quarta-feira, março 21, 2007 |
REPRESENTAÇÃO DA ALMA E DO CORPO
Dramatis personae: Tempo, Alma e Corpo
A cena apresenta-se inóspita, sombria e com vagos destroços poeirentos.
TEMPO - Corre o Tempo célere e fugaz levantando das tumbas, em tremendos vórtices - as cinzas, o pó e as ossadas; voraz e impiedoso, traz contadas as horas do Coração e em generoso regaço, os fáceis prazeres, penas e as muitas dores. Como volátil fumo se esvai a mortal vaidade e sob o jugo do Tempo se esfumam os apegos, as paixões e os terrenos enlevos, pois nunca descansa o Tempo, companheiro da Morte.
CORPO - Se certo é – ó Tempo – que tendes já o número das horas que baterá meu coração frágil e também o conto do meus sopros; e se são teu mister as rugas e as cãs que carrego já
ALMA - Lamentas-te, Corpo, debalde e ignoto. Tu que és vã carne, suporte inerte de gloriosa centelha do Céu - que sou eu a Alma - ígnea luz divina, soprada que foi na geração dos humores do ventre materno e na semente de teu pai; digo-te eu ‘não temas’ ,pois nada mais que vil matéria inerte és e que nada sempre foste e assim não poderás nunca perder-te na infâmia da Morte e nas cinzas.
CORPO - Confundes-me, Alma. Pois e as paixões e pensamentos, de quem são? As ânsias, o ver o ouvir e sentir? Mesmo só com o respirar, quando o pensamento descansa, quem testemunha a sua própria existência?
ALMA - Só a Alma é sensível – ó Corpo – enganas-te se tomas por teu aquilo que viste através de mim. E eu que vejo através da Sua divina visão? Que sinto através do seu sentir; que penso os Seus pensamentos. Lamentas-te – ó Corpo – por existirmos ambos na Sua Glória, pois só ela existe e verdadeira. Eu sou centelha e tu, um velho e inerte traje puído, que abandono nesta hora, à vã corrupção da terra.
CORPO - Ide-vos foder, Alma, Tempo, Deus, Morte e Destino! Pois renego tal sorte que não pedi! Sei que só eu sinto o que Eu sinto e só a mim me dói esta dor e este amor que eu amo e que só meu. Ide mamar na pissa de um cão sarnento vãs quimeras fúteis! Sois tenebrosas criações que me atormentam, qual hórridas larvas; sucúbos tentadores e miasmas do pensamento!
Recuando lentamente, a Alma e o Tempo desaparecem na penumbra. Sobe o pano e por detrás e surge um céu luminoso e sem nuvens.
CORPO – Exultai, mortais! Os tiranos são ora arredados! Corpos que calaste vosso sofrimento desde o dealbar dos tempos, sois liberados dos tormentos e silêncios; dos erros e enganos, pois agora vedes que sombras apenas eram a alma, o tempo, a morte e o destino! Pérfidos sonhos da razão, liames inúteis!
CORO - Cantai pastores, ninfas e faunos! Nos arcádicos ombrosos bosques, dançam e exultam por fim os corpos ocos e liberados, sem a tirania da essência, alma ou substância. Meros nacos de vazia matéria morta; cabeças ornadas pelos louros da Vitória, cantam e dançam cheios de Nada!
FINIS
quinta-feira, março 15, 2007 |
The Beacon, que é como quem diz: Richard Hawley - The Ocean
You lead me down, to the ocean
So lead me down, by the ocean
You know it's been a long time,
You always leave me tongue tied
And all this times for us
I love you just because
You lead me down, to the ocean
The world is fine, by the ocean
You know this time's for real
It helps the heart to heal
You know it breaks the seal of the talisman that harms
And so you look at me and need
The space that means as much to me
So lead me down, to the ocean
Our world is fine, by the ocean
You know the way it is in life, it's so hard to live up to
So why are you still dressed in your mourning suit
I assume, I assume
You'll lead me down, to the ocean
Don't leave me down, by the ocean
The ocean.
Here comes the wave, here comes the wave
Here comes the wave, down by the ocean
The ocean (repeat to fade)
COMMENTARIES ON THE “TRATACTUS”. II – HERMENEUTICAL ISSUES
Epilogue
Let us consider the classical yet judicious question of Emmanuel Kant ‘why is there something rather than anything’ and in turn, Wittgenstein’s ´no-answer’ to such inquiry, stating that the ‘world is the sum of all facts’ and moreover that ‘what we cannot put to speech, one should shut up’. That is to say close to nothing, alias, I dare say, this is nothing but an utmost ridiculous ‘bla-bla-bla-go-fuck-yourself-type-pseudophilosophical pompous statement, and to say the least, an outrageous meaningless truism and absurd gibberish issued from an low-life, no-good scumbag queer fellow. Besides being a hysterical misogynous faggot, this repulsive Hun-philosopher engages often in superfluous, inutile and dull crap-chit-chat as he goes “Huuuuuuu….eeeeehhhh…” he squeaks – to the sight of muscle-bound Tom-of-Finnlandish leather and mustache gents– that are onto ass-pissing – and meet in bars called ‘Querelle de Brest” (…) The transvestite, woman-impersonator, the scribbling monkey, the nauseous epistemological drag-queen. I puke! I shit! I cum and I squirt cerumen onto your pimple-covered flattened by much bumping ass-cheeks. You sad filthy homo, you spank drinker by the pint, you revolting, despicable Ludwig Wittgenstein, are nothing but a vast bowl of pus.
Next, we will be dealing with the ontological issues of the contemporary anti-struturalistic posture implicit with the narrative of Lacan vs. Foucault dialogues, in the context of the so called post-modern cul-de-sac (two great sperm-drinkers, shoving large black man’s dicks up their infected arses).
sexta-feira, março 09, 2007 |
COMMENTARIES ON THE “TRATACTUS”. I - EPISTEMOLOGICAL ISSUES
Foreword
In spite of earlier attempts, many commentaries on the Tratactus Logico-Philosophicus of Ludwig Wittgenstein, namely the one by Bertrand Russell, were - with few exceptions - often focused on ontological issues. Notwithstanding brilliant discussion, Russell’s commentary was indeed partial to what concerns the true hidden meaning of the Tratactus: - that the Destiny of Man, being an utmost meaningless concept, was, in fact, prone to an easier analysis in the scope of sausage-stifling. ‘Sausage- stifling?’ – may one ask in dismay or even taking on account a certain humorous intent of the author. Meaning of this will be clearer as we proceed, I assure, dear readers. Let us consider a huge, humongous sausage, in the fashion of a donkey’s penis, or dong or thingy one one-eyed-trouser-snake or whatever one fancies the most. So, let I be ‘dick’ – a humble donkey’s ‘sausage’ turgid with white, thick sperm, stuffed up mine’s and clogging my bowl with lumps of viscid sperm. This I evacuate soon – a brown and white smoking hodgepodge, feeling the exhilarating thrills of infatuation and pleasure in my floating ribs and the blissful ecstasy of Being all the way from my scrotum and perineum. I now chant ye, o donkey, for blesseth is thy large sausage ravaging in my gut –up and down, up and down – my little me… a queer, sinful, despicable and repulsive chap… Alas! I feel love for you, o donkey, shall we be blessed by the holly sacrament of marriage if only the justice and wits of Man were to allow this wondrous union of soul in spite of I being a vicar and also a mad poet and you a furry and smelly donkey blessed by the gods to what concerns size of genitalia – for I know that I want the body electric, leaves of grass and all, so that I can stifle the morsel as I please.
terça-feira, março 06, 2007 |
EROS & PSYCHE
“Mas onde está ela? Sinto o perfume dos seus cabelos dourados, mas não a vejo; o toque da sua pele rósea está aqui, quase como se fosse minha e a tocasse; ah… mas escapa-me, arisca e pudica, como uma imagem sempre fugidia e aquém do alcance do olhar, teimosa e sempre no canto do olho…”. Este pensamento teve-o ela e uma sensação de estranheza invadiu-a. Que afecto tão familiar por uma mulher era este? E quem era ela? Olhou a longa madeixa dos seus cabelos louros caídos sobre a concha da mão e deixou-os escorregar por entre os dedos. “E ele, onde estava? E porque não a visitava?” A presença dele intuiu-a ela e ao acordar naquela cama de hospital e pareceu-lhe que durante o lento acordar ele lá estava, acariciando-a. Mas agora que já se sentia mais desperta, ele não estava lá. Ele olhou encadeado a luz do sol na janela do quarto. Sentiu estranheza ao olhar a enfermeira, que retribuiu o olhar com um vago sorriso e pensou: ""Quem era ela?..."" Mas não. Não é ela que eu quero. Não a conheço. Deve ser a enfermeira. Estou no hospital. Já me lembro". Lembrou-se da dor a rebentar-lhe na cabeça, a ambulãncia e mais nada. A sensação de cabelo na sua mão persistia e ficou mais perplexo. Afagou os seus caracóis castanhos, curtos, ao de leve. “Enfermeira, fui operado. Mas sinto-me estranho…” – “Mas não se sente bem?” – “Sim, mas não estava aqui mais alguém? Uma mulher. Não me refiro à senhora enfermeira…" - disse com um sorriso cordial - "não sei se me percebe...” – “O senhor acabou de acordar de uma operação muito séria. Descanse por favor.” – “Sim…” – Disse ela. O olhar vagueou pelo quarto.Um ramo de flores recortado contra a parede branca; um quadro na parede. “Mas e aquilo?”…Um cão…uma ovelha…um cavalo…duas mulheres numa floresta. Não me consigo decidir. É complicado aquele quadro”. – “A senhora está a recuperar da anestesia. Feche os olhos. Durma, por favor.” A enfermeira deixou cair o bloco. Pegou na ficha clínica: - Uma lesão cerebral; bissecção do corpo caloso. Os dois hemisférios do cérebro separados. Olhou o paciente. Tinha um ar delicado e feminino. “Mas onde está ela? Faz-me falta e não me vem visitar. – disse abrindo outra vez os olhos, quase a chorar.
–“Não posso viver sem ele…, pensou”. A enfermeira suspirou e disse-lhe enquanto lhe injectava o sedativo: “descanse, ele está aqui consigo. Vai estar sempre.”
FIM
quinta-feira, março 01, 2007 |
“Eu hoje vou vê-lo” – e a ideia assomava-lhe ao rosto como uma luz que se desfazia num sorriso infantil, os cantos da boca muito repuxados, as mãos suspensas num gesto qualquer que perdera importância. O seu reflexo no espelho despertava-a, então: melhor, o medo do ridículo que lhe inspirava o seu reflexo no espelho despertava-a. “Ele não gosta de ti da mesma maneira. Escusas de te pôr com ideias parvas.” e era como se a auto-repreensão lhe desse uma desusada energia nos pulsos, escovando o cabelo vigorosamente. “Vai liso. Assim como assim, ninguém lhe mexe.” Os olhos escuros tingiam-se-lhe de receio e o espelho ficava um lugar inóspito. Saiu para o quarto, abriu o armário, passou os olhos pela roupa e voltou tudo outra vez: “Vou vê-lo”.
Escolheu a blusa verde, as calças pretas, os sapatos rasos, a carteira grande de sempre. Pôs pouco perfume. “Não quero que ele pense que me estou a oferecer” Um colar preto e mais nada, nem brincos nem anéis. “Um anel até podia dar jeito... Sempre tinha onde mexer, quando me derem os nervos...” Mas não o pôs. Voltou ao espelho e confirmou que sim, que era ela. O que ali estava era ela e, mais coisa menos coisa, seria aquilo que ele veria. “Ele nunca vai gostar de ti, pois não?” Os cantos da boca desceram-lhe e deram-lhe ao rosto a idade que tinha. De novo para o quarto, correu as cortinas e viu que estava sol. À porta de casa pegou nas chaves, saiu, trancou a fechadura e pensou: “Vou vê-lo”.
Abriu a porta e não lhe apeteceu acender a luz. Dentro de casa era também de noite, como lá fora, e ela não sabia onde lhe apetecia estar. Ou até sabia mas sentia que de pouco lhe servia o conhecimento.
“Tenho medo. Tenho medo de quê. Tenho medo de tudo. Se calhar o que ele me disse... Quando me pôs a mão no ombro...” Com a mão encostada à parede do corredor, caminho no escuro até ao quarto. Deixou cair a carteira no chão, tirou os sapatos e deitou-se na cama. “Porque é que eu não lhe digo? Porque é que ele não me diz? E dizer o quê? O que é que eu quero? Tenho vontade de lhe tocar. Tenho medo. Quero-o. Se fizéssemos amor ficava com nojo dele e de mim. Ou só de mim. Ficava com nojo do gesto. Fico sempre. Tenho medo. Queria puxá-lo para mim e ter os braços dele à minha volta. Dar-lhe beijos. Beijos, beijos, beijos, beijos... Ele não quer. Ele não deve querer. Eu não lhe digo. Eu não lhe toco. Quando toco tenho medo. Cheiro a medo. Eu quero vê-lo.”
Levantou-se e voltou ao espelho, desabotoando a blusa no preciso momento em que o marido metia a chave à porta.