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Vareta Funda

O blog dos orizicultores do Concelho de Manteigas


quinta-feira, setembro 29, 2005

BEN FOLDS NO NAKANO SUNPLAZA HALL



Eu já devia estar de sobreaviso... É que, há uns anos, caí no erro de levar um amigo japonês para ouvir uma banda de covers manhosa que tocava umas versões requentadas de Red Hot Chilli Peppers e Nirvana e afins. No fim da actuação, o japonês teve um único e singelo comentário: “música portuguesa muito bonito!”. Mesmo assim, lá me tirei dos meus cuidados e fui até ao Nakano SunPlaza Hall ver o concerto do Ben Folds.

Primeiro motivo de interesse: o concerto estava marcado para as... 19horas. E, com efeito, começou pelas 19h15, mais coisa menos coisa. Isto agrada aos japoneses: saem do trabalho, vão ver um concertozito, jantam (facultativo) e embebedam-se (obrigatório) e estão na cama antes das 11 da noite! Assim se leva uma vida sadia!

Segundo motivo de interesse: não conhecia o Nakano SunPlaza Hall mas sabia que os Iron Maiden tinham lá actuado numa noite memorável para os menos sãos que gostam do género. Estava à espera de uma sala meio abaiucada, mal estimada e decadente mas, afinal, esperava-me um auditório simpático, para 2.500 pessoas (mais ou menos) e tudo em lugares sentados. Percebi depois como é que aquilo podia ser uma das salas mais associadas a concertos rock: mal o artista entrou em palco, toda a gente se levantou. Ora isto podia ter muita piada em Portugal para a primeira música ou para um grande hit ou para a reentrada num encore. Mas para um concerto inteiro dificilmente seria praticável: “Ó marreco! Baixa os cornos, pá! Eu paguei p’ra ver esta merda sentado, pá! Queres ‘tar de pé vai p’ra rua / puta que te pariu / cona da tua mãe! (riscar o que não interessa)”. Pois que o japonês não é assim. Para além de alimentar as minhas dúvidas de que haja uma expressão sequer parecida com “cona da tua mãe” neste linguajar dos locais, ninguém se importa por ficar de pé o tempo que for preciso para que todos possam ter uma fruição plena do espectáculo. E o que esta gente frui!...

Terceiro motivo de interesse: ainda conhecia muito pouco do álbum “Songs for Silverman” do Senhor Benjamim Dobras/Vincos/Pregas. Erro meu. Já o devia conhecer todo porque o álbum só pode ser muitíssimo bom, depois do que ouvi ontem. Que grande concerto! Piano, baixo e bateria, harmonias vocais à Brian Wilson, canções fabulosas, energia a rodos, humor, competência e algumas das “baladas” mais bonitas que conheço.

Quarto motivo de interesse: as japonesas, o público, as japonesas do público. Os japoneses (generalização absurda mas apetece-me e pronto!) vão a um concerto como quem vai trabalhar: com o sentido de que lhes compete divertirem-se e apreciar. E detestam se são apanhados em contrapé! O rapaz que estava ao meu lado adormeceu nos vinte minutos em que Ben Folds esteve sozinho ao piano interpretando algumas coisas mais calmas – quando se deu conta, aplaudiu vivamente o que quer que fosse, como quem grita “Presente! Desculpem este lapso!”. De resto, todos batem palminhas como se estivessem no SIC 10 Horas, ignorando qualquer coisa que se pareça com uma mudança de tempo ou de ritmo; ficam maravilhados ante qualquer tentativa de interacção do artista (Ben Folds sacou do seu velho truque de usar as vozes do público para substituir uma secção de metais mas com resultados tíbios ante a timidez de um público que ainda não tinha bebido...); e não percebem mesmo – uma boa maioria – patavina de inglês. Um dos pontos altos do concerto foi a versão do original do Dr.Dre “Bitches ain´t shit!” – a reacção do público foi espantosa ante uma letra pejada de vernáculo cabeludo norte-americano: umas risadas quando ouviam um “fuck” ou um “shit” e um menear de cabeça como se aquela fosse uma balada lírica e não um monumento misógino e sexista. Hosanas a Ben Folds que intitulou essa versão como “Johnny Cash sings Dr. Dre”... As japonesas... bom, há de umas e de outras, como em todo o lado. Mas há mais das outras, feias como o pecado, estereotipadas e levemente irritantes na sua feminilidade forçada. Agora as umas que se vêem por aqui... bom, essas compensam largamente as outras. Compensador mesmo foi o concerto: quando um espectáculo termina com o artista a arremessar a banqueta do piano contra o teclado é muito bom sinal!


quarta-feira, setembro 28, 2005

MICRO-POSTA
Na curta saída à rua que fiz à hora de almoço deparei-me com uma carrinha decorada com a publicidade da firma a que pertence:
J. Carvalho
Afagamentos e envernizamentos
Nada mais normal, publicidade numa carrinha.
O estranho da coisa é que a seguir indicava um número de telefone e sob os dígitos aparecia em vermelho garrafal:
24 horas por dia
Alguém quer tentar dar uma explicação não-sexual à necessidade de haver disponibilidade durante vinte e quatro horas por dia para «afagamentos e envernizamentos»?

terça-feira, setembro 27, 2005

Eu já fui ao meu Oriente, cantavam os Ocaso Épico




Saí de Lisboa. Vim para longe. Vinha preparado para ter pena de mim, coitadinho, desenraizado e lançado às feras num arquipélago desconhecido. O tanas. Não tenho pena nenhuma. Tenho o oposto de pena, qualquer ele seja. Estou feliz por ter vindo, o que não é o mesmo que dizer que esteja feliz por ter partido. É uma dicotomia à Tóino Ceguinho, mas é uma dicotomia quand même, como se diz no estrangeiro, ainda que num estrangeiro mais próximo.

Não tenho pena de mim. Estou até muito favoravelmente surpreendido comigo. Nós somos sempre mais do que pensamos, há quem diga. E, vai-se a ver, quem o diz até diz bem. Gosto do que vim encontrar e de quem vim encontrar. Não me sinto estranho. Nem esquisito. Sinto sim que já tinha traços comuns a esta gente, que tem como um dos princípios de vida o não querer causar embaraços ou inconvenientes a ninguém. Quem me conhece sabe que é verdade. A tradução para português da expressão “easy going” devia ser Vareta Funda. E vem daí este orgulho por não deixar de ser profundamente eu nesta adaptação (que nem esse epíteto merece, por de tão natural) a um meio supostamente diferente. Diferente o tanas. Só há diferenças onde há produtos acabados. E eu nem sou produto nem estou acabado. Estou gordo, sim. Acabado ainda não.

Fico por aqui nas minhas primeiras impressões de mim nesta demanda. As primeiras impressões sobre o resto que não eu virão em breve.

segunda-feira, setembro 19, 2005

DAI NIPPON

Com um caloroso abraço de amizade, do Assento da Sanita para o Vareta Funda.

O rapaz aliviou o nó da gravata, ajeitou a melena oleosa, pousou a samsonite côr-de-rosa e sentou-se ao balcão. Estava cansado, um pouco tonto e desorientado com tão longa viagem. Ia comer qualquer coisa para se retemperar. O televisor debitava anúncios. - uma cenoura voadora num céu azul para vender baton e uma adolescente que mostrava as cuecas usadas enquanto comia uma tijela de arroz. O rapaz espevitou as orelhas mas só apanhava uma palavra aqui e outra ali. Ai, as belas aulas de japonês... – pensou. Com algumas palavras e gestos pediu o pequeno-almoço de uma lista complicadíssima onde constavam desde ouriços-do-mar, baços de cão crús com galantine de língua de golfinho a lulas com geleia de feijão encarnado e algas calcárias panadas com arroz cozido com ameixas amasake. Escolheu um menú que lhe pareceu frugal e discreto. Qualquer coisa que julgou ser um croissant com queijo ou talvez uma empada de tubarão com nabos. Não tinha a certeza. Os ideogramas japoneses por vezes são algo vagos e de significados múltiplos. Passado uns minutos o empregado pôs-lhe à frente um prato de ovas de beluga a nadar numa sopa de miso com amasake de arroz e líquido de espermatócito de cachalote coagulado. Acompanhavam uns canapés de búzio enrrolados numa pasta estaladiça de ruibardo com wasabe. Ao lado, um japonês fuinha com o cabelo espetado comia sofregamente duma tijela, uma mistela de flocos de sebo de baleia com leite, alface e choquinhos fritos-à-algarvia. - Influências portuguesas... – pensou. Com estômago apertado e por vergonha, comeu o pequeno almoço enquanto os outros clientes e o empregado o olhavam em silêncio. No fim, rematou com um copo de leite e um chupito de sake de ginseng-da-coreia tingido de azul. Depois de ter pago cerca de vinte euros, dirigiu-se ao metro onde se perdeu durante três horas e meia. Finalmente, já no hotel Okinawa Palace, subiu pela escada até ao cubículo octogonal de fibra que o encarregado de negócios lhe tinha reservado. Mal dava para estar sentado na cama. Meteu a moeda e o televisor ligou-se. Uma adolescente vestida com roupa de colégio estava a ser regada com esperma de vários matulões lutadores de sumo que se riam estridentemente. O programa chamava-se Bukkake Festival. Mudou de canal. Numa série de hentai-hardcore um monstro galáctico com seis penis verdes e viscosos seviciava todos os orifícios naturais duma inocente rapariga de olhos grandes e chorosos. Lembrou-se que o coito auricular era uma prática desconhecida no ocidente mas muitodo agrado dos japoneses - Minha mãezinha... - pensou enjoado. - O líquido do cachalote deve-me ter caído mal...- Deu voltas e mais voltas na cama até que adormeceu. Sonhava que uma gueixa libidinosa lhe esfregava o corpo musculado com os santos óleos lá da igreja de Ferreira do Zêzere. Perigosamente, um talo de couve gigante aproximou-se mal encarado. - Vareta-san, mostre-me as suas credenciais, se faz favor... - Enquanto procurava febrilmente uns papeis inexistentes, um enorme rôlo de sashimi de sardinha dava-lhe cotoveladas, enquanto uma adolescente de saia aos quadrados e soquettes o olhava languidamente e chupava um tamagochi comestível. Acordou suado e bateu com a cabeça no tecto do cubículo. Para se distrair, pegou no PDA e abriu a página da Vara. Os javardolas do costume, entre dois insultos versando as tendências homossexuais uns dos outros, gabavam-se do lauto jantar de favas guisadas e plumas de porco prêto bem regadas com Quinta do Cotto com que tinham comemorado o segundo dia da viagem para o Japão do saudoso Vareta Funda. Para esquecer a mágoa, tinham-se emborrachado sideralmente e acordado todos vomitados, ao meio-dia, caídos numa sarjeta perto da casa do fininhO. Os nervos do rapaz cederam e uma lágrima de saudade aflorou no canto do olho. Pegou na antologia de Wenceslau de Moraes e leu consoladamente uma passagem. Parececia-lhe que ouvia ao longe, o som de guitarras portuguesas gemebundas... Nisto – vzzzzzztt!....

Era a empregada da limpeza do hotel , a D. Tânia que emigrara há quinze dias para o Dai Nippon à procura de uma vida melhor. Oh beatitude! Oh ventura! Que regalo!... Um ombro amigo nesta terra distante... E lá vinha ela com uma bela postinha de bacalhau à lagareiro com todos, um jarrinho de tinto de Aveiras de Cima e promessas de consolo nocturno naqueles dias difíceis que se avizinhavam.


FIM


quinta-feira, setembro 15, 2005

Abraão Abulafia e a Cabala – queria escrever sobre isto, mas não tive tempo de aprofundar… Só posso dizer que este senhor aplicou grande parte da sua vida a descobrir o Nome de Deus através das letras e dos números. Ficará para uma próxima oportunidade.

Ora, adeus...

Naqueles tempos de discórdia caminhavam pelo Mundo três dinossauros. Cada um deles tinha uma pancada diferente. Túlio gostava de terrincar os pequenos animaizinhos que se cruzavam no seu caminho. Fazia gosto nisso. Os antepassados das lebres, dos coelhos, dos ouriços e de outros bichos de olhos grandes e ar doce andavam aterrorizados com o banho de sangue que ocorria diariamente. Mas Túlio não se importava nada com isso e continuava a devorar esta fauna com grande deleite. «M&M’s» chamava-lhe ele. «Derretem na boca, são estaladiços e não me lambuzo».

Jasmim, por seu lado - e como o próprio nome indica - era um afectado. Tudo lhe causava horror. O horror da violência de Túlio, a desconexão entre o mundano e o espiritual, a feiura dos outros lagartos que com ele conviviam, as gajas - meu Deus! - as gajas! Horrorosas! (A referência a Deus nos tempos dos dinossauros, eu sei, é deslocada, mas o que querem, estes eram dinossauros crentes…). Em suma, Jasmim buscava a pureza espiritual e fazia as suas abluções diárias a pensar no sentido da vida. «Anda um Dinossauro uma vida inteira nisto, devora aqui, devora ali, destrói esta árvore, morde no rabo daquele, guerreia… Tudo isto tem um propósito? O que buscamos e o que retiramos? Um gajo compra um porsche, vai buscá-lo ao stand a pensar no impacto visual que vai ter - já para não falar na carteira - e afinal é tudo efémero… Quando vai para dar a sua primeira voltinha com o carrito verifica que não cabe lá dentro e que acidentalmente o esmagou… Ts. Caralho.»

