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Vareta Funda

O blog dos orizicultores do Concelho de Manteigas


quarta-feira, dezembro 29, 2004

NÃO HÁ AMANHÃ SEM ONTEM



«Obrigaram-me a tomar drogas, sofri violação e acosso sexual com cães, introduziram-me ratazanas vivas pela vagina. Obrigaram-me a ter relações sexuais com o meu pai e o meu irmão, que estavam detidos, além de que tive de assistir às suas torturas»

«Um carabineiro com um martelo de madeira dá-me um forte golpe no dedo mindinho de ambas as mãos. A seguir, com um alicate, começa a arrancar-me as unhas. Nesse momento entra o sargento, que lhe tira o alicate para o utilizar a arrancar-me o bigode. Em dada altura, como resultado da grande dor e do desespero, consigo morder-lhe a mão, o que faz com que o carabineiro me dê uma coronhada na cara. Perco a consciência e, ao despertar, dou-me conta que sangro muito da cabeça, do nariz, da boca, e que me faltam oito dentes. Tinham-mos arrancado com o alicate ou com golpes. Não sei.»

Mais de 35 mil testemunhos como estes foram divulgados agora, trinta anos depois do golpe de Pinochet com o apoio da CIA conforme atestam documentos disponibilizados pelas autoridades norte-americanas.

Trinta anos depois, Augusto Pinochet, foi finalmente processado e está em prisão domiciliária desde o dia 13 de Dezembro último. A Justiça não é cega, nem surda-muda, nem mongolóide. A Justiça é inimputável.



terça-feira, dezembro 28, 2004


De orelhas em pé - XVIII

A insuspeita TSF não resiste a descalçar a rude mas digna bota-todo-o-terreno-jornalístico e a enfiar a formosa patinha num plebeu chinelo, antes de a mergulhar por inteiro na poça. Já tal me tinha chocado num qualquer telejornal (confesso que não me ocorre se era directa ou indirectamente subvencionado pelo erário público - ou seja, eu e você) emitido em cima da hora.

A classe jornalística pergunta sempre "e os portugueses?", como se do estado de saúde dos naturais deste minúsculo rectângulo dependesse alguma coisa neste mundo ou se a nossa opinião contasse mais que a dos outros, nomeadamente dos directamente envolvidos nos factos. Perante o horror que se abateu, sem piedade ou aviso, sobre os países que bordejam o Oceano Índico, uma televisão (pelo menos) e a TSF falavam do "drama" dos portugueses que estavam de férias na Tailândia e em outros resorts igual ou superiormente paradisíacos e se viram, de repente, impedidos de regressar aos seus países.

Haja pudor, senhores. À hora que escrevo estão contados mais de 25.000 cadáveres e as perspectivas mais conservadoras apontam para, pelo menos, 40.000 mortos. Famílias inteiras, comunidades inteiras dizimadas, países de reduzidíssimos recursos com uma factura colossal a pagar só em danos materiais, e o "drama" de um punhado de portugas é notícia?

quarta-feira, dezembro 22, 2004

O Natal explicado às crianças

Há muitos, muitos anos, havia uma mulher e um homem e um burro. A mulher estava grávida, o homem era carpinteiro e o burro não. Chamavam-se respectivamente Maria, José e Burro. Estavam em Belém mas era antes de haver o Palácio. Já havia pastéis mas eram vendidos em bancas toscas por umas mulheres andrajosas a quem chamavam “judeias”. O burro não comia pastéis e os donos também não porque eram pobrezinhos. Ainda assim, Maria parecia menos andrajosa que as outras – a gravidez trazia-a luzidia e usava uns panos leves, próprios para a viagem, muito fashion. Tinham viajado porque se iam recensear para as eleições de 20 de Fevereiro, mês que na altura ainda não se chamava Fevereiro porque os antigos não tinham calendários como os nossos. Nem telemóveis. Maria, José e o Burro estavam para Belém como estão para Portugal os jogadores brasileiros que se casam com madeirenses.

Maria, José e o burro chegaram a Belém já pela noitinha, a 24 de Dezembro, vindos da Praça da Figueira no 15 que vai para Algés mas que naquele tempo ia para a Cruz Quebrada. O burro vinha mascarado de espantalho para não haver chatices com o revisor. Quando chegaram a Belém, estavam cansados e com fome e ainda não havia Royco Cup-a-Soup. Foram à Pensão Setubalense apreçar os quartos mas estava tudo esgotado por causa do pessoal que vinha fazer a inspecção militar ao quartel da Ajuda. Como eram pobrezinhos e a Caixa Geral de Depósitos já lhes tinha cancelado o cartão de crédito, Maria, José e o burrinho não puderam ir para o Hotel da Torre e acabaram por passar a noite numa exploração pecuária onde hoje é o Jardim Museu Agrícola do Ultramar. José amigou-se de uma vaca que por ali andava e instalaram-se os quatro nuns futons por cima de umas esteiras de palhinha que deixavam escoar o bostedo dos bichos. Quem teve azar foi o burro, que estava mascarado de espantalho com um corta-vento cor de laranja – como a manjedoura era pertinho do Colégio Pina Manique, houve um cavalo que o confundiu com o Carlos Silvino.

Aos gemidos do asno ninguém ligou, porque os antigos não estavam sensibilizados para os direitos dos animais – aliás, o Álvaro Braga Júnior ainda era jornalista desportivo, na altura! Mas mal a doidivanas da Maria começou a estrebuchar com as primeiras contracções foi um desassossego. José estava um bocado carrancudo porque ainda não compreendia muito bem a origem daquela gravidez. Estava casado com Maria há oito meses e ela tinha-o levado à certa para não fazerem acordo pré-nupcial. Ainda não a tinha conhecido carnalmente quando ela lhe anunciou a boa nova: “José, vou parir para Dezembro!”. Ele era um bom carpinteiro de limpos mas não sabia ler nem escrever e ela lá o convenceu que o pai era ele ainda que o filho não fosse dele mas do Pai. Como não tinha ideia do que eram maiúsculas e minúsculas, José lá engoliu – sim, este engolia – a história como sendo mais um sinal da mania das grandezas da sua jovem esposa. Certo certo é que ele ainda não tinha molhado a sopa desde o enlace e que a sua Maria continuava a fazer olhinhos doces a um mariola da família Espírito Santo em casa de quem trabalhara. “Inda lh’aplaino o caralho, ou o caralho!”, desabafava às vezes José na taberna, enquanto via a bola.

Mas destes amores desencontrados não versa a bonita história do Natal. Maria começou com contracções na manjedoura de Belém e José lá foi pedir toalhas e água quente a casa de Paulo Lowndes Marques, que ficava ali à beira. Deram-lhe um rolo de papel de cozinha, uma lata de salsichas industrial com água e um Yorkshire Pudding para estancar eventuais hemorragias. José lá foi a correr e quando chegou já lá estava o Alexandre Frota a ajudar a aparteirar a criança. Não, minto. Quando José lá chegou, Maria uivava e arfava e o menino já estava quase de fora. Sim, que era um menino que Maria carregava no ventre. Uma vez saído e dada a placenta de comer aos animais, Maria disse: “Foda-se! Agora deixa-me dormir um bocadinho!”. José embrulhou o menino no saiote da esposa e foi lavá-lo à Fonte Luminosa da Praça do Império, que se chamava assim porque no tempo dos antigos isto era um império.

Bem tornando à manjedoura, José viu uma grande agitação. À sua espera estava um Mercedes com uma estrela bem areada, três camelos e o Manuel Luís Goucha, o Jorge Gabriel e o Bonga. Estava também um camião do Modelo, uma furgoneta da Sobrinca e uma viatura do estado ao serviço do ACIME – Alto Comissariado para a Integração das Minorias Étnicas. Enquanto o Jorge Gabriel dizia para taparem as vergonhas ao menino e o Manuel Luís Goucha dizia que não, que fazia bem que aquilo respirasse, lá apertaram as bochechas à criança, fizeram barulhos infantis e disseram “Onde é que a galinha põe o ovo, pequerrucho?”. Depois deram presentes aos pais e ao menino: brinquedos, um ano de compras no Modelo e um cheque miserável. E foram-se todos embora, comer espetadas na Tasca do Gordo em Algés, enquanto Maria e José ficavam com o menino nos braços e a vaca e o burro pensavam numa vida a dois.

Ao menino chamaram Jesus, foi guarda-redes do Varzim e do Guimarães e a 25 de Dezembro comemora-se o seu aniversário e trocam-se prendas e enviam-se postais e dão-se esmolas. Também há missa mas só vai quem quer.

terça-feira, dezembro 21, 2004

A Vara by g2

(Tem graça como, de repente, sem darmos por isso, encontramos algo com interesse! Este blog é um exemplo disso! Os senhores (e senhoras certamente) orizicultores do Concelho de Manteigas, deram vida a um espaço onde, com certeza, defendem a sua actividade! É bonito ver a internet ser usada assim, para fins que, em última análise, contribuem para o desenvolvimento do País! Ainda bem que há pessoas com este sentido cívico, que criam estas coisas para o bem comum, neste caso, dos orizicultores do Concelho de Manteigas. Ao ler um pouco (depressa demais para o meu gosto, mas enfim...) apercebi-me que um dos senhores orizicultores faz hoje anos: muitos parabéns! Desculpem ter-me intrometido neste vosso espaço, desejo-vos muitos êxitos na vossa actividade de orizicultores do Concelho de Manteigas. Até à próxima, se próxima houver!)

Foi desta maneira, sem graça, mas a única que se me apresentou à ideia, que cheguei à Vara! Não a descobri por mim só! Sou preguiçoso para andar a passear pela net, à procura de coisas. Ou vou aonde preciso por qualquer razão, ou vou a sítios para os quais alguém me chamou a atenção! Foi este o caso da Vara, vim até cá porque alguém me falou dela. E ainda bem, obrigado "alguém"!

A Vara revelou-se uma entidade viva, aberta, (nada de graçolas) e com capacidade de interferir nas pessoas. Interferiu em mim: criei novos hábitos, tornei-me "Varo_dependente" e, coisa que eu nunca pensei ser possível em mim, ganhei novos amigos. Perdi o medo próprio de um certo acanhamento que me é intrínseco e fui a uma reunião (pensava eu) dos orizicultores de Manteigas. Enganei-me! De repente dei comigo no meio de uma incrível confusão, gritos, pratos pelo ar, meias a voar de um lado para o outro, a polícia, os empregados do restaurante assustados, abichanados a dançarem em cima da mesa, dengosos e elas, as bacorinhas que lá estavam, a atirarem-lhes com bolinhas de pão!

E fiquei e com essa atitude ganhei os tais amigos. Quem são eles?

1. O Senhor da Vareta Funda. Além de ser senhor disso, é também senhor de uma belíssima capacidade de escrever. Fiquei fã, depois amigo, cheguei cá no dia do seu aniversário. Coincidência? Gosto do seu ar calmo, que a escrita não mostra.

2. O FPM. Não sabia que havia "gajos" assim! Gajos que andam às tacadas, sportinguista do Porto (o que ele deve sofrer), deu tantas tacadas que duas delas foram parar ali ao lado. E de uma dessas tacadas resultou "um como eu". Mais bonito, claro, muito mais bonito, mas "como eu".

3. A laurinha. Quando a conheci fui ao ar e voltei logo. Se eu fosse o super-homem, era a ela que levava a dar a voltinha a voar, mão na mão para que não caísse, igualzinho à volta que a Lois deu. O sorriso dela, visto cá de baixo, deve ser a mesma maravilha que é visto de frente!

4. A Chimeer. Linda. Se nós fôssemos seres de uma só célula num microscópio, creio que ela estaria do outro lado da lente.

5. A VD. "Vejo-a" em cima de uma cêfadêra-debulhadêra-enfardadêra, de chapéu na cabeça e botifarras. Mas foi um raiozinho de lua que apareceu, tão gentil nos encontros, quanto rija nos comentos.

6. A Imaculada. É só o sorriso mais lindo da vara!

7. O fininh0. Quando estou ao pé dele apetece-me pôr-lhe o braço por cima dos ombros e cantar, como os alentejanos fazem.

8. O Priapo. Com ele sinto-me a salvo. Venham os mariolas que vierem, há um abichanado que os afugenta a todos, porque há muito homem num só priapo.

9. O Fodósofo. Tento ser um pouco como ele que é único e todos devíamos ser um pouco fodósofos. Porque daqui a uns anos, pouco mais teremos como Pátria que a língua portuguesa.

10. O Confúcio. Se me dissessem para reconstruir o Olimpo, ele seria Zeus. É assim que o vejo!

11. O Zé Cutivo. Um "senhuor", carago, um verdadeiro homem do Norte. Anda quase sempre com uma coisa redonda, negra, pendurada no peito, mas gosto muito dele.

12. A Nena Maria. A bacorita com quem eu gostava de passear uma tarde inteira, à beira do mar, ou na avenida de um jardim, a conversar. Dos olhos dela nasce a paz.

13. O Bock e o chOURIÇO. Não pude separar "estes" dois! Não por eles, que são muito diferentes um do outro, mas por impossibilidade minha! Chegado ao nome de um deles, o do outro veio atrás. E depois, aqui estou a olhar para o teclado, sem saber o que dizer. Olho para as letras, estão cá todas: o "m", o "i", o "g", estão também o "ç", o "ã" e todas as outras… Mas não sei inventar palavras, quando muito sou um sofrível pastor de letras. E penso: "Então vou usar com eles as palavras já gastas que qualquer um diz a qualquer outro?!" A resposta é sim, porque, enquanto faço a pergunta, descubro que a força das palavras está no sentimento de quem as escreve. Por isso, ao CHOURIÇO e ao Bock só posso dizer que sou amigo deles.

14. O Belo Menir. Espero sempre pelos escritos dele, uma das pedras de suporte mais preciosas da vara. Suponho que tem tanto de sensível quanto tem de irónico ou de "aparente zangado", quando diz "tu és gaja, não és?"

15. O Assento da Sanita. Uma das pessoas mais espectaculares que me foi dado conhecer. Só por ele teria valido a pena a queda que dei no barrascal. Eu gostava de ser como ele.

16. A tt. Se eu tivesse que desenhar a História de Portugal, ela seria a minha Padeira de Aljubarrota. A maneira como defende as suas convicções, está ao nível da "beleza" com que as escreve. E por falar em beleza, alguém se importa se eu lhe der, a ela, a coroa de "Miss Vareta Funda"?

17. A Anita. Se me fosse dado refazer as quatro estações do ano, a Anita seria a Primavera. Adoro a Anita.

18. A EstouNua. Seria a minha eleita para um daqueles serões de que eu gosto. Uma lareira, uma mesa com pão, vinho e queijo, horas de conversa. Penso que a nuíta tem muitas coisas para (me) ensinar, histórias que eu ia gostar de ouvir, coisas que viu, que sentiu, razões que a fizeram chorar de alegria.

19. O Mimosa! Ele aí anda, às voltas com palavrões como "Move, Draw, Line, Undo"… Agora, anda também às voltas com outras coisas bem importantes. O mimalho, esse menino de sorriso permanente, é um importante arquitecto da vara e só não está na mesma prateleira onde estão o Bock e o CHOURIÇO, porque isso seria então uma orgia e eu, já o disse, não gosto de orgias! E é um gajo cheio de sorte, depois logo vos digo porquê!

20. O Fodimedes. Um serão de jantar no Porto, uma conversa simples, um amigo que ficou. Um pouco ausente daqui, espero que regresse depressa, porque o que ele diz é para ser ouvido!

21. A Saltos Altos. Para meu grande prazer, estive sentado ao lado dela num célebre jantar à moda do Porto. Por minha vontade ainda lá estava! É linda, a nossa saltitos!

22. O ZecaGalhão. Não me foi possível conhecê-lo como gostaria. Ele não teve vagar para mais que para uma curta e engravatada visita! Mas espero que um dia destes ele apareça com mais vagar!

23. A Violletta. Provavelmente já se irrita por eu escrever assim o nick dela, em estilo corrupto. Mas agora não há nada a fazer, a menos que ela o proíba expressamente. Da Violletta direi apenas que ela seria o Sol, se me fosse dado a mim "inventar" um sistema solar. Pela luz que irradia, pelas "vidas" a que dá azo, pelo sorriso único, pela alma que ela deixa entrever. Gosto muito da minha querida Violletta.

24. Uma palavra para significar o meu gosto pessoal em ter conhecido a Dona Anta, a Dona Tampa, a Fly, a Menina Mimosa e o Coelhinho Tó.


Não sei se estas divagações virão a ser um post, na vara. Nunca tal me passou pela cabeça, mas foi-me dito que o fizesse e quando perguntei, abismado, "mas que é que eu posso escrever na vara", foi-me respondido que escrevesse o meu estado de alma. Como quem diz, que escrevesse o que eu achasse por bem. E nesse preciso instante, foram vocês que me encheram a alma. Não me atreveria nunca a escrever no mesmo sítio onde escreve o Menir, o Vareta e os outros todos. Mas, instado a fazê-lo, devo dizer que a culpa não é de quem o sugeriu, mas sim da minha vaidade que o supôs exequível. Sou vaidoso, não há nada a fazer, não levem a mal este golpe de mão num terreno onde tanta pérola foi plantada. Ainda por cima, agora sou duplamente vaidoso por vos ter a todos como amigos.

Só o Vareta e a Violletta é que foram "escolhidos" para estarem nos lugares em que estão. O Vareta, porque parti do princípio que ele é o "dono" da Vara. Ainda que isso não seja absolutamente verdade, assim fica. A Violletta porque me meteu na cabeça que eu podia escrever aqui. Não sou da opinião dela, mas enfim, uma vez não são vezes… Todos os outros estão também em primeiro e em último lugar, ex-æquo.

E para terminar existo também eu, evidentemente. E eu sou o

25. g2. De mim direi somente que gostava de vos abraçar a todos, num único e apertado abraço. Impossível, direis vós. Não, retorquirei eu! Mas digo-vos que duas coisas são necessárias para que se efective esse abraço. Uma depende de mim, é a vontade e essa está cá. A outra depende vós e é, muito simplesmente um "não se vão daqui embora"!


quarta-feira, dezembro 15, 2004

Remembering O Meu Pipi

Há uma espécie de panasca que passa a vida a tentar foder. Enquanto procura pito trigueiro, perde-se em considerações e acaba por ficar agarrado ao madeiro. Saberá o roto leitor do que falo, uma vez que se enquadrará nesta categoria. Tanta cona procura que acaba por não vislumbrar nenhuma. É um fenómeno curioso porque a disponibilidade demonstrada não corresponde ao resultado final.
Na tentativa de esbodegar a pachacha mais palpitante, fica o principiante a pensar em vez de agir. A crica foge-lhe como o Diabo da Cruz. Ontem, enquanto esbofeteava o malandro pela terceira vez e depois de ter andado em actividade fodangal com duas colegas brasileiras, reflecti sobre isto (mas não muito, porque reflectir, à sua maneira, também é roto). Quanto mais o borbulhento adolescente se oferece às gajas para foder, mais elas o recusam. “Ó Pipi, então porque é que isto acontece?”, oiço o abichanado leitor a perguntar. De modo a satisfazer a ávida curiosidade feminina do leitor, a resposta é simples: a culpa é dos canais de pinanço. O adolescente põe-se a pensar que basta aproximar-se da puta para que esta se dispa e se agarre ao Zé Tolas. Na realidade, nada disto acontece e o espécime em análise acaba a tocar zumbinhas em frente à pantalha do televisor.
As gajas dizem que não vêem esses canais de televisão que transmitem as películas de fodilhões em esforço perante as câmaras e a fazer investidas de mangalho em rata alheia. Pois o Pipi diz-vos que assistem com avidez às humidades libertadas e às sessões educativas de chucha-na-tola. Não admitem é que um gajo se ofereça para as ajudar a libertar das vestes que lhes cobrem a alma e o corpo. E é aqui que entra o manual do fodilhão. Não entra pelas vestes adentro mas faz as mesmas vezes. Claro que esse manual me pertence e não é disponibilizado de bandeja. Tragam-me as vossas mães, irmãs e primas e poderemos conversar mais um pouco sobre o assunto do chavascal.


posted by Pipi ghost-writer

segunda-feira, dezembro 13, 2004

i. porque se impõe uma palavrinha prévia

O que é que eu tenho feito? Não sei muito bem responder a isto.

Desde que me conheço que vivo da mesma maneira: a pensar que os outros têm mais direitos sobre mim que eu próprio. Tenho para mim o tempo que outros não reclamam, a disponibilidade que vai sobrando, a tranquilidade restante daquela que procuro oferecer às mãos cheias às pessoas a quem quero bem. Se me basta? Basta, pois. Sou um gajo feliz, tanto ou tão pouco que estava capaz de submeter a minha felicidade à certificação do Instituto de Soldadura e Qualidade. Mas ou deixo de dormir ou deixo de trabalhar ou lá terei que continuar a fazer actos de contrição uns atrás dos outros por não ter tempo para isto ou para aquilo.

Devo tempo a pessoas que estão longe, devo tempo a pessoas que não têm tido tempo para me procurar, devo tempo ao piano, devo tempo aos livros, devo tempo aos filmes, devo tempo – muito tempo – a este blog. Precisava que o meu relógio aceitasse umas condições parecidas com as das contas-ordenado das instituições financeiras mas o sacana é mais inflexível que o era a Dra. Ferreira Leite.

Depois há ainda aquela relação tramada entre tempo e meios. Quando tenho acesso aos meios que me permitiriam saldar algumas das dívidas enumeradas, falta-me o tempo. Quando consigo ter tempo, faltam-me os meios. Quando se juntam os dois, acredito em Deus Nosso Senhor.

ii. mania das grandezas

O gosto de escrever sempre o tive – e mal seria se assim não fosse, com a profissão que escolhi. Sempre gostei tanto que nunca me angustiei por desconhecer se o faço bem ou mal. Antigamente, quando não escrevia porque tinha que ser, escrevia porque me apetecia. Hoje, quando não escrevo porque tem que ser, escrevo porque gosto de pensar que vocês vão ler – não porque queira ser apreciado ou porque pretenda ver este ou aquele tema discutido mas só porque assim eu “estou cá” e porque esta é a maneira que conheço de demonstrar o meu apreço a por quem cá anda.

Da combinação entre esse apreço e a falta de disponibilidade resulta, de quando em vez, a “mania das grandezas”. Começa pela negação: não, eu não vou escrever só por escrever, eu não vou só brincar com o quotidiano porque eles merecem substância, conteúdo, forma, eles merecem o melhor. Passa-se depois à laboriosa construção do conceito: já sei, vou pegar nisto, chamo-lhe não-sei-o-quê, começa assim e depois torço aqui e acolá e… logo se vê. Finalmente, as primeiras contracções: uma página, dois parágrafos desinspirados, relê-se, risca-se, outra ideia, volta-se à primeira, põe-se o papel de lado e guarda-se para amanhã – tudo para que, no dia seguinte, se constate que era mais um nado-morto. Cuidam que fica por aqui? Desenganem-se. Segue-se a fase do desespero, das forçadas tentativas de reanimação, da vida artificial até ao momento da coragem em que se desliga a máquina e se fina a esperança em mais um projecto e se diminui a crença na capacidade de fazermos aquilo a que nos propomos.

Eu tentar até tentei mas a verdade é que não consegui dar corpo à ideia de transformar o “Código Da Vinci” nesse grande tributo à música moderna portuguesa que seria o “Código dos Da Vinci”.

iii. de maneiras que…

Se por esta altura ainda não perceberam que sou um bocado esquizóide, das duas uma: ou eu sou muito mais dissimulado do que penso ou vocês são muito lorpas. Posso assim afirmar sem medo de causar estranheza que o ano tem, para mim, três dias de Natal, a saber: 8 de Maio, 13 de Junho e 25 de Dezembro. Se o último é dia de Natal porque sim, os outros são-no porque neles nasceram os meus sobrinhos e, lá porque se não chamam Jesus (felizmente), são Meninos com maiúscula de pleno direito e ensinam-me tanto a mim como o Outro terá ensinado aos mestres no templo (com o devido respeito pelas hierarquias, claro).

Isto não quer dizer que “ligue pouco” ao dia 25, pelo contrário. Gosto mesmo do Natal, pronto. Gosto de quase todos os dias mas ainda gosto mais deste e de alguns outros. É artificial, concedo, é padronizado e mercantilizado e parece-se cada vez mais com uma refeição para micro-ondas – é só comprar a embalagem e pôr cinco minutos no forno e aí temos o Natal: vermelho, com luzinhas, com prendinhas, com presépiozinhos, com pinheirinhos, com docinhos… E depois? Hum? Qual é o problema? Se há coisa que me irrita são os discursos dos “pós-modernos-neo-tradicionalistas-pseudo-humanistas” que “abominam este Natal que é só marketing e consumo”. Façam outro, por Deus! Mas deixem-nos viver este como nos apetecer, sem moralismos requentados em panelinhas sem autoridade para tanto.

De maneiras que eu, Vareta, dou muito mais valor a uma arquivista que se embebeda no almoço de Natal do serviço e se passeia pelo local de trabalho com um gorro de São Nicolau do que a uma quarentona seráfica que acha que esta coisa do Natal é uma cãibra no estilo (tradução por homofonia de “cramps your style”).


Fotografia a p&b by Violeta



Fotografia do Z, publicada sem autorização.

Há outros natais. Os que são a preto e branco.

Os sábados de manhã no mês de Dezembro são especiais. As cidades ficam muitíssimo mais bonitas, enfeitadas com laços e árvores coloridas, salpicadas por alguns casacos de pele com aroma a perfume, embrulhadas em sorrisos e palavras soltas de feliz natal.
O café habitual onde tomo o meu pequeno-almoço dos sábados de manhã fica muito mais cheio de gente que cumpre os rituais de Dezembro. Este sábado, espero ao balcão mais um pouco, o que não me aflige nada. Tenho tempo. Saboreio em silêncio nos lábios a frase… tenho tempo.

Ao meu lado no balcão, uma mulher de idade indefinida. Imóvel, espera algo. Penso que como eu, espera para ser atendida pela menina que vai tirando bicas e mandando obrigadas e faz favores aos clientes. Mas tenho tempo e foco melhor. Estudo o enquadramento. Serve-me o fundo repleto de vozes alegres, perfumado de café.

Faço zoom. Um xaile na cabeça e uns sapatos de pano fazem-me adivinhar o frio de quem vem de longe em busca de uma nova vida. Usa roupa de cores pardas, sem formas nem desenhos. Tem uma moeda de 50 cêntimos na mão e olha para o vidro onde se protegem os bolos da manhã. Trocamos silêncios e olhares. Com o suporte de uma palavra que oiço como ajuda, entendo que me pede dinheiro para comer. Fico terrivelmente envergonhada com estas situações. Como se eu fosse ela e ela eu. Crio uma empatia estranha com estes estranhos que se cruzam comigo na dor dos seus dias. Digo-lhe baixinho – O que quer? Qual quer? Aponto os folhados, os bolos, enquanto o meu pão com fiambre e abatanado surgem à minha frente. Ela aponta para um bolo pequeno, com creme. Deve ser o bolo mais pequeno da montra. Peço o bolo à menina do balcão que me atende e que já está dentro da minha estória e me diz com os olhos.. só isso?

- Só. Porra, ela não pediu mais nada. – Grito eu já cada vez mais baixinho.

A mulher que poderia ter sido tão bonita e que parece já velha, diz-me obrigada e senta-se na mesa ao lado da que eu tinha escolhido. Comemos as duas em silêncio. Olho para ela disfarçadamente, sinto-me mal, compreendo na satisfação com que ela como o bolo o significado da palavra fome.

Todo este episódio seria banal, não fora o momento que se seguiu. E que me persegue ainda. A mulher terminou o bolo, delicadamente limpou a boca a um guardanapo de papel, olhou-me nos olhos, abriu um sorriso lindo, onde faltavam alguns dentes e disse-me “xau”. Trago comigo este sorriso, como se fosse uma fotografia a preto e branco tirada num dia em que as cores são só dos outros…

domingo, dezembro 12, 2004

EM VERMELHO

Tive, o que se pode chamar, um fim-de-semana de actividade política. Estive em duas festas de aniversário.
Na primeira conheci pessoalmente estes senhores que vos quero apresentar e que acho absolutamente fantásticos. Estive com velhos amigos em cantos novos e com novos amigos de cantos.

A segunda foi uma festa revisitada de emoções. A comprovação da fidelidade.
.A paixão que sobrevive.

quinta-feira, dezembro 09, 2004

Natais by Violeta




Este tema é difícil. Não gosto dele, mas não lhe consigo fugir.
Tornou-se um ritual meu, muito íntimo, passar pelos sucessivos natais como quem passa por um exame final. Tenho de o fazer, tenho de me preparar, tenho de o passar. A classificação final ficará inscrita no meu cadastro de vida. Como é impensável um chumbo e como nunca gostei de notas medíocres, faço o possível para ter pelo menos um bom menos. Passe a redundância.

Para este exame armo-me da minha melhor ironia apimentada com uma pitada de paciência. Faço a minha análise crítica à sociedade de consumo, teço inúmeras considerações sobre o egoísmo, o consumismo e a falta de valores, chateio toda a gente com o discurso obrigatório, evito as catedrais das compras, utilizo os feriados de Dezembro para fazer caminhadas pela natureza e apanhar troncos e azevinho pelos campos fora e, nunca, mas nunca, compro novas luzes para a minha árvore. Cada luzinha que se funde todos os anos significa mais um ano que passou. Ainda tenho imensas que acendem. As apagadas, essas, amo-as na mesma, no brilho que já me deram.

Gostaria de ser capaz de fazer uma análise rigorosa sobre o fenómeno do natal. Gostaria de perceber porque razão nesta última semana, tive vários telefonemas de vozes doces das funcionárias das instituições bancárias onde estou a dever a casa, o carro e a alma, a oferecerem-me mais um cartão de crédito cheio de promoções e bónus. Gostaria de analisar porque razão não consigo ir ao supermercado comprar algo tão simples como batatas e cebolas para o jantar, sem me deparar com famílias inteiras de olhar alucinado empurrando carros plenos de caixas de brinquedos e dvs e games boys, que se misturam com os carrinhos de bebés com crianças que talvez gostassem mais de um passeio à beira mar, mas que passarão os seus feriados e domingos entalados entre luzes artificiais e música a metro com sabor adocicado a natal.
Gostaria de dizer a estas famílias que irão pagar estas facturas com lágrimas nos próximos meses. Gostaria de mostrar às crianças que natal é uma festa de amor. Gostaria de poder comprar as minhas batatas e cebolas, sem culpa, por não estar a encher o carrinho com barbies e action mans e toalhas e guardanapos cheios de desenhos com ar de festa.

Ao invés, sorrio à menina da caixa, minha amiga de conversas do tamanho inverso das filas dos clientes, desejo-lhe um bom resto de dia e em silêncio e troca de olhares, sei que hoje ela preferia estar em casa com a família. Mas também sei que a menina da caixa ganha a dobrar se trabalhar ao feriado. É natal, pois. Despeço-me com um sorriso cúmplice.
- Até sábado, Cristina. (Eu sei que porque hoje não estiveste com o teu filho, tens direito a dois dias de folga).

Se soubesse, faria uma análise rigorosa sobre o natal. Vocês mereciam. Mas não seria capaz. Só sou capaz de um sopro intimista. Uma coisa de nada. Minha. Porque me apetece e porque gosto de me partilhar convosco.

Prefiro pensar porque razão não gosto do natal. Porque tive natais felizes, porque na época dos “natais das memórias” eu morava num bairro de Lisboa onde existia uma pequena drogaria que vendia brinquedos. A drogaria do Sr. Venceslau. Porque desejei uma boneca que andava e que me sorria da montra onde eu passava todos os dias, a caminho da escola. Desejei-a como nunca desejei nada na minha curta vida de então… e essa boneca foi minha. E eu fui dela. Num natal feliz.
Depois de uma série de natais felizes como estes, em que tudo fazia sentido porque o menino Jesus estava nas palhinhas no meu pequeno presépio e eu tapava-o com algodão à noite para ele não ter frio, aconteceu um facto estranho. Acho que cresci…

Houve um último natal nesta timeline. Logo a seguir a esse natal que tinha uma morte anunciada, o meu pai lembrou-se de morrer. Eu sei que ele não fez por mal. Deve tê-lo chateado imenso a doença que o minou. Eu fiquei zangada com ele, obviamente. Não tinha nada que me morrer antes do prazo em que eu precisava dele. Mas teimosamente cumpriu o fim dele. Deu-me cabo dos natais futuros.
Tornei-me estéril nesse natal. O meu corpo recusou a natalidade logo a seguir. Desse episódio não há história, apenas vazio. Mas há milagres, ou então a natureza é sábia. Tive a benesse de me acontecer mais um filho passado outro natal. Nasceu de olhos abertos. Nasceu para ser feliz. Nasceu porque era uma prenda.
Ele gosta do ritual mágico do natal. Gosta de fazer a árvore de natal. Gosta do presépio. Inexplicavelmente, lembra-se das minhas memórias de natais felizes. Todos os anos lhe ofereço uma prenda. Conto-lhe como o avô gosta dele.

Um dia destes, escreverei uma análise sociológica sobre o fenómeno do natal. Hoje, não tenho tempo. Vou cumprir os rituais. Espero ter outro bom menos neste natal. Espero passar mais este exame.

segunda-feira, dezembro 06, 2004



PEDIMOS DESCULPA POR ESTA INTERRUPÇÃO. O PROGRAMA SEGUE DENTRO DE MOMENTOS.

Seguia-se um interlúdio que constava de uns gatinhos a brincar com uns novelos de lã.
Muitos ainda se devem lembrar destas sistemáticas interrupções que aconteciam na pré-história da nossa televisão.

O nosso blogue foi um projecto conjunto e já publicámos textos de grande qualidade. Cada um de nós tem um estilo diferente e assim havia textos para todos os gostos.
Apesar de ainda ser um blogue acolhedor - rara é a hora em que, quem quer que bata à porta não tem pelo menos um de nós para a abrir - ultimamente sinto-me como uma locutora de continuação de uma estação de televisão onde os enviados especiais nunca mais mandam as reportagens. Ou como se me tivessem feito um filho e mo deixassem nos braços enquanto foram ali comprar cigarros e nunca mais voltaram.
Não quero, obviamente, retirar valor a quem, como eu, ficou a tomar conta da criança. Mas todos sabemos que há uns tempos a esta parte a criança não tem tido consultas especializadas. Umas mudas de fraldas, uns biberões retardados, umas histórias com mais ou menos imaginação e lá tem sobrevivido. É pouco. Acho eu.



quinta-feira, dezembro 02, 2004



EU, É MAIS BOLOS...

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