domingo, abril 23, 2006 |
sexta-feira, abril 21, 2006 |
PESADELO
Nos pesadelos, o terror é uma qualidade das coisas. Não existe, no universo onírico, uma relação obrigatória entre o medo que o sonhador sente e eventuais características ameaçadoras ou terríveis dos objectos sonhados. O sentimento de medo é simplesmente um atributo das coisas. Assim, uma sala, um copo, uma jarra ou uma pessoa simplesmente sentada, podem infundir medo extremo no sonhador. Isto é, o carácter monstruoso pode surgir associado a objectos e situações neutras no contexto da vigília. Esta observação não é original e por exemplo, J. L. Borges no texto de uma conferência sua, discorre sobre este tema. Diz, a certa altura, que na cultura anglo-saxónica a própria palavra que expressa o pesadelo – nightmare – se associa a um animal benigno, a égua (mare). É a horrenda égua da noite, o pesadelo opressor. Se o pesadelo foi intenso e a sensação persiste muito tempo depois de acordado, o sujeito pode transferir definitivamente a emoção associada, em sonho para as entidades correspondentes quando acordado. Por força de sonhar com eles, Borges achava particularmente monstruosos os espelhos, pois duplicam o sujeito. E a ideia do duplo, um potencial usurpador daquilo que é intimamente mais nosso, nós próprios, perturbava-o, diz. Sonhava com espelhos muitas vezes e evitava-os enquanto acordado. Estes objectos obcecam frequentemente o sonhador. Teme-os mas procura-os. Talvez se intua que a discrepância entre a real qualidade neutra do objecto e a desproporcionada emoção que se lhe associa é, de algum modo, profundamente significativa para o próprio nalgum nível da existência. Tais filões exploram os psicanalistas, os místicos e os filósofos que se ocupam do Significado. Lembro-me do estado de terror puro que, nos meus pesadelos, diversas figuras estáticas e silenciosas me causam de tempos a tempos. Simplesmente observam e estão ali. Ás vezes outros me acordavam, pois ouviam-me gritar. O degrau seguinte no medo sonhado surge se o objecto aterrorizador é o próprio sujeito. Reparemos que, no sonho, o sujeito muitas vezes é também sonhado(transfigurado é certo), isto é auto-representa-se no sonho.Raras vezes é apenas a testemunha da acção. O simples sentimento de Si, o corpo ou partes do corpo adquirem o carácter terrível. Aqui o medo é correlativo da próprio-percepção em versão onírica. Uma comparação a este sentimento surge no popular livro do neurologista Oliver Sacks (o autor de “Despertares”). Este descreve casos de pessoas que acordam aterrorizadas com a sensação (ou até a convicção) de que uma parte do seu corpo, uma perna, por exemplo, não lhes pertence. Que lhes foi malevolamente enxertada ao corpo enquanto dormiam e tentam, em pânico, livrar-se dela. Neste tipo de pesadelo, pode ou não existir uma auto-repulsa declarada explicitamente. No meu caso, esta noite, tudo em que tocava esboroava-se irremediavelmente. Tudo, todos os objectos familiares, apresentavam a fragilidade de algo já muito seco e muito velho. A roupa, o pão, os talheres, as portas, o relógio. Tal fenómeno também não é original e ocorre, por exemplo na novela Ubik de P.K. Dick em que os personagens passam, a certa altura, por uma experiência análoga. Neste livro, após um acidente fatal (uma bomba) alguns personagens vivem interiormente num mundo virtual de semi-morte: o processo da morte é artificialmente suspenso no momento em que ocorre e persiste a vivência mental interior. (O processo é revertido temporariamente por um spray chamado Ubik). A dúvida era se era eu que causava a decrepitude instantânea das coisas, ou por alguma razão, tinham elas adquirido essa terrível qualidade. Eu era uma espécie de Midas negro e destruidor, potenciando aceleradamente a velocidade da inexorável e normalmente mais lenta, segunda lei da termodinâmica. Com a passagem do tempo, tudo tende inevitavelmente para a desorganização, que é também o estado mais provável e o destino de tudo. E eu catalizava de forma hiperbólica essa inevitabilidade simplesmente tocando. Fiquei quieto sem tocar em nada. O chão, estranhamente persistia em nome de alguma consistência das frouxas leis da Física dos sonhos. Aterrorizado, não sabia se era eu o repulsivo causador disto ou se tudo em redor, tinha adquirido tal qualidade monstruosa. Talvez o Tempo, a variável fundamental da segunda Lei, se tivesse acelerado vertiginosamente. Uma espécie de avaria no tecido cósmico da Realidade que se produzia, terrível, pelo menos, na minha cozinha. Salvou-me esta dúvida e acordei. Mas a intranquilidade persiste ainda.
terça-feira, abril 18, 2006 |
BESTIÁRIO: I – A Braquiárpia
A braquiárpia surgiu ontem nas costas de um envelope usado. Uma quimera volátil, um desenho distraído. Baptizei-a como Brachyharpia casparii e surgiu de repente. Avistei-a pelo canto olho e deixou-me vagamente inquieto. Trazem significados simbólicos os rabiscos feitos ao telefone? Têm, se forem enredar-se no pomar de algum beato angélico, no livro de notas de algum alquimista ou no bestiário de mitos colectivos de Jung. Mas num envelope usado ao lado das nossas flores murchas? Tinha ainda na cabeça o pulsar irregular e urgente de um coraçãozinho no CTG, que ouvira meia-hora antes. Uma espécie de vivo mantra eléctrico. Divago sobre a respiração sânscrita do cisne ou cósmica e animal afirmação do Ser. Sobressalto ligeiramente com a banal sensação de estar simplesmente à espera. Na sala, juntou-se a nós um desconhecido já familiar. Cento e vinte, cento e trinta, quarenta, sessenta, outra vez cento e trinta, cento de sessenta… Estou em silêncio e só há aquilo; o olhar dela e um vestígio de inquietação. Ondas alfa ou cansaço. De repente, chamam-me por trás do ombro ou dentro da cabeça. Onde está… o quê? Pareceu-me e indago brevemente, mas não era nada. Nos meus cinco minutos no sofá, procurei sincronicidades ornitológicas, mas não foi por aí que veio. Nas costas do envelope, veio a antes a braquiárpia, que é um mensageiro e um lapso. Um soluço mental ou uma fresta. Tem alguma coisa de coruja a velar pelo sono vígil e pelo sonho que se esboça, de pavão e de miniatura de grifo. Mas é também uma cegonha pois traz nas garras, um bebé.
quinta-feira, abril 13, 2006 |
JESUS CRISTO ESCREVE UM NOVO LIVRO
Jesus à espera de Alexandra Solnado, a sua secretária particular, para lhe comunicar felicitações pelo excelente trabalho editorial com o seu novo livro .
Quando um autor já consagrado edita uma obra deste fôlego, neste caso o escritor Jesus Cristo, ditado como habitualmente a Alexandra Solnado ESTE JESUS CRISTO QUE VOS FALA - A ALMA ILUMINADA - MENSAGENS RECEBIDAS DE JESUS, julgo que se justifica levantar um pouco a ponta do véu de tão aguardada obra. Recomendo portanto , a leitura de um post já antigo em jeito de making of, publicado num apócrifo blogue e que ilustra a estreita relação existente entre O Filho de Deus e a vidente/actriz/filha de um actor famoso, que surge agora como secretária particular do Redentor (e ainda titular dos direitos de autor pois existem dúvidas quanto à personalidade jurídica de Jesus), anotando judiciosamente os escritos do Mestre. Vem isto também a propósito da declaração recente do Vaticano, ser pecado a leitura demorada de jornais, páginas de internet e visionamento de televisão. Estes vem juntar-se à audição de música rock, já anteriormente considerada anti-cristã. Assim, os leitores mais perplexos que queiram consultar directamente Jesus Cristo acerca da procedência desta disposição do Vaticano, contra uma módica contribuição certamente,também poderão agora fazê-lo facilmente por intermédio de Alexandra Solnado. Trata-se de uma obra imprescindível e fácil leitura pelo público em geral.
Jesus à espera de Alexandra Solnado, a sua secretária particular, para lhe comunicar felicitações pelo excelente trabalho editorial com o seu novo livro .
Quando um autor já consagrado edita uma obra deste fôlego, neste caso o escritor Jesus Cristo, ditado como habitualmente a Alexandra Solnado ESTE JESUS CRISTO QUE VOS FALA - A ALMA ILUMINADA - MENSAGENS RECEBIDAS DE JESUS, julgo que se justifica levantar um pouco a ponta do véu de tão aguardada obra. Recomendo portanto , a leitura de um post já antigo em jeito de making of, publicado num apócrifo blogue e que ilustra a estreita relação existente entre O Filho de Deus e a vidente/actriz/filha de um actor famoso, que surge agora como secretária particular do Redentor (e ainda titular dos direitos de autor pois existem dúvidas quanto à personalidade jurídica de Jesus), anotando judiciosamente os escritos do Mestre. Vem isto também a propósito da declaração recente do Vaticano, ser pecado a leitura demorada de jornais, páginas de internet e visionamento de televisão. Estes vem juntar-se à audição de música rock, já anteriormente considerada anti-cristã. Assim, os leitores mais perplexos que queiram consultar directamente Jesus Cristo acerca da procedência desta disposição do Vaticano, contra uma módica contribuição certamente,também poderão agora fazê-lo facilmente por intermédio de Alexandra Solnado. Trata-se de uma obra imprescindível e fácil leitura pelo público em geral.
terça-feira, abril 11, 2006 |
Francisco Goya e Iraque, 2004.
Sobre o “PRÓS E CONTRAS”de 10 de Abril de 2006
No debate de ontem no programa “Prós e Contras” comecei por achar espantosa a ignorância trauliteira da moderadora – Fátima Campos Ferreira, cuja ideia de jornalismo se pauta apenas por algo que se aproxima do circo – em que ela é certamente a palhaça – ficando-se por lançar provocações (e mesmo insultos) disparados aos intervenientes, tão só demonstrativos de que nem percebe o que se está a discutir, mas sobretudo fazendo alarde da sua boçalidade cultural, extrema indigência intelectual e impertinência. O debate, conduzido por ela, rapidamente perde qualquer norte ou coerência e descamba rapidamente no mais caótico desconcerto de assuntos irrelevantes e parasitas dos temas em debate. É simplesmente confrangedor. E certamente confrangido estava também António Barreto por se ver no meio daquela exibição atroz de incultura mediática e do qual, confesso, cheguei a ter pena. António Barreto viu-se na contingência de ser a única pessoa lúcida naquele circo de alarvidades e ter de ser ele a conduzir o debate. Interessa, no entanto, atentar no cardeal que fala naquela língua híbrida de palhaço rico, italiano e sotaque da beira alta mas sobretudo em João César das Neves. Confesso que fui, ao longo do debate passando do espanto á indignação, com o discurso retrógrado, conservador, inculto e intolerante do cardeal. Qual gato-com-o-rabo-de-fora, pensa ele que bastará entremear palavras como “tolerância” e “diálogo” no discurso obscurantista, roçando o nazi-fascista, para o tornar aceitável e politicamente correcto? Se este homem é representativo da actual elite intelectual da Igreja, devemos temer o pior. Coadjuvado por César das Neves e por um rapazes Opus Dei que estrategicamente lá estavam a “representar a voz da juventude”, ele representa um perigoso lobby. Existe um movimento oriundo da facção mais conservadora e fundamentalista da Igreja romana (ao qual o presidente da comissão europeia, Durão Barroso também já tem feito significativos recados, diga-se), que pretende apresentar como aceitável a introdução de uma componente teocrática na futura Constituição da Europa. Refiro-me à referência ao Cristianismo no futuro texto. Eivados da mais pura intolerância fundamentalista e secundado por académicos de pacotilha como César das Neves, proclama como “decadência de valores” e ataques de movimentos “anti-religiosos” aqueles que simplesmente tentam defender os valores civilizacionais do Iluminismo, conquistados desde a Revolução Francesa. Refiro-me ao respeito mais elementar pelo direito à liberdade pessoal de pensamento e opinião e à separação social das esferas da Moral, da Religião e do Estado. Como todos os conservadores, não reconhecem aos outros o direito à diferença (“eles”, segundo a expressão literal usada profusamente no debate para se referir às outras confissões ou grupos sociais não-católicos conservadores), mas mais, se acha no direito de tentar impor a sua particular mundo-visão. Ele e César das Neves fizeram-no, tentando branquear descaradamente com o folclore mais primário do politicamente correcto, esta ideia prepotente e perigosa de retrocesso a um Estado fortemente teocrático. Por um lado, temos as pessoas sem religião e cultores de valores como a liberdade de expressão e que defendem veementemente o direito alheio à diferença intelectual (Isto disse-o classicamente Voltaire a um adversário, não foi?). Por outro lado, aqueles (como o Ratzinger, por exemplo) que defendem que existe ausência de valores e mesmo de Verdade fora da esfera do fundamentalismo católico, relegando os Outros, quiçá, a almas perdidas a conquistar ou a seus adversários algozes iconoclastas e jacobinos. São aqueles que insistem na separação do Estado e da Igreja, que defendem o direito ao aborto como uma questão de consciência individual, que defendem uma noção fléxivel de núcleo familiar, a liberdade de expressão cultural, a integração efectiva dos emigrantes, etc. e são enfim, democratas.
Tenho frequentemente a sensação – e este debate é apenas uma dessas ocasiões – que a oposição entre democratas, com ou sem religião professa, defensores do livre-pensamento (não os conoto necessariamente com a Esquerda apenas) e conservadores obscurantistas católicos não tem solução pela via do diálogo. Dever-se-ia persistir no combate pelo direito a uma visão plural, alargada e de respeito mútuo pela diferença. Para tal há que repelir – tão só isso – aqueles que a põe em causa em nome de valores parciais e metafísica. Tendo pensar que é correlativa com a condição dos últimos, a pequenez cultural e intelectual (também desconfio que não exista Cultura na Direita). Não faço a equação católico = pessoa taquenha e estúpida, pois isso é redutor, injusto e obviamente é pecar da mesma atitude que ora desprezo, mas refiro-me evidentemente à facções fundamentalistas católicas que bem acompanhadas de integristas de outras confissões ficariam entre iguais na atitude de terrorismo cultural que começam a praticar á descarada. Exemplos são: defender o Terrorismo de Estado contra o Terrorismo, a restrição de liberdades como meio de controle do risco de atentados, a conotação simples do terrorismo como um mero problema de oposição entre religiões auto-proclamando-se assim os cavaleiros defensores da ideia da Europa e de Ocidente. É uma falácia óbvia. Os seus intentos são apoderar-se do Poder o mais que conseguirem. E com o beneplácito dos cidadãos europeus. A sua acção é, pelo contrário, contra a Civilização Ocidental, pois preconizam, para que nos defendamos do terrorismo inegrista islâmico, um retrocesso inaceitável e que deixemos cair os mesmos valores que nos definem.
Estes homens e mulheres ensinam nas nossas universidades, escrevem nos nossos jornais, falam nas nossas televisões, gerem o nosso dinheiro nos bancos. E fazem-no cada vez menos “por baixo do pano” do regime democrático. Fazem-no cada vez mais sem oposição e mais impunidade. Malgrado um grau de passividade que já nos impede de ir insultar o fascistóide João César das Neves à porta do teatro Armando Cortez, por exemplo, há ainda quem manifeste lucidez e presença de espírito – valha-nos isso – em defesa de uma ideia de uma sociedade plural, solidária e justa: ontem á noite, foi obviamente António Barreto, claro.
sexta-feira, abril 07, 2006 |
O nham é
<------ aqui
Restaurante Gaúcha
Rua dos Bacalhoeiros, 26-C/D
Lisboa
terça-feira, abril 04, 2006 |
O g2 ensina:
Sopas de café com leite
½ litro de leite (meio gordo)
Um pouco de café já feito
Pão alentejano qb
Açúcar às carradas
Uma tigela grande
Uma colher
Aquece-se o leite até ferver, ou deixa-se mesmo ferver.
Enquanto decorre este processo de mudança de temperatura do leite, (assunto que, por si só, merece um post) tira-se a côdea ao pão e, mesmo à mão, partem-se pequenos pedaços que se põem na tigela. Por cima do pão deita-se açúcar às carradas.
Uma vez o leite fervido (vamos seguir a alternativa “leite fervido” em vez de “leite aquecido”), deita-se este por cima do pão e do açúcar, seguido de um pouco de café. A quantidade deste tem a ver com os gostos: mais ou menos escuro.
Mexe-se tudo bem com a colher.
Come-se com concentração, não se comem sopas de café com leite como quem come um hamburger.
½ litro de leite (meio gordo)
Um pouco de café já feito
Pão alentejano qb
Açúcar às carradas
Uma tigela grande
Uma colher
Aquece-se o leite até ferver, ou deixa-se mesmo ferver.
Enquanto decorre este processo de mudança de temperatura do leite, (assunto que, por si só, merece um post) tira-se a côdea ao pão e, mesmo à mão, partem-se pequenos pedaços que se põem na tigela. Por cima do pão deita-se açúcar às carradas.
Uma vez o leite fervido (vamos seguir a alternativa “leite fervido” em vez de “leite aquecido”), deita-se este por cima do pão e do açúcar, seguido de um pouco de café. A quantidade deste tem a ver com os gostos: mais ou menos escuro.
Mexe-se tudo bem com a colher.
Come-se com concentração, não se comem sopas de café com leite como quem come um hamburger.