quinta-feira, julho 01, 2004 |
Um problema sério
Já todos sabemos os dados que estão sobre a mesa. Por um lado, temos a perspectiva de ver chegar, por via administrativa, a primeiro-ministro de Portugal uma figura tenebrosa e desprovida de dignidade, que nunca conseguiu a indigitação do seu partido para o cargo, quando a ela se propôs em sede própria (o congresso do seu partido). As questões de competência da dita personagem nem sequer são para aqui chamadas, mas a legitimidade de quem o propõe já é: de facto, a maioria parlamentar que agora se prepara para apresentar o nome de Pedro Santana Lopes como futuro primeiro-ministro de Portugal não foi sufragada enquanto tal. Pelo contrário, quando se apresentou ao eleitorado - bem recentemente - enquanto coligação, foi o que se viu. Se bem que a operação tenha o enquadramento constitucional necessário, a legitimidade política face aos acontecimentos recentes (e alguns bem mais longínquos, que se prendem com o nome que se perfila no horizonte) é, com boa vontade, muito reduzida. Para que dúvidas não restassem quanto ao papel do CDS-PP neste processo, já veio o seu líder parlamentar pôr-se em bicos-de-pés, reclamando o direito do seu partido a opinar sobre a escolha do PSD. Com amigos destes...
Por outro lado, todos sabemos em que país vivemos e que compatriotas temos. Habituados à esmola, ao subsídio, à chantagenzinha, ao aumento extraordinário, à benesse, ao perdão e à cunha, esquecemo-nos de olhar para a actividade governativa com olhos de ver, de tentar perceber as razões que lhe estão na base, os objectivos que pretende alcançar e a forma como está a ser executada. Os políticos sabem disso e, considerações eleitoralistas à parte, sabem que os seus programas, quando exigem sacrifícios, devem ser mais exigentes no início dos mandatos, por forma a poder aligeirar próximo do fim da legislatura e, dessa forma, colher junto do povo a aprovação (ou não) da sua actuação. De nada serve acenar com indicadores e números ao eleitorado, se os funcionários públicos não são aumentados há 2 anos. Por este prisma, convocar eleições antecipadas é imoral e desvirtua de forma inaceitável o julgamento popular à actuação deste governo, embora seja preferível à nomeação de uma figura qualquer escolhida em gabinetes sombrios e sem a legitimidade democrática necessária a encabeçar um projecto agregador de relançamento da economia nacional.
Pra que conste, eu não votei neste governo. Muito gostaria de ver todos os seus membros pelas costas, mas isso não me torna cego ou parvo. A única solução política e moralmente "boa" para este imbroglio seria aquela que já não acontecerá: que Durão Barroso honrasse o compromisso que aceitou e reiterou por diversas vezes, ao longo do seu mandato. Não sendo tal possível, a escolha menos má seria a de nomear primeiro-ministro a nº 2 do executivo cessante e responsável pela definição das regras por onde se guiaram estes dois anos de governação - e se o PSD não o quiser fazer, que o faça o Presidente da República por sua iniciativa, tal como a Constituição lhe permite.
Já todos sabemos os dados que estão sobre a mesa. Por um lado, temos a perspectiva de ver chegar, por via administrativa, a primeiro-ministro de Portugal uma figura tenebrosa e desprovida de dignidade, que nunca conseguiu a indigitação do seu partido para o cargo, quando a ela se propôs em sede própria (o congresso do seu partido). As questões de competência da dita personagem nem sequer são para aqui chamadas, mas a legitimidade de quem o propõe já é: de facto, a maioria parlamentar que agora se prepara para apresentar o nome de Pedro Santana Lopes como futuro primeiro-ministro de Portugal não foi sufragada enquanto tal. Pelo contrário, quando se apresentou ao eleitorado - bem recentemente - enquanto coligação, foi o que se viu. Se bem que a operação tenha o enquadramento constitucional necessário, a legitimidade política face aos acontecimentos recentes (e alguns bem mais longínquos, que se prendem com o nome que se perfila no horizonte) é, com boa vontade, muito reduzida. Para que dúvidas não restassem quanto ao papel do CDS-PP neste processo, já veio o seu líder parlamentar pôr-se em bicos-de-pés, reclamando o direito do seu partido a opinar sobre a escolha do PSD. Com amigos destes...
Por outro lado, todos sabemos em que país vivemos e que compatriotas temos. Habituados à esmola, ao subsídio, à chantagenzinha, ao aumento extraordinário, à benesse, ao perdão e à cunha, esquecemo-nos de olhar para a actividade governativa com olhos de ver, de tentar perceber as razões que lhe estão na base, os objectivos que pretende alcançar e a forma como está a ser executada. Os políticos sabem disso e, considerações eleitoralistas à parte, sabem que os seus programas, quando exigem sacrifícios, devem ser mais exigentes no início dos mandatos, por forma a poder aligeirar próximo do fim da legislatura e, dessa forma, colher junto do povo a aprovação (ou não) da sua actuação. De nada serve acenar com indicadores e números ao eleitorado, se os funcionários públicos não são aumentados há 2 anos. Por este prisma, convocar eleições antecipadas é imoral e desvirtua de forma inaceitável o julgamento popular à actuação deste governo, embora seja preferível à nomeação de uma figura qualquer escolhida em gabinetes sombrios e sem a legitimidade democrática necessária a encabeçar um projecto agregador de relançamento da economia nacional.
Pra que conste, eu não votei neste governo. Muito gostaria de ver todos os seus membros pelas costas, mas isso não me torna cego ou parvo. A única solução política e moralmente "boa" para este imbroglio seria aquela que já não acontecerá: que Durão Barroso honrasse o compromisso que aceitou e reiterou por diversas vezes, ao longo do seu mandato. Não sendo tal possível, a escolha menos má seria a de nomear primeiro-ministro a nº 2 do executivo cessante e responsável pela definição das regras por onde se guiaram estes dois anos de governação - e se o PSD não o quiser fazer, que o faça o Presidente da República por sua iniciativa, tal como a Constituição lhe permite.
Arrotos do Porco: