sexta-feira, dezembro 12, 2003 |
Ehhh! Natal! Ehhh! |
Com o passar dos anos, foi decrescendo o gosto que nutria pela quadra natalícia. Tornou-se maçuda, triste e deprimente, não me perguntem porquê. Sempre tive tudo o que quis, nunca me faltou nada, nem mesmo porrada. Nunca tive jeito - nem dinheiro, diga-se - para oferecer prendas. Só para as receber, desembrulhá-las à bruta e rasgar o lindo papel de embrulho que as envolvia. Sempre achei uma paneleirice pegada tentar descobrir os presentes sem rasgar o papel. Equiparo isso a tentar malhar uma gaja sem lhe tirar as cuecas.
Para ser sincero, nunca achei muita piada ao Natal para além das ruas decoradas, o cheiro a castanhas assadas que as preenche, as já referidas prendas, a abundante doçaria e o belo pinheirinho reluzente no canto da sala onde o gordo barbudo deixava as oferendas à socapa. Bem que eu me punha de plantão a ver se apanhava o gajo em flagrante, mas à mínima distracção, uma rápida ida à casa de banho e já as putas das prendas lá estavam, bem arrumadinhas junto ao vaso que sustentava a linda árvore. Nisto, pensava cá p'ra mim: "Se esta bola de unto for esperta, começa a vestir-se de preto da cabeça aos pés, muda o nome para Luis de Matos e um dia ainda vai inaugurar o 2º maior estádio de Portugal". Já naquela altura eu era um tipo com visão.
Procurei uma explicação para o sentimento melancólico que o Natal provoca em mim, e ocorreu-me o facto de, na escola primária, me terem obrigado a decorar os nomes de todos cabrões dos Reis Magos. Também os cânticos e as missas natalícias eram uma estopada, só superados pelo mítico e enfadonho Natal dos Hospitais, onde se torturavam velhinhos com espectáculos deprimentes.
O que eu queria mesmo era arrancar as pernas ao He-Man, atirar o carrinho da Matchbox do 1º andar e saltar a pés juntos para cima do Tragabolas. Recordo que me ofereciam muitos Playmobil, por serem aqueles que acabavam por durar mais tempo. Assumo, não era tarefa fácil partir aquela merda, pá.
Posto isto, e uma vez que sinto um atropelo de nostalgia - não por causa do Natal em si, mas pelo regresso à infância -, resolvi escrever uma carta ao Pápái Nó Éu:
"Querido Pai Natal
Tenho andado todos estes anos preocupado contigo pois desde 1982 que deixaste de me visitar. Às vezes penso que morreste ou que ficaste entalado nalguma chaminé mais estreita, mas depois vejo-te na televisão em todos os canais. Outra coisa que não percebo é por que carga d'água é que na TVI estás sempre mais gordo e baixo do que na SIC.
Enfim, suponho que não venhas a ler esta carta, pois vi num anúncio que agora já só as recebes por e-mail. Se eu apanhasse o teu endereço, estavas feito comigo! Adicionava-te ao MSN e cravava-te prendas todo o ano, que te fodias! Assim, já não tinha que penar até Dezembro à espera da noite de 24.
Ah, já me esquecia, diz lá aos cabrões dos duendes que trabalham para ti, que a Barbie que a minha irmã recebeu há 21 anos vinha com defeito. Aquilo não trazia a... como é que eu hei-de dizer-te isto... a pomba! Sabes? E agora já deve ter passado a garantia. Agradecia que a recompensasses este ano.
Ao contrário do que é habitual, este ano estou pouco exigente e muito altruísta. Para além de uma vivenda enorme - pode ser uma igual às dos GNR's de Albufeira -, um BMW topo de gama e um par de sapatos italianos, gostaria que fizesses algo por alguns dos meus amigos. É para o bem deles, coitados.
Para começar, podias abrir os olhos - todos os que forem necessários para o efeito - ao Menir, para que ele suprima, de uma vez por todas, o nome de "Belo". Para alguma coisa há-de servir, ter passado a puta da infância a ouvir a minha mãe dizer que é feio andar a enganar as pessoas; para o Vareta, podes arranjar um pouco de modéstia e um emprego onde aufira um ordenado decente. E que trabalhe, se necessário; quero que dês uma tanguinha de fio-dental à Estounua para ela não passar mais frio no rego, coitada, e a inscrevas como militante do PP; providencia umas aulas de "Etiqueta e Boas-Maneiras", com a Paula Bóbó, para o malcriadão do Zé cutivo; para o Zeca Galhão, podes mandar embrulhar o traseiro da Anita para ver se o homem se acalma um pouco; para o ano que se avizinha, gostaria que o Armando Moreira e o fininhO se entendessem de uma vez por todas e dessem o nó.
Gostaria, também, que o mimosa fizesse mais greves, que isto aqui tem sido um descanso.
Obrigado
Papa"
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*Aproveito esta ocasião para desejar um óptimo Natal a todos e um grande 2004, assim a Manuela Ferreira Leite o permita.
Arrotos do Porco: