segunda-feira, novembro 27, 2006 |
Sobre nada ou Os meus sapatos novos
Tenho um par de sapatos novos. São pretos, de atacadores, fabricados no Japão. Nem por isso de plástico, entenda-se. Longe vão os tempos em que do Japão só saía plástico. Agora sai de tudo, como se o país inteiro tivesse tomado um laxante. A imagem não é muito feliz mas o dia está de chuva. E um gajo precisa de desculpas como esta – está de chuva – para não se sentir disparatado por disparatar. Para comprar os sapatos novos não precisei de desculpa: foi um caso de necessidade, um caso, quase, de force majeur – it goes without saying que os estrangeirismos nunca são demais, nos tempos que correm.
Não foram caros nem baratos, o raio dos sapatos. O que paguei pareceu-me justo. São pretos, já disse; são jeitosinhos e confortáveis. Por debaixo da pele têm um material chamado Gore-Tex. Não sei se terá alguma coisa a ver com o Al Gore ou com o cinema gore. Sei que, pelo que dizem os senhores que escreveram o folheto explicativo – agrada-me esta ideia de sapatos com bula medicinal – , o Gore-Tex conserva os pés quentinhos. Ora um gajo, à noite, ainda pode procurar solução para o problema dos pés frios, demandando um par de pés quentes. Já durante o expediente, a coisa muda de figura. Não me parece curial andar pelo local de trabalho a gritar “Ó fulana!, traz-me aí esses chispes! É só um bocadinho, depois já vais à tua vida”...
Hoje o dia está de chuva e os meus sapatos novos não repassam. A sola é de couro (não italiano) mas tem uma camada fina de borracha impermeável. Posso chapinhar nas poças de água. Posso caminhar à chuva. Posso atravessar o Mar Vermelho. Ainda bem que tenho sapatos impermeáveis. Compensam a minha permeabilidade. Desassossegado, sim; mas com uma base firme, seca e quente, sem joanetes nem unhas encravadas. Gosto dos meus sapatos novos e devia tomá-los como exemplo: resistente às forças exteriores, confortável no interior – assim devia ser o meu carácter. Parece-me hoje, claro; que isto da forma como uma pessoa acha que devia ser é coisa mais inconstante que a minha produção para este blog.
A bem da verdade, comprei dois pares de sapatos. Mas só me apetece falar destes, dos que tenho calçados hoje, que são japoneses, pretos e de atacadores, forrados a Gore-Tex por dentro e com rasto impermeável. Fica, portanto, tomada a decisão de nunca falar dos outros – sim, que o Vareta não é o site oficial dos industriais de curtumes. Fica só registado, para benefício de inventário, que, num qualquer dia estavanado, fui até Shibuya e comprei dois pares de sapatos. Uns com grande importância, porque hoje me seguram ao chão; outros sem importância alguma porque hoje está de chuva e os preteri em favor dos impermeáveis.
Foi um acesso de vontade algo raro em mim, esse de comprar dois pares de sapatos assim de uma assentada. A minha vontade é como o lince da Malcata: diz que há mas ninguém o vê. Gosto de pessoas que têm vontades próprias. Pessoas que vão muitas vezes à casa de banho, por exemplo. Têm vontade, vão. Eu, vou pouco. Só ouço a minha vontade quando ela já é gritada e já não se deixa suprimir. Também gosto de pessoas que têm vontades mas as deixam de lado em favor das vontades alheias, sem que tenha como critério de apreciação o número de vezes que as pessoas vão à casa de banho. Isso é só um sintoma, seja de vontade, de infecção urinária ou de hipertrofia da próstata.
Os meus sapatos novos foram concebidos para pés que meçam 26 centímetros. Mais milímetro menos milímetro, é esse o meu tamanho. Olho para uma régua de 30 centímetros, tapo-lhe 4, e concluo que a nossa verticalidade depende de muito pouco. Será, também aqui, mais uma questão de vontade que de predeterminação.
Vontade vontadinha é o que parece faltar aos pandas. Noticiava o Japan Times de 6ª feira, na capa, sob o título “Panda Porn”: “Zoo keepers hope that all it takes is a little panda porn to get these cuddly creatures into the mood to fornicate”. Até pode ser que sim mas espero que haja o cuidado de digitalizar as genitálias desnudadas dos pobres dos ursos. Tristes pandas, sem tesão nem calçado novo...
sexta-feira, novembro 24, 2006 |
O olho atento e cauteloso de Adrião, A Ratazana
Cunegundes tirou as cuecas, ainda estremunhada. Cheirou-as e achou melhor pô-las para lavar. Cândido ainda dormia a sono solto com um fio de baba que corria da boca escancarada, mesmo entre o pivot e a larga porção de tártaro castanho que lhe fazia as vezes do incisivo inferior direito. Hélder Aveiro, o caniche tinhoso saltitava de forma pateta em volta do dono, que se virava para o outro lado. Cunegundes rapava os pêlos das pernas com a gillete do marido enquanto este se peidava copiosamente debaixo dos lençóis. A água para o café fervia e já cheirava a torradas. Cândido expelia um fumegante e grosso cagalhão que refluiu do sifão, obrigando a três descargas de autoclismo. Menelau, o filho de sete anos entrou desgrenhado nos lavabos:
- “Ó mãe, viste o meu garrote?”
-“És um desleixado. Deixaste-o ao lado do cachimbo de fumar crack do teu irmão Adelino Bezelga…Se não fosse eu, para onde ia esta casa, meninos…” – Disse ela, a lavar os dentes com uma pasta salgada de algas que comprara no Celeiro. Belinha, a irmã do meio, extraía do ânus a pinha que usara para se consolar antes de adormecer e por lá ficara esquecida. Aquilo arranhava. Especialmente besuntada com pasta de malagueta especial para galinha tandori. Vinha com um ar desconsolado.
- “Acho que a nossa filha se masturba, Cândido.”
-“ Hã? Não digas isso…ela só tem 11 anos.”
-“Torcer a cabeça trezentos e sessenta graus enquanto vomita jactos verde-acastanhados e fala minóico-linear- B com interpolações de grego demótico e landim, desculpa, também não acho normal…”.
- “Podemos leva-la ao médico, ok?...”
-“Ela tem consulta daqui a um ano e meio. Logo se vê depois”. Cândido Bezelga cofiou as grossas patilhas enquanto ajeitava os testículos nos truces amarelecidos e ressequidos que usava ininterruptamente, como fetiche, há seis meses. Pousou o olho de vidro no copo dos dentes e lavou a órbita escrupulosamente com Super Pop Limão e Tipol. Untou com massa consistente e voltou a colocar o olho de vidro que lhe saíra nos Pirolitos. Quando passou na cozinha, Cunegundes tentava limpar uma enorme panelão de feijoada que Adelino Bezelga entornara ao tentar inalar o monóxido de carbono que se soltara num bafo do velho esquentador. Como fazia com os escapes dos carros no caminho para escola C+S. E também com o remédio para os grelos das batatas.
-“Ó mãe o que é uma jaca?”
- “Nunca ouvi falar.”
“É um fruto brasileiro.”
- “Não é o mesmo que uma jabuticaba, pois não?”
- “Acho que não. É parecido com uma abóbora, é grande e coberto de bicos, assim como se fosse uma pinha gigante, estás a ver?...”
- “Vê lá...vê lá isso, que depois queres ter filhos e eles caem-te pelas pernas abaixo, filha. Ficas lassa…”
Anabela Bezelga corou.
- “Ah. Tu também…Não é nada disso. Era só curiosidade, percebes?” Meio amuada foi-se enfiar no quarto, consolando-se a mamar gulosamente o membro viril do irmão Celso, como de costume quando a contrariavam.
- “Eh lá Belinha!...A mãe ralhou-te foi?”
- “Foi. “ – Disse ela desabocanhando brevemente.
-“Ó mãe!!!Ó mãeeeeee???!!!!...Ganda vaca que a Belinha nos saiu!”- Disse Celso.
- “Ganda puta, pá!. Haja paciência. A semana passada era fruta-pão, hoje eram jarbuticonas ou que raio era… Essa criança é um monte de lixo.” – Disse a mãe.
Belinha ao ouvir isto ainda chupou com mais força, agitando a cabeça freneticamente e massacrando as amígdalas sem dó.
- “Ó mãe!!!!....Tu não gostas da Belinha, pois não?”
-“Nããooo, caralho!....” – Gritou a mãe da casa de banho. Belinha parecia um martelo-pneumático, fazendo o anús do irmão emitir um ruído repenicado e os olhos afundarem-se nas órbitas. Uma parte do lençol do irmão já tinha subido, pelo canal rectal do rapaz, por efeito da sucção.
(...)
-“Aquilo há bocado era tudo mentira, filhinha, mas o teu irmão tem aquele problema de se lhe encaroçar o esperma, se não for ordenhado com regularidade, e sabes que ele sendo tetraplégico, eu com artrite e o teu pai, enfim... um pai-ausente, tens de ser tu, coraçãozinho…”.
- “Eu compreendo mamã…”.
FIM
quarta-feira, novembro 22, 2006 |
by Vagina Dentada
Isto não é uma alegoria político-partidária nem uma campanha contra a fruta espanhola.
quarta-feira, novembro 15, 2006 |
O sapateiro e a raposa
Aquela terra pacata chegara o Circo. Os leões nas suas jaulas, os palhaços folgazões, a mulher barbuda, o homem-forte e os trapezistas desfilaram pela Rua Direita ao som da musica festiva e dos pregões com vago sotaque espanhol “reeeeespeitááááveeel puuuuubliiiico! O circo Trolaró tem a honrrrrra de aprésentarrr, o maioooor espetáculo do mundoooo!... . Que alegria! Os petizes juntaram-se no largo da igreja em algazarra e correram para o terreiro para ver o circo. Fogosos rapazes montavam as tendas em tronco-nu, uns martelando com vigor as espias, outros puxando cabos, outros estendendo panos. Os malabaristas treinavam números com as maças e cuspiam fogo enquanto o palhaço pobre se dava na metanfetamina cristal atrás duma roulotte. Nisto, o palhaço-rico, meio maquilhado chamou as crianças no seu sotaque espanholado caaracterístico: -“venham cá, mêninôs, venham cá…”. Hildo, um pequeno de calções remendados, suspensórios e boina bem enterrada na cabeça aproximou-se. Outros seguiram-no para trás da roulotte do palhaço-rico. Ali foram barbaramente seviciados nas suas tenras intimidades por aquele homem brutal, doente, um monstro pedófilo e sem escrúpulos, que ainda emprestou as crianças a uns reformados dos Caminhos de Ferro, trinta ciganos muito sujos, ao seu burro, ao pároco da aldeia e ao seu filho mongolóide, a dois GNRs e a Telles Fagundes, o parvo da aldeia. Oh! Infame ignomínia! Apre! Irra! Sus! T´arrenego, mostrengo malsão que perpetraste tão insidioso e condenável acto, pois toda a gente sabe que na Província só os pais são podem abusar sexualmente dos filhos. Vem de lá um energúmeno, de que não se sabe sequer de quem é filho, de famílias de circo, disfuncionais certamente, e – zumba! – vai de esburcinar inocentes miudezas pueris, os filhitos de pacatos camponeses, que apesar de alcoólicos têm a sua dignidade. Francamente. Só posso manifestar o meu veemente protesto por esta historieta infame, sórdida e sem graça. Haja um mínimo, pá.
FIM
terça-feira, novembro 14, 2006 |
Imagem de um paneleiro.
Prólogo
Imorredoiras histórias todos ouvimos sentados no colo de nossos avós, que de voz maviosa, lá iam desfiando maravilhas de espanto; e nós – petizes boquiabertos – pasmávamos, de olhinhos arregalados ante as mirabolantes façanhas da matreira raposa, do sapiente mocho ou de preguiçosas cigarras cantantes e lerdas, castigadas na sua irresponsável preguiça outrossim exemplos terríveis de aversão ao trabalho, a não seguir sob pena de inelutável insolvência na sociedade, de que a fábula constitui sempre exemplar metáfora. Cientes do valor edificante de tais histórias em que os animais falam – pequena corruptela inocente da lógica do Mundo, quando elevados valores da recta educação moral se levantam – vem o Autor, propor humildemente, na esteira de La Fontaine, Esopo, irmãos Grimm e António Torrado, algumas fábulas inocentes. Atentai pois, petizes, na história que o tio Assento vos trás hoje. A voz maviosa deveis imaginá-la a do Filipe Ferrer quando era novo e não tinha ar de um demente coprópfilo transsexual, mas tão só de um curial actor gay dos seventies lusos. E um senhor a desenhar num vidro caiado em contra-luz também ia bem. Mas passemos à história.
O Cãozinho cagaloso e mijão
Bóbi era um pequeno cãozinho que, apesar do seu pouco tamanho, defecava copiosamente e amiúde da mesma maneira que também largava grandes golfadas de fragrante urina em borbotões fedentes, esguichados bem esguichadinhos da sua profícua e já relaxada uretra canina. Uma vez era generosa larada rala e mole espraiada no lancil, acompanhada da bonita poça de mijo amarelo e espumoso. Outra vez era o cagalhão branco, de comer muitos ossos, que se separava em segmentos distintos, terminando num gracioso biquinho com pêlos de rato (acepipe que Bobí apreciava). Outras vezes, estava a torcida, de simpática cor “moka” apenas seca por fora, mas túrgida de ralo recheio, que depois de pisado pelo incauto transeunte, esguichava em graciosos caracolinhos, qual “mousse” espessa, um delicado praliné que muitas vezes ornamentava o tacão dos sapatos e compunha o delicado conjunto fecal. Um delicado ikebana onde pontuava a pevide, o feijão mal digerido, o nervo de bife com a volteante mosca verde alegre por entre as fedentes pequenas nuvens odoríferas que se soltavam das fermentíceas bolhas de metano de portentosas laradas.
Bóbi, um dia, foi passear. Sentiu na barriga um arrulhar: a tripalhada estava a reclamar ser vazada. Bóbi arrefinfou um valente, sonoro e molhado flato mesmo no salão de chá. Fofo, o caniche da Sra. D. Eugénia Bragança olhou-o de soslaio, enjoado. Bobi, displicente e prazenteiro coçava as carraças incrustadas na orelhe esquerda com a pata traseira. A soltura de gases, perturbara o delicado equilíbrio intestinal do animal e sucedeu-lhe uma violenta catadupa de fezes em correria desenfreada pelo cólon descendente abaixo. – prrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrllllllllllllllllllllllllllllllllllll…… - solta-se um violento esguicho merdoso e líquido, numa espécie de estalo repenicado que até deixou o esfíncter anal do Bobi dormente. D. Eugénia, enojada deixou cair o scone na poça de merda rala. Bóbi abanava a cauda, contente e uivava: aauuuuuuuuuuuuuuuuuhhhh!.....O caniche fazia coro: aaaaaaauuuuuuuuuuuuuuu!....A D. Eugénia dava-lhe um chilique e a amiga lésbica enfiava-lhe a língua na epiglote para lhe fazer respiração boca-a-boca enquanto esfregava violentamente a cenaita com um scone ensopado em chá Tarry Lapsang Sowchong e Bobi cobria com brutalidade o caniche amaricado de D. Eugénia. O delicado animal não sabia, mas tinha uma grossa ténia que saia em segmentos separados a cada investida do Bobí. E alguns esguichos de quisto hidático também. E o cancro duro do recto do caniche já era arrastado ao dependuro pelo salão de chá debalde as tentativas de D. Eugénia, agora visivelmente perturbada, o deglutir. – Ah, Lésbica! – Disse Eugénia à amiga, com os olhos injectados de sangue.
- Desculpe. Descontrolei-me. Sabe, todo este ambiente….
-Sua vaca!...
-Sua puta badalhoca!!!!...
- Cona-do-Sidónio! Rançosa! Dás aí aos pedintes piolhosos todos!
- Ah, o topete! Galdéria!
- Lambisgóia.
- Pindérica!
- Charolesa!
- Perua!
- Broaca!
- Vazadouro de esporra!
- A culpa é deste cafageste!
-Qual?
-Deste. – Disse a amiga sapatona, apontando para o Bóbi.
-Ui, ui. Desta escarradeira Limoges?
-Não.
-Deste vaso-de-noite cheio de sarro de albuquerques, Companhia das Índias?
- Não.
- Então, deste toucador Nambam ou antes deste serviço completo de jantar Vista Alegre “Cozinha Velha” com saladeira e terrina?
-Deste queijinho Rabaçal meio-sequinho ali ao canto?....
- Daquele chouricinho com um piquinho a azedo, ali ao cantinho, muito aconchegadinho no fumeiro?
- Não. Deste cão.
-Ah. Ok.
Bobi olhou-as mansamente, de língua de fora, enquanto abanava a cauda.
FIM.
segunda-feira, novembro 13, 2006 |
Ciência Viva
Caros Concidadãos,
Já por diversas vezes abordámos aqui a questão da Física Quântica, essa disciplina tão curiosa quanto fascinante, mas nunca aqui discutimos as propriedades do átomo, essa coisa minúscula que nos compõe a todos e a tudo o que nos rodeia.
Não querendo tornar-me aborrecido, apenas referirei que o átomo é constituído por um núcleo muito denso e por uma camada de electrões – mentira, pode ser apenas um electrão – que, contrariamente à representação gráfica que encima este texto, não circula ou não orbita pausadamente em volta deste núcleo.
O electrão que está associado ao núcleo – sendo este constituído por neutrões e protões – não obedece às leis físicas a que estamos habituados na Macro-Física, antes tem as suas próprias leis muito especiais e que confundem qualquer pessoa que não esteja habituada a lidar com elas.
Por curioso que pareça, o electrão está em todo o lado à volta do núcleo, com a agravante de estar em todo o lado ao mesmo tempo. A imagem que nos é transmitida é a de uma ventoinha a rodar em alta velocidade, sendo que as pás parecem estar em todo o lado. Ora, o electrão está mesmo em todo o lado.
O átomo é o que constitui a matéria. Ponto. Mas o átomo ainda é dividido em electrões, protões e neutrões. E estes, por sua vez, subdividem-se numa série de categorias que incluem, por exemplo, os neutrinos, A estas subcategorias convencionou-se chamar-se quarks – que não correspondem ao grasnar de um pato bem alimentado, claro – por facilidade de expressão.
O átomo degrada-se ao longo de centenas de anos, voltando a fazer parte de nova matéria. Por isso dizem os cientistas – que eu não conheço, esclareça-se desde já – que cada um de nós tem certamente um milhão de átomos de Shakespeare. Bom, os meus ainda não se manifestaram…
A Física Quântica defende que, por mera observação do átomo, este altera-se, podendo determinar-se onde é que o electrão vai estar a dado momento, mas não conseguindo determinar-se qual o caminho que seguiu, ou então, consegue fazer-se o inverso, determinando-se a trajectória do electrão, mas não se conseguindo saber onde ele está a determinado momento, por força da tal alteração que a observação provoca.
Confusos? Também eu, mas isto ainda se complica mais.
Se o átomo fosse aumentado até ao tamanho de uma igreja, o núcleo corresponderia ao tamanho de uma mosca, mas com uma força e uma densidade tão grandes que manteria o conjunto como um todo.
Se já se perguntaram como é que os protões e os neutrões se mantêm juntos no núcleo do átomo, perguntaram-se muito bem. Parece que existem partículas – os tais quarks – que juntam ambas as forças no núcleo. Por sinal, têm um nome engraçado: os glueons.
Só mais uma dica para aumentar a confusão: quando os cientistas «mexem» numa partícula e a põem a rodar, por exemplo, para a esquerda, há uma outra partícula que corresponde à primeira e que reage em sentido contrário e sincronizadamente. Esteja essa partícula onde estiver e não se sabe que forças intervêm aqui. Já foi experimentado a mais de sete quilómetros de distância – não me perguntem como… - e resulta mesmo.
Há até uma teoria que defende que há neutrinos - ou algo semelhante – que viajam a velocidades superiores à da luz, que é a velocidade maior que se conhece.
Voltarei a aborrecer-vos com factos semelhantes dentro de alguns dias.
Fica a ameaça.
quarta-feira, novembro 08, 2006 |
terça-feira, novembro 07, 2006 |
Troca de emails veridica entre investigadores dum Laboratório do Estado da área e florestal decorrida ontem.
Colegas,
Acaba de sair do meu gabinete, (ca. 16:00 h) uma senhora que me tentou vender uma fotobiografia do Papa João Paulo II "desde que andava de fraldas" (!!!!!!!!) e conjuntos de lapis, livros de colorir do Scubidu e/ou dos Flintstones. Seria esta despesa elegível na rubrica "bibliografia" dum projecto AGRO? Atrairia tal pia aquisição, as boas graças do Divino para a investigação florestal, chovendo as aprovações de projectos em catadupa?
Será que devo promover uma reunião de Tupperware aqui no gabinete?
Será que devo publicar os meus resultados científicos (em fascículos) na Planeta Agostini?
JC.
Já experimentaste tentar vender a "Voz do Povo" ou o "Luta Popular"?
NO.
Isso não. Mas, eu sei que pode parecer um pouco elitista, mas não me parece bem que um dia destes os investigadores sejam subitamente interpelados nos seus gabinetes por ciganos a vender relógios, santolas ou caixas de ferramentas, senhores magrebis a vender tapetes, rapazinhos ranhosos a vender pensos rápidos ou a Eva do Natal, etc, etc...Tem um je ne sais quoi de descabido numa instituição de investigação, tás a ver?...Digo eu.
JC.
Apesar de tudo, parece-me lícito a venda do "Borda d'Água" nas áreas comuns do edifício.
Este, para além de nos dar preciosas dicas no que concerne à apanha das castanhas e d'outras actividades com plantas, ainda nos presenteia com a excelência d' O Juízo do Ano para podermos perceber o quê e porquê correu mal...
JCA.
Caro JCA.
Lindo. Essa é que era! A verdadeira fonte do conhecimento prático! Qual investigações onerosas, estéreis e irrelevantes para a fileira! E basicamente para ficar a saber " a que horas nasce e se põe o sol" (efemérides astronómicas que aliás também vêm no Borda d´Agua, mal e porcamente, mas vêm). Não fariam já tão má figura os investigadores confrontados com a vida prática, nem rezava o cidadão comum propietário florestal pelo chorudo vencimento do funcionário gasto em devaneios inúteis e inconsequentes de "investigação". O investigador já saberia retorquir com proficência, granjeando admiração e respeito, que: "plantar pinheiros em Fevereiro é garantia de dinheiro" ou "se plantares sobreiros na lua-nova, só tens rendimento já na cova" ou "Plantar pinheiro em Janeiro é dá-lo aos nemátodos inteiro" ou "medra eucalipto no quintal, venha a praga florestal" ou "se da floresta não queres saber, é certo que vai arder" ou mesmo: "Quem investiga a cortiça, não tem amor à linguiça" e "Quem na floresta não invista, Ó Elvas, Ó Elvas, Badajoz à vista". E assim por diante.
P.S. Por acaso sabes o "impact factor" do Borda d´Água?. É que não encontro no Science Citation Index....
JC.
Caro Sr. JC.,
A avaliação da qualidade da informação de um almanaque não deveria ser sujeita a uma qualquer contagem do número de citações dos seus artigos, no entanto e tendo em conta que o dito é representante único do seu género, podemos depreender que o seu "impact factor" seja bastante elevado.
Todavia, pela volúpia de crueldade com que é praticado, na quietude do seu gabinete, V.Exa. comete um crime ainda mais doloroso do que aquele perpetrado pelo Monhé que vende Rolexs de Taiwan. Crime estarrecedor, porque a vítima não tem voz para suplicar piedade e nem braços robustos com que se confie aos movimentos da reacção.
Refiro-me aos aforismos quase sempre prazenteiros para os pinheiros e quase nunca justos para o eucalipto, ao abrigo dos quais investigadores inconscientes determinam a não existência de alguns dos seus filhos, asfixiando-lhes a existência, antes que possam abraçar a luz do Sol com as suas folhas.
Homens da Terra, e sobretudo vós, investigadores chamados à exaltação da ciência e do conhecimento, abstende-vos de semelhante acção que vos desequilibra a alma e entenebrece o caminho.
Viva a Acácia e viva o Eucalipto!
JCA.
Caro Sr. JCA.
Sem me querer alongar, contesto a sua procedente e longa missiva, em que soi VExa. defender essa malfadada lepra do desenvolvimento territorial sustentado, essa purulenta pústula vegetal, esse voraz cancro ecológico, que é o eucalipto. Atente que o nome popular inglês dessa essência é "red gum" ou "gengiva vermelha". Não é sério, meu caro. O que é isto comparado com árvores autóctones com nomes provectos, vindos de antanho e eivados de arcaica sabedoria, como por exemplo "sardão" (Quercus rotunfolia Lam.)? Mor das suas belas flores fulvas muito apreciadas pelo povo e pelo seu valor na marcenaria e ebenisteria, as acácias já me despertam sentimentos diversos. É uma terrível planta invasora. Uma espécie tinhosa. O svandija das árvores portuguesas. T´arrenego monstro australiano devorador dos fragrantes carvalhais primevos da lusa pátria, por cujas frescas copas o sol se filtrava dolente e abrigava os ninhos, com frágeis ovinhos álbidos, dos pipilantes passaritos inocentes. Veio a acácia e expulsou deste Éden ornitológico as inocentes criaturas. Não posso partilhar o seu entusiasmo por tal árvore, que debalde algum uso, me é desprezível no sentimento e na razão.
JC.
quinta-feira, novembro 02, 2006 |
by Vagina Dentada
Ervidel, 28 de Outubro de 2006
Aljustrel, 3 de Novembro de 2006
Porque é que a bomba de neutrões não tem uma atitude neutra?