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Vareta Funda

O blog dos orizicultores do Concelho de Manteigas


quinta-feira, setembro 25, 2003

Coiratos

Graças a Deus, sou bronco. Não me demoro a reflectir sobre a natureza das relações, não sigo as acesas discussões sobre ética ou estética e, como tal, não tomo partido achegando comentários inteligentes, não perfilho ideologia apresentável ou sequer reconhecível, nem tenho sistema de pensamento. Aliás, agora que penso nisso, nem sequer tenho muito pensamento (parece paradoxal, eu sei, mas com esforço vocês percebem). Não posso, por essa razão, ser considerado um intelectual por ninguém que preze um mínimo de honestidade.

O que é bom. Não ser intelectual liberta-me para imensas coisas divertidas e permite-me perseguir um objectivo tangível para todo o ser humano, o da satisfação. Se fosse um intelectual, ver-me-ia obrigado a sofrer na busca dessa coisa vaga que é a felicidade. Eu (que sou bronco, recorde-se) definiria a felicidade como um estado de satisfação continuada. Ora, qualquer coisa continuada é uma chatice de morte, coisa bem à medida dos intelectuais que gostam de se chatear de morte.

Uma das coisas que me dá satisfação é ver (bom) futebol. Um bom jogo de futebol, empolgante e animado, com alternância no marcador, golos, movimento, empenho e resultado imprevisível, é coisa quase orgásmica. A tensão sobe em contínuo até ao desfecho final, que é explosivo quando a equipa pela qual torcemos ganha. E mesmo que perca ou empate, se foi no final de um bom jogo de futebol, saímos sempre eufóricos. É no fundo como dar um grande pirafo e, chegado o fim, sentirmo-nos realizados ou insatisfeitos. São considerações de ordem estética, mas o papinho cheio já ninguém nos tira.

A analogia com a queca não acaba aqui. Tal como na dita, um jogo de futebol acaba com o último apito do árbitro e pronto. Podemos tirar umas fotos e fazer uns vídeos, usá-los para rememorar e evocar esse momento mais tarde, mas acabou ali. Não há consequência no disfrute de um jogo de futebol, tal como não a há nas quecas. Valem por si, pelo durante. A seguir outros/as haverá, mas aquela, única e irrepetível, encerra-se a si mesma.

Aqueles que não conseguem viver bem consigo próprios gostam de discutir os jogos de futebol, e desses não rezará esta história. É gente deprimente, que julga ser possível convencer o parceiro de esgrima que "o-meu-afecto-é-melhor-que-o-teu-afecto". Interessam-me, sobretudo, os intelectuais e a sua relação com o futebol. A forma como precisam de contextualizar o fenómeno desportivo, de enquadrar o modelo desportivo - Escola de Virtudes - na actual sociedade, de escalpelizar as relações promíscuas do futebol com a política, de reflectir sobre a forma como a televisão acabou por matar o futebol-empolgamento, criando o monstro do futebol-negócio, etc., etc., etc. Ad nausea.

Felizmente, sou bronco. Posso dizer de peito aberto que gosto de bola sem ter que explicar nada e deleitar-me com as fintas do Quaresma ou do Cristiano Ronaldo ou do Deco ou do Figo, ad infinitum. Ou, pelo menos, ad próximo fim-de-semana.

Numa coisa, porém, eu e os intelectuais estamos de acordo. Mas que raio de graça é que têm as sandes de coiratos?

Arrotos do Porco:


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