sexta-feira, setembro 26, 2003 |
Eutanásia |
Eis um assunto delicado e incontornável nestes últimos dias. Não pretendo discutir, aqui, os prós e contras de uma legalização global da eutanásia, apenas tentar compreender que circunstâncias levam à necessidade de cometer tal acto. Optar entre "viver e morrer", avizinha-se-nos tarefa fácil. Igualmente fácil, terá sido para Vincent Humbert, de apenas 21 anos, optar entre "respirar e morrer". Não foi a primeira, mas sim a última questão com a qual o rapaz se viu confrontado. Já antes, havia escrito ao presidente Chirac manifestando-lhe a sua vontade. Vincent tinha Vida, efectivamente, apenas não tinha como vivê-la.
O jovem francês, resolveu então colocar um ponto final na sua existência recorrendo, para o efeito, ao apoio de sua mãe, Marie Humbert, que lhe injectou um produto tóxico. Refira-se que Vincent ficara tetraplégico na sequência de um grave acidente de viação.
Faleceu hoje, após aquela que viria a ser a derradeira tentativa de pôr um fim à sua vida. Antes, pediu para que sua mãe não fosse julgada por tê-lo auxiliado, alegando que a atitude dela seria "a mais bela prova de amor do mundo". Efectivamente, parece-me que, dadas as circunstâncias, foi uma prova de amor - e de fogo - de enormes dimensões. Uma prova que poucos de nós - arrisco mesmo a dizer quase nenhuns - imaginamos poder vir a enfrentar um dia. Se Marie atendeu ao pedido do filho, já a lei atropelarará a sua vontade ao julgar a mãe. Não quero com isto dizer que não se deva aplicar a lei. Apenas me entristece pensar que o inimaginável sofrimento de Marie, não se quedará pela perda do seu rebento.
No fundo, acredito que Marie sabia ser impossível sacrificar a vida do filho, sem que a sua fosse também posta em causa.
Foi apenas, mais uma mãe, incapaz de negar ao filho fosse o que fosse. Até a morte, assim ele a desejasse...
Inquestionável, foi a coragem de ambos.
Arrotos do Porco: