<$BlogRSDUrl$>

Vareta Funda

O blog dos orizicultores do Concelho de Manteigas


quarta-feira, dezembro 31, 2003


Consultório do Prof. O'belo

São 17:00 do dia 30 de Dezembro de 2003. Ainda ecoa na distância o canto triunfante dos media, a propósito do "sucesso" da Operação Natal da GNR. Menos acidentes, menos mortos, menos feridos (por igual, entre graves e ligeiros). Vejo, porém, no meu coco de cristal, que a Operação Ano Novo fiará bem mais fino. Caso o tempo que pelas bandas da capital vigora desde a hora do almoço - a típica chuvinha "molha tolos" que me deixa ensopado - se estenda ao resto do país, vamos ter tons bem mais graves nas apreciações dos jormais.

Espero para ver e me pronunciar sobre este meu pessimismo antecipado.


E pronto...

É a puta da vida. O que é hoje, não é amanhã. Um dos gajos mais assíduos por estas bandas, após ter ficado viciado na companhia de quem frequenta esta taberna de qualidade duvidosa, vê-se privado de prolongar a sua condição de postador esporádico e comentador assíduo. Rejubilem, seus cabrões, que não perdem pela demora!
Inverter-se-á a posição, assim espero: passarei à condição de comentador quase ausente e postador frequente, para mal dos vossos pecados e da língua de Camões. Veremos o que o futuro me reserva.
Obrigado a todos os que passaram por aqui e por aqui, com os quais tive o prazer de passar animados momentos. Rir sózinho e em frente a um monitor, era coisa que não me passava pela cabeça poder fazer um dia.
Até breve!

Cumprimentos amistosos - e já saudosos - deste vosso amigo

Papa


terça-feira, dezembro 30, 2003

BALANÇO CONSOLIDADO DE 2003

Raios me partam se 2003 não foi um passo decidido no caminho para um mundo melhor.


sexta-feira, dezembro 26, 2003


Alambridatia, 2

- Sabes...
- hummm... o quê?...
- Não conheci mulheres suficientes para ter por certo isto ser do teu agrado.
- Como? Que história é essa de mulheres suficientes?
- Estarmos aqui é o resultado de um processo indutivo. As poucas a quem eu o fiz, gostaram. Logo, tomei-o abusivamente como um sinal de que a generalidade do sexo feminino gosta.
- Errrr... é uma coisa esquisita para tu te lembrares agora...
- Mas não é tudo. A maioria toma esse conhecimento fragmentário de cada um, amalgamado num certo ideário masculino, como se de uma generalidade se tratasse para concluir o mesmo por um processo pseudo-dedutivo, ferido nos pressupostos.
- Tu estás, realmente, a pensar nisso agora?
- Sim. No fundo, a lógica não é nossa amiga, nestes momentos.
- Então deixa-me ajudar-te. Se eu fizesse fé no amalgamado ideário feminino, deduziria que, apesar de tudo, tive muito azar contigo. Se, por outro lado, usasse o teu exemplo particular, seria obrigada a induzir que os homens não sabem lamber e comprava um cão. Sai lá, que me estás a babar o sofá.

segunda-feira, dezembro 22, 2003


Alambridatia, 1

- Espera...
- (arfando...) O quê?...
- Espera um pouco. Esta luz de fim de tarde...
- Queres correr os estores?
- Não. Mas a forma como incide assim, oblíqua e terna, no teu peito...
- Malandreco... eu também gostava muito que me desses mais atenção ao peito. Mas não pares, porra, continua...
- Não é nada disso, querida. Mas o teu peito desenha-se com um vigor todo novo a esta luz. É uma deusa que se ergue imponente quando as sombras invadem a terra. É uma nova religião que a mim se revela.
- Oh pá, pul'amor de Deus... continua mas é, não sejas mau...
- Mau? A tua silhueta prostra-me, em respeitosa devoção. É um momento mágico e dolorosamente eterno. Uma epifania.
- (suspirando) Uma epifania não direi. Mas se queres mesmo rezar, então contenta-te com uma epiveania, que já me tiraste a vontade...

sexta-feira, dezembro 19, 2003

E PORQUE HOJE É SEXTA...

...não partiria de fim-de-semana com a consciência tranquila se não vos deixasse uma qualquer sugestão de actividade lúdica. Hoje, homenageio um nome grande, um nome MAIOR, um nome incontornável, um nome inultrapassável... ou não, dependendo dos gostos. Hoje, tenho a honra de traduzir, livre e modestamente, David Sylvian.




A Fire in the Forest

There is always sunshine
Conheço-te quase tão bem como me conheço
Above the grey sky
E mesmo quando chegas a casa com a neura
I will try to find it
Há sempre uma forma qualquer de te animar
Yes, I will try
E de te deixar prontinha para o "grande combate"

My mind has been wandering
A partir daí, nem tenho que me esforçar...
I hardly noticed
É como tu dizes: "é a minha cama, é o meu show!"
It's running on its own steam
Não sei se a vizinha achará grande piada - a parede é de tabique
I let it go
Mas a vizinha também é tua e eu faço-te a vontade
Oh here comes my childhood
Tu fazes de aluna e eu de "setôr"
A penny for your secrets
Eu repreendo-te e ralho-te e enxovalho-te e tu vais corando
It's standing in the window
"Ó setôr, eu só estava a olhar pela janela..."
Not out here where it belongs
E com esta frase-código lá vais tu ao castigo

There's a fire in the forest
Houve uma vez em que deixaste as meias de nylon em cima do aquecedor
It's taking down some trees
E eu admito que exagerei na vergastada
When things are overwhelming
Mas tu, mesmo assim, pedias mais e com mais força
I let them be
E eu dei
I would like to see you
Dá-me um certo gozo ver-te com as nádegas bem vermelhas e fumegantes
It's lovely to see you
Mas ainda te dá mais gozo a ti, o tareião
Come and take me somewhere
Depois revoltas-te e assanhas-te
Come take me out
E vingas-te em mim - o que é bom...

There is always sunshine
Portanto escusas de vir com merdas de que te dói a cabeça
Far above the grey sky
Que eu sei que tu gostas disto tanto ou mais do que eu
I know that I will find it
Hoje até comprei uma raquete de ténis-de-mesa
Yes, I will try
E tenho a certeza que vais querer experimentar...

David Sylvian, Blemish


quinta-feira, dezembro 18, 2003


...e não se pode abortá-los?

Há uns anos foi usado em Portugal o perigosíssimo instrumento do Referendo para aquilatar da sensibilidade do povo a uma matéria tão melindrosa quanto o era (e é) a despenalização do aborto. Na altura, o debate decorreu entre dois campos formados à pressa: de um lado os fundamentalistas cristãos e o seu maniqueísmo rançoso - "se não são contra o aborto não acreditam em Deus!" - e do outro as supostas consciências livres, que na verdade eram uma sopa pastosa e, mostrou-o o resultado do debate, tão nauseabunda quanto a primeira.

A questão do aborto per si tem duas vertentes claras: uma técnica, da responsabilidade dos cientistas, e outra psicológica, eminentemente feminina, e que tem a ver com a dimensão materna que é exclusiva das mulheres (sem prejuízo dos esforços trôpegos masculinos de macaquear coisas que, na realidade, não lhes estão geneticamente inscritas). Destas, tipicamente, se ouviu muito pouco. A relevância social do aborto foi abordada, sim, mas abafada pelos gritos histéricos de "assassinos!" (de um lado) e "obscurantistas!" (do outro).

O resultado é o conhecido. O povo preferiu a praia, o cinema, os centros comerciais, etc., e cagou no referendo. Os poucos que se manifestaram fizeram-no maioritariamente a favor da penalização do aborto. Independentemente das interpretações legalistas que se possam fazer deste resultado, a verdade é que ganhou o "não", e esta vontade popular tem que ser respeitada. Análises interpretativas não passam de poeira no ar e uma fraca tentativa de sacudir a água do capote por quem devia ter acautelado a seu tempo a abstenção e não o fez.

Temos agora um "consenso" a adivinhar-se no horizonte, a propósito da descriminalização do aborto. De repente, toda a gente acha que é feio e desumano perseguir judicialmente as mulheres que entendem ter que se submeter a essa tragédia e que, por tal, não devem ser consideradas criminosas (com a consequente pena de prisão). Passa o aborto a contra-ordenação, e a sua prática sujeita a multa.

Esta é a formulação falaciosa que nos oferecem. Porque a realidade é outra: o que passa a contra-ordenação e sujeito a multa é o aborto clandestino. Ou seja, não se investiu no planeamento familiar, na educação sexual nas escolas, na criação de estruturas de apoio a mães solteiras e/ou adolescentes, na expedição dos processos de adopção, na assistência social, no licenciamento e fiscalização de profissionais para exercer a actividade, não se criaram clínicas ou outros instrumentos de saúde pública apropriados, etc., etc. Aplica-se uma multa e está tudo bem. As 11.000 mulheres que foram assistidas no Serviço Nacional de Saúde o ano passado por complicações surgidas após um aborto clandestino vão continuar a tê-las, mas vai deixar de ser crime. Delas, pelo menos, que das responsabilidades criminais dos políticos, que tratam com os pés a dignidade humana, ainda ninguém fala.

Depois de 2% a mais de IVA, do estacionamento pago, do 1/2 cêntimo na gasolina, nisto, naquilo e naqueloutro, prepara-se esta classe política que temos para criar mais uma fonte de receita na taxação encapotada de uma matéria de consciência tão trágica quanto esta. Não se pode abortá-los, rectroactivamente?

terça-feira, dezembro 16, 2003

Aveiro hoje é palco da Sagração da Hipocrisia.


O país assiste à humilhação de várias mulheres transformadas em criminosas e julgadas publicamente. As provas foram obtidas através de escutas telefónicas, fotografias e exames ginecológicos feitos à saída da clínica. Logo após o aborto. Para que não restassem dúvidas. Humilhando e invadindo a intimidade das mulheres.

