sábado, junho 26, 2004 |
EHHH! SEXTA-FEIRA! FOI ONTEM!...
1.Eu vi um bocado de um possível futuro do rock'n'roll...
Foi na quarta-feira, num barzito já perto do Largo do Carmo. Queria ter chegado a tempo de ver um concerto "afrancesado" mas não cheguei. Cheguei já no final, quando alguém teve a ideia de passar um DVD de apresentação de um novo "conjunto" português. O conjunto chama-se "FEROMONA" e têm como cartão de visita uma canção chamada "Baton Original". Eu, que sou eu, o mais jovem velho de Portugal, o campeão nacional dos nobres desportos da modéstia e da aversão ao rock, eu já apanhei a minha dose de "jovens bandas", expoentes de uma qualquer corrente da "música moderna" - eufemismo frequente para a aliança entre a falta de talento e a falta de conhecimento. Mas neste caso não foi bem assim. Reparem: eu nem estava bêbedo e a minha garrafa de bolso com álcool canforado ainda estava intacta. Ou seja, este foi um impacto às secas, sem vapores etílicos a dourarem-me os ouvidos. E sabem o que vos digo? Gostei. Pronto. Gostei mesmo. Aquela rapaziada Feromónica tem garra, tem ideias, tem poucos meios - guitarra, baixo e bateria - mas não precisa de mais. São coesos, tocam uns com os outros e uns para os outros, o que faz toda a diferença, e têm uma canção inteligente e orelhuda que merecia ser divulgada neste Verão. Se os apanharem num bar qualquer, não virem as costas. Não fujam. Não pensem que são mais uns atadinhos que davam a glande para serem os White Stripes ou os Nirvana. Ouçam-nos. E depois questionem-se sobre o que me terá passado pela cabeça para ficar tão bem impressionado com três mariolas que só querem é rock.
2. Eu gosto de cantigas... tigas... tigas
O gajo que seja lá o que ele quiser. A verdade é que pouca gente sabe fazer "cantigas" como Stephin Merritt, esse canadiano multipolar, obreiro de inúmeros projectos, mago por detrás dos Magnetic Fields. Qualquer canção dos Magnetic Fields, dos The 6ths, dos Gotic Archies ou dos Future Bible Heroes ou de Stephin Merritt em nome próprio soa vagamente familiar, como se já tivéssemos ouvido qualquer coisa parecida - parecida, sim, mas nunca igual nem melhor. Acho que daqui a muitos anos algum crítico dirá de Stephin Merritt que ele era "tão século XX!". Merritt sabe que existem anos e anos acumulados de canções para ouvir, distorcer, reaproveitar e vertê-las nas suas. O gajo faz cantigas, pequenos monumentos de inteligência e graça, despretensiosos e orelhudos e esquizóides e eficazes, juntando atributos antagónicos com a maior das facilidades. E o gajo escreve como poucos - ou melhor, como ninguém e com a qualidade de poucos. Assim, hoje tenho a honra de vos dar a ler, na língua de Joaquim Manuel Magalhães e Hélder Moura Pereira, uma brevíssima pérola datada do excelente álbum dos Magnetic Fields de 1993, Holiday, intitulada Strange Powers. É uma canção feliz, salpicada de imagens bizarras e extraordinárias. É o meu conselho de fim-de-semana: a redescoberta do efeito balsâmico de um qualquer encantamento.
Strange Powers
On the Ferris Wheel
Na Super-Pista Cristina, por alturas da Santa Iria
Looking out on Coney Island
Deitando os olhos ao Flecheiro
Under more stars than
Com mais fichas no bolso
There are prostitutes in Thailand
Do que há putas no Barreiro
Our hair in the air
Tens nódoas de gelado na saia
Our lips blue from cotton candy
E os lábios cheios de óleo das farturas
When we kiss it feels
Beijar-te assim às escondidas
Like a flying saucer landing
É melhor que pôr Halibut nas queimaduras
And I can’t sleep
E à noite não durmo nem por nada
Cause you’ve got strange powers
Não durmo um minuto que seja
You’re in my dreams
Devias estar mal lavada
Strange powers
E pegaste-me a bretoeja
In Las Vegas where
Na barraca das sardinhas
The electric bills are staggering
Sentados em grades de "mines"
The decor hog wild
Cercados de matronas
And the entertainment saccharin
E emigrantes das "usines"
What a golden age,
Sentes no teu peito a festa
What a time of rhyme and reason
Brilham-te os olhos, rapioqueira
The consumer’s king
És moça garrida e sadia
And unhappiness is treason
Mas não lavas a parrameira
And I can’t sleep
E à noite não durmo nem por nada
Cause you’ve got strange powers
Mesmo tendo um grão na asa
You’re in my dreams
Eras pouco asseada
Strange powers
Deixaste-me os colhões em brasa
Magnetic Fields, Holiday
1.Eu vi um bocado de um possível futuro do rock'n'roll...
Foi na quarta-feira, num barzito já perto do Largo do Carmo. Queria ter chegado a tempo de ver um concerto "afrancesado" mas não cheguei. Cheguei já no final, quando alguém teve a ideia de passar um DVD de apresentação de um novo "conjunto" português. O conjunto chama-se "FEROMONA" e têm como cartão de visita uma canção chamada "Baton Original". Eu, que sou eu, o mais jovem velho de Portugal, o campeão nacional dos nobres desportos da modéstia e da aversão ao rock, eu já apanhei a minha dose de "jovens bandas", expoentes de uma qualquer corrente da "música moderna" - eufemismo frequente para a aliança entre a falta de talento e a falta de conhecimento. Mas neste caso não foi bem assim. Reparem: eu nem estava bêbedo e a minha garrafa de bolso com álcool canforado ainda estava intacta. Ou seja, este foi um impacto às secas, sem vapores etílicos a dourarem-me os ouvidos. E sabem o que vos digo? Gostei. Pronto. Gostei mesmo. Aquela rapaziada Feromónica tem garra, tem ideias, tem poucos meios - guitarra, baixo e bateria - mas não precisa de mais. São coesos, tocam uns com os outros e uns para os outros, o que faz toda a diferença, e têm uma canção inteligente e orelhuda que merecia ser divulgada neste Verão. Se os apanharem num bar qualquer, não virem as costas. Não fujam. Não pensem que são mais uns atadinhos que davam a glande para serem os White Stripes ou os Nirvana. Ouçam-nos. E depois questionem-se sobre o que me terá passado pela cabeça para ficar tão bem impressionado com três mariolas que só querem é rock.
2. Eu gosto de cantigas... tigas... tigas
O gajo que seja lá o que ele quiser. A verdade é que pouca gente sabe fazer "cantigas" como Stephin Merritt, esse canadiano multipolar, obreiro de inúmeros projectos, mago por detrás dos Magnetic Fields. Qualquer canção dos Magnetic Fields, dos The 6ths, dos Gotic Archies ou dos Future Bible Heroes ou de Stephin Merritt em nome próprio soa vagamente familiar, como se já tivéssemos ouvido qualquer coisa parecida - parecida, sim, mas nunca igual nem melhor. Acho que daqui a muitos anos algum crítico dirá de Stephin Merritt que ele era "tão século XX!". Merritt sabe que existem anos e anos acumulados de canções para ouvir, distorcer, reaproveitar e vertê-las nas suas. O gajo faz cantigas, pequenos monumentos de inteligência e graça, despretensiosos e orelhudos e esquizóides e eficazes, juntando atributos antagónicos com a maior das facilidades. E o gajo escreve como poucos - ou melhor, como ninguém e com a qualidade de poucos. Assim, hoje tenho a honra de vos dar a ler, na língua de Joaquim Manuel Magalhães e Hélder Moura Pereira, uma brevíssima pérola datada do excelente álbum dos Magnetic Fields de 1993, Holiday, intitulada Strange Powers. É uma canção feliz, salpicada de imagens bizarras e extraordinárias. É o meu conselho de fim-de-semana: a redescoberta do efeito balsâmico de um qualquer encantamento.
Strange Powers
On the Ferris Wheel
Na Super-Pista Cristina, por alturas da Santa Iria
Looking out on Coney Island
Deitando os olhos ao Flecheiro
Under more stars than
Com mais fichas no bolso
There are prostitutes in Thailand
Do que há putas no Barreiro
Our hair in the air
Tens nódoas de gelado na saia
Our lips blue from cotton candy
E os lábios cheios de óleo das farturas
When we kiss it feels
Beijar-te assim às escondidas
Like a flying saucer landing
É melhor que pôr Halibut nas queimaduras
And I can’t sleep
E à noite não durmo nem por nada
Cause you’ve got strange powers
Não durmo um minuto que seja
You’re in my dreams
Devias estar mal lavada
Strange powers
E pegaste-me a bretoeja
In Las Vegas where
Na barraca das sardinhas
The electric bills are staggering
Sentados em grades de "mines"
The decor hog wild
Cercados de matronas
And the entertainment saccharin
E emigrantes das "usines"
What a golden age,
Sentes no teu peito a festa
What a time of rhyme and reason
Brilham-te os olhos, rapioqueira
The consumer’s king
És moça garrida e sadia
And unhappiness is treason
Mas não lavas a parrameira
And I can’t sleep
E à noite não durmo nem por nada
Cause you’ve got strange powers
Mesmo tendo um grão na asa
You’re in my dreams
Eras pouco asseada
Strange powers
Deixaste-me os colhões em brasa
Magnetic Fields, Holiday
Arrotos do Porco: