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Vareta Funda

O blog dos orizicultores do Concelho de Manteigas


sexta-feira, julho 16, 2004

Sexta-feira... mais uma
 
Este país tem passado por momentos importantes, neste mês. Mas isso não pode fazer com que desviemos as nossas atenções de outros assuntos que, por serem mais perenes ou recorrentes, nem sempre são lembrados como deviam. É o caso das dietas de Verão.
 
Se para um gajo nem sempre é simpático chegar à praia e ouvir os amigos dizer: "Eh pá! Tu ao menos já trazes a bóia!", para as gajas a coisa é pior ainda... Nenhuma delas ficaria satisfeita se uma amiga lhe dissesse: "Nem reparei que eras tu! Vi uma sombra mas pensei que era a Bola da Nivea!".
 
Não sou nutricionista, nem venho dar conselhos ou lições de psicologia gratuita sobre como é conveniente aceitar o corpo que se tem. Não. O que eu venho oferecer é a minha solidariedade a todas as pessoas que debalde tentam perder peso e volume e que se deprimem com a perspectiva.
 
Veio-me isto à cabeça por mor de um verso de um grande autor, já anteriormente brindado com uma tradução, nascido na longínqua Austrália - o que implica a probabilidade de lhe ter corrido nas veias o sangue de algum violador inglês deportado. David McComb já não está entre nós, mas ficou-nos a sua obra a solo e enquanto líder dos incontornáveis The Triffids. O verso a que me referia aparece neste portento de canção que é "Kelly's Blues", um dos muitos pontos altos desse álbum quase mítico que é "Calenture", saído ao mundo no distante mil nove e oitenta e sete. É uma canção abafada e psicótica, com uma tarola agigantada, um baixo contido e tenso, a voz do David entre o grito e a angústia controlada, tudo isto desaguando num refrão tão simplesmente bonito que é inesquecível. O facto de, no refrão, o David se limitar a cantar "Kelly's Blues" por quatro vezes contribui, por certo, para que este seja fácil de lembrar...
 
É, assim, com a mais distinta honra e agradecendo penhoradamente a vossa atenção que vos apresento, na língua Nelly Furtado e Gabriela Schaff, mais uma pérola inolvidável da lírica pop contemporânea. Associada a ela, deixo-vos a minha sugestão para este fim-de-semana: não se preocupem com as medidas do corpo e vão até Faro, à concentração de motards, onde se poderão consolar com a desgraça física alheia.
 
 
Kelly's Blues
 
Kelly left her front light on
A tua varanda era a única que tinha luz em toda a cooperativa de habitação social 
I came around
E eu fiquei cá em baixo à espera que desses por mim
Her tree blew over
Provavelmente não me vias por causa da porcaria do choupo
I shook her branches down
E eu, que não sou de modas, comecei a partir-lhe os ramos
The wind and I, we howled around her door
Com a merda do vento apanhei uma vergastada nos olhos e gritei como um louco à tua porta
Now there's a buckle in the sky, Iightning on the shore
Não bastando isso, levantou-se uma destas trovoadas de Verão 
And a face reflected in a puddle on the floor
E não sei se sabes como é fodido estar à chuva com sapatos de lona
 
Nobody knows the darkness of Kelly's blues
Devias estar em casa agarrada ao Arraiolos, em auto-comiseração
How they turn in on her, how they let her bad side loose
A pensar que se tivesses as mamas da Sílvia não passavas a noite sozinha 
How thin must she grow in this cold and dirty room?
Tens a cozinha cheia de glúten e cereais que emagrecem 
How can I put it in between words?
Mas como é que te hei-de dizer isto sem te ofender...
Kelly, come on out of the gloom
Célia, eu só quero que me faças um bico 
 
Now her window frame is banging in the sea breeze
O vento pestilento do lado da ETAR fazia as janelas baterem, quando eu entrei 
Her tabby cat is crying as it rubs itself up against my knees
O teu gato também devia estar de regime - magro como um cavaco e a esfregar-se em mim 
Her typewriter keys chatter as my fingers freeze
Passei-te à máquina o horóscopo da semana para o jornal local 
Her lines are down, her phone is dead
Vieste com uma conversa de merda de não ter dinheiro para o telefone 
Kelly's car is rusting in my back shed
E eu contei-te: lembras-te de me emprestares o carro? Fodi-o contra uma árvore... 
 
How can I put it in between words?
Como é que eu posso dizer isto... 
Kelly, come on out of the gloom
Tu és gorda, eu sou marreco e aleijado 
How can I put it in between words?
Só te quero fazer perceber 
Nobody knows the darkness of Kelly's blues
Que preciso de um bico porque estou rebarbado
 
The Triffids, Calenture
 
 

Arrotos do Porco:


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