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Vareta Funda

O blog dos orizicultores do Concelho de Manteigas


sexta-feira, dezembro 30, 2005

Pistas para o Ano Novo...

CCC - CONVERSA CULTA DE CAMA, vol. 3




- Se pusesses de lado a metafísica e adoptasses a lógica positivista de um Wittgenstein talvez mudasses de opinião sobre o convidarmos a tua amiga para se juntar a nós...


Pistas para o Ano Novo...

CCC - CONVERSA CULTA DE CAMA, vol. 2




- Vá lá, amor... Essa tua tautologia do "não engulo, não engulo" é um velho resquício de uma certa psicologia moral kantiana a que já ninguém dá crédito...


Pistas para o Ano Novo...

CCC - CONVERSA CULTA DE CAMA, vol. 1




- Querida, é bom que te asseveres de que, quando dizes que o sexo anal não é bom para ti, estás a cair na falácia naturalista que G.E. Moore tão bem identifica no seu Principia Ethica... Deves pensar é no valor intrínseco do acto...

sábado, dezembro 24, 2005

VÉSPERAS
Como se dizia na terra dos meus avós, isto usava a ser assim: eu ía para Tomar um ou dois dias antes da Véspera de Natal, ajoujado debaixo do peso de sacos e mais sacos de presentes e, uma vez lá chegado, ficava. No Natal fica-se. Pelo menos na casa dos meus pais é assim. Uma pessoa instala-se em qualquer cadeira ou sofá confortável e come-se (come-se tanto, comem-se coisas tão boas...), conversa-se, come-se, dormita-se, aquecem-se os pés na lareira, come-se, conversa-se, trocam-se presentes, come-se (e bebe-se, claro, não vá um gajo ficar embaçado...) e come-se mais um bocadinho, não vá o Diabo tecê-las, porque "quem vai para a cama sem ceia, toda a noite esperneia"**. O meu Natal tinha isso de especial: havia mais tempo para o conforto. Estávamos todos juntos - mas isso acontecia amiúde. Havia receitas especiais de Natal - mas sempre comi muito bem em casa dos meus pais. Trocavam-se presentes - mas não o fazíamos só no Natal. O que era realmente especial era o tempo que todos dedicávamos a sentir-mo-nos bem.
Este ano, pela primeira vez em 29 anos, eu não estou fisicamente no meu Natal. Sempre estivemos todos - uns só na Noite ou só no Dia, mas sempre estivemos todos. Houve Natais com problemas de saúde, houve Natais mais atribulados mas ausências, só as definitivas - como a do meu avô.
É claro que tenho saudades, é claro que queria muito estar lá. Mas isso não me atormenta; o que me preocupa é pensar que a felicidade, que o conforto de sempre da minha família neste Natal possa ser beliscado pela minha ausência. Que eu carregue saudades é justo: fui eu que escolhi este caminho; que a família sofra com isso é injusto - e seria um peso bem maior que o das saudades.
Apesar de não estar em Tomar nem na Pátria benquista, este deverá ser o Natal mais português que já passei. Não o será pela comida, nem pela paisagem, nem pela companhia, mas sê-lo-á por este meu sentimento tão português de uma felicidade comezinha, remediada, pobrezinha mas honrada - a tão tradicionalmente lusitana "felicidade apesar de tudo".
É por ter esta felicidadezinha instalada na "massa do sangue" que posso ser mesmo sincero quando escrevo que vos desejo um Feliz Natal.
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** provérbio da mesma família daqueloutro célebre dichote "quem vai para a cama com tusa, toda a noite se lambuza; quem vai para a cama sem ponta, faz à esposa uma afronta e quem vai para a cama dormir, é porque não gosta de cobrir"...

segunda-feira, dezembro 19, 2005

NOTAS DE VIAGEM (este texto deveria ter sido editado no dia 9 deste mês, e o pós-escrito no dia 11)

Depois de um voo nada atribulado, que se atrasou uma hora a mais do que era previsto, encontro-me num ponto de nete com uma velocidade pré-histórica, não me permitindo mais do que enviar dois ou três meiles e visitar rapidamente esta casa.

Nestes vôos apanha-se de tudo, desde a senhora mal-disposta que pouco fala e que tem um cu à africana – claro – até à senhora portuguesa a roçar os sessenta anos e que se faz acompanhar da filha – que nem era muito boa – e que se benze três vezes quando o avião está para aterrar. Além disso, a filha trintona ressona quando se deixa dormir durante a viagem...

Acresce a isso que, quando um gajo chega ao avião e se instala arrumando a sua bagagem de mão no compartimento superior, sentando-se descansado enquanto os outros passageiros vão entrando, vem uma matrafona que nem fala português arrumar as suas ENORMES bagagens e desarruma a tralha de um gajo sem um ai nem um ui, e não reage e lança-nos um olhar de desprezo quando reclamamos pela atitude tomada. Puta.

Adiante, o tempo está bom, quente e seco, a vida é calma e a praia está logo ali. E é para onde vou já a seguir ao almoço. Aqui tenho menos uma hora do que os meus amigos, não em termos absolutos, mas em termos relativos, querendo dizer com isto que relativamente à hora de Portugal Continental, eu encontro-me na hora dos Açores. É tudo mais cedo. Acordo mais cedo e como mais cedo e por aí adiante. Basta dizer que hoje dormi das seis da manhã até às dez. Às vossas dez. E às vossas seis. Porque aqui, como já disse, é um bocadinho mais cedo...

Imagino que aí esteja um pouco de frio, mas o que é que se há-de fazer? Por aqui, as temperaturas rondam os trinta graus. Não é muito, dirão alguns. Pois eu respondo que é o suficiente e isto, à primeira vista, é bem engraçado. Mas ainda estou na minha primeira manhã, depois conversamos. Desde que haja dinheiro para pagar esta nete da Idade da Pedra. Ainda nem é lascada, é Pedra pura.

O roaming não funciona, não percebi ainda porquê. Isso é um pormenor, pronto.

Um reparo final: gosto de ver uma árvore de Natal na recepção do hotel. Acho importante ter a ficção da neve na árvore enquanto lá fora está um calor apreciável. Tem muito sentido...

Pós-escrito: isto era para ter sido postado na sexta-feira, pela hora do almoço. Isto se o blogger tivesse colaborado e se a ligação não fosse tão lenta, esgotando-se assim a minha meia-hora.

terça-feira, dezembro 13, 2005

...pegando na deixa do Guitarrista...

ENSAIO SOBRE A AUSÊNCIA




Tive uma namorada, em tempos, que me recriminava por não pensar. Ainda hoje não faço ideia em que raio queria ela que eu pensasse – o que, se calhar, só lhe vem dar razão. De facto, não penso muito em mim, nem no que quero, nem no que me apetece. Ausentar-me de mim para poder pensar melhor nos outros e para os outros é uma rotina mental que vou alimentando vai para 20 anos. Se faço bem ou mal, procedendo assim? Nunca pensei muito nisso.

Como é que eu podia ser diferente?... É assim que sou feliz e assim que me conheço – muito mais importante que isso, é assim que me conhecem as pessoas que gostam de mim. Que não haja qualquer mal-entendido: não me esforço nem me “anulo” para que as pessoas gostem de mim. Apenas tento ter toda a disponibilidade para elas. Gosto mais de pessoas que de rotinas: se às pessoas de quem gosto lhes apetece ir aqui ou ali, fazer isto ou aquilo, com fulano ou beltrano e se quiserem a minha companhia, eu vou sem que nunca me sinta contrariado, sem nunca pensar que me apetecia antes outra coisa ou outro ambiente. Eu gosto é de pessoas, que se lixem as coisas e os ambientes e os sítios e os planos.

Também gosto muito que gostem de mim. São pequenos milagres que me têm sido concedidos num número que me satisfaz muito; milagres que trazem com eles uma certa responsabilidade (mais leve e bem melhor que as demais) de fazer por merecer o afecto que me dispensam. E eu tento, tento o mais que posso. O pior é quando a distância se interpõe...

Eu explico: sou esquisito. Não sei se impute as culpas a uma preguiça atávica se a qualquer desordem fisiológica. Responder a emails não me é fácil, pronto – não o é, pelo menos, quando a distância entre remetente e destinatário é longa. Preciso de me sentir confortável para conseguir escrever às pessoas de quem gosto. Ora, para mim o computador é um instrumento de trabalho, com a carga negativa que isso lhe confere. Escrever aos outros tem o seu quê de cerimónia quase mística e, pelas razões que já enunciei atrás, só o consigo fazer quando me sinto completamente disponível – o que não é fácil, no horário de expediente.

E se responder a emails não me é fácil, muito menos é fácil não o fazer. Penalizo-me, mortifico-me, entristeço-me, culpo-me e reculpo-me quando deito contas aos dias, semanas ou meses que demoro a responder. Talvez seja legítimo que algumas pessoas tomem tal comportamento por falta de respeito e duvidem da solidez da minha amizade. Eu sei que, se assim pensarem, laboram em erro. Mas que argumentos tenho eu para me defender?... Nenhum.

Estou longe, longe da minha terra e das minhas pessoas. As pessoas que se vão esforçando por estar presentes (e sabe tão bem, isso...) mereciam melhor que um silêncio rasgado só a espaços. Não sei quantas dessas pessoas é que vão ler isto, mas a verdade é que não me consigo obrigar à regularidade, à constância. Posso garantir apenas uma coisa: eu nunca me esqueço. E a memória, à laia de Substral, vai nutrindo umas viçosas saudades, com folhagem larga e perene que se me funde com a mioleira.

Não consigo sentir-me sozinho. Nunca consegui deixar de gostar das pessoas de quem gosto. “Guardo-as” todas. Gosto de pensar que me guardam também, que gostam de mim mesmo que eu dê notícias a um ritmo pouco digno. Gosto de pensar nos outros: de pensar na minha casa onde poderei receber os outros, de comprar discos para poder partilhar com os outros, de escrever no Vareta onde vão parando vários dos outros, de estar aqui – longe – a tentar fazer o que posso pelo país onde vivem quase todos os outros. Talvez pareça bizarro mas é tal e qual: pensar nas pessoas que não estão aqui ajuda-me a não sofrer por não estarem aqui. Nenhuma delas está aqui – n e n h u m a – mas estão todas comigo.

A ausência não é leve. Mas a ausência não é dramática. É um dado adquirido, algo que escolhi para condição semi-permanente daqui para o futuro. Enquanto eu estiver presente, seja em Tóquio ou no ilhéu do Ataúro, vocês também estão presentes – todos os nomes em que me alicerço estão comigo onde eu estiver. É graças a isso que agora consigo ser disponível para os outros de cá.

Tenho dado sem restrições. Tenho recebido mais ainda. Vão quase 30 anos sem fantasmas ou arrependimentos. Já vão 3 meses de Tóquio e o balanço não mudou. Se há mérito nisto, ele é mais vosso que meu.

segunda-feira, dezembro 05, 2005

LISTAS AMORFAS DO VARETA, vol.1

Coisas de que tenho saudades:

1. A família
2. Os amigos
3. Tomar



4. Lisboa
5. Peixe grelhado



6. A casa dos meus pais e a minha casa
7. Os discos que deixei para trás
8. Tremoços e "Sagres"
9. "Sagres" e tremoços
10. Tremoços
11. "Sagres"
12. Ser sempre bem compreendido quando falo português
13. Ser bem compreendido quando falo português
14. Ser minimamente compreendido quando falo português, em particular no acto sexual (ainda que a conversa seja pouca, é muito mais natural "fazê-lo" em português que noutra língua...)
15. RTP, SIC e TVI - nunca pensei, mas é verdade...
16. A possibilidade de um dia ir para o estrangeiro (já cá estou, não é?...)
17. A família, sim
18. E os amigos, claro
19. O passo, o ritmo português
20. A família e os amigos, não sei se já tinha dito

Coisas que fazem redobrar as saudades:

1. Telefonemas e cartas e emails
2. Ouvir a versão esmagadora do "Adeus que me vou embora" do António Variações cantada pela Lena d'Água, no álbum "Tu aqui".

Coisas que são paliativos para as saudades:

1. As pessoas que já conheci
2. As lojas de discos de Tóquio
3. A cerveja japonesa
4. A comida japonesa - e a não-japonesa também
5. Telefonemas e cartas e emails
6. A excitação com a "casa nova"
7. O saldo bancário
8. Os projectos
9. O trabalho
10. Ser português

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