Rabinah era diferente destes. Embora fossem todos grandes amigos, havia uma desconfiança mútua, do género «até aqui podes ir, a partir daqui não exageres». Rabinah - que sempre fora um crédulo - dedicou a maior parte da sua vida aos estudos, analisando minuciosamente o Talmud. Rabinah era assim, uma alma caridosa que visava atingir a perfeição através dos estudos. Mas sobre este falaremos depois…

Como referi há pouco, naqueles tempos de discórdia caminhavam pelo Mundo três dinossauros.

quarta-feira, setembro 14, 2005

MUDANÇAS



Pois é. O vosso Vareta adorado vai deixar este torrãozinho à beira-mar enxertado, rumando a outras paragens onde o sol nasce mais cedo e onde consta serem as arnículas de través. Ora um gajo como eu, modesto e educado, não se vai embora sem dizer água vai. Vai água, sim senhor. E álcoól com fartura. E vão adonde? Vão jantar, pois claro!

Anuncio então, solene mas modestamente, que me vou despedir em grande de Portugal e dos Portugueses por intermédio de dois jantares a terem lugar na 5ª e na 6ª feira, 15 e 16 de Setembro. Porquê dois dias? Porque sou um peneirento do caralho, ainda que modesto. E porque há sempre quem goste de dar a desculpa do "nesse dia não posso". Assim não há desculpas!

Apelo pois a todos aqueles que contribuiram nestes dois anos para o upgrade da minha qualidade de vida que se inscrevam nos comentários (sérios, para eu não me perder nos da enetation), mencionando o dia da vossa preferência. Eu retornarei em breve com os detalhes dos locais e das horas. E para me despedir convenientemente dos muitos milhares de leitores anónimos que modestamente fomos granjeando.

quinta-feira, setembro 08, 2005



PEREGRINAÇÃO – uma história trágico-fodística

(posta para acelerar a velocidade dos comentários)

Diz-se que a Solimão, o Grande, não lhe pesava o turbante debaixo do qual dirigia os destinos do vasto império Otomano. Não me pesem a mim os tomates, pois que os tenho muy avantajados e graúdos. Despejei-os profusamente nas morenas prostitutas da Costa do Malabar e mais não fiz pois apanhava caliqueiras assanhadas que os físicos turcos nunca tratavam convenientemente e que me incapacitavam mais das vezes. Um gajo fica a esguichar verde e amarelo com os tomates roxos e tumefactos tamanho de beringelas. Dois jesuítas efeminados ainda me desenjoaram, com o seu traseiro seco e austero, o fartote de pitos de Mafamede que apanhei a certa altura. Arrependi-me amargamente deste desvio anti-natura que pratiquei pois um deles sugou-me o membro de tal guisa e com tal força que os meus cansados olhos entraram pelas órbitas adentro. Desaires fora, não me posso queixar, pois ao serviço do Vice-Rei, quase enriqueci nas partes de Goa a vender bexigas de porco que serviam para conter a semente masculina, a bem de não deixar as galdérias de Coxim prenhes de cada vez que, farto dos já lassos canais excretores traseiros, o homem português atingia a culminação nos conos esbeltos, rechonchudos e fragrantes de especiarias . As gajas são é muito peludas. Têm patilhas de cabelo pela cara abaixo que mais parecem as suíças do Marajá. E as olheiras? É do caraças. Parecem agarradinhas ao láudano a ressacar. “Sinhô faço mamada baratinha. Três maravedis e meio. Borro-me pouco se vossa senhoria quiser por trás”. Bof. Agora, avançado em anos, recordo as minhas mirabolantes façanhas, pois já me vai faltando muito a tesão, pois então. A minha vida foi uma tragédia. Secaram-se-me os testículos, de tal sorte os despejava copiosamente nas entranhas frementes de tantas e tão variadas mulheres. É pena. Agora, arrasto-os quais inúteis alforges que me saem dos gibões puídos e remendados, pelas ruas de Lisboa. Secos como bacalhaus. Choro a sua potência esguichadora de antanho pelos botequins do Bairro Alto. O meu membro outrora duro como um pinheiro agora não deita já meita, deita uma parca langonha mijosa que muito me desgosta e envergonha nas putas de setecentos merreis. Servem-me de consolo as muitas igrejas, que frequento amiúde, onde cães sarnentos cobrem as cadelas em hum acto natural e inocente, que certamente
é agradável aos olhos de Deus na Sua infinita Misericórdia. E aos meus.

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