terça-feira, novembro 07, 2006 |
YOU´VE GOT MAIL
Troca de emails veridica entre investigadores dum Laboratório do Estado da área e florestal decorrida ontem.
Colegas,
Acaba de sair do meu gabinete, (ca. 16:00 h) uma senhora que me tentou vender uma fotobiografia do Papa João Paulo II "desde que andava de fraldas" (!!!!!!!!) e conjuntos de lapis, livros de colorir do Scubidu e/ou dos Flintstones. Seria esta despesa elegível na rubrica "bibliografia" dum projecto AGRO? Atrairia tal pia aquisição, as boas graças do Divino para a investigação florestal, chovendo as aprovações de projectos em catadupa?
Será que devo promover uma reunião de Tupperware aqui no gabinete?
Será que devo publicar os meus resultados científicos (em fascículos) na Planeta Agostini?
JC.
Já experimentaste tentar vender a "Voz do Povo" ou o "Luta Popular"?
NO.
Isso não. Mas, eu sei que pode parecer um pouco elitista, mas não me parece bem que um dia destes os investigadores sejam subitamente interpelados nos seus gabinetes por ciganos a vender relógios, santolas ou caixas de ferramentas, senhores magrebis a vender tapetes, rapazinhos ranhosos a vender pensos rápidos ou a Eva do Natal, etc, etc...Tem um je ne sais quoi de descabido numa instituição de investigação, tás a ver?...Digo eu.
JC.
Apesar de tudo, parece-me lícito a venda do "Borda d'Água" nas áreas comuns do edifício.
Este, para além de nos dar preciosas dicas no que concerne à apanha das castanhas e d'outras actividades com plantas, ainda nos presenteia com a excelência d' O Juízo do Ano para podermos perceber o quê e porquê correu mal...
JCA.
Caro JCA.
Lindo. Essa é que era! A verdadeira fonte do conhecimento prático! Qual investigações onerosas, estéreis e irrelevantes para a fileira! E basicamente para ficar a saber " a que horas nasce e se põe o sol" (efemérides astronómicas que aliás também vêm no Borda d´Agua, mal e porcamente, mas vêm). Não fariam já tão má figura os investigadores confrontados com a vida prática, nem rezava o cidadão comum propietário florestal pelo chorudo vencimento do funcionário gasto em devaneios inúteis e inconsequentes de "investigação". O investigador já saberia retorquir com proficência, granjeando admiração e respeito, que: "plantar pinheiros em Fevereiro é garantia de dinheiro" ou "se plantares sobreiros na lua-nova, só tens rendimento já na cova" ou "Plantar pinheiro em Janeiro é dá-lo aos nemátodos inteiro" ou "medra eucalipto no quintal, venha a praga florestal" ou "se da floresta não queres saber, é certo que vai arder" ou mesmo: "Quem investiga a cortiça, não tem amor à linguiça" e "Quem na floresta não invista, Ó Elvas, Ó Elvas, Badajoz à vista". E assim por diante.
P.S. Por acaso sabes o "impact factor" do Borda d´Água?. É que não encontro no Science Citation Index....
JC.
Caro Sr. JC.,
A avaliação da qualidade da informação de um almanaque não deveria ser sujeita a uma qualquer contagem do número de citações dos seus artigos, no entanto e tendo em conta que o dito é representante único do seu género, podemos depreender que o seu "impact factor" seja bastante elevado.
Todavia, pela volúpia de crueldade com que é praticado, na quietude do seu gabinete, V.Exa. comete um crime ainda mais doloroso do que aquele perpetrado pelo Monhé que vende Rolexs de Taiwan. Crime estarrecedor, porque a vítima não tem voz para suplicar piedade e nem braços robustos com que se confie aos movimentos da reacção.
Refiro-me aos aforismos quase sempre prazenteiros para os pinheiros e quase nunca justos para o eucalipto, ao abrigo dos quais investigadores inconscientes determinam a não existência de alguns dos seus filhos, asfixiando-lhes a existência, antes que possam abraçar a luz do Sol com as suas folhas.
Homens da Terra, e sobretudo vós, investigadores chamados à exaltação da ciência e do conhecimento, abstende-vos de semelhante acção que vos desequilibra a alma e entenebrece o caminho.
Viva a Acácia e viva o Eucalipto!
JCA.
Caro Sr. JCA.
Sem me querer alongar, contesto a sua procedente e longa missiva, em que soi VExa. defender essa malfadada lepra do desenvolvimento territorial sustentado, essa purulenta pústula vegetal, esse voraz cancro ecológico, que é o eucalipto. Atente que o nome popular inglês dessa essência é "red gum" ou "gengiva vermelha". Não é sério, meu caro. O que é isto comparado com árvores autóctones com nomes provectos, vindos de antanho e eivados de arcaica sabedoria, como por exemplo "sardão" (Quercus rotunfolia Lam.)? Mor das suas belas flores fulvas muito apreciadas pelo povo e pelo seu valor na marcenaria e ebenisteria, as acácias já me despertam sentimentos diversos. É uma terrível planta invasora. Uma espécie tinhosa. O svandija das árvores portuguesas. T´arrenego monstro australiano devorador dos fragrantes carvalhais primevos da lusa pátria, por cujas frescas copas o sol se filtrava dolente e abrigava os ninhos, com frágeis ovinhos álbidos, dos pipilantes passaritos inocentes. Veio a acácia e expulsou deste Éden ornitológico as inocentes criaturas. Não posso partilhar o seu entusiasmo por tal árvore, que debalde algum uso, me é desprezível no sentimento e na razão.
JC.
Troca de emails veridica entre investigadores dum Laboratório do Estado da área e florestal decorrida ontem.
Colegas,
Acaba de sair do meu gabinete, (ca. 16:00 h) uma senhora que me tentou vender uma fotobiografia do Papa João Paulo II "desde que andava de fraldas" (!!!!!!!!) e conjuntos de lapis, livros de colorir do Scubidu e/ou dos Flintstones. Seria esta despesa elegível na rubrica "bibliografia" dum projecto AGRO? Atrairia tal pia aquisição, as boas graças do Divino para a investigação florestal, chovendo as aprovações de projectos em catadupa?
Será que devo promover uma reunião de Tupperware aqui no gabinete?
Será que devo publicar os meus resultados científicos (em fascículos) na Planeta Agostini?
JC.
Já experimentaste tentar vender a "Voz do Povo" ou o "Luta Popular"?
NO.
Isso não. Mas, eu sei que pode parecer um pouco elitista, mas não me parece bem que um dia destes os investigadores sejam subitamente interpelados nos seus gabinetes por ciganos a vender relógios, santolas ou caixas de ferramentas, senhores magrebis a vender tapetes, rapazinhos ranhosos a vender pensos rápidos ou a Eva do Natal, etc, etc...Tem um je ne sais quoi de descabido numa instituição de investigação, tás a ver?...Digo eu.
JC.
Apesar de tudo, parece-me lícito a venda do "Borda d'Água" nas áreas comuns do edifício.
Este, para além de nos dar preciosas dicas no que concerne à apanha das castanhas e d'outras actividades com plantas, ainda nos presenteia com a excelência d' O Juízo do Ano para podermos perceber o quê e porquê correu mal...
JCA.
Caro JCA.
Lindo. Essa é que era! A verdadeira fonte do conhecimento prático! Qual investigações onerosas, estéreis e irrelevantes para a fileira! E basicamente para ficar a saber " a que horas nasce e se põe o sol" (efemérides astronómicas que aliás também vêm no Borda d´Agua, mal e porcamente, mas vêm). Não fariam já tão má figura os investigadores confrontados com a vida prática, nem rezava o cidadão comum propietário florestal pelo chorudo vencimento do funcionário gasto em devaneios inúteis e inconsequentes de "investigação". O investigador já saberia retorquir com proficência, granjeando admiração e respeito, que: "plantar pinheiros em Fevereiro é garantia de dinheiro" ou "se plantares sobreiros na lua-nova, só tens rendimento já na cova" ou "Plantar pinheiro em Janeiro é dá-lo aos nemátodos inteiro" ou "medra eucalipto no quintal, venha a praga florestal" ou "se da floresta não queres saber, é certo que vai arder" ou mesmo: "Quem investiga a cortiça, não tem amor à linguiça" e "Quem na floresta não invista, Ó Elvas, Ó Elvas, Badajoz à vista". E assim por diante.
P.S. Por acaso sabes o "impact factor" do Borda d´Água?. É que não encontro no Science Citation Index....
JC.
Caro Sr. JC.,
A avaliação da qualidade da informação de um almanaque não deveria ser sujeita a uma qualquer contagem do número de citações dos seus artigos, no entanto e tendo em conta que o dito é representante único do seu género, podemos depreender que o seu "impact factor" seja bastante elevado.
Todavia, pela volúpia de crueldade com que é praticado, na quietude do seu gabinete, V.Exa. comete um crime ainda mais doloroso do que aquele perpetrado pelo Monhé que vende Rolexs de Taiwan. Crime estarrecedor, porque a vítima não tem voz para suplicar piedade e nem braços robustos com que se confie aos movimentos da reacção.
Refiro-me aos aforismos quase sempre prazenteiros para os pinheiros e quase nunca justos para o eucalipto, ao abrigo dos quais investigadores inconscientes determinam a não existência de alguns dos seus filhos, asfixiando-lhes a existência, antes que possam abraçar a luz do Sol com as suas folhas.
Homens da Terra, e sobretudo vós, investigadores chamados à exaltação da ciência e do conhecimento, abstende-vos de semelhante acção que vos desequilibra a alma e entenebrece o caminho.
Viva a Acácia e viva o Eucalipto!
JCA.
Caro Sr. JCA.
Sem me querer alongar, contesto a sua procedente e longa missiva, em que soi VExa. defender essa malfadada lepra do desenvolvimento territorial sustentado, essa purulenta pústula vegetal, esse voraz cancro ecológico, que é o eucalipto. Atente que o nome popular inglês dessa essência é "red gum" ou "gengiva vermelha". Não é sério, meu caro. O que é isto comparado com árvores autóctones com nomes provectos, vindos de antanho e eivados de arcaica sabedoria, como por exemplo "sardão" (Quercus rotunfolia Lam.)? Mor das suas belas flores fulvas muito apreciadas pelo povo e pelo seu valor na marcenaria e ebenisteria, as acácias já me despertam sentimentos diversos. É uma terrível planta invasora. Uma espécie tinhosa. O svandija das árvores portuguesas. T´arrenego monstro australiano devorador dos fragrantes carvalhais primevos da lusa pátria, por cujas frescas copas o sol se filtrava dolente e abrigava os ninhos, com frágeis ovinhos álbidos, dos pipilantes passaritos inocentes. Veio a acácia e expulsou deste Éden ornitológico as inocentes criaturas. Não posso partilhar o seu entusiasmo por tal árvore, que debalde algum uso, me é desprezível no sentimento e na razão.
JC.