das pessoas que frequentam este belogue e a possibilidade de privarem um pouco comigo afigurava-se decisiva para convencer alguns renitentes. Relutante, acedi.
Dado já me serem por demais familiares as trombas repelentes da maioria dos participantes, a única curiosidade residia na oportunidade de conhecer essa criatura mítica, o FPM. Dir-vos-ei, sem rodeios, que o rapaz não desiludiu. É uma besta em tudo comparável aos restantes, com um gosto muito duvidoso para roupa e uma voz esganiçada e irritante que insistiu em fazer-nos ouvir. Do Papa e do aRMAS já pouco mais haverá a dizer mas, porque hoje me sinto bondoso, direi que não pioraram desde a última vez que tive a infelicidade de os ver - o que já não é nada mau. A tt surpreendeu todos, ao apresentar-se na companhia de um mocetão atlético e de poucas falas, sendo a sua aparição pouco menos que meteórica. Pouco mais tempo durou a presença do casal Galhão, para alívio dos donos do restaurante que se viram a braços com uma inesperada falta de almofadas que permitissem aos referidos chegar à mesa para comer. A menina Dentada falou - embora eu não tenha podido verificar esta informação na primeira pessoa, quem mo confidenciou merece toda a credibilidade. O Vareta estava radioso e modesto, e tive a oportunidade de ouvir uma ária por si interpretada em homenagem ao nascer do Domingo. Um momento inesquecível. O Miminho - a quem os amigos se referem como a Mimosa, sem dúvida por lapso - esteve ao seu nível. Falou em "emoção", "amigos", "gostei muito" e outras coisas igualmente amaricadas. Apresentou-nos uma rapariga simpática que ele asseverou ser sua namorada. Por educação, todos fingimos acreditar.
O jantar foi uma amostra da gastronomia local - bifinhos com cogumelos, batatas fritas e arroz - regada com bebidas vagamente alcoólicas. A maioria dos comensais revelou gosto e requinte ao optar pela cerveja. À esperança de doces conventuais, que o local do evento acalentava, respondeu o dono do restaurante com uma salada de frutas anónima, com um toque de nouvelle cuisine conferido pelas caricas em que a mesma foi servida.
Terminado o doloroso repasto, deslocámo-nos até ao vomitódromo(*) fronteiro ao restaurante para apreciar a animação local. Uns concertos, muitas bebedeiras, magotes de gente envolta em capas ridículas, graças ao Senhor, que se apiedou de todos e os obrigou a dispersar à força de chuva (embora a esta parte eu já não tenha assistido, recolhido que estava nos meus aposentos a disfrutar de um merecido sono reparador). No dia seguinte, o regresso ao conforto da capital em carruagem especialmente fretada para o efeito.
Todos os ausentes foram recordados, embora nenhum o tivesse sido de forma elogiosa. À falta de matéria concreta, imputável com conhecimento de causa aos conhecidos, inventaram-se mentiras torpes e vis a propósito dos que ainda não tiveram a coragem de se apresentar.
Dizem-me que estão na forja eventos semelhantes a este. Sendo eu suficientemente crédulo para acreditar que tal seja verdade, escapa-me a razão pela qual mo dizem com entusiasmo. Enfim...

(*) expressão gentilmente cedida pela VD.

sexta-feira, maio 07, 2004


(Para todos vocês e para o sr. Estounu)

Sou daquelas pessoas que não lêem Manuais de Instruções.
São chatos. Mal traduzidos. Têm letras demasiado pequenas. Alongam-se nas coisas que já sabemos e são escassos naquelas que não entendemos. Mas, em certas alturas da vida, teria dado a unha do meu dedo mindinho direito e um carregamento de gotas em troca do Meu Manual de Instruções.
« O seu botão on-off encontra-se situado no lado direito logo a seguir à sobrancelha, como indicado na figura (1)» ou então « O seu coração pode ser sintonizado automaticamente através do botão search new channel como indicado em (2)» ou ainda « A escolha correcta da funcionalidade Mudança de Profissão será assinalada com uma luz verde no display (3), enquanto estiver intermitente mais vale ir dormir a sesta», «Em caso de avaria consultar técnico do representante oficial, reparações efectuadas por outro técnico podem causar avarias irreparáveis».
Mas nunca o encontrei. Não vinha com o equipamento, e o fabricante já descontinuou a produção.
Alturas houve em que entrei em curto-circuito, queimei cards essenciais, algumas funcionalidades mantiveram-se inactivas durante anos, outras ficaram irremediavelmente perdidas e outras ainda a funcionar mal.
Há uns anos a esta parte encontrei o técnico certo. Reparou-me os componentes que julgava perdidos e substituiu os que estavam em conflito. Infelizmente há avarias que não se reparam, já não existem peças, resulta daí que, qualquer pico de corrente mais inconveniente desencadeie uma série de mensagens de erro e a necessidade de manter o equipamento em standby por tempo indeterminado.
Tenho duas fontes de alimentação: a amizade/solidariedade e o amor. A primeira provém da energia que pessoas como vocês me transmitem. A segunda tem como principal responsável o sr. Estounu.
Isto tudo para dizer: Leiam sempre as instruções.
Mentira, era palhaçada! O que eu quero mesmo é agradecer-vos por partilharem comigo a vossa existência e, nalguns casos, a vossa inexistência apesar das falhas de corrente.

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