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Vareta Funda

O blog dos orizicultores do Concelho de Manteigas


terça-feira, junho 29, 2004

PARABÉNS MIMO !


domingo, junho 27, 2004

Orgulho e preconceito



Foi no Sábado passado que se realizou, em Lisboa, o dito Arraial Pride. Pra quem não saiba, é um desfile de gays, lésbicas, respectivas organizações e, de um modo geral, de todos aqueles que vivem segundo sexualidades não-convencionais.

O arraial foi uma coisa fortemente colorida, ruidosa e divertida (não é por acaso que a palavra gay é usada para designar os homossexuais masculinos), com as Drag Queens a monopolizarem as atenções pelo espalhafato, ousadia e aplicação. O povo que se reuniu nos passeios da Avenida da Liberdade para ver passar o desfile limitou-se a observar, com um ou outro sorriso malicioso, sem provocar nem hostilizar ninguém.

Acredito que seja assim, excepcionalmente, neste dia e que, de um modo geral, os homossexuais assumidos enfrentem inúmeros e intoleráveis preconceitos no seu dia-a-dia. A homofobia existe e é algo que deve ser muito bem controlado por cada um de nós, em nome da tolerância e do respeito mútuo. Digo-o de outra maneira: é um direito que assiste a cada um de nós chocar-se ou desgostar-se com a orientação sexual de outrém, mas tal não significa que seja lícito ou aceitável hostilizar, marginalizar, preterir ou, de qualquer outra forma, desrespeitar alguém por essa razão.

Dito isto, volto a uma coisa que já aqui disse: esta história dos "Dias do/da/de..." sempre me pareceram má ideia. Ainda para mais se vem baptizado com um equívoco "Pride", que leva imediatamente a algumas perguntas incómodas: orgulho, de quê? Da orientação sexual? Isso é motivo de orgulho para alguém? E, se é, porque não ostentá-lo todo o ano? Se um dia é de Orgulho, os outros 364 são de Vergonha?

sábado, junho 26, 2004

EHHH! SEXTA-FEIRA! FOI ONTEM!...


1.Eu vi um bocado de um possível futuro do rock'n'roll...

Foi na quarta-feira, num barzito já perto do Largo do Carmo. Queria ter chegado a tempo de ver um concerto "afrancesado" mas não cheguei. Cheguei já no final, quando alguém teve a ideia de passar um DVD de apresentação de um novo "conjunto" português. O conjunto chama-se "FEROMONA" e têm como cartão de visita uma canção chamada "Baton Original". Eu, que sou eu, o mais jovem velho de Portugal, o campeão nacional dos nobres desportos da modéstia e da aversão ao rock, eu já apanhei a minha dose de "jovens bandas", expoentes de uma qualquer corrente da "música moderna" - eufemismo frequente para a aliança entre a falta de talento e a falta de conhecimento. Mas neste caso não foi bem assim. Reparem: eu nem estava bêbedo e a minha garrafa de bolso com álcool canforado ainda estava intacta. Ou seja, este foi um impacto às secas, sem vapores etílicos a dourarem-me os ouvidos. E sabem o que vos digo? Gostei. Pronto. Gostei mesmo. Aquela rapaziada Feromónica tem garra, tem ideias, tem poucos meios - guitarra, baixo e bateria - mas não precisa de mais. São coesos, tocam uns com os outros e uns para os outros, o que faz toda a diferença, e têm uma canção inteligente e orelhuda que merecia ser divulgada neste Verão. Se os apanharem num bar qualquer, não virem as costas. Não fujam. Não pensem que são mais uns atadinhos que davam a glande para serem os White Stripes ou os Nirvana. Ouçam-nos. E depois questionem-se sobre o que me terá passado pela cabeça para ficar tão bem impressionado com três mariolas que só querem é rock.


2. Eu gosto de cantigas... tigas... tigas

O gajo que seja lá o que ele quiser. A verdade é que pouca gente sabe fazer "cantigas" como Stephin Merritt, esse canadiano multipolar, obreiro de inúmeros projectos, mago por detrás dos Magnetic Fields. Qualquer canção dos Magnetic Fields, dos The 6ths, dos Gotic Archies ou dos Future Bible Heroes ou de Stephin Merritt em nome próprio soa vagamente familiar, como se já tivéssemos ouvido qualquer coisa parecida - parecida, sim, mas nunca igual nem melhor. Acho que daqui a muitos anos algum crítico dirá de Stephin Merritt que ele era "tão século XX!". Merritt sabe que existem anos e anos acumulados de canções para ouvir, distorcer, reaproveitar e vertê-las nas suas. O gajo faz cantigas, pequenos monumentos de inteligência e graça, despretensiosos e orelhudos e esquizóides e eficazes, juntando atributos antagónicos com a maior das facilidades. E o gajo escreve como poucos - ou melhor, como ninguém e com a qualidade de poucos. Assim, hoje tenho a honra de vos dar a ler, na língua de Joaquim Manuel Magalhães e Hélder Moura Pereira, uma brevíssima pérola datada do excelente álbum dos Magnetic Fields de 1993, Holiday, intitulada Strange Powers. É uma canção feliz, salpicada de imagens bizarras e extraordinárias. É o meu conselho de fim-de-semana: a redescoberta do efeito balsâmico de um qualquer encantamento.


Strange Powers



On the Ferris Wheel
Na Super-Pista Cristina, por alturas da Santa Iria
Looking out on Coney Island
Deitando os olhos ao Flecheiro
Under more stars than
Com mais fichas no bolso
There are prostitutes in Thailand
Do que há putas no Barreiro
Our hair in the air
Tens nódoas de gelado na saia
Our lips blue from cotton candy
E os lábios cheios de óleo das farturas
When we kiss it feels
Beijar-te assim às escondidas
Like a flying saucer landing
É melhor que pôr Halibut nas queimaduras


And I can’t sleep
E à noite não durmo nem por nada
Cause you’ve got strange powers
Não durmo um minuto que seja
You’re in my dreams
Devias estar mal lavada
Strange powers
E pegaste-me a bretoeja

In Las Vegas where
Na barraca das sardinhas
The electric bills are staggering
Sentados em grades de "mines"
The decor hog wild
Cercados de matronas
And the entertainment saccharin
E emigrantes das "usines"
What a golden age,
Sentes no teu peito a festa
What a time of rhyme and reason
Brilham-te os olhos, rapioqueira
The consumer’s king
És moça garrida e sadia
And unhappiness is treason
Mas não lavas a parrameira

And I can’t sleep
E à noite não durmo nem por nada
Cause you’ve got strange powers
Mesmo tendo um grão na asa
You’re in my dreams
Eras pouco asseada
Strange powers
Deixaste-me os colhões em brasa

Magnetic Fields, Holiday

sexta-feira, junho 25, 2004

Trinta anos



Levou 30 anos e 54 dias a apagar uma das lembranças mais fortes da minha juventude. Ontem saí à rua, próximo da overdose de adrenalina, para me juntar aos festejos da magnífica vitória da selecção nacional sobre a Inglaterra, e as ruas estavam pejadas de gente em puro êxtase. Vivi 34 anos no coração da velha Lisboa e nunca vi 12 de Junho mais animado que isto. Por todo o lado, fosse avenida, beco ou estrada camarária, grupos de pessoas gritavam, agitavam bandeiras e, sobretudo, riam muito. Acresce que, na Costa da Caparica, a multidão tinha uma composição insólita onde avultava a grande colónia de imigrantes brasileiros e africanos que ali existe. Todos unidos na alegria, todos empunhando bandeiras, cachecóis, lenços e/ou pinturas faciais.

Foi preciso o Euro 2004 e a brilhante carreira da nossa selecção para que se voltasse a ver uma festa de rua comparável ao 1º de Maio de 1974. Só por isso, obrigado, Felipão, Figos, Decos, Ronaldos e Companhia.


A vitória dos eurocépticos

A Inglaterra, decididamente, não quer o Euro.

quinta-feira, junho 24, 2004

Logo à tarde comemos bifes!



Fotografei este exemplar no passado Domingo. Estava no Rossio, com uns centos de compatriotas seus, a gozar o Sol e a bonomia portugueses enquanto não eram horas do jogo (que lhes foi adverso). Não faço ideia de onde veio exactamente e troquei com ele brevíssimas palavras - "puedo fotografarte?", "si, hombre, asi".

O resto é história já gasta e por todos conhecida. Suponho que tenha voltado à sua terra de monco caído e coração pesado, mas isso pouco importa por agora: a verdade é que ele gozou muito antes dos 90 minutos que ditaram o afastamento da Espanha do Euro 2004. Estava convicto da passagem da Espanha e empreendeu uma viagem triunfal à capital do país vizinho, pintou-se a preceito e fazia uns malabarismos (patetas, convenhamos, mas quem sou eu...) com esta espécie de brincos king sized presos por uns cordéis. Passeou a superioridade da selecção do seu país e continuou, estou certo, a festa dentro do estádio até ao minuto 57, altura em que iniciou a descida à terra. Regressou incomodado a casa mas, espero, no dia seguinte voltou ao seu normal. A Espanha perdeu e saiu do Europeu, pois foi, mas ele deu um passeio giro a uma cidade simpática, divertiu-se umas horas e voltou à sua vid(inh)a. Se a Espanha tivesse ganho ter-se-ia divertido mais umas horas e depois voltaria à sua vid(inh)a.

Percebem onde eu quero chegar? Os portugas, infectados de fatalismo e injustificada vergonha mal-disfarçada, evitam os antes. Comedidos, analisam as hipóteses, ponderam os cenários, racionalizam o possível e concluem, invariavelmente, com um "logo se vê". Se e quando ganhamos, festejamos como loucos, pelo que gozámos e, sobretudo, pelo que não gozámos antes. E depois voltamos à nossa vidinha. Se perdermos, encolhemos os ombros, balbuciamos um "já estava à espera..." e voltamos à nossa vidinha.

De uma maneira ou de outra, com festividades post- ou antecipadas, voltaremos à nossa vidinha, porque a bola são 90 minutos de gozo e pouco passa daí. Devíamos fazer como os espanhóis e muitos outros adeptos que por estes dia têm colorido o nosso país e gozar em antecipação o jogo de logo, porque depois não sabemos se teremos razões para gozar. Por isso eu afirmo, aqui, alto e em bom som: logo à tarde comemos bifes!, certo de que não é o único gozo que me resta do jogo de hoje.

segunda-feira, junho 21, 2004

Subsídios para uma iconoclastia ibérica - II




Subsídios para uma iconoclastia ibérica - I




Ainda melhor:

Ainda melhor que matar um borrego (?) com 23 anos, é ganhar um jogo em que o melhor jogador adversário é o guarda-redes.
Ainda melhor que responder com desdém a provocações rasteiras é deixar nos seus autores a dúvida se não terão ajudado ao enxovalho.
Ainda melhor que mandar um cagão tomar no cu é aproveitar a primeira oportunidade para lhe ir ao cu.

sexta-feira, junho 18, 2004

SEXTA-FEIRA... AINDA E SEMPRE

1. Só visto... que contado não tem graça

Foram vocábulos redondos, alguns; outros mais oblongos, mas nenhum deles quadrado. Foi a antítese de um qualquer trovador isolado, cantarolando músicas portuguesas para a clientela bêbeda de um bar duvidoso. Foi uma glorificação das palavras e da música que as carrega, foram hinos de reinvenção – não se estava a reouvir, estava-se a ouvir de novo. O concerto que Lena d’Água, Bernardo Moreira, André Fernandes, Rodrigo Gonçalves e André Sousa Machado deram ontem no Hot Club – e que repetem hoje e amanhã, pelas 23 horas, no mesmo espaço – foi um concerto que se aproximou muitas vezes do estado de graça.

Confesso: sempre achei que Sérgio Godinho e José Mário Branco tinham que ser ouvidos com uma predisposição de espírito muito particular, sob pena de graves convulsões estomacais. Admiro-os mas irritam-me muitas vezes - irritam-me por mais vezes do que me causam admiração. Lena d'Água sabe cantá-los e Bernardo Moreira sabe fazer os arranjos que finalmente os dignificam. De Variações, Zeca Afonso, Jorge Palma e, obviamente, Lena d'Água, sempre gostei. As versões de "No fundo dos teus olhos de água" e "Terra Mágica" foram fabulosas. A interpretação de "A culpa não é da vontade", de António Variações, só com voz e bateria, foi a prova (que nunca faltou) de que Lena d'Água é um valor muito injustamente deixado em banho-maria nos últimos anos, é uma CANTORA, com uma voz versátil e inconfundível. Ter a coragem de encerrar o concerto com um "Sempre que o amor me quiser" muito cool e tranquilo, desfazendo as memórias da "luxúria ofegante" da gravação original, foi um valente murro no estômago e uma lição para todos quantos acham que não há nada pelo meio entre uma Manuela Azevedo e uma Ilda de Castro.

Se não forem capazes de perder o carinho a 7 euros e não rumarem até à Praça da Alegria em devotada peregrinação, então que Deus tenha piedade das vossas almas. Eu lá estarei.

2. E se eu traduzisse uma cantiguinha?

Não era mal pensado, pois não? Hoje está mais um dia de canícula. Estamos em pleno "Ério 2004". Há ingleses bêbedos em Albufeira (e só em Albufeira, a julgar pelas notícias). Quem melhor para encarnar este espírito que o genuíno "Young Soul Rebel" Kevin Rowland? O primeiro álbum dos Dexys Midnight Runners é um dos discos que me acompanha desde a infância e é uma obra de génio. É uma honra dar-vos a ler, na língua de António Botto e Gervásio Lobato, uma pérola da acidez Rowlandiana.



Thankfully not living in Yorkshire it doesn't apply

I've never seen it but I still believe it
Lorpa, tanso, crédulo ou ingénuo
I'd like to dig it out or maybe wrench it out
Acredito em coisas que não vejo nem explico
There's no touching
Coisas que as mãos não trazem à existência
But there's not much involved in casting doubt
Quantas vezes não é maior o desafio de acreditar que o de duvidar
Too hard to think about
Se calhar já disse "não" vezes demais por ser o mais fácil
I'd relate my thoughts to you
Dispunha-me a queimar os miolos a pensar em teu redor
But I'm not so stupid to put my faith in you
Mas há uma verticaliadade provinciana que me faz não ter fé em ti
I'll just keep searching
Continuarei na demanda, ignorando o "Código de Da Vinci"
Lord have mercy on me
E rogarei a piedade do Senhor
Keep me away from Leeds
Para que não tenha que comprar casa em Alhos Vedros
I've been before; it's not what I'm looking for
Já lá estive, já vi o suficiente, já sei que não quero
There's no touching
Não preciso de uma semana à experiência para saber que não te quero
But there's not much involved in casting doubt
A dúvida não sobrevive neste território
No need to think about
E o que havia a pensar está pensado
I'd relate my thoughts to you
Até poderia contribuir para a revisão do PDM
But I'm not so stupid to put my faith in you
Mas só um cego é que pode ter fé em que um dia sejas habitável
I'll just keep searching
Vou continuar à procura nos classificados do Correio da Manhã
I've walked around, seen the town and the crowds
Corri-te as ruas, conheci-te os horários e as gentes
I've walked about, worked it out, pissed about, tried to shout,
Quanto mais caminhava, mais nauseado ficava
No one's listening
Ao menos no NorteShopping parece que há uma gaja boa
It's all you and your rules and fools,
Mas em ti, Alhos Vedros, só há sub-urbanidade e vestígios arquelógicos de militância comunista
and it's all you and your schools their tools, then
Mais que dos símbolos do PC, precisavas era do camartelo

Dexys Midnight Runners, Searching for the Young Soul Rebels

E pronto. Fica o conselho de fim-de-semana: vão ao NorteShopping comprar cervejas e tranquem-se em casa a ver os jogos. MAS, antes disso, vão ao Hot Club ver a Lena d'Água.

quinta-feira, junho 17, 2004

DESOBEDIÊNCIA





Fui uma criança desobediente. Bem comportada mas desobediente. Para desespero da minha mãe, o meu pai considerava a desobediência sinónimo de inteligência. Nunca acatei ordens com facilidade, acho mesmo que nunca ultrapassei a idade dos porquês. Felizmente para mim, infelizmente para quem me atura.

Isto para dizer que sou apologista da desobediência inteligente e até a incentivo. O mesmo se passa com muito boa gente, e por falar de muito boa gente, faz hoje sessenta e seis anos que, por não querer participar em chacinas, Aristides Sousa Mendes desobedeceu a Salazar – palavras dele.

Estava-se em 1940, as tropas nazis tinham iniciado a invasão da Europa.

Milhões de refugiados e evacuados chegavam a Bordéus - onde ele era Cônsul de Portugal - na esperança de conseguirem chegar a Portugal, via Espanha, e de cá embarcarem para a América.

No consulado de Espanha só passavam vistos se os refugiados já os tivessem do consulado Português, Franco não queria lá ninguém fugido dos nazis que o tinham ajudado durante a Guerra Civil Espanhola.

Portugal era governado por Salazar, que se fingia neutro mas simpatizava e temia, digo eu, Hitler e por isso deu ordens para que não se passassem vistos aos refugiados.

Aristides Sousa Mendes desobedeceu. Mais de 30 mil vistos foram passados por ele e pelos seus dois filhos mais velhos, nos dias 17, 18 e 19.

A seguir, desloca-se a Bayonne – junto à fronteira com Espanha – onde o respectivo Cônsul, obediente, se recusa a passar vistos, mas como Aristides Sousa Mendes era seu superior hierárquico, passa ele mesmo mais uns milhares.

Idem no Consulado de Hendaye.

E quando as autoridades espanholas deixaram de aceitar vistos passados por ele, começou a acompanhar pessoalmente os refugiados para lhes assegurar a passagem da fronteira.

Deve ter ajudado mais de 10.000 refugiados a fugir de França.

Claro que o Salazar não gostava de desobedientes e dia 24 Aristides Sousa Mendes recebe dois telegramas a chamá-lo para Lisboa, processo disciplinar – à porta fechada – caso encerrado, Cônsul colocado “na disponibilidade, aguardando aposentação”.

Morreu 13 anos depois.

Várias diligências, homenagens estrangeiras e dois artigos de jornal depois, em 1976 o Presidente Mário Soares concede-lhe a Ordem da Liberdade, a título póstumo, evidentemente.

Várias pressões estrangeiras e dos filhos de Aristides Sousa Mendes depois, em 1988 a Assembleia da República e o Governo Português procedem, finalmente, à reabilitação do Cônsul.

Não é que o meu pai tinha razão!

quarta-feira, junho 16, 2004

A UMA AMIGA

Muitos parabéns!

Que este dia e os vindouros te tragam muita felicidade.

Sem tempo para mais, deixo-te aqui um beijinho.


Ainda bandeiras

Sou do tempo do "Portugal, pequeno na Europa e grande no Mundo", "Portugal do Minho a Timor", dos não-sei-quantos (muitos) milhões de portugueses, do levantai hoje de novo sentido, etc. Nunca engoli o nacionalismo bacoco, mas o hino, a bandeira e (mais tarde, por via da tropa) o estandarte nacionais dizem-me muito.

Hoje de manhã, reparei que (mais) um vizinho tinha colocado de fora da sua janela de casa uma bandeira. Igualzinha à bandeira nacional, não fora um qualquer pasquim ter decidido pichar o verde com símbolos do Euro 2004. E então lembrei-me dos 62% de abstenção nas eleições europeias, na fuga ao fisco, na falta de educação cívica galopante e em tantas outras manifestações corriqueiras de acidadania.

Ganhem vergonha e tirem lá a porra das bandeiras das janelas. O país não merece ser envergonhado dessa maneira.

terça-feira, junho 08, 2004

DE NÓS TODOS PARA TI, VARETA


segunda-feira, junho 07, 2004

Pin Hole



Em português Pinhole, e em erudito câmara estenopeica, é uma câmara fotográfica rudimentar. Resume-se numa caixa estanque, com um orifício feito por uma agulha num dos lados, em cujo interior – pintado de preto – e do lado oposto ao do orifício, se coloca uma emulsão sensível, negativo ou papel. O tempo de exposição à luz é inversamente proporcional ao diâmetro do orifício, que deve ser o mais perfeito possível. A imagem obtida é sempre negativa, pelo que é necessário positivá-la. Método igualmente simples.
Variando a distância focal – distância entre o orifício e a emulsão sensível – que é como quem diz, variando o tamanho da caixa, poder-se-á obter o efeito de grande angular – distância focal pequena – ou de tele-objectiva – distância focal maior.

Como não possui elementos ópticos a pinhole não forma a imagem baseada na refracção da luz, por isso a imagem formada é o resultado de um percurso sem interferências resultando numa profundidade de campo infinita.

Agora perguntam-me vocês: Mas porque é que na Era da Fotografia Digital nos vens falar da pré-história da fotografia.
E vai daí eu respondo: Porque sempre achei o método de uma simplicidade mágica e apeteceu-me partilhá-lo com vocês, que se calhar já conheciam, mas se calhar não.

sexta-feira, junho 04, 2004

SEXTA-FEIRA... EHHH! SEXTA-FEIRA!



Começo por vos dar algumas notas deste breve exílio tomarense.

Antes de mais: é Verão. Agora é oficial. Aqui há uns tempos tinha-vos dado conta da minha preocupação quando anunciara a chegada desta tão cara estação do ano, temendo haver-me precipitado pois alguns sintomas tardavam em manifestar-se. Mas agora, repito, é oficial: Ilda de Castro apresentou há dias na RTP o seu 28º álbum, intitulado "Eu canto à vida". Mais Verão que isto é impossível.

Uma recomendação: aos que de vós possam, não deixem de escutar a Rádio ABC - creio ser de Ourém, mas não estou seguro. Foi essa rádio que me deu a ouvir uma pérola cujo autor desconheço mas de que partilho com vocês o gostoso refrão:

"P'ra montar o meu negócio
Tenho qu'ir pedir ò banco
Ou então escolher p'ra sócio
O mEnistro Sousa Franco

'Ando teso mas bonito'
Dizem elas sem favor
Gostam de mim como sou
Quanto mais teso melhor"

O meu avô, o tal dos 96 anos, três meses e quinze dias (give one take one), está já há um mês imobilizado numa cama do hospital. Apesar disso, mantém a lucidez - e o bom espírito. Da última vez que fui vê-lo, disse-me algumas coisas que me marcaram. Disse que quando as visitas saiam, ele regressava à escuridão - ninguém tem paciência para um velho de 96 anos num hospital público. E disse ainda que se eu lá pudesse estar com ele todos os momentos do dia não lhe pareceria demais. É normal, está na mesma posição há mais de um mês. Está saturado. Mas continua a resistir a tudo e a todos: à bacia partida, à segunda pneumonia em ano e meio, à idade, à distância dos que lhe são caros. E mantém o bom humor: enquanto uma auxiliar lhe mudava a fralda e brincava com ele dizendo "vamos lá consertar a sua amiga" enquanto lhe ajeitava "o material", o meu avô respondeu-lhe "A minha já fez o que lhe cumpria. E a sua? Tem-lhe dado que fazer?". É o meu avô.

Hoje é sexta-feira, portanto. Lá consegui uma oportunidade para não deixar morrer o hábito da tradução e assim me encarrego da muy honrosa tarefa de vos dar a ler, na língua de Gonçalo Tavares e José Régio, mais uma pérola da lírica pop contemporânea. Hoje a escolha recaiu nessa luminária ímpar: Lawrence, sem mais, apenas Lawrence, o homem por detrás (salvo seja) dos Felt e dos Denim, vocalista sem voz, guitarrista sem ouvido, teclista sem mão esquerda, estrela pop como poucos outros. No último álbum de originais dos Felt, Me and a Monkey on the moon, Lawrence escreveu melhor que nunca. Por isso vos trago esta mensagem esperançosa e desencantada a um tempo, o belíssimo New Day Dawning.

New Day Dawning

There are some things that i should say
Há muito que eu quero dizer
Before i go
Antes que não possa
And there are some things
Não é que queira mostrar
That you should know
O que está em causa é a partilha
I've walked a razor's edge all my life
A sanidade é um bem tão frágil
Until i fell
E há outros que a seguram
Onto the point
Esses outros que impedem que se resvale
The point of a knife
Para uma cama de pregos
And i said it's good morning
Não tenho jeito para faquir
There's a new day dawning
E sou bastante queimadiço
Good morning to you
Mais um dia no circo sem cair do trapézio


Não tenho tempo para traduzir mais do que a primeira estrofe - só tenho direito a meia-hora de computador... Mas eu volto. Em breve. Bom fim-de-semana.



De orelhas em pé - XIII

Não me apetece ir verificar se as coisas se passaram exactamente como eu ouvi por aí em clips noticiosos dispersos. Nem sequer é coisa muito nova, mas um dado vagamente relacionado surgiu hoje na imprensa e, por isso, cá vai.

Anunciou hoje um qualquer ministro (da Educação? da Saúde?) que no próximo ano lectivo abrirão mais 100 vagas para os cursos de medicina, excelente notícia para todos nós. A prazo (5-10 anos) teremos a possibilidade de inverter a crescente escassez de recursos humanos no SNS e, presume-se, aumentar a qualidade do atendimento aos utentes - quanto mais não seja, reduzindo o tempo de espera. Mas isto não tem grande relevância, nem relação, com o que me leva a escrever.

Há umas semanas, alguma alimária se lembrou de tornar público o seu lamento quanto ao cada vez menor número de machos que cursam, precisamente, medicina. E falou, perante a consternação geral, da criação de quotas neste (eventualmente noutros?) curso, para salvaguardar a tão ameaçada e apreciada prática máscula das artes de Hipócrates.

Para que não restem dúvidas, aqui fica o meu "puta qu'o pariu" para o mentor de tão alucinado projecto, o meu "bem haja" para todos os que o zurziram e o meu "bem feito!" para todas as feministas e restantes promotores da igualdade por decreto. A assunção de uma situação de facto, a desigualdade de oportunidades e direitos das mulheres no acesso ao mercado de trabalho (é disso que falo agora, apenas), combate-se, a prazo, com mudança de mentalidades e, de imediato, com legislação que promova a igualdade, nunca a excepção. Dias da Mulher, quotas para mulheres, movimentos de mulheres, etc., são coisas anacrónicas e, pior, criadoras de precedentes perigosos - como agora se vê. As mulheres têm ganho a maioria no acesso, frequência e conclusão do ensino superior por mérito próprio (venha ele de onde vier, é irrelevante). A prazo serão a maioria dos trabalhadores qualificados, dos quadros e das chefias deste país. Preocupem-se, então, os homens em ter mérito para equilibrar o quadro que se avizinha - ou não. Promover a igualdade através de mecanismos discriminatórios é o mesmo que tratar dores de dentes com aspirina: pode aliviar mas, na melhor das hipóteses, apenas adia a resolução; na pior delas, agrava o problema (como agora se viu).

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