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Vareta Funda

O blog dos orizicultores do Concelho de Manteigas


sexta-feira, setembro 19, 2003

Louva-a-Deus

Têm sido às centenas de milhar os e-mail (ou correio-e, como propõem algumas instâncias...) que me enviam perguntando "Quem és tu?" e "Posso-te conhecer-te melhor?". Claro que não respondo: sou funcionário público, não tenho tempo. Mas face a tanta insistência e porque me convém para aquilo de que vos quero falar, deixo-vos umas luzes sobre um traço da minha personalidade.

Todos os dias de manhã, enquanto trato da minha higiene íntima e escolho os atavios que me irão tapar o corpo durante boa parte do dia, perco uns bons 5 minutos a escolher O DISCO que vou ouvir naquele período e que vai, acreditem, marcar as próximas 12 ou 15 horas. Escrevo em maiúsculas porque é uma escolha muito importante: posso ficar mais enérgico, ou mais melancólico, ou mais concentrado, ou "à  berma" do suicídio consoante o disco que ouço de manhã. E digo "disco" e não "cd" porque vou alternando entre esse formato e o vinil, essa segunda paixão da minha vida, ali ao lado da fam­lia e logo atrás das gajas.

Ontem, a escolha correu-me bem: ouvi o "From gardens where we feel secure", da Virginia Astley, de 1983, em edição da saudosa Fundação Atlântica. É um disco que apenas pretende ser bonito, é uma banda sonora de um dia feliz e tranquilo, uma pequena e humilde obra prima, daquelas que só poderia ser feita por uma mulher. A voz da Virginia Astley, que neste álbum se ouve numa única música, "A summer long since past", é de uma candura que só posso definir como pós-orgásmica. É uma voz que se quer proteger, livre de maldade, bonita e apaziguadora.

Com tudo isto, saí de casa com uma certeza reforçada: nada há de mais avassalador que uma mulher bonita. Para emparceirar com um princípio tão absoluto, só existe uma expressão, um sorridente "Foda-se!"...

E chegamos ao cerne, ao parágrafo onde o título se explica. Reside em mim uma certa pulsão - e perdoem-me o neologismo - "louva-a-deusica". As perfeições somadas de um corpo feminino, das mecânicas do prazer, dos orgasmos mútuos, levam-me por vezes a pensar, no "afterglow" (foda-se, arranjem-me uma expressão portuguesa bonita para "período pós-coito"...), que podia morrer ali, assim, feliz e tranquilo.



Claro que tudo se desvanece momentos depois - o melhor é mesmo ir morrendo muitas vezes, sem cair no erro do macho louva-a-deus de fecundar a fêmea antes do último suspiro.

Arrotos do Porco:


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