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Vareta Funda

O blog dos orizicultores do Concelho de Manteigas


terça-feira, julho 20, 2004

Não tenho nada que valha a pena contar, hoje.
 
Levantei-me às 9h10. Bati com o dedo grande do pé direito na esquina da cama enquanto tentava calçar os chinelos de quarto. Devo ter resmungado um “foda-se!” angustiado, mas estava demasiado sonolento para o poder garantir. Acendi o esquentador. Tenho que acender o esquentador com fósforos porque o isqueiro do dito está avariado. O forno do fogão também está avariado, mas não preciso dele de manhã. Cortei uma fatia de pão da Encarnação (já deve ter faltado mais para começarmos a ter pães produzidos em regiões demarcadas…) e pu-la a torrar. Ou quase. A torradeira não estava bem avariada mas obrigou-me a uma pequena reparação – uma delicada intervenção com uma faca de lâmina comprida para pôr um araminho no lugar. Barrei manteiga no pão e comi-o. Assim. Sem quaisquer remorsos. Adeus pão. Adeus manteiga. Bem-vindos ao meu aparelho digestivo. Talvez que amanhã vos reencontre sob outra forma. Lavei a tromba. Lavei os dentes. Fiz a barba. Tomei banho. Porque é que hoje em dia todos os géis de banho têm que ser qualquer coisa mais que um simples gel de banho? Ou nos dão energia ou nos revitalizam ou nos curam a ressaca ou nos fazem sentir mais exóticos que o José Castel Branco… Eu só quero um detergente que não me faça urticária, não preciso de confundir a minha banheira com uma estância termal. Entretanto, já tinha escolhido o disco da manhã, um “best of” manhoso dos The Walker Brothers, uma daquelas fantochadas simpáticas dos anos 60: os moços não eram irmãos nem tão pouco se chamavam Walker. Mas ouvir o Scott Walker (Scott Engel, na verdade) de manhã é sempre retemperador. O gajo canta bem e, para mim, um gajo que canta bem tem sempre algum valor. Claro que fiz “sing along” com várias das músicas. Quem é que resiste a entoar o refrão do “The sun ain’t gonna shine anymore” quando o ouve? Hum? Eu não. De maneira que o vizinho de baixo lá deve ter sofrido com a minha já célebre pujança vocal, incrementada pelo “reverb” natural dos azulejos da casa de banho. Escolhi o fato e a camisa e a gravata. Tive que repetir o nó da gravata, que o primeiro tinha ficado muito descompensado. Saí de casa. Apanhei um táxi com um motorista que conseguiu fazer o percurso calado. Trabalhei até às 13h. Fui almoçar com colegas. Comi bem. Comi até ligeiramente demais. Voltei ao trabalho. Estou no trabalho. Tenho calor. Tenho uma colega na sala e tenho-me a mim como companhia privilegiada. São 16h25. Demorei sete horas e quinze minutos para concluir que ainda me vou bastando para ser feliz todos os dias, nestas horas de “partilha profissional”. Mesmo num dia feito de nadas, esses são os meus nadas e eu estimo-os.
 
Portanto, tenho nadas que não valem a pena contar, hoje. Mas eu conto-os na mesma.

Arrotos do Porco:


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