sexta-feira, julho 30, 2004 |
SEXTA-FEIRA
E cá estamos noutra, depois da folga da semana passada.
E eu pergunto-vos: porque é que será tão fácil cantar sobre o amor e a dor de corno e a traição e a separação e as fodas e as fodas que se queriam dar e o "eu fazia-te e acontecia-te"? Ou seja, porque é que tão fácil cantar sobre coisas de que se sabe tão pouco em vez de se fazerem bonitas cantigas sobre... sobre detergentes, pequenos electrodomésticos, a resistência de materiais, a geopolítica, a gastroenterologia ou o Protocolo de Quioto?
Qualquer badamerda chega a um estúdio e cá vai disto: "Baby, you're like an angel/You have the smile of Emídio Rangel..." ou qualquer coisa parecida. É um facilitismo! Seria muito mais interessante que alguém tivesse coragem de cantar coisas como: "Honey, have you tried the new "Woolite"?/You can machine-wash your clothes without'em gettin' tight". Em Portugal, por exemplo, porque é que ninguém tem coragem para musicar as Grandes Opções do Plano ou o Programa de Governo? Seria pedagógico.
É precisamente neste espírito que hoje vos trago a ler, na língua de Brízida Vaz e de Luís Carmelo, uma pérola da lírica pop contemporânea que vem desse país grande à beira de dois mares plantado a que, em homenagem clara ao meu avô, chamamos vulgarmente América. Um grupo que tem a coragem de escolher para nome "Costeleta de Borrego" merece logo a minha consideração. Também eu tive vários projectos piloto com nomes ligados à gastronomia: "Vareta e as Coiratas"; "As Fêveras e os Cominhos"; "Bacalhau com Alho e Arrebimb'òmalho"; "O Pargo e as Chaputas"; ou esse nome quase mítico no circuito underground de Ferreira do Zêzere e Vila de Rei, os "Cabra em Chanfana, Cabrões com Bezana". Mas estes Lambchop - que é como se diz em estrangeiro - para além de gostarem de borrego, o que é muito bom sinal, ainda fazem música como deve ser. Acima de tudo conseguem eximir-se àqueles títulos promissores: "You and I"; "What will it be tomorrow?" ou "Your cunt is so tight that I can't take my dick out". No exemplo que vos trago, estes muitos rapazes e raparigas de Nashville optaram pelo honesto e pouco comprometedor título "Action Figure" e Kurt Wagner escreveu umas lindas quadras sobre muitas coisas que ele não percebe. Nem eu. Mas isso não me impede de traduzir, com a clareza e a fidelidade ao original que são o meu apanágio.
Action Figure
I heard a rumor that I'm sad
Andas p'aí a dizer às tuas amiguinhas que estou deprimido
or at least that I feel bad
Ou que estou, pelo menos, ligeiramente aborrecido
whoever said that doesn't know
Mas tu sabes tanto do meu estado mental
I'm pretty sure that I don't know
Como eu sei da tua flora intestinal
And if a case was made for this
Devias saber que, se estou em baixo,
Could it be something that we missed
Me enfrasco em vinho do Cartaxo
Let's let the cat out of the bag
E vou para as noites loucas das bombas BP
Let's let the neighbourhood go bad
Beber cervejas e aspirar o Corsa GT
It takes some time but there you go
Era preciso um garrafão de vinho "Aurém"
It takes a lot of guts to show
Para que não tivesses vergonha de ninguém
The silly side of who we are
Para seres tudo o que querias ser
As if we'd ever go that far
Para te peidares sem enrubescer
So we can put away the watch
Eu queria uma cena sem espartilhos
And we can throw away the cane
Tu querias evitar sarilhos
And we can walk through god's own will
Divergimos e partimos, na paz do Senhor
Because he's crying crying still today
Tudo bem, mas devolve-me o esquentador
What are the odds that you are right
Picavas salsa e pedias-me para crescer
What will we have to eat tonight
Eu dizia "esquece o jantar e vamos foder"
What if I told you it's ok
E se eu agora te dissesse "Está bem."
To be my action figure
"Aceito trabalhar com o teu pai como fiel d'armazém"?
I've swatted bugs all afternoon
Há baratas mortas na cozinha, de manhã
I've swallowed beer like a cartoon
E eu vou ficando parecido com o boneco da Michelin
and if old Waylon hung the moon
Mas tenho esperança de que cheguem as oportunidades
Will we be singing with him soon
De fazer carreira como artista de variedades
And I will learn to look away
"Se eu quiser não me ralo"
When there are things I cannot bear
E já me ralei, sei do que falo
Perhaps you'll sing a diferent tune
Vou encontrar outra gaja para contracenar
Perhaps well learn to tell the diference
No número em que eu a finjo serrar
There are people that I know
Conheço muito boa gente
Who live content within their limits
Que se acha sã e me chama demente
And we are lucky to be so
Mas se te cortei foi por acidente
Completely interactive
A serra deixou-me a mão dormente
Lambchop, Aw C'Mon
quinta-feira, julho 29, 2004 |
MAIS UMA POSTA DE CONSUMO RÁPIDO
Vá. 'Afinfem-le'.
Vá. 'Afinfem-le'.
ESTAMOS QUASE DE FÉRIAS
Alguns, pelo menos.
Alguns, pelo menos.
quarta-feira, julho 28, 2004 |
Requerimento
Tenho saudades das férias de Verão, daquelas férias enormes, dos meses passados a brincar na rua ou a jogar às caricas, das duas ou três semanas de praia, do Parque de Campismo de Santa Cruz, da praia do Cabedelo, da Zambujeira, de São Pedro de Moel… Tenho saudades das férias já mais tarde, no secundário, das tardes de snooker no Tabuleiro e no Paraíso, dos cafés, do bolo de bolacha do Snack-Bar Cristina, das primeiras noites em que saía sozinho sem a chancela dos irmãos… Tenho saudades do primeiro Festival Sudoeste e da viagem feita num Fiat Uno em que, mais que o motor, contava a força de vontade.
Tenho saudades e, por outra, não tenho. Não queria reviver nada daquilo, foi vivido e bem, é só um tempo que merece ser lembrado. Do que eu tenho mesmo saudades é do tempo em que tinha tempo e esse tempo era meu e eu estoirava-o como bem entendia. Não me arrependo de quase nada do que não fiz, mas arrependo-me ou revolto-me ou desgosto-me com o que não fiz porque não tive tempo. São coisas muito diferentes, deixar de fazer por opção ou deixar de fazer porque não temos tempo.
Sou um gajo um bocado tonto, porventura, mas acho mal que os outros de quem gosto tenham o usufruto da minha companhia condicionado à disponibilidade de um tempo que devia ser meu mas que não sou eu quem gere. V.Exa. repare: não estou a pôr em causa o valor do trabalho, nem a hipotecar essa instituição quase sacramental da carga horária semanal. Não. Ninguém vive do ar, os discos estão pela hora da morte e eu sou agradecido a quem me garante a carcacinha e o conduto – se bem que a minha frugalidade me leve a pensar se não seria melhor transformar o subsídio de refeição em horas de folga… O que me amofina é não ter o tempo – nem, por vezes, o espírito – para estar ou ligar ou escrever a toda a gente que me tem afecto. Eu, por exemplo, tenho um afecto muito especial por mim e Deus é testemunha de que nem sempre ou quase nunca me dou o tempo de que preciso.
Longe de mim querer co-responsabilizar Vossa Senhoria pelas mossas que me causam as alegações de que “não ligo a ninguém”, “só te lembras de ligar quando precisas de alguma coisa”, “ainda estás vivo?!” ou “agora deves ter outros amigos, não é?”. São injustas porque continuo a gostar de todos como sempre gostei e faria qualquer coisa por essas pessoas – desde que tenha tempo.
Compreenderá V. Exa. que um dos atributos mais importantes de quem tem tempo é poder perdê-lo, e é isso que a mim me falta. Poder perdê-lo a ouvir, a falar, a ler, a passear, a vegetar, a dormir, ao telefone, nos cafés, na cama, com pessoas, com uma pessoa, sozinho, em multidão, mas perdê-lo, perdê-lo declaradamente, sem remorsos nem dúvidas, sem desculpas ou justificações. Recuperar essa sensação ímpar, que eu deixei no já longínquo ano de mil nove e noventa e nove, de que num dia meu poderia caber tudo quanto eu quisesse seria, estou certo, um contributo importante para um assinalável incremento na minha produtividade – e só a minha modéstia me exime de a qualificar também ela de assinalável…
Ante o exposto, venho requerer a V. Exa. se digne conceder-me, a título extraordinário, o gozo de três meses de férias pagas, a iniciar a 1 de Agosto próximo e terminando a 31 de Outubro.
Pede deferimento.
Tenho saudades das férias de Verão, daquelas férias enormes, dos meses passados a brincar na rua ou a jogar às caricas, das duas ou três semanas de praia, do Parque de Campismo de Santa Cruz, da praia do Cabedelo, da Zambujeira, de São Pedro de Moel… Tenho saudades das férias já mais tarde, no secundário, das tardes de snooker no Tabuleiro e no Paraíso, dos cafés, do bolo de bolacha do Snack-Bar Cristina, das primeiras noites em que saía sozinho sem a chancela dos irmãos… Tenho saudades do primeiro Festival Sudoeste e da viagem feita num Fiat Uno em que, mais que o motor, contava a força de vontade.
Tenho saudades e, por outra, não tenho. Não queria reviver nada daquilo, foi vivido e bem, é só um tempo que merece ser lembrado. Do que eu tenho mesmo saudades é do tempo em que tinha tempo e esse tempo era meu e eu estoirava-o como bem entendia. Não me arrependo de quase nada do que não fiz, mas arrependo-me ou revolto-me ou desgosto-me com o que não fiz porque não tive tempo. São coisas muito diferentes, deixar de fazer por opção ou deixar de fazer porque não temos tempo.
Sou um gajo um bocado tonto, porventura, mas acho mal que os outros de quem gosto tenham o usufruto da minha companhia condicionado à disponibilidade de um tempo que devia ser meu mas que não sou eu quem gere. V.Exa. repare: não estou a pôr em causa o valor do trabalho, nem a hipotecar essa instituição quase sacramental da carga horária semanal. Não. Ninguém vive do ar, os discos estão pela hora da morte e eu sou agradecido a quem me garante a carcacinha e o conduto – se bem que a minha frugalidade me leve a pensar se não seria melhor transformar o subsídio de refeição em horas de folga… O que me amofina é não ter o tempo – nem, por vezes, o espírito – para estar ou ligar ou escrever a toda a gente que me tem afecto. Eu, por exemplo, tenho um afecto muito especial por mim e Deus é testemunha de que nem sempre ou quase nunca me dou o tempo de que preciso.
Longe de mim querer co-responsabilizar Vossa Senhoria pelas mossas que me causam as alegações de que “não ligo a ninguém”, “só te lembras de ligar quando precisas de alguma coisa”, “ainda estás vivo?!” ou “agora deves ter outros amigos, não é?”. São injustas porque continuo a gostar de todos como sempre gostei e faria qualquer coisa por essas pessoas – desde que tenha tempo.
Compreenderá V. Exa. que um dos atributos mais importantes de quem tem tempo é poder perdê-lo, e é isso que a mim me falta. Poder perdê-lo a ouvir, a falar, a ler, a passear, a vegetar, a dormir, ao telefone, nos cafés, na cama, com pessoas, com uma pessoa, sozinho, em multidão, mas perdê-lo, perdê-lo declaradamente, sem remorsos nem dúvidas, sem desculpas ou justificações. Recuperar essa sensação ímpar, que eu deixei no já longínquo ano de mil nove e noventa e nove, de que num dia meu poderia caber tudo quanto eu quisesse seria, estou certo, um contributo importante para um assinalável incremento na minha produtividade – e só a minha modéstia me exime de a qualificar também ela de assinalável…
Ante o exposto, venho requerer a V. Exa. se digne conceder-me, a título extraordinário, o gozo de três meses de férias pagas, a iniciar a 1 de Agosto próximo e terminando a 31 de Outubro.
Pede deferimento.
E SE FOSSEM APANHAR NA BELFA?
Os cabrões que fodem esta merda, claro.
Os cabrões que fodem esta merda, claro.
AVISO
Estás avisado, filho da puta.
Estás avisado, filho da puta.
terça-feira, julho 27, 2004 |
REFRESH intermédio
E vão cinco.
E vão cinco.
REFRESH v.0.4
Foda-se...
Foda-se...
REFRESH v.0.3
Terceira versão. E mais não digo.
Terceira versão. E mais não digo.
segunda-feira, julho 26, 2004 |
REFRESH v.0.2
Até chegar ajuda, aqui fica a segunda versão.
Até chegar ajuda, aqui fica a segunda versão.
REFRESH
Vamos ver quanto tempo este não-post se aguenta sem ser tramado pelos antipáticos que por aí pululam.
Vamos ver quanto tempo este não-post se aguenta sem ser tramado pelos antipáticos que por aí pululam.
terça-feira, julho 20, 2004 |
Não tenho nada que valha a pena contar, hoje.
Levantei-me às 9h10. Bati com o dedo grande do pé direito na esquina da cama enquanto tentava calçar os chinelos de quarto. Devo ter resmungado um “foda-se!” angustiado, mas estava demasiado sonolento para o poder garantir. Acendi o esquentador. Tenho que acender o esquentador com fósforos porque o isqueiro do dito está avariado. O forno do fogão também está avariado, mas não preciso dele de manhã. Cortei uma fatia de pão da Encarnação (já deve ter faltado mais para começarmos a ter pães produzidos em regiões demarcadas…) e pu-la a torrar. Ou quase. A torradeira não estava bem avariada mas obrigou-me a uma pequena reparação – uma delicada intervenção com uma faca de lâmina comprida para pôr um araminho no lugar. Barrei manteiga no pão e comi-o. Assim. Sem quaisquer remorsos. Adeus pão. Adeus manteiga. Bem-vindos ao meu aparelho digestivo. Talvez que amanhã vos reencontre sob outra forma. Lavei a tromba. Lavei os dentes. Fiz a barba. Tomei banho. Porque é que hoje em dia todos os géis de banho têm que ser qualquer coisa mais que um simples gel de banho? Ou nos dão energia ou nos revitalizam ou nos curam a ressaca ou nos fazem sentir mais exóticos que o José Castel Branco… Eu só quero um detergente que não me faça urticária, não preciso de confundir a minha banheira com uma estância termal. Entretanto, já tinha escolhido o disco da manhã, um “best of” manhoso dos The Walker Brothers, uma daquelas fantochadas simpáticas dos anos 60: os moços não eram irmãos nem tão pouco se chamavam Walker. Mas ouvir o Scott Walker (Scott Engel, na verdade) de manhã é sempre retemperador. O gajo canta bem e, para mim, um gajo que canta bem tem sempre algum valor. Claro que fiz “sing along” com várias das músicas. Quem é que resiste a entoar o refrão do “The sun ain’t gonna shine anymore” quando o ouve? Hum? Eu não. De maneira que o vizinho de baixo lá deve ter sofrido com a minha já célebre pujança vocal, incrementada pelo “reverb” natural dos azulejos da casa de banho. Escolhi o fato e a camisa e a gravata. Tive que repetir o nó da gravata, que o primeiro tinha ficado muito descompensado. Saí de casa. Apanhei um táxi com um motorista que conseguiu fazer o percurso calado. Trabalhei até às 13h. Fui almoçar com colegas. Comi bem. Comi até ligeiramente demais. Voltei ao trabalho. Estou no trabalho. Tenho calor. Tenho uma colega na sala e tenho-me a mim como companhia privilegiada. São 16h25. Demorei sete horas e quinze minutos para concluir que ainda me vou bastando para ser feliz todos os dias, nestas horas de “partilha profissional”. Mesmo num dia feito de nadas, esses são os meus nadas e eu estimo-os.
Portanto, tenho nadas que não valem a pena contar, hoje. Mas eu conto-os na mesma.
Levantei-me às 9h10. Bati com o dedo grande do pé direito na esquina da cama enquanto tentava calçar os chinelos de quarto. Devo ter resmungado um “foda-se!” angustiado, mas estava demasiado sonolento para o poder garantir. Acendi o esquentador. Tenho que acender o esquentador com fósforos porque o isqueiro do dito está avariado. O forno do fogão também está avariado, mas não preciso dele de manhã. Cortei uma fatia de pão da Encarnação (já deve ter faltado mais para começarmos a ter pães produzidos em regiões demarcadas…) e pu-la a torrar. Ou quase. A torradeira não estava bem avariada mas obrigou-me a uma pequena reparação – uma delicada intervenção com uma faca de lâmina comprida para pôr um araminho no lugar. Barrei manteiga no pão e comi-o. Assim. Sem quaisquer remorsos. Adeus pão. Adeus manteiga. Bem-vindos ao meu aparelho digestivo. Talvez que amanhã vos reencontre sob outra forma. Lavei a tromba. Lavei os dentes. Fiz a barba. Tomei banho. Porque é que hoje em dia todos os géis de banho têm que ser qualquer coisa mais que um simples gel de banho? Ou nos dão energia ou nos revitalizam ou nos curam a ressaca ou nos fazem sentir mais exóticos que o José Castel Branco… Eu só quero um detergente que não me faça urticária, não preciso de confundir a minha banheira com uma estância termal. Entretanto, já tinha escolhido o disco da manhã, um “best of” manhoso dos The Walker Brothers, uma daquelas fantochadas simpáticas dos anos 60: os moços não eram irmãos nem tão pouco se chamavam Walker. Mas ouvir o Scott Walker (Scott Engel, na verdade) de manhã é sempre retemperador. O gajo canta bem e, para mim, um gajo que canta bem tem sempre algum valor. Claro que fiz “sing along” com várias das músicas. Quem é que resiste a entoar o refrão do “The sun ain’t gonna shine anymore” quando o ouve? Hum? Eu não. De maneira que o vizinho de baixo lá deve ter sofrido com a minha já célebre pujança vocal, incrementada pelo “reverb” natural dos azulejos da casa de banho. Escolhi o fato e a camisa e a gravata. Tive que repetir o nó da gravata, que o primeiro tinha ficado muito descompensado. Saí de casa. Apanhei um táxi com um motorista que conseguiu fazer o percurso calado. Trabalhei até às 13h. Fui almoçar com colegas. Comi bem. Comi até ligeiramente demais. Voltei ao trabalho. Estou no trabalho. Tenho calor. Tenho uma colega na sala e tenho-me a mim como companhia privilegiada. São 16h25. Demorei sete horas e quinze minutos para concluir que ainda me vou bastando para ser feliz todos os dias, nestas horas de “partilha profissional”. Mesmo num dia feito de nadas, esses são os meus nadas e eu estimo-os.
Portanto, tenho nadas que não valem a pena contar, hoje. Mas eu conto-os na mesma.
sexta-feira, julho 16, 2004 |
Sexta-feira... mais uma
Este país tem passado por momentos importantes, neste mês. Mas isso não pode fazer com que desviemos as nossas atenções de outros assuntos que, por serem mais perenes ou recorrentes, nem sempre são lembrados como deviam. É o caso das dietas de Verão.
Se para um gajo nem sempre é simpático chegar à praia e ouvir os amigos dizer: "Eh pá! Tu ao menos já trazes a bóia!", para as gajas a coisa é pior ainda... Nenhuma delas ficaria satisfeita se uma amiga lhe dissesse: "Nem reparei que eras tu! Vi uma sombra mas pensei que era a Bola da Nivea!".
Não sou nutricionista, nem venho dar conselhos ou lições de psicologia gratuita sobre como é conveniente aceitar o corpo que se tem. Não. O que eu venho oferecer é a minha solidariedade a todas as pessoas que debalde tentam perder peso e volume e que se deprimem com a perspectiva.
Veio-me isto à cabeça por mor de um verso de um grande autor, já anteriormente brindado com uma tradução, nascido na longínqua Austrália - o que implica a probabilidade de lhe ter corrido nas veias o sangue de algum violador inglês deportado. David McComb já não está entre nós, mas ficou-nos a sua obra a solo e enquanto líder dos incontornáveis The Triffids. O verso a que me referia aparece neste portento de canção que é "Kelly's Blues", um dos muitos pontos altos desse álbum quase mítico que é "Calenture", saído ao mundo no distante mil nove e oitenta e sete. É uma canção abafada e psicótica, com uma tarola agigantada, um baixo contido e tenso, a voz do David entre o grito e a angústia controlada, tudo isto desaguando num refrão tão simplesmente bonito que é inesquecível. O facto de, no refrão, o David se limitar a cantar "Kelly's Blues" por quatro vezes contribui, por certo, para que este seja fácil de lembrar...
É, assim, com a mais distinta honra e agradecendo penhoradamente a vossa atenção que vos apresento, na língua Nelly Furtado e Gabriela Schaff, mais uma pérola inolvidável da lírica pop contemporânea. Associada a ela, deixo-vos a minha sugestão para este fim-de-semana: não se preocupem com as medidas do corpo e vão até Faro, à concentração de motards, onde se poderão consolar com a desgraça física alheia.
Kelly's Blues
Kelly left her front light on
A tua varanda era a única que tinha luz em toda a cooperativa de habitação social
I came around
E eu fiquei cá em baixo à espera que desses por mim
Her tree blew over
Provavelmente não me vias por causa da porcaria do choupo
I shook her branches down
E eu, que não sou de modas, comecei a partir-lhe os ramos
The wind and I, we howled around her door
Com a merda do vento apanhei uma vergastada nos olhos e gritei como um louco à tua porta
Now there's a buckle in the sky, Iightning on the shore
Não bastando isso, levantou-se uma destas trovoadas de Verão
And a face reflected in a puddle on the floor
E não sei se sabes como é fodido estar à chuva com sapatos de lona
Nobody knows the darkness of Kelly's blues
Devias estar em casa agarrada ao Arraiolos, em auto-comiseração
How they turn in on her, how they let her bad side loose
A pensar que se tivesses as mamas da Sílvia não passavas a noite sozinha
How thin must she grow in this cold and dirty room?
Tens a cozinha cheia de glúten e cereais que emagrecem
How can I put it in between words?
Mas como é que te hei-de dizer isto sem te ofender...
Kelly, come on out of the gloom
Célia, eu só quero que me faças um bico
Now her window frame is banging in the sea breeze
O vento pestilento do lado da ETAR fazia as janelas baterem, quando eu entrei
Her tabby cat is crying as it rubs itself up against my knees
O teu gato também devia estar de regime - magro como um cavaco e a esfregar-se em mim
Her typewriter keys chatter as my fingers freeze
Passei-te à máquina o horóscopo da semana para o jornal local
Her lines are down, her phone is dead
Vieste com uma conversa de merda de não ter dinheiro para o telefone
Kelly's car is rusting in my back shed
E eu contei-te: lembras-te de me emprestares o carro? Fodi-o contra uma árvore...
How can I put it in between words?
Como é que eu posso dizer isto...
Kelly, come on out of the gloom
Tu és gorda, eu sou marreco e aleijado
How can I put it in between words?
Só te quero fazer perceber
Nobody knows the darkness of Kelly's blues
Que preciso de um bico porque estou rebarbado
The Triffids, Calenture
quarta-feira, julho 14, 2004 |
Serviço Público I
A desconcentração do Executivo foi, não duvido, uma ideia soprada ao Dr. Pedro Santana Lopes pelo Divino Espírito Santo. A pomba é assim: às gajas escolhidas, emprenha-as; aos gajos escolhidos, torna-os mais espertos. Provavelmente, terá sido uma de duas coisas: ou a recompensa por tanto olhar para o céu ou uma cunha descarada do Dr. Francisco de Sá Carneiro. O facto é que a ideia é tão sumamente boa, tão livre de qualquer possível crítica ou remoque, tão alinhada com os ensinamentos de Teixeira de Pascoaes quanto à perpétua ascensão do Homem em direcção a Deus, que não pode ter tido origem meramente humana.
Como de costume, os desígnios da Providência não são totalmente claros. Eles são a luz, é certo, mas a luz encandeia e cega, daí que os ensinamentos que a Divina Pomba terá arrulhado ao nosso Primeiro não podem ser tomados numa interpretação restritiva. Não. O Senhor não pretende apenas que cada um dos 18 distritos de Portugal Continental tenha um Ministério. A Sua ordem vai muito mais longe. Para além da orgânica do Executivo, é a reformulação da orgânica do próprio território nacional que apraz ao Pai.
Claro: não cheguei as estas conclusões sozinho - tive a preciosa ajuda do Padre José Luís Borga, que a mim se dirigiu quando eu toquei o seu cd em "reverse"... Eis, então, o que desejam os Astros que tão extremosamente têm cuidado do nosso novo Primeiro.
1. O nexo causal para a localização dos Ministérios, adivinhado por PSL nos irrepreensíveis binómios Santarém-Agricultura e Faro-Turismo, deve ser prosseguido. O Ministério da Saúde não pode ter outra localização que não Vilar de Perdizes, mais concretamente na Sacristia do Padre Fontes. Qualquer pasta de que o Dr. Paulo Portas venha a ocupar deve ficar sediada em Fátima, conhecida que é a sua especial ligação a Nossa Senhora (não, seus pecadores, não é por Fátima ter muitos seminários cheios de jovens tenrinhos!). O Ministério da Cultura deve optar pela itinerância, associando-se ao Circo Victor Hugo Cardinalli, que alugará as necessárias roulottes sem cobrar IVA. O Ministério dos Negócios Estrangeiros ficará nesse esquecido enclave português, Olivença, mas funcionará camuflado para não antagonizar os nossos vizinhos (assim como assim, hoje em dia também ninguém repara que ele está em Alcântara...).
2. Lisboa não deverá conservar nenhum Ministério. Mais: Lisboa deve deixar de ser município e passará a ser uma simples freguesia englobada no concelho de Loures. Nosso Senhor desconfia - olhando para os principais partidos portugueses - que isto, mais tarde ou mais cedo, se tornaria numa nova Sodoma e prefere usar de medidas preventivas a recorrer ao enxofre e à Divina Pirotecnia.
3. Nenhuma cidade portuguesa usará o título de capital - à excepção de Vila Nova de Poiares, que se manterá como Capital da Chanfana.
4. O Conselho de Ministros reunir-se-á na Sertã, ponto mais central do país. Em homenagem, o Executivo pugnará para que as receitas de bucho e maranhos sejam reconhecidos como Património Mundial pela UNESCO.
5. Será criada a figura legal do "Funcionalismo Público Obrigatório", para suprir a eventual escassez de pessoal, não vão estes mandriões de Lisboa recusar-se a deslocar-se até onde for preciso.
Com estes e outros passos, que uma correcta interpretação do Verbo trará à mente de quem nos irá governar, teremos um país mais são, mais dinâmico e mais justo aos olhos do Senhor.
A desconcentração do Executivo foi, não duvido, uma ideia soprada ao Dr. Pedro Santana Lopes pelo Divino Espírito Santo. A pomba é assim: às gajas escolhidas, emprenha-as; aos gajos escolhidos, torna-os mais espertos. Provavelmente, terá sido uma de duas coisas: ou a recompensa por tanto olhar para o céu ou uma cunha descarada do Dr. Francisco de Sá Carneiro. O facto é que a ideia é tão sumamente boa, tão livre de qualquer possível crítica ou remoque, tão alinhada com os ensinamentos de Teixeira de Pascoaes quanto à perpétua ascensão do Homem em direcção a Deus, que não pode ter tido origem meramente humana.
Como de costume, os desígnios da Providência não são totalmente claros. Eles são a luz, é certo, mas a luz encandeia e cega, daí que os ensinamentos que a Divina Pomba terá arrulhado ao nosso Primeiro não podem ser tomados numa interpretação restritiva. Não. O Senhor não pretende apenas que cada um dos 18 distritos de Portugal Continental tenha um Ministério. A Sua ordem vai muito mais longe. Para além da orgânica do Executivo, é a reformulação da orgânica do próprio território nacional que apraz ao Pai.
Claro: não cheguei as estas conclusões sozinho - tive a preciosa ajuda do Padre José Luís Borga, que a mim se dirigiu quando eu toquei o seu cd em "reverse"... Eis, então, o que desejam os Astros que tão extremosamente têm cuidado do nosso novo Primeiro.
1. O nexo causal para a localização dos Ministérios, adivinhado por PSL nos irrepreensíveis binómios Santarém-Agricultura e Faro-Turismo, deve ser prosseguido. O Ministério da Saúde não pode ter outra localização que não Vilar de Perdizes, mais concretamente na Sacristia do Padre Fontes. Qualquer pasta de que o Dr. Paulo Portas venha a ocupar deve ficar sediada em Fátima, conhecida que é a sua especial ligação a Nossa Senhora (não, seus pecadores, não é por Fátima ter muitos seminários cheios de jovens tenrinhos!). O Ministério da Cultura deve optar pela itinerância, associando-se ao Circo Victor Hugo Cardinalli, que alugará as necessárias roulottes sem cobrar IVA. O Ministério dos Negócios Estrangeiros ficará nesse esquecido enclave português, Olivença, mas funcionará camuflado para não antagonizar os nossos vizinhos (assim como assim, hoje em dia também ninguém repara que ele está em Alcântara...).
2. Lisboa não deverá conservar nenhum Ministério. Mais: Lisboa deve deixar de ser município e passará a ser uma simples freguesia englobada no concelho de Loures. Nosso Senhor desconfia - olhando para os principais partidos portugueses - que isto, mais tarde ou mais cedo, se tornaria numa nova Sodoma e prefere usar de medidas preventivas a recorrer ao enxofre e à Divina Pirotecnia.
3. Nenhuma cidade portuguesa usará o título de capital - à excepção de Vila Nova de Poiares, que se manterá como Capital da Chanfana.
4. O Conselho de Ministros reunir-se-á na Sertã, ponto mais central do país. Em homenagem, o Executivo pugnará para que as receitas de bucho e maranhos sejam reconhecidos como Património Mundial pela UNESCO.
5. Será criada a figura legal do "Funcionalismo Público Obrigatório", para suprir a eventual escassez de pessoal, não vão estes mandriões de Lisboa recusar-se a deslocar-se até onde for preciso.
Com estes e outros passos, que uma correcta interpretação do Verbo trará à mente de quem nos irá governar, teremos um país mais são, mais dinâmico e mais justo aos olhos do Senhor.
Incentivos à emigração
António Ramalho Eanes. Alberto João Jardim. Avelino Ferreira Torres. António José Seguro. Descubra o padrão e comece a tratar do passaporte. Um país governado por Pedro Santana Lopes e com AJS à frente do maior partido da oposição é insalubre. A OMS devia tomar conta da ocorrência.
António Ramalho Eanes. Alberto João Jardim. Avelino Ferreira Torres. António José Seguro. Descubra o padrão e comece a tratar do passaporte. Um país governado por Pedro Santana Lopes e com AJS à frente do maior partido da oposição é insalubre. A OMS devia tomar conta da ocorrência.
segunda-feira, julho 12, 2004 |
ALMOÇO - A VERDADE EXPOSTA
Sim, tal como tinha sido avisado em post na Vara, o almoço deste antro realizou-se na passada sexta-feira.
Sentaram-se naquela mesa um número variável de pessoas mas, no total, estiveram dezasseis marmanjos e gajas no restaurante, com excepção dos clones, que não contam para este número por não estarem legitimados.
Tínhamos desde Coelhinhos a Assentos da sanita, passando por Priapos, Bocks, FPMs, Varetas, G2, Anitas, Mimosas, Violetas, Nenas Bias, Chimeers, Menires, Fodósofos e Laurinhas.
E que malta!
O Coelhinho, no seu estilo inconfundível, desatou a bater na Anita, qual Salete, coitadinha! Mas a Anita não se ficou e demonstrou como era gulosa ao decidir pôr o Sul contra o Norte, mais propriamente o Bock contra o FêPêMê. E o que eles se esgatanharam! Era filho da puta para cá, paneleirão para lá e murraças nas ventas. Jorrou o sangue. Nada de anormal, dir-se-ia…
Voltando à Anita, uma miúda que sabe defender-se e que sabe onde dói mais a um Coelhinho… Era vê-lo a rebolar-se de dor enquanto a Anita lhe dizia “A mim ninguém me toca, ouviu! Seja cavalheiro, ó Coelhinho!”.
Nisto, ouve-se um estrondo. Era o g2 a puxar da cachamorra (embora, na realidade seja uma cachaporra…), a ameaçar o Priapo de porrada, só porque o outro lhe tinha soprado ao ouvido que estava no meio de “abichanados” e que não suportava mais aquele ambiente, que lhe lembrava em tudo o Frágil, de quando ele era mais novito e ainda andava em experiências de adolescência e mais não sei o quê…
Ao ouvir falar no Frágil, eis que surge o Fodósofo que, do alto do seu metro e meio grita, embora em tom bastante baixo, “Frágil, o caralho. Ninguém ofende o meu local preferido, o sítio onde eu passo as minhas melhores noites!”. E desatou numa ladainha em latim que ninguém percebia o que ele queria. Parecia um exorcismo mas, a sê-lo, não resultou.
Nisto, o Vareta manifesta-se. “Eu, que sou modesto, permiti que os que aqui estão usufruíssem da minha presença por algumas horas. E não se sabem comportar, é o que verifico. Vocês agora querem é rock e depois dá nisto!”. E pimba, estaladão da Violeta.
“Mas que raio!...” - exclamou o Vareta. E pimba, estaladão da Nena Bia. “Mas…” - e pimba, novo estaladão, desta vez da Chimeer. Percebeu-se. Por causa da influência maléfica do rock, estavam a tentar acompanhar o ritmo, produzindo o som de uma bateria na fronha do Vareta.
“ALTO E PÁRA O BAILE!”, gritou o pequenito Mimosa. “Venho eu de Coimbra e não há tunas aqui na capital?”. Pimba, estaladão do FêPêMê, que já estava farto de apanhar do Bock e que logo disse “Nunca gostei de ti, és feio!”. Estava a festa feita!
O g2 sempre a reclamar que não via a Torre dos Clérigos em lado nenhum, que lhe tinham prometido umas vistas deslumbrantes e etc. e tal. O FêPêMê e o Bock, nisto, gritam em simultâneo “Ai queres vistas deslumbrantes? Então, toma!”. E vá de lhe encherem as vistas de murros.
“Assim não brinco!”, disse o g2. “Lá por eu ter dezasseis anos e não ter a vossa vida, não é preciso agredirem-me!”.
Mas o massacre continuou.
Estava tudo à bofetada, ao estalo e ao soco quando, vinda de debaixo da mesa, se ouve uma voz cavernosa, do outro mundo, mesmo. “Mas, afinal, ninguém respeita os mais novos?”. E começa-se a ver uma vasta cabeleira a surgir, seguida de um corpanzil descomunal. Era o Menir. Levou logo com uma colher no nariz. Ninguém perdoa.
“Vou escrever uma carta” - disse a Violeta. “E há-de ser ao Ministro.”. Pois. Resultado zero.
Estava a Nena Bia a fazer umas contas, de somar e de subtrair, para fazer o cálculo da probabilidade de se escapulir antes das 18 horas, mas chegou à conclusão que o Fodósofo não lhe largaria o pé se ela não lhe replicasse qualquer coisa em latim e, desse modo, chutou-lhe um “Fanaticum est”, que o deixou embevecido e com os olhos marejados de lágrimas.
A laurinha chegou mais tarde. Pois. Que tinha ficado presa no trânsito e que mais não sei o quê. Mas não se escapou de levar com um tarro de sopa em cima. Do Menir, que estava chateado porque ninguém lhe ligava e queria tirar fotografias ao grupo. Mas este era tão mexido que não conseguia focar.
O Assento só dizia coisas estranhas, do género “zombies que comem cérebros” e “momentos de humor das Selecções do Reader’s Digest”. Era tão ininteligível como o Fodósofo.
Cadeiras pelo ar, intervenção da PSP, houve de tudo.
Eu assisti a isto tudo de longe, que tenho que preservar a minha saúde mental…
E a festa continuou.
Se queriam saber como acabou, deveriam ter vindo, que isto não há cá pão para malucos.
Sim, tal como tinha sido avisado em post na Vara, o almoço deste antro realizou-se na passada sexta-feira.
Sentaram-se naquela mesa um número variável de pessoas mas, no total, estiveram dezasseis marmanjos e gajas no restaurante, com excepção dos clones, que não contam para este número por não estarem legitimados.
Tínhamos desde Coelhinhos a Assentos da sanita, passando por Priapos, Bocks, FPMs, Varetas, G2, Anitas, Mimosas, Violetas, Nenas Bias, Chimeers, Menires, Fodósofos e Laurinhas.
E que malta!
O Coelhinho, no seu estilo inconfundível, desatou a bater na Anita, qual Salete, coitadinha! Mas a Anita não se ficou e demonstrou como era gulosa ao decidir pôr o Sul contra o Norte, mais propriamente o Bock contra o FêPêMê. E o que eles se esgatanharam! Era filho da puta para cá, paneleirão para lá e murraças nas ventas. Jorrou o sangue. Nada de anormal, dir-se-ia…
Voltando à Anita, uma miúda que sabe defender-se e que sabe onde dói mais a um Coelhinho… Era vê-lo a rebolar-se de dor enquanto a Anita lhe dizia “A mim ninguém me toca, ouviu! Seja cavalheiro, ó Coelhinho!”.
Nisto, ouve-se um estrondo. Era o g2 a puxar da cachamorra (embora, na realidade seja uma cachaporra…), a ameaçar o Priapo de porrada, só porque o outro lhe tinha soprado ao ouvido que estava no meio de “abichanados” e que não suportava mais aquele ambiente, que lhe lembrava em tudo o Frágil, de quando ele era mais novito e ainda andava em experiências de adolescência e mais não sei o quê…
Ao ouvir falar no Frágil, eis que surge o Fodósofo que, do alto do seu metro e meio grita, embora em tom bastante baixo, “Frágil, o caralho. Ninguém ofende o meu local preferido, o sítio onde eu passo as minhas melhores noites!”. E desatou numa ladainha em latim que ninguém percebia o que ele queria. Parecia um exorcismo mas, a sê-lo, não resultou.
Nisto, o Vareta manifesta-se. “Eu, que sou modesto, permiti que os que aqui estão usufruíssem da minha presença por algumas horas. E não se sabem comportar, é o que verifico. Vocês agora querem é rock e depois dá nisto!”. E pimba, estaladão da Violeta.
“Mas que raio!...” - exclamou o Vareta. E pimba, estaladão da Nena Bia. “Mas…” - e pimba, novo estaladão, desta vez da Chimeer. Percebeu-se. Por causa da influência maléfica do rock, estavam a tentar acompanhar o ritmo, produzindo o som de uma bateria na fronha do Vareta.
“ALTO E PÁRA O BAILE!”, gritou o pequenito Mimosa. “Venho eu de Coimbra e não há tunas aqui na capital?”. Pimba, estaladão do FêPêMê, que já estava farto de apanhar do Bock e que logo disse “Nunca gostei de ti, és feio!”. Estava a festa feita!
O g2 sempre a reclamar que não via a Torre dos Clérigos em lado nenhum, que lhe tinham prometido umas vistas deslumbrantes e etc. e tal. O FêPêMê e o Bock, nisto, gritam em simultâneo “Ai queres vistas deslumbrantes? Então, toma!”. E vá de lhe encherem as vistas de murros.
“Assim não brinco!”, disse o g2. “Lá por eu ter dezasseis anos e não ter a vossa vida, não é preciso agredirem-me!”.
Mas o massacre continuou.
Estava tudo à bofetada, ao estalo e ao soco quando, vinda de debaixo da mesa, se ouve uma voz cavernosa, do outro mundo, mesmo. “Mas, afinal, ninguém respeita os mais novos?”. E começa-se a ver uma vasta cabeleira a surgir, seguida de um corpanzil descomunal. Era o Menir. Levou logo com uma colher no nariz. Ninguém perdoa.
“Vou escrever uma carta” - disse a Violeta. “E há-de ser ao Ministro.”. Pois. Resultado zero.
Estava a Nena Bia a fazer umas contas, de somar e de subtrair, para fazer o cálculo da probabilidade de se escapulir antes das 18 horas, mas chegou à conclusão que o Fodósofo não lhe largaria o pé se ela não lhe replicasse qualquer coisa em latim e, desse modo, chutou-lhe um “Fanaticum est”, que o deixou embevecido e com os olhos marejados de lágrimas.
A laurinha chegou mais tarde. Pois. Que tinha ficado presa no trânsito e que mais não sei o quê. Mas não se escapou de levar com um tarro de sopa em cima. Do Menir, que estava chateado porque ninguém lhe ligava e queria tirar fotografias ao grupo. Mas este era tão mexido que não conseguia focar.
O Assento só dizia coisas estranhas, do género “zombies que comem cérebros” e “momentos de humor das Selecções do Reader’s Digest”. Era tão ininteligível como o Fodósofo.
Cadeiras pelo ar, intervenção da PSP, houve de tudo.
Eu assisti a isto tudo de longe, que tenho que preservar a minha saúde mental…
E a festa continuou.
Se queriam saber como acabou, deveriam ter vindo, que isto não há cá pão para malucos.
sábado, julho 10, 2004 |
HOJE NÃO É BEM SEXTA-FEIRA, MAS FAZ AS MESMAS VEZES...
Soube-o ontem, como todos os portugueses, enquanto estava a caminho de Tomar. Não vou dizer se ele decidiu bem ou mal - por um lado não me compete, por outro lado não me apetece. Mas quando o soube, ficou claro no meu espírito qual a pérola da lírica pop contemporânea que eu partilharia com vocês assim que tivesse oportunidade.
Férias. A malta precisa é de férias, de esquecer tudo, de se embebedar violentamente e de torrar a mioleira ao sol algarvio. Festas. E rock. E gajas. E festas. E sandes de atum. Para materializar este espírito, mas dando-lhe alguma profundidade intelectual, ninguém melhor que... os Franz Ferdinand, esses mesmos, os escoceses “Chico Nando”. Os gajos são espertos como um alho, essa é que é essa. O Sr. Kapranos sabe com quantos paus se faz uma jangada - 18, não há nada que enganar... - e sabe com quantas palavras se escreve uma canção inteligente e apelativa. Assim, é com muita honra que vos dou a ler, na língua de Luísa Costa Gomes e Clarice Lispector, este interessante e estival jogo de palavras a que os moços chamaram...
Jacqueline
Jacqueline was seventeen
A Maria Joaquina era tenrinha
working on a desk
E o pai lá lhe tinha arranjado aquele emprego de Verão
when Ivor
No escritório do Senhor Fonseca, despachante
Peered above a spectacle
O cabrão andava a galá-la, a fazer olhinhos por cima dos óculos
forgot that he had wrecked a girl
Sem se lembrar da brasileira de 18 anos que tinha em casa, quase a parir
Sometimes these eyes
E ele olhava e olhava, enrolado na novidade de cada olhar
Forget the face they’re peering from
Esquecido do ponto da sua vida a partir do qual olhava
When the face they peer upon
Desviando o olhar apenas quando o jovem rosto que o evitava
Well, you know
(um jovem rosto sem mácula, livre de passado
That face as I do
um rosto que as memórias não desfiguravam)
And how in the return of the gaze
A dada altura o seu olhar devolvia
She can return you the face
E a imagem que ele recebia
That you are staring from
Era a da triste figura que fazia
It’s always better on holiday
“Estes dois meses valem o esforço”, pensava ela
So much better on holiday
“Depois curto à brava na viagem de finalistas a Punta Caña”
That’s why we only work when
“E ainda fico com uns trocos para aproveitar os saldos”
We need the money
“E para beber umas caipirinhas na Kadoc...”
Gregor was down again
O Gregório era pedreiro e amigo da pinguita
Said come on, kick me again
Namorado de sempre da Joaquina, pressentia que este Verão seria diferente
Said I’m so drunk
Embebedou-se e foi gritar-lhe à janela
I don’t mind if you kill me
“Tu já não me queres porque eu nunca vou ser Doutor, não é?
Come on you gutless
“Confessa, cabra! Agora acabaste os estudos e já não queres nada comigo!”
I’m alive
“Mas eu estou aqui, Quinita...”
I’m alive
“Eu estou aqui à tua espera”
I’m alive
“Se tu quiseres, eu hei-de ser o que tu quiseres”
And how I know it
“Custe o que custar”
But for chips and for freedom
“Peço ao meu pai o dinheiro”
I could die
“E lanço-me como empreiteiro”
It’s always better on holiday
“Vou trabalhar para a Alemanha durante seis meses”
So much better on holiday
“Nem que passe fome, hei-de juntar bué de pastel”
That’s why we only work when
“E em vez de estourar tudo num carrão”
We need the money
“Venho ter contigo e compro-te um anel...”
Franz Ferdinand, Franz Ferdinand
E pronto. Cada povo tem a classe média que merece. Celebremos a nossa. É o meu conselho para este fim-de-semana. Aproveitem-no, sem pruridos nem preconceitos.
Soube-o ontem, como todos os portugueses, enquanto estava a caminho de Tomar. Não vou dizer se ele decidiu bem ou mal - por um lado não me compete, por outro lado não me apetece. Mas quando o soube, ficou claro no meu espírito qual a pérola da lírica pop contemporânea que eu partilharia com vocês assim que tivesse oportunidade.
Férias. A malta precisa é de férias, de esquecer tudo, de se embebedar violentamente e de torrar a mioleira ao sol algarvio. Festas. E rock. E gajas. E festas. E sandes de atum. Para materializar este espírito, mas dando-lhe alguma profundidade intelectual, ninguém melhor que... os Franz Ferdinand, esses mesmos, os escoceses “Chico Nando”. Os gajos são espertos como um alho, essa é que é essa. O Sr. Kapranos sabe com quantos paus se faz uma jangada - 18, não há nada que enganar... - e sabe com quantas palavras se escreve uma canção inteligente e apelativa. Assim, é com muita honra que vos dou a ler, na língua de Luísa Costa Gomes e Clarice Lispector, este interessante e estival jogo de palavras a que os moços chamaram...
Jacqueline
Jacqueline was seventeen
A Maria Joaquina era tenrinha
working on a desk
E o pai lá lhe tinha arranjado aquele emprego de Verão
when Ivor
No escritório do Senhor Fonseca, despachante
Peered above a spectacle
O cabrão andava a galá-la, a fazer olhinhos por cima dos óculos
forgot that he had wrecked a girl
Sem se lembrar da brasileira de 18 anos que tinha em casa, quase a parir
Sometimes these eyes
E ele olhava e olhava, enrolado na novidade de cada olhar
Forget the face they’re peering from
Esquecido do ponto da sua vida a partir do qual olhava
When the face they peer upon
Desviando o olhar apenas quando o jovem rosto que o evitava
Well, you know
(um jovem rosto sem mácula, livre de passado
That face as I do
um rosto que as memórias não desfiguravam)
And how in the return of the gaze
A dada altura o seu olhar devolvia
She can return you the face
E a imagem que ele recebia
That you are staring from
Era a da triste figura que fazia
It’s always better on holiday
“Estes dois meses valem o esforço”, pensava ela
So much better on holiday
“Depois curto à brava na viagem de finalistas a Punta Caña”
That’s why we only work when
“E ainda fico com uns trocos para aproveitar os saldos”
We need the money
“E para beber umas caipirinhas na Kadoc...”
Gregor was down again
O Gregório era pedreiro e amigo da pinguita
Said come on, kick me again
Namorado de sempre da Joaquina, pressentia que este Verão seria diferente
Said I’m so drunk
Embebedou-se e foi gritar-lhe à janela
I don’t mind if you kill me
“Tu já não me queres porque eu nunca vou ser Doutor, não é?
Come on you gutless
“Confessa, cabra! Agora acabaste os estudos e já não queres nada comigo!”
I’m alive
“Mas eu estou aqui, Quinita...”
I’m alive
“Eu estou aqui à tua espera”
I’m alive
“Se tu quiseres, eu hei-de ser o que tu quiseres”
And how I know it
“Custe o que custar”
But for chips and for freedom
“Peço ao meu pai o dinheiro”
I could die
“E lanço-me como empreiteiro”
It’s always better on holiday
“Vou trabalhar para a Alemanha durante seis meses”
So much better on holiday
“Nem que passe fome, hei-de juntar bué de pastel”
That’s why we only work when
“E em vez de estourar tudo num carrão”
We need the money
“Venho ter contigo e compro-te um anel...”
Franz Ferdinand, Franz Ferdinand
E pronto. Cada povo tem a classe média que merece. Celebremos a nossa. É o meu conselho para este fim-de-semana. Aproveitem-no, sem pruridos nem preconceitos.
quinta-feira, julho 08, 2004 |
AVISO
A Gerência alerta os frequentadores habituais desta tasca para o facto de amanhã, dia nove de Julho de 2004, se realizar um grande almoço entre as 12.30 e sabe Deus quando, em local previamente combinado, motivo pelo qual nos encontraremos encerrados durante esse período.
Para tratar de algum assunto urgente, por favor utilizar a caixa de comentos que disponibilizamos aí em baixo.
Pedimos desculpa por qualquer incómodo que possamos provocar.
P’la Gerência
#&%/# de +*#%§’
(assinatura ilegível)
A Gerência alerta os frequentadores habituais desta tasca para o facto de amanhã, dia nove de Julho de 2004, se realizar um grande almoço entre as 12.30 e sabe Deus quando, em local previamente combinado, motivo pelo qual nos encontraremos encerrados durante esse período.
Para tratar de algum assunto urgente, por favor utilizar a caixa de comentos que disponibilizamos aí em baixo.
Pedimos desculpa por qualquer incómodo que possamos provocar.
P’la Gerência
#&%/# de +*#%§’
(assinatura ilegível)
quarta-feira, julho 07, 2004 |
Momentos felizes
Estava eu, alegremente, registando a miséria humana(*) nos momentos que antecederam a Grande Final, quando me deparei com dois gregos quase imberbes a estender uma bandeira para que um terceiro grego, certamente tão imbecil como os primeiros, a fotografasse, se calhar com o Estádio da Luz por fundo. Do alto do muro, parei, enquadrei-os enquanto preparavam a bandeira e *tchac*, bati uma foto. Depois, vendo-os de bandeira já bem aberta, lembrei-me de fazer um enquadramento clássico, ao alto, em que os personagens formam um triângulo. Enquadrei, verifiquei e... *tchac*.
*tchac*? Espera lá, passou um gajo aqui em baixo...
Diz o meu bom amigo Alberto que a fotografia é 2% de intenção e 98% de sorte. Exagera, claro, que a técnica conta, e muito. Mas a sorte tem um peso brutal na distinção entre uma foto de merda e uma foto divertida como esta. Entre outras coisas, traduz também o carácter altamente subjectivo da fotografia. Os portugueses organizaram um Europeu impecável, receberam bem e divertiram-se como nunca, misturaram-se, pularam, sofreram, dançaram e o diabo a sete. Mas, quando toca ao que interessa, a gente quer é que o adversário se foda, por muito cordial e festivo que pareça o ambiente.
(*) brinco. Eu não gosto de registar a miséria humana.
Estava eu, alegremente, registando a miséria humana(*) nos momentos que antecederam a Grande Final, quando me deparei com dois gregos quase imberbes a estender uma bandeira para que um terceiro grego, certamente tão imbecil como os primeiros, a fotografasse, se calhar com o Estádio da Luz por fundo. Do alto do muro, parei, enquadrei-os enquanto preparavam a bandeira e *tchac*, bati uma foto. Depois, vendo-os de bandeira já bem aberta, lembrei-me de fazer um enquadramento clássico, ao alto, em que os personagens formam um triângulo. Enquadrei, verifiquei e... *tchac*.
*tchac*? Espera lá, passou um gajo aqui em baixo...
Diz o meu bom amigo Alberto que a fotografia é 2% de intenção e 98% de sorte. Exagera, claro, que a técnica conta, e muito. Mas a sorte tem um peso brutal na distinção entre uma foto de merda e uma foto divertida como esta. Entre outras coisas, traduz também o carácter altamente subjectivo da fotografia. Os portugueses organizaram um Europeu impecável, receberam bem e divertiram-se como nunca, misturaram-se, pularam, sofreram, dançaram e o diabo a sete. Mas, quando toca ao que interessa, a gente quer é que o adversário se foda, por muito cordial e festivo que pareça o ambiente.
(*) brinco. Eu não gosto de registar a miséria humana.
segunda-feira, julho 05, 2004 |
Dois mais dois não são quatro
Sete argumentos para provar que Portugal não perdeu
Argumento retórico
Portugal não perdeu o título europeu pelo simples facto de que nunca o teve. Quem perdeu o título foi a França, detentora até ontem. Portugal apenas perdeu o jogo que decidia a equipa que sucederia à França como campeã europeia durante os próximos quatro anos.
Argumento Afonsino
Portugal não perdeu o Euro 2004. Quem perdeu foram os castelhanos, apesar de todos os seus truques sujos. A organização do Euro tocou a Portugal e concluímos com assinalável êxito a empreitada, graças a Deus, tendo ainda oportunidade para mostrar a esses rafeiros sarracenos como é que se joga à bola.
Argumento Barroso
Portugal teve uma retumbante vitória com a organização deste evento, mostrando mais uma vez ao mundo que os Portugueses têm capacidade para realizações desta envergadura.
Argumento Carvalhas
Esta foi uma grande vitória dos portugueses e das portuguesas contra todos aqueles que vaticinavam o abandono da nossa selecção logo na fase de grupos. Provámos que o povo português não dorme e enfrenta sem receio as grandes potências económicas e todos aqueles que se esforçam debalde por vender os interesses portugueses ao grande capital internacional.
Argumento Louçã
Esta foi uma grande vitória, com os dois países economicamente menos poderosos da zona Euro a provarem que têm argumentos para fazer face aos gigantes que insistem em impingir-nos uma globalização que é recusada por muitos. É a prova de que, na Europa das grandes negociatas, há espaço e necessidade de países que defendam as causas marginais.
Argumento D. Gertrudes
Eu acho que ganhámos todos muito com isto do Europeu porque vieram muitos estrangeiros lá de fora e, prontos, já se sabe que nós gostamos muito de receber visitas, e assim, e tratámo-los muito bem, porque nós somos pobrezinhos mas honrados e eles não devem ter medo de vir à nossa casa e comer as batatas ainda com casca e apanhar percevejos no colchão. Quando eles voltarem lá para a terra deles vão com muito boa impressão nossa, porque nós somos muito simpáticos e até deixámos os gregos ganharem-nos.
Argumento Zé Manel
Perdemos, mas foi o caralho! Quem perdeu foi esse pan****** do Madaíl, que é um vendido de merda e já há muito tempo que devia ter sido preso por causa das falcatruas que faz lá pela federação! O outro, que é tão bom rapaz e só quis ajudar o Benfica, por muito menos foi lá malhar c'os cornos. Esse Madaíl é que trouxe pra cá esse brasuca que tem a mania que é o maior, obrigada, com uma equipa daquelas também eu!, e julga que os portugueses é a mesma coisa. Depois desatina com o Veiga e não põe o Baía a jogar e pra não se chatear com o Pinto da Costa põe a equipa do Porto a jogar, mas já se sabe que aqui não temos os árbitros a ajudar, não é? Devia era ter posto o Tiago no lugar do Figo e o Moreira no lugar do Crestiano Ronaldo, que o rapaz joga bem de cabeça e desenrasca-se na iárea. E o Petit aleijado é muito melhor que o Manique e o Deco juntos e depois há essa pouca vergonha dos estádios, que se gasta uma fortuna em estádios que não valem um peido e onde não se joga a bola, quando se podia ter dado mais dinheiro ao glorioso para fazer um estádio maior, pr'aí com uns 500.000 lugares e iam a ver se não enchiam, que os benfiquistas são muitos e estão espalhados por todo o Mundo, no Brasil, em Timor e noutros países africanos.
Sete argumentos para provar que Portugal não perdeu
Argumento retórico
Portugal não perdeu o título europeu pelo simples facto de que nunca o teve. Quem perdeu o título foi a França, detentora até ontem. Portugal apenas perdeu o jogo que decidia a equipa que sucederia à França como campeã europeia durante os próximos quatro anos.
Argumento Afonsino
Portugal não perdeu o Euro 2004. Quem perdeu foram os castelhanos, apesar de todos os seus truques sujos. A organização do Euro tocou a Portugal e concluímos com assinalável êxito a empreitada, graças a Deus, tendo ainda oportunidade para mostrar a esses rafeiros sarracenos como é que se joga à bola.
Argumento Barroso
Portugal teve uma retumbante vitória com a organização deste evento, mostrando mais uma vez ao mundo que os Portugueses têm capacidade para realizações desta envergadura.
Argumento Carvalhas
Esta foi uma grande vitória dos portugueses e das portuguesas contra todos aqueles que vaticinavam o abandono da nossa selecção logo na fase de grupos. Provámos que o povo português não dorme e enfrenta sem receio as grandes potências económicas e todos aqueles que se esforçam debalde por vender os interesses portugueses ao grande capital internacional.
Argumento Louçã
Esta foi uma grande vitória, com os dois países economicamente menos poderosos da zona Euro a provarem que têm argumentos para fazer face aos gigantes que insistem em impingir-nos uma globalização que é recusada por muitos. É a prova de que, na Europa das grandes negociatas, há espaço e necessidade de países que defendam as causas marginais.
Argumento D. Gertrudes
Eu acho que ganhámos todos muito com isto do Europeu porque vieram muitos estrangeiros lá de fora e, prontos, já se sabe que nós gostamos muito de receber visitas, e assim, e tratámo-los muito bem, porque nós somos pobrezinhos mas honrados e eles não devem ter medo de vir à nossa casa e comer as batatas ainda com casca e apanhar percevejos no colchão. Quando eles voltarem lá para a terra deles vão com muito boa impressão nossa, porque nós somos muito simpáticos e até deixámos os gregos ganharem-nos.
Argumento Zé Manel
Perdemos, mas foi o caralho! Quem perdeu foi esse pan****** do Madaíl, que é um vendido de merda e já há muito tempo que devia ter sido preso por causa das falcatruas que faz lá pela federação! O outro, que é tão bom rapaz e só quis ajudar o Benfica, por muito menos foi lá malhar c'os cornos. Esse Madaíl é que trouxe pra cá esse brasuca que tem a mania que é o maior, obrigada, com uma equipa daquelas também eu!, e julga que os portugueses é a mesma coisa. Depois desatina com o Veiga e não põe o Baía a jogar e pra não se chatear com o Pinto da Costa põe a equipa do Porto a jogar, mas já se sabe que aqui não temos os árbitros a ajudar, não é? Devia era ter posto o Tiago no lugar do Figo e o Moreira no lugar do Crestiano Ronaldo, que o rapaz joga bem de cabeça e desenrasca-se na iárea. E o Petit aleijado é muito melhor que o Manique e o Deco juntos e depois há essa pouca vergonha dos estádios, que se gasta uma fortuna em estádios que não valem um peido e onde não se joga a bola, quando se podia ter dado mais dinheiro ao glorioso para fazer um estádio maior, pr'aí com uns 500.000 lugares e iam a ver se não enchiam, que os benfiquistas são muitos e estão espalhados por todo o Mundo, no Brasil, em Timor e noutros países africanos.
sexta-feira, julho 02, 2004 |
HOJE É SEXTA-FEIRA. HOJE É LUA CHEIA.
Hoje hesitei. Sim. Tive que pensar duas vezes antes de me resolver sobre qual a pérola da lírica pop contemporânea que eu vos daria a ler na língua de Maria Gabriela Llansol e Irene Lisboa. Compreendam: a escolha era renhida. Ou bem que elegia o "Loser", do Beck, e falava de política na tradução; ou bem que escolhia a que afinal escolhi e me juntava à larga maioria que está convicta (e bem) de que nada é mais importante do que "a bola". A decisão não foi fácil, mas foi rápida. Espero que seja inspiradora - no formato, que não no conteúdo - para Sua Excelência o Presidente da República.
Assim sendo, hoje trago-vos quem? Justa pergunta. Trago-vos um MESTRE. Com as maiúsculas todas. O homem que em má hora levou com um chupa-chupa no olho e adiou um concerto em Portugal. David Bowie - ou David Jones, se forem uns coninhas alérgicos a nomes artísticos.
Em 1975, um ano antes daquele em que modestamente agraciei o mundo com o meu nascimento, o Senhor Bowie fez um álbum chamado "Mocidade Americana" - ou "Young Americans", se preferirem pachouchadas em estrangeiro. É um grande disco - aliás, nunca vos falei de discos pequenos; faço questão de só me reportar a obras que tenham mais de 25 minutos de duração. E é um disco bom, muito bom mesmo. Como se tudo isso não bastasse, este disco tem esta música cujo poema hoje vos trago. Nunca se fez "soul" branca tão bonita e tão rica. É uma música extraordinária, lenta, amarga mas esperançosa. Chama-se "Win" e corporiza a minha sugestão para este fim-de-semana: 'bora lá ganhar o caneco!
Win
Me, I hope that I'm crazy
Ou é da porra do absinto ou me puseram testosterona no bife
I feel you driving and you're only the wheel
A verdade é que olho para ti e me lembro daquela cantiga: "A mulher é com'ò automóvel, tem no peito o guiador, mas é abaixo do umbigo que trabalha o motor"
Slow down, let someone love you
O que eu quero dizer é que lá por o Maniche ser um jogador de "alta rotação" isso não implica que te tenhas que ir já embora
Ohh, I've never touched you since I started to feel
Eu sou respeitador, tenho fair-play e está-me a apetecer levar este jogo até aos penaltis
If there's nothing to hide me
Aí vamos poder deixar cair os catennacios e os esquemas tácticos rigorosos
Then you've never seen me hanging naked and wired
E vamos poder celebrar no jacuzzi do balneário
Somebody lied, but I say it's hip
Segunda-feira é outro dia, mas hoje posso garantir-te
To be alive
Poucas coisas dão mais tesão que a vitória
Now your smile is spreading thin
Hum... estás com um sorriso de Pier Luigi Collina no fim do jogo... mas o teu é encantador
Seems you're trying not to lose
Só que nem por isso deixas de jogar com dois trincos
Since I'm not supposed to grin
Já que és uma donzela, não aplico o meu remate demolidor
All you've got to do is win
E dou-te a ti a honra de inaugurares o marcador
Me, I'm fresh on your pages
Eu? Eu sou um novo valor e não participei no Socca Stars
Secret thinker sometimes listening aloud
Serei a arma secreta de quem me contratar
Life lies dumb on its heroes
Sim, que eu quero é encher os bolsos - a memória destes feitos é sempre curta
Wear your wound with honor, make someone proud
E quando um dia uma lesão no menisco me afastar
Someone like you should not be allowed
Tu, que me chamaste palhaço e corno quando deixei golos por marcar
To start any fires
Serás talvez a única que se vai lembrar
All you've got to do is win
Por isso hoje vamos os dois ganhar
When your smile is spreading thin
E não vamos deixar que o jogo acabe quando o árbrito apitar
Since you're trying not to lose
Não importa o resultado - os golos serão quantos pudermos
Since I'm not supposed to grin
Na nossa partida não há uma taça para conquistar
All you've got to do is win
Mas mesmo com o resultado já feito, dá sempre gozo jogar
David Bowie, Young Americans
Viva Portugal. Viva o Mady. Viva o Raúl Indipwo. Viva o fim-de-semana.
Hoje hesitei. Sim. Tive que pensar duas vezes antes de me resolver sobre qual a pérola da lírica pop contemporânea que eu vos daria a ler na língua de Maria Gabriela Llansol e Irene Lisboa. Compreendam: a escolha era renhida. Ou bem que elegia o "Loser", do Beck, e falava de política na tradução; ou bem que escolhia a que afinal escolhi e me juntava à larga maioria que está convicta (e bem) de que nada é mais importante do que "a bola". A decisão não foi fácil, mas foi rápida. Espero que seja inspiradora - no formato, que não no conteúdo - para Sua Excelência o Presidente da República.
Assim sendo, hoje trago-vos quem? Justa pergunta. Trago-vos um MESTRE. Com as maiúsculas todas. O homem que em má hora levou com um chupa-chupa no olho e adiou um concerto em Portugal. David Bowie - ou David Jones, se forem uns coninhas alérgicos a nomes artísticos.
Em 1975, um ano antes daquele em que modestamente agraciei o mundo com o meu nascimento, o Senhor Bowie fez um álbum chamado "Mocidade Americana" - ou "Young Americans", se preferirem pachouchadas em estrangeiro. É um grande disco - aliás, nunca vos falei de discos pequenos; faço questão de só me reportar a obras que tenham mais de 25 minutos de duração. E é um disco bom, muito bom mesmo. Como se tudo isso não bastasse, este disco tem esta música cujo poema hoje vos trago. Nunca se fez "soul" branca tão bonita e tão rica. É uma música extraordinária, lenta, amarga mas esperançosa. Chama-se "Win" e corporiza a minha sugestão para este fim-de-semana: 'bora lá ganhar o caneco!
Win
Me, I hope that I'm crazy
Ou é da porra do absinto ou me puseram testosterona no bife
I feel you driving and you're only the wheel
A verdade é que olho para ti e me lembro daquela cantiga: "A mulher é com'ò automóvel, tem no peito o guiador, mas é abaixo do umbigo que trabalha o motor"
Slow down, let someone love you
O que eu quero dizer é que lá por o Maniche ser um jogador de "alta rotação" isso não implica que te tenhas que ir já embora
Ohh, I've never touched you since I started to feel
Eu sou respeitador, tenho fair-play e está-me a apetecer levar este jogo até aos penaltis
If there's nothing to hide me
Aí vamos poder deixar cair os catennacios e os esquemas tácticos rigorosos
Then you've never seen me hanging naked and wired
E vamos poder celebrar no jacuzzi do balneário
Somebody lied, but I say it's hip
Segunda-feira é outro dia, mas hoje posso garantir-te
To be alive
Poucas coisas dão mais tesão que a vitória
Now your smile is spreading thin
Hum... estás com um sorriso de Pier Luigi Collina no fim do jogo... mas o teu é encantador
Seems you're trying not to lose
Só que nem por isso deixas de jogar com dois trincos
Since I'm not supposed to grin
Já que és uma donzela, não aplico o meu remate demolidor
All you've got to do is win
E dou-te a ti a honra de inaugurares o marcador
Me, I'm fresh on your pages
Eu? Eu sou um novo valor e não participei no Socca Stars
Secret thinker sometimes listening aloud
Serei a arma secreta de quem me contratar
Life lies dumb on its heroes
Sim, que eu quero é encher os bolsos - a memória destes feitos é sempre curta
Wear your wound with honor, make someone proud
E quando um dia uma lesão no menisco me afastar
Someone like you should not be allowed
Tu, que me chamaste palhaço e corno quando deixei golos por marcar
To start any fires
Serás talvez a única que se vai lembrar
All you've got to do is win
Por isso hoje vamos os dois ganhar
When your smile is spreading thin
E não vamos deixar que o jogo acabe quando o árbrito apitar
Since you're trying not to lose
Não importa o resultado - os golos serão quantos pudermos
Since I'm not supposed to grin
Na nossa partida não há uma taça para conquistar
All you've got to do is win
Mas mesmo com o resultado já feito, dá sempre gozo jogar
David Bowie, Young Americans
Viva Portugal. Viva o Mady. Viva o Raúl Indipwo. Viva o fim-de-semana.
Política Divertida, I
Neste fim-de-semana que se avizinha, o país ficará autista até às 19:45 de Domingo. Nessa altura, a sua condição passará à de catatonia durante 105, 150, quiçá mais alguns minutos, até ao cair do pano sobre a final do Euro. Entretanto, os políticos continuarão a tentar fazer valer os seus argumentos pro e contra eleições antecipadas, em crescendo de volume e idiotia que pretenderá passar as suas razões para uma opinião pública que se vai estar cagando para tais profanidades.
Como forma de matar o tempo e soltar algumas saudáveis gargalhadas, proponho ao leitor o seguinte exercício: tente ler as opiniões sobre a actual crise política substituindo todas as formas equivalentes a "Jorge Sampaio convocar eleições antecipadas" por "Durão Barroso aceitar presidência da UE".
É ou não é engraçada, a política indígena?
Neste fim-de-semana que se avizinha, o país ficará autista até às 19:45 de Domingo. Nessa altura, a sua condição passará à de catatonia durante 105, 150, quiçá mais alguns minutos, até ao cair do pano sobre a final do Euro. Entretanto, os políticos continuarão a tentar fazer valer os seus argumentos pro e contra eleições antecipadas, em crescendo de volume e idiotia que pretenderá passar as suas razões para uma opinião pública que se vai estar cagando para tais profanidades.
Como forma de matar o tempo e soltar algumas saudáveis gargalhadas, proponho ao leitor o seguinte exercício: tente ler as opiniões sobre a actual crise política substituindo todas as formas equivalentes a "Jorge Sampaio convocar eleições antecipadas" por "Durão Barroso aceitar presidência da UE".
É ou não é engraçada, a política indígena?
quinta-feira, julho 01, 2004 |
Um problema sério
Já todos sabemos os dados que estão sobre a mesa. Por um lado, temos a perspectiva de ver chegar, por via administrativa, a primeiro-ministro de Portugal uma figura tenebrosa e desprovida de dignidade, que nunca conseguiu a indigitação do seu partido para o cargo, quando a ela se propôs em sede própria (o congresso do seu partido). As questões de competência da dita personagem nem sequer são para aqui chamadas, mas a legitimidade de quem o propõe já é: de facto, a maioria parlamentar que agora se prepara para apresentar o nome de Pedro Santana Lopes como futuro primeiro-ministro de Portugal não foi sufragada enquanto tal. Pelo contrário, quando se apresentou ao eleitorado - bem recentemente - enquanto coligação, foi o que se viu. Se bem que a operação tenha o enquadramento constitucional necessário, a legitimidade política face aos acontecimentos recentes (e alguns bem mais longínquos, que se prendem com o nome que se perfila no horizonte) é, com boa vontade, muito reduzida. Para que dúvidas não restassem quanto ao papel do CDS-PP neste processo, já veio o seu líder parlamentar pôr-se em bicos-de-pés, reclamando o direito do seu partido a opinar sobre a escolha do PSD. Com amigos destes...
Por outro lado, todos sabemos em que país vivemos e que compatriotas temos. Habituados à esmola, ao subsídio, à chantagenzinha, ao aumento extraordinário, à benesse, ao perdão e à cunha, esquecemo-nos de olhar para a actividade governativa com olhos de ver, de tentar perceber as razões que lhe estão na base, os objectivos que pretende alcançar e a forma como está a ser executada. Os políticos sabem disso e, considerações eleitoralistas à parte, sabem que os seus programas, quando exigem sacrifícios, devem ser mais exigentes no início dos mandatos, por forma a poder aligeirar próximo do fim da legislatura e, dessa forma, colher junto do povo a aprovação (ou não) da sua actuação. De nada serve acenar com indicadores e números ao eleitorado, se os funcionários públicos não são aumentados há 2 anos. Por este prisma, convocar eleições antecipadas é imoral e desvirtua de forma inaceitável o julgamento popular à actuação deste governo, embora seja preferível à nomeação de uma figura qualquer escolhida em gabinetes sombrios e sem a legitimidade democrática necessária a encabeçar um projecto agregador de relançamento da economia nacional.
Pra que conste, eu não votei neste governo. Muito gostaria de ver todos os seus membros pelas costas, mas isso não me torna cego ou parvo. A única solução política e moralmente "boa" para este imbroglio seria aquela que já não acontecerá: que Durão Barroso honrasse o compromisso que aceitou e reiterou por diversas vezes, ao longo do seu mandato. Não sendo tal possível, a escolha menos má seria a de nomear primeiro-ministro a nº 2 do executivo cessante e responsável pela definição das regras por onde se guiaram estes dois anos de governação - e se o PSD não o quiser fazer, que o faça o Presidente da República por sua iniciativa, tal como a Constituição lhe permite.
Já todos sabemos os dados que estão sobre a mesa. Por um lado, temos a perspectiva de ver chegar, por via administrativa, a primeiro-ministro de Portugal uma figura tenebrosa e desprovida de dignidade, que nunca conseguiu a indigitação do seu partido para o cargo, quando a ela se propôs em sede própria (o congresso do seu partido). As questões de competência da dita personagem nem sequer são para aqui chamadas, mas a legitimidade de quem o propõe já é: de facto, a maioria parlamentar que agora se prepara para apresentar o nome de Pedro Santana Lopes como futuro primeiro-ministro de Portugal não foi sufragada enquanto tal. Pelo contrário, quando se apresentou ao eleitorado - bem recentemente - enquanto coligação, foi o que se viu. Se bem que a operação tenha o enquadramento constitucional necessário, a legitimidade política face aos acontecimentos recentes (e alguns bem mais longínquos, que se prendem com o nome que se perfila no horizonte) é, com boa vontade, muito reduzida. Para que dúvidas não restassem quanto ao papel do CDS-PP neste processo, já veio o seu líder parlamentar pôr-se em bicos-de-pés, reclamando o direito do seu partido a opinar sobre a escolha do PSD. Com amigos destes...
Por outro lado, todos sabemos em que país vivemos e que compatriotas temos. Habituados à esmola, ao subsídio, à chantagenzinha, ao aumento extraordinário, à benesse, ao perdão e à cunha, esquecemo-nos de olhar para a actividade governativa com olhos de ver, de tentar perceber as razões que lhe estão na base, os objectivos que pretende alcançar e a forma como está a ser executada. Os políticos sabem disso e, considerações eleitoralistas à parte, sabem que os seus programas, quando exigem sacrifícios, devem ser mais exigentes no início dos mandatos, por forma a poder aligeirar próximo do fim da legislatura e, dessa forma, colher junto do povo a aprovação (ou não) da sua actuação. De nada serve acenar com indicadores e números ao eleitorado, se os funcionários públicos não são aumentados há 2 anos. Por este prisma, convocar eleições antecipadas é imoral e desvirtua de forma inaceitável o julgamento popular à actuação deste governo, embora seja preferível à nomeação de uma figura qualquer escolhida em gabinetes sombrios e sem a legitimidade democrática necessária a encabeçar um projecto agregador de relançamento da economia nacional.
Pra que conste, eu não votei neste governo. Muito gostaria de ver todos os seus membros pelas costas, mas isso não me torna cego ou parvo. A única solução política e moralmente "boa" para este imbroglio seria aquela que já não acontecerá: que Durão Barroso honrasse o compromisso que aceitou e reiterou por diversas vezes, ao longo do seu mandato. Não sendo tal possível, a escolha menos má seria a de nomear primeiro-ministro a nº 2 do executivo cessante e responsável pela definição das regras por onde se guiaram estes dois anos de governação - e se o PSD não o quiser fazer, que o faça o Presidente da República por sua iniciativa, tal como a Constituição lhe permite.