Quem condena o aborto nunca teve de o fazer, não ouviu quem fez, não sentiu a dor da decisão.

As mulheres estão todas sentadas no banco dos réus, hoje, em Aveiro.
Todas não!
Existe uma classe de mulheres que não fazem abortos. Fazem viagens ao estrangeiro. Vão às compras a Paris. E fazem curas de sono em Espanha.

Protesto contra esta lei vergonhosa. Protesto contra este governo hipócrita. Protesto contra esta sociedade retrógrada.

Hoje sou um ser humano envergonhado, uma mulher revoltada.

segunda-feira, dezembro 15, 2003



De orelhas em pé - VIII

Saddam Hussein foi arrancado de um buraco pouco maior que um frigorífico, onde se escondera junto com uma mala contendo 750.000 dólares. As imagens largamente difundidas pela coligação responsável pela sua captura mostram um homem acossado e triste. É a prova que faltava: o dinheiro não traz a felicidade.

Teresa Nogueira, da secção portuguesa da Amnistia Internacional, defende (e bem, digo eu) que o homem devia ser entregue ao Tribunal Penal Internacional (TPI). Segundo ela, é a garantia de que o ex-ditador será punido, através de um julgamento que respeite as normas do direito internacional. Ora, sendo bem verdade que a asneira se encontra ainda despenalizada no nosso país, chamo daqui humildemente a atenção da referida senhora, que parece esquecer-se de algumas normas do direito internacional, a saber:

- Apenas os culpados são punidos;
- Todos os suspeitos são considerados inocentes até trânsito em julgado de sentença que os culpabilize.

Apresentar Saddam ao TPI é um passo imprescindível para que ele seja julgado com a isenção e transparência que deve caracterizar os agentes do direito internacional. A mesma isenção e transparência que podem, eventualmente, absolver Saddam. Se a sra. Teresa Nogueira pretende estas garantias, o TPI é o caminho a levar. Se pretende, apenas, punir Saddam, deixe-o ficar com os americanos. Ainda deve haver espaço em Guantanamo.

sexta-feira, dezembro 12, 2003

SUGESTÃO DE FIM-DE-SEMANA



Para este fim-de-semana, a sugestão parte de David McComb, esse genial australiano que liderou os The Triffids de tão boa memória... A sua morte trágica foi uma perda para a música dos nossos dias - dos meus dias, pelo menos. A tradução livre é deste vosso criado.

Fairytale Love

In an earlier time, in a green land above
Há uns anos valentes, na Mata Nacional dos Sete Montes
By the mill and the willows we made fairytale love
Perto da Charola, sob os salgueiros, eu montei-te à canzana
With the sky a warm blanket, and our backs to the rain
Era uma noite de Verão abafada, com uma chuvinha manhosa
We thought that our pleasure would always remain
E nós estávamos confiados que, com os portões da Mata fechados, podíamos ficar à vontade

No blemish of lust, flesh unfreckled by sin
Tu aguentavas-te bem à bro(n)ca, sem sangrares nem te queixares
A heart made like clockwork, white marble for skin
"Continua!", dizias, pálida, "Já estou melhor da angina de peito!"
Still waters green pastures, with one caress of your hand
A água do fosso da Charola cheirava a purgueira e tu, só com uma mão
I swear even the wild dog lies down with the lamb
Te apoiavas no chão, enquanto a outra apertava o nariz

We thought that our pleasure would always remain
Pensávamos que tínhamos a Mata e a noite por nossa conta
Soft fairytale kisses again and again
E quando acabámos a primeira começámos nos beijinhos como aperitivo para a segunda
The last moment we touched, by the river you shone
Quando os motores já roncavam, fomos apanhados por uma lanterna
The black swan spread its wings and hissed
O cabrão do guarda da Mata andava na ronda
lo! the night came on
"Quem é que está aí?!", gritou o filho da puta

In an earlier time, in a green land above
Foi há uns anos valentes, naquela Cerca conventual
By the mill and the willows we made fairytale love
Com a água fétida do fosso e o sussurro das árvores e uma tesão do caraças
With the sky a warm blanket, and our backs to the rain
Despidos, à noite, com chuva, a roupa em montes e a cheirar a mofo
We thought that our pleasure would always remain
E o pulha do guarda a fazer-nos fugir

The Triffids, Black Swan



Ehhh! Natal! Ehhh!



Com o passar dos anos, foi decrescendo o gosto que nutria pela quadra natalícia. Tornou-se maçuda, triste e deprimente, não me perguntem porquê. Sempre tive tudo o que quis, nunca me faltou nada, nem mesmo porrada. Nunca tive jeito - nem dinheiro, diga-se - para oferecer prendas. Só para as receber, desembrulhá-las à bruta e rasgar o lindo papel de embrulho que as envolvia. Sempre achei uma paneleirice pegada tentar descobrir os presentes sem rasgar o papel. Equiparo isso a tentar malhar uma gaja sem lhe tirar as cuecas.

Para ser sincero, nunca achei muita piada ao Natal para além das ruas decoradas, o cheiro a castanhas assadas que as preenche, as já referidas prendas, a abundante doçaria e o belo pinheirinho reluzente no canto da sala onde o gordo barbudo deixava as oferendas à socapa. Bem que eu me punha de plantão a ver se apanhava o gajo em flagrante, mas à mínima distracção, uma rápida ida à casa de banho e já as putas das prendas lá estavam, bem arrumadinhas junto ao vaso que sustentava a linda árvore. Nisto, pensava cá p'ra mim: "Se esta bola de unto for esperta, começa a vestir-se de preto da cabeça aos pés, muda o nome para Luis de Matos e um dia ainda vai inaugurar o 2º maior estádio de Portugal". Já naquela altura eu era um tipo com visão.

Procurei uma explicação para o sentimento melancólico que o Natal provoca em mim, e ocorreu-me o facto de, na escola primária, me terem obrigado a decorar os nomes de todos cabrões dos Reis Magos. Também os cânticos e as missas natalícias eram uma estopada, só superados pelo mítico e enfadonho Natal dos Hospitais, onde se torturavam velhinhos com espectáculos deprimentes.
O que eu queria mesmo era arrancar as pernas ao He-Man, atirar o carrinho da Matchbox do 1º andar e saltar a pés juntos para cima do Tragabolas. Recordo que me ofereciam muitos Playmobil, por serem aqueles que acabavam por durar mais tempo. Assumo, não era tarefa fácil partir aquela merda, pá.

Posto isto, e uma vez que sinto um atropelo de nostalgia - não por causa do Natal em si, mas pelo regresso à infância -, resolvi escrever uma carta ao Pápái Nó Éu:

"Querido Pai Natal

Tenho andado todos estes anos preocupado contigo pois desde 1982 que deixaste de me visitar. Às vezes penso que morreste ou que ficaste entalado nalguma chaminé mais estreita, mas depois vejo-te na televisão em todos os canais. Outra coisa que não percebo é por que carga d'água é que na TVI estás sempre mais gordo e baixo do que na SIC.
Enfim, suponho que não venhas a ler esta carta, pois vi num anúncio que agora já só as recebes por e-mail. Se eu apanhasse o teu endereço, estavas feito comigo! Adicionava-te ao MSN e cravava-te prendas todo o ano, que te fodias! Assim, já não tinha que penar até Dezembro à espera da noite de 24.
Ah, já me esquecia, diz lá aos cabrões dos duendes que trabalham para ti, que a Barbie que a minha irmã recebeu há 21 anos vinha com defeito. Aquilo não trazia a... como é que eu hei-de dizer-te isto... a pomba! Sabes? E agora já deve ter passado a garantia. Agradecia que a recompensasses este ano.

Ao contrário do que é habitual, este ano estou pouco exigente e muito altruísta. Para além de uma vivenda enorme - pode ser uma igual às dos GNR's de Albufeira -, um BMW topo de gama e um par de sapatos italianos, gostaria que fizesses algo por alguns dos meus amigos. É para o bem deles, coitados.

Para começar, podias abrir os olhos - todos os que forem necessários para o efeito - ao Menir, para que ele suprima, de uma vez por todas, o nome de "Belo". Para alguma coisa há-de servir, ter passado a puta da infância a ouvir a minha mãe dizer que é feio andar a enganar as pessoas; para o Vareta, podes arranjar um pouco de modéstia e um emprego onde aufira um ordenado decente. E que trabalhe, se necessário; quero que dês uma tanguinha de fio-dental à Estounua para ela não passar mais frio no rego, coitada, e a inscrevas como militante do PP; providencia umas aulas de "Etiqueta e Boas-Maneiras", com a Paula Bóbó, para o malcriadão do Zé cutivo; para o Zeca Galhão, podes mandar embrulhar o traseiro da Anita para ver se o homem se acalma um pouco; para o ano que se avizinha, gostaria que o Armando Moreira e o fininhO se entendessem de uma vez por todas e dessem o nó.
Gostaria, também, que o mimosa fizesse mais greves, que isto aqui tem sido um descanso.

Obrigado
Papa"


___________________________________________________________________
*Aproveito esta ocasião para desejar um óptimo Natal a todos e um grande 2004, assim a Manuela Ferreira Leite o permita.

quinta-feira, dezembro 11, 2003

A ILUSÃO DA ORDEM



Não consigo. Por mais que queira, é escusado. Ao longo da minha ainda breve existência, tenho desposado bastas virtudes - a modéstia à cabeça, claro - que assim se vieram juntar ao rol nada desprezível daquelas com que nasci. Há uma, no entanto, que se vai sempre eximindo a tão gratificante matrimónio: a organização, essa virtude de má vida.

É que não consigo mesmo. Nem na vida pessoal, nem na vida profissional. Nem tão pouco consigo conceber cabalmente o conceito. As coisas existem, estão onde as deixámos, ainda lá estarão se ninguém lhes mexeu e, com mais ou menos esforço, sempre se encontram. E as pessoas também. Agendas? Datas de aniversário? Arquivos? Ordem alfabética? Divisões por assuntos? Mal sei o que são.

Admito. Admito, modestamente, que este facto me poderá tornar menos luzidio aos olhos de algumas moças casadoiras. Misturo roupa interior (lavada, valha-nos isso) e roupa de vestir nas mesmas gavetas - onde também cabem pastas, molhos de correspondência presos com elásticos e outras coisas que o tempo e o bolor me impedem de identificar... biscoitos? bombons? sacos de cheiros? Acho que só o Instituto Ricardo Jorge se poderá pronunciar com certeza.

Concedo. Concedo, modestamente, que eventuais empregadores poderiam mudar de ideias se vissem como fica qualquer superfície de trabalho depois de eu por lá estar um ou dois meses. Não tenho alergia ao papel, felizmente, e ele também não parece ter alergia a mim, a julgar pela forma como ele se multiplica e se empilha em formações periclitantes que motivam os suspiros das equipas de limpeza. Tenho várias dezenas de post-its soltos, já sem cola, que voam de cada vez que uma porta se abre. Envelopes diversos, livros, cadernos, folhas, canetas velhas, chávenas de café, garrafas de água, material de escritório, tudo partilha o mesmo espaço num são convívio inclusivo e integrador. Nenhum objecto, por mais bizarro, se sentirá malquisto numa secretária que eu ocupe.

Tudo isto vai motivando uns olhares estranhos, uns sussuros no corredor, o desgosto dos meus pais e a consternação de quem comigo já coabitou pessoal ou profissionalmente. Poderia ainda perdurar uma ténue esperança se eu fosse daqueles exemplares do macho lusitano que espalham roupa suja, lenços de papel usados e cascas de amendoim por onde quer que passem mas que têm muito cuidado nas suas coisas, sejam elas ferramentas, livros, discos, dvd's, miniaturas automóveis, selos ou (lembrando um velho texto do Mimosa) pacotes de açúcar. Mas não. Lembro-me que houve uma vez em que ordenei alfabeticamente os meus discos de vinil... lembro-me bem: foi há dois anos. Estiveram assim, durante uns meses, mas não me dava jeito nenhum. Acho que foi por essa altura que percebi a grande virtude de uma existência sem sombra de organização: a frequência com que encontramos o que não procuramos.

A organização espartilha-me a memória. Não fomos feitos um para o outro, reconheço-o com modéstia. A confusão, sim; esse é o meu reino! Não quero arrumar a minha vida. Assim, está tudo ali, em qualquer lado - e não será pela ilusão da ordem, que tantas vezes resulta do arquivamento em compartimentos estanques, que eu me hei-de esquecer.


quarta-feira, dezembro 10, 2003


Administração Eterna

Temos tido, nos últimos anos, muito mais que a nossa conta de governantes incompetentes, desonestos, indignos, corruptos, etc., etc., num Carnaval de miséria que mais parece desfilar em anel à nossa frente, tal a improbabilidade de lhe vermos o fim. A expressão "bater no fundo" morreu de obsolescência, que à força de tanto ser raspado e atingido emigrou o fundo, de desgosto. Resta uma inebriante sensação de queda-livre, um passeio em gravidade zero sem Norte nem céu. É assim como flutuar imóvel um metro acima do Trancão pré-Expo, na maré baixa de um dia quente e sem vento.

Neste estado de coisas, figuras há que acabam por ganhar merecido destaque, por todas as razões e mais outra. Uma das mais destacadas, desde (pelo menos) o Verão para cá, é o Ministro Figueiredo Lopes. Dizia-se do mítico Rei Midas ser capaz de transformar em ouro aquilo em que tocasse; pois este Ministro tem o indisfarçável Toque de Merdas, capaz de criar embaraços ao seu governo (a si próprio não direi, que parece imune a essas fraquezas humanas da coerência e da responsabilidade política) a propósito de qualquer assunto que lhe caia na secretária. É preciso uma dedicação tenaz, face aos embrulhos em que se vê metido, para aguentar firme o seu lugar no Governo, à espera de uma oportunidade política favorável para ser remodelado. Até um assunto supostamente tão pacífico quanto seja a nomeação do Comandante Geral da Brigada de Trânsito da GNR ele consegue transformar numa anedota nacional que, esperamos, ainda venha a dar muitas alegrias aos portugueses. Não fosse a Operação Natal da dita BT estar aí e todos nos sentaríamos, pipocas na mão, a ver as divertidas cabriolices do Ministro e dos seus assessores. Há, porém, uma negríssima sombra no horizonte: se este Natal chover mais que a conta, a pilha de mortos na estrada vai engrossar (que esta depende muito mais de S. Pedro do que de S. Bento, como bem se sabe) e a factura vai-lhe ser apresentada.

Para que não sejam tudo más notícias, aqui fica a minha oferta para minorar os seus problemas: estou disponível para comandar a BT. Penso reunir as condições necessárias ao exercício da função, nomeadamente:

-Sou totalmente desprovido de escrúpulos, compaixão ou coerência;
-Não estou a ser investigado por nenhuma polícia nacional ou estrangeira (ainda);
-Sou facilmente corruptível e cedo sem dificuldade a favorecer a classe dirigente;
-Fico bem de farda.

e, o mais importante de tudo,

-Ainda tenho dois dias de férias para gozar aqui no escritório, o que me permitiria ocupar o cargo o dobro do tempo dos meus antecessores sem ter que me despedir.

sexta-feira, dezembro 05, 2003

E COMO VAMOS PARTIR DE FIM-DE-SEMANA...

...cá fica mais uma tradução livre, mantendo a tradição de divulgar os nomes maiores da canção popular.



Vision, de Peter Hammil

I have a vision of you, locked inside my head;
Ele há alturas em que parece que ainda te vejo.
it creeps upon my mind, and warms me in my bed.
É mais à noite, e os lençóis, na manhã seguinte, bem o provam.
A vision shimering, shifting
Vejo-te a tremer, a rodar, a arfar...
moving in false firelight;
A tirares o roupão em frente à lareira...
a vision of a vision,
Sinto-me um pastorinho a ver Nossa Senhora.
protecting me from fear at night,
E ver-te assim tem um efeito dois-em-um: serves de Anjo da Guarda
as the seasons roll on, and my love stays strong.
e, seja Verão ou Inverno, acordo teso com um motivo mais nobre que a simples vontade de mijar.

I don't know where you end, and where it is that I begin.
Aquela confusão de braços e pernas que o teu contorcionismo permitia...
I simply open my mind and the memories flood on in.
As tuas pernas abertas em convite e a frase: "ora relembra-me lá a fundura da Vareta..."
I remember waking up with your arms around me;
O teu esgar de dor quando eu te acordei com uma cotovelada no queixo porque me estavas a sufocar com os teus braços...
I remember losing myself
E aquela vez em que jogámos à cabra cega e me vendaste
and finding that you'd found me,
e foste dar comigo em casa da vizinha, que assim às escuras até se parecia contigo...
as the seasons rolled on, and my love stayed strong.
Enfim, antes passar a noite a sonhar com isto que com cobras - e lá acordo eu de mastro erguido.

Be my child, be my lover,
"Anda cá, pequenina, que eu conto-te uma história", dizia-te eu.
swallow me up in your fire-glow.
E tu abrias-me a braguilha e dizias: "Eu vou-me entretendo com isto mas sou toda ouvidos!"
Take my tongue, take my torment,
Eu queixava-me: "Dói-me isto ou dói-me aquilo." e tu respondias: "Eu dou um beijinho que isso passa"... e pumba! davas.
take my hand and don't let go.
Por causa de ti até aprendi a conduzir só com uma mão...
Let me live in your life,
Era tudo muito bom e muito bonito... o pior eram as despesas.
for you make it all seem to matter.
E o teu mau feitio, caralho! Qualquer coisinha era logo um espavento!
Let me die in your arms,
Eu nem tive a culpa que batesses com a cabeça logo ao primeiro bofetão...
so the vision may never shatter.
Mas, quando te vejo, é ainda antes de teres o crâneo aberto.
The seasons roll on;
De maneira que, seja Verão ou Inverno,
my love stays strong.
O primeiro esguicho da manhã ainda é sempre à tua conta.

Espero que gostem desta história de amor eterno. E espero, essencialmente, que ignorem a tradução e que reparem como o poema é bonito. Bom fim-de-semana.


quinta-feira, dezembro 04, 2003


Por causa deles.

Rejubilou parte da belogosfera a propósito do aparecimento da Causa Nossa. Uns por gostarem de ler os seus autores, outros por anteciparem importante reforço para as suas "fileiras", outros ainda esfregando as mãos de contentamento, perante a perspectiva de poderem zurzir algumas das figuras gradas do "adversário" (senão do "inimigo"). A restante parte, a de leão, limitou-se a ignorar. Por enquanto. Independentemente das motivações que levam cada um a comentar o facto em si, importa a reflexão sobre o que leva tal constelação de pensadores consagrados (de facto, pelo menos, que de méritos não trato) a estabelecer uma banca nesta terra bravia.

Esvaziada de importância (por culpa própria) a Assembleia da República, enquanto palco privilegiado do debate político, mudou-se o confronto para a Comunicação Social. É nas "notícias", nas "investigações", nos "escândalos", nas "entrevistas" e outras inanidades sub-laterais que se lançam os ataques e encenam as defesas. É nos espaços de comentário dos frustrados opinion makers nacionais (frustrados porque, apesar dos seus valorosos esforços, continua estéril a sociedade portuguesa quanto à concepção de uma verdadeira "opinião pública") que se esboçam as posições oficiosas das respectivas famílias políticas.

Como muito bem reflectiram o Guerra e Pas e o País Relativo, o papel do jornalista nestes jogos florais é, de há muito para cá, de embrulho. A agenda há muito que deixou de levar em conta a relevância das notícias e passou a servir os interesses financeiros do orgão em questão - o share ou a tiragem, não como prémio pela qualidade da informação, mas como objectivo a atingir apesar da informação. A agenda da imprensa há muito que descolou da agenda política, pelo menos até ao dia em que os deputados comecem a agredir-se como forma de chamar sobre si as atenções (se a montanha não vai a Maomé...). Quem exerce algum domínio sobre a agenda da imprensa tem a vantagem decisiva de manter o adversário ocupado na sua defesa, em particular quando se confunde a defesa do mérito de um modelo social ou económico com a defesa da honra ou da dignidade de quem por ele pugna. Em vez de se discutir o Estado-Previdência, coloque-se alguém em Prisão Preventiva. Em vez de discutir o modelo de financiamento do Ensino Superior, demitam-se uns ministros por causa de uma cunha no acesso a este. Se não sofre contestação a relevância destes casos (de polícia, quase diria), é igualmente incontestável a sua pequenez face às questões. Como o número de páginas dos jormais ou de minutos nos tele-jornais é limitado, já se sabe sobre quais vai cair a atenção dos jornalistas...

O advento dos belogues, e a surpreendente massa de belogues "politizados" prova-o, veio oferecer uma hipótese de antecipar, senão mesmo de influenciar, a agenda da imprensa. Oportunidade preciosa e irrecusável, já se vê. E é, creio, o que realmente levou à criação desta Causa Nossa: a vontade de des- ou re-equilibrar as coisas. Este mais-que-aparente alinhamento de belogues em lateralizações gastas é, em si, um sério atentado à natureza virtualmente infinita dos matizes de pensamento que o meio proporciona. Não enriquece, apenas acrescenta. Cada um dos autores teria, decerto, muito a comunicar; aliás, fá-lo em vários orgãos de comunicação, a que todos têm acesso mais que facilitado. Mas, então, porquê este colectivo tão obviamente enviezado?...

quarta-feira, dezembro 03, 2003

O meu SPA...



...não tem nada a ver com esta fotografia, sacada de qualquer lado sem pensar duas vezes - nem uma, confesso - em direitos de autor. De repente, toda a gente desatou a falar de spa's e de resorts. Em especial, aquela purulenta camada de jovens profissionais de sucesso que passam férias aqui e ali e fazem curas de sono e mesoterapia e acendem velas relaxantes por tudo e por nada e que substituíram a terrível mania dos cartões de visita pela sacrossanta pergunta "qual é o teu spa?". Como tenho enormes complexos e não gosto de me sentir sozinho no mundo, decidi arranjar um spa, um sítio onde me sinta bem e de onde saia com energias renovadas.

O meu spa é o Café Paraíso, em Tomar. Claro que não é assim que respondo, não. Eu sou muitíssimo esperto - não sei se já tinham reparado... E como sou muitíssimo esperto, respondo: "O meu spa é o Paraíso, em Tomar". Suprimindo a palavra "café", faço um vistão porque ninguém conhece e pensam que é uma coisa muito selecta e muito moderna. Todas as noites rezo a Santa Rita de Cássia por ser assim esperto como um alho e conseguir mentir com um ar credível.

O Café Paraíso, como o nome indica, é um café, ou seja, um estabelecimento onde se serve café e seus derivados, tisanas, refrigerantes, bebidas espirituosas e algumas comidas ligeiras no campo da pastelaria fina, dos salgados e desse fabuloso mundo da sande e da tosta. Fica na "rua principal" de Tomar, a Corredora, funciona há mais de 70 anos e é um dos cafés mais bonitos que conheço. É um espaço amplo, mantém a graça única dos anos 20/30, tem um pé direito que faz salivar os construtores de hoje em dia ("isto dava para três andares, meu amigo, três andares!"), tem quatro colunas, mobiliário da época, dois janelões enormes para a dita Corredora e um salão de jogos nas traseiras.

O que torna o Café Paraíso num sítio único é o facto de estar sempre lá. Eu sei que a frase é críptica, mas eu desmonto-a: às 7h30 da manhã, temos o Paraíso a abrir. É uma tradição de longa data, os funcionários dos serviços da zona dirigem-se ali para o pequeno-almoço e para a leitura dos jornais comprados ao lado, na Tabacaria Discal.

Durante a manhã passam por ali reformados, ociosos e estudantes que faltam às aulas. A hora do almoço é muito calma e a partir das 14h começa a juntar-se o grupo das professoras primárias reformadas e das paroquianas de São João Baptista, às quais, a partir das 15h, se juntam as tribos juvenis de hoje em dia - todas, sem excepção - e às 17h chegam as mães que querem dar de lanchar aos filhos.

A partir das 18h, a caridosa gerência começa a brindar os presentes com uma banda sonora à base de standards de jazz. A frequência diminui, os empregados mais antigos são rendidos por rapaziada mai'nova, e cai-se no mais agradável dos limbos, vendo o tempo passar muito devagar, transportado pelas pessoas que sobem e descem a rua.

O jantar é uma hora morta e, de repente, sem que nada o fizesse prever para quem lá tivesse passado apenas uma tarde, o Café Paraíso torna-se no sítio mais animado da "noite tomarense", o que quer que esta infeliz expressão signifique. Alunos do Politécnico, alunos do secundário, jovens trabalhadores, a pseudo-elite cultural, os conspiradores, os "aspiradores", tudo se junta no Paraíso, mais tarde ou mais cedo.

O barulho é muito, a acústica é estranha, a música é sempre excelente mas nem sempre perceptível. E toma-se o pulso à cidade e é aquele o único sítio onde eu consigo compreender que Tomar ainda existe, que não é o mais lindo dos fósseis nem um antónimo de futuro.

O Café Paraíso é um sítio onde se pode estar sempre que se tem tempo. Ninguém nos escorraça porque as mesas são para refeições. Ninguém nos vem perguntar, com ar ameaçador, se não queremos mais nada depois de termos consumido. Ninguém nos diz "vamos fechar" antes das 2 da manhã. Ninguém nos chateia.

À porta, ainda está uma placa que diz "reservado o direito de admissão". Essa discricionaridade já não é praticada, mas aquela expressão tem um fundo de verdade. Quando somos "admitidos" naquele espaço, ele passa a ser um bocadinho nosso. Ainda para mais, tem aquela potencialidade extraordinária: o meu Paraíso não é necessariamente o Paraíso dos outros, pois tudo depende das horas, do tempo, do ritmo de vida de cada um.

É este o meu spa. Sem massagens, sem banhos de lama, sem algas, sem aromoterapia, sem máscaras de argila, sem toalhas enroladas à cintura, sem piscinas, sem saunas nem banhos turcos. É só um sítio onde sinto que recupero o tempo que me foge noutras ocasiões.




Diálogos de Amizade, 3

-Boa noite, senhores ouvintes, e bem vindos a mais um "À volta do seu dinheiro", o nosso magazine de economia, onde tudo é discutido de forma desassombrada. Esta noite temos connosco o insigne, e meu amigo de infância, Hélder Vil Ezas, o novo Guru da Banca. Boa noite, Hélder.
-Boa noite, Mário. E boa noite ao vosso auditório.
-Hélder, a tua carreira brilhante tem sido desenvolvida, sobretudo, fora de portas. França, Alemanha, Estados Unidos, Itália... conta-nos as tuas experiências lá por fora.
-É verdade, a área em que trabalho está muito mais desenvolvida nos grandes mercados internacionais. Não é de estranhar, dada a nossa reduzida dimensão. Quando se pretende implementar novas estratégias de, sei lá, gestão de fundos imobiliários, não podemos contar que...
-(interrompendo)...desculpa lá, mas isso não tem importância nenhuma. Eu falava daquelas festas que tu me contaste, promovidas pelos grandes industriais, com gajas e álcool e drogas à fartazana, em remotos chateaux com decoração gótica.
-Hã?!?!?
-Sim, Hélder. Quem quiser conhecer os teus trabalhos na área da economia tem dúzias de artigos nos jornais e revistas da especialidade. Aquilo que eu quero saber é como se divertem em privado os grandes senhores do capital.
-Desculpa lá, mas isso sai muito fora da minha área. Além do mais, duvido que os vossos ouvintes queiram conhecer histórias sórdidas como essas de que falas...
-Pois, pá. Por isso é que eu sou um vulto da rádio e tu da economia. Eu mal me aguento para pagar a pensão à Joana e tu não percebes um cu de rádio.
-Bem, mas de qualquer forma isto é uma entrevista a mim, não? É de mim que os teus ouvintes querem saber, certo?
-OK, já vi que tens algum pudor em discutir essa matéria. Mas, para os nossos ouvintes não fiquem completamente desiludidos, sempre vos digo que o Hélder é um granda maluco. Um dia destes, aliás, conto ter em estúdio umas irmãs ucranianas que nos falarão das suas experiências com ele. Adiante.
-O quê? Tu... tu não me digas... como é que tu as conhece...?
-Não interessa agora. Falemos, então, de outras coisas. Como é que estás com a tua homossexualidade latente?
-Quê?!?!? Mas qual homossexualidade latente, pá?
-Então... lembras-te daquela conversa que tivémos há ano e meio, mais ou menos, por causa dumas angústias que te assaltaram quando estiveste aquela temporada na Finlândia? Aquela história de como te sentias nas saunas?
-Desculpa lá, mas isso é de uma baixeza incrível! Isso foram conversas que tive contigo particularmente! Olha, não quero continuar com esta entrevista. Boa noite.
-Não? OK... senhoras e senhores, terminamos aqui o nosso "À volta do seu dinheiro" de hoje. Para a semana teremos aqui o Secretário de Estado do Tesouro, que nos falará das acusações de exibicionismo que lhe têm sido feitas pelos vizinhos. Boa noite. (entra uma música de Burt Bacharach...)
-Ouve lá, tu estás bem? Bateste com a moleirinha nalgum sítio? Que raio de perguntas eram aquelas?
-És muito púdico, tu... contas-me histórias do arco-da-velha, com 2, 3 e 4 gajas, coca à colherada, e vai na volta...
-Mas tu és doido? Se te contei essas histórias foi por sermos amigos!
-Calma aí... isto é o meu trabalho. Amigos, amigos, negócios à parte.

This page is powered by Blogger. Isn't yours?