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Vareta Funda

O blog dos orizicultores do Concelho de Manteigas


terça-feira, abril 11, 2006



Francisco Goya e Iraque, 2004.


Sobre o “PRÓS E CONTRAS”de 10 de Abril de 2006


No debate de ontem no programa “Prós e Contras” comecei por achar espantosa a ignorância trauliteira da moderadora – Fátima Campos Ferreira, cuja ideia de jornalismo se pauta apenas por algo que se aproxima do circo – em que ela é certamente a palhaça – ficando-se por lançar provocações (e mesmo insultos) disparados aos intervenientes, tão só demonstrativos de que nem percebe o que se está a discutir, mas sobretudo fazendo alarde da sua boçalidade cultural, extrema indigência intelectual e impertinência. O debate, conduzido por ela, rapidamente perde qualquer norte ou coerência e descamba rapidamente no mais caótico desconcerto de assuntos irrelevantes e parasitas dos temas em debate. É simplesmente confrangedor. E certamente confrangido estava também António Barreto por se ver no meio daquela exibição atroz de incultura mediática e do qual, confesso, cheguei a ter pena. António Barreto viu-se na contingência de ser a única pessoa lúcida naquele circo de alarvidades e ter de ser ele a conduzir o debate. Interessa, no entanto, atentar no cardeal que fala naquela língua híbrida de palhaço rico, italiano e sotaque da beira alta mas sobretudo em João César das Neves. Confesso que fui, ao longo do debate passando do espanto á indignação, com o discurso retrógrado, conservador, inculto e intolerante do cardeal. Qual gato-com-o-rabo-de-fora, pensa ele que bastará entremear palavras como “tolerância” e “diálogo” no discurso obscurantista, roçando o nazi-fascista, para o tornar aceitável e politicamente correcto? Se este homem é representativo da actual elite intelectual da Igreja, devemos temer o pior. Coadjuvado por César das Neves e por um rapazes Opus Dei que estrategicamente lá estavam a “representar a voz da juventude”, ele representa um perigoso lobby. Existe um movimento oriundo da facção mais conservadora e fundamentalista da Igreja romana (ao qual o presidente da comissão europeia, Durão Barroso também já tem feito significativos recados, diga-se), que pretende apresentar como aceitável a introdução de uma componente teocrática na futura Constituição da Europa. Refiro-me à referência ao Cristianismo no futuro texto. Eivados da mais pura intolerância fundamentalista e secundado por académicos de pacotilha como César das Neves, proclama como “decadência de valores” e ataques de movimentos “anti-religiosos” aqueles que simplesmente tentam defender os valores civilizacionais do Iluminismo, conquistados desde a Revolução Francesa. Refiro-me ao respeito mais elementar pelo direito à liberdade pessoal de pensamento e opinião e à separação social das esferas da Moral, da Religião e do Estado. Como todos os conservadores, não reconhecem aos outros o direito à diferença (“eles”, segundo a expressão literal usada profusamente no debate para se referir às outras confissões ou grupos sociais não-católicos conservadores), mas mais, se acha no direito de tentar impor a sua particular mundo-visão. Ele e César das Neves fizeram-no, tentando branquear descaradamente com o folclore mais primário do politicamente correcto, esta ideia prepotente e perigosa de retrocesso a um Estado fortemente teocrático. Por um lado, temos as pessoas sem religião e cultores de valores como a liberdade de expressão e que defendem veementemente o direito alheio à diferença intelectual (Isto disse-o classicamente Voltaire a um adversário, não foi?). Por outro lado, aqueles (como o Ratzinger, por exemplo) que defendem que existe ausência de valores e mesmo de Verdade fora da esfera do fundamentalismo católico, relegando os Outros, quiçá, a almas perdidas a conquistar ou a seus adversários algozes iconoclastas e jacobinos. São aqueles que insistem na separação do Estado e da Igreja, que defendem o direito ao aborto como uma questão de consciência individual, que defendem uma noção fléxivel de núcleo familiar, a liberdade de expressão cultural, a integração efectiva dos emigrantes, etc. e são enfim, democratas.

Tenho frequentemente a sensação – e este debate é apenas uma dessas ocasiões – que a oposição entre democratas, com ou sem religião professa, defensores do livre-pensamento (não os conoto necessariamente com a Esquerda apenas) e conservadores obscurantistas católicos não tem solução pela via do diálogo. Dever-se-ia persistir no combate pelo direito a uma visão plural, alargada e de respeito mútuo pela diferença. Para tal há que repelir – tão só isso – aqueles que a põe em causa em nome de valores parciais e metafísica. Tendo pensar que é correlativa com a condição dos últimos, a pequenez cultural e intelectual (também desconfio que não exista Cultura na Direita). Não faço a equação católico = pessoa taquenha e estúpida, pois isso é redutor, injusto e obviamente é pecar da mesma atitude que ora desprezo, mas refiro-me evidentemente à facções fundamentalistas católicas que bem acompanhadas de integristas de outras confissões ficariam entre iguais na atitude de terrorismo cultural que começam a praticar á descarada. Exemplos são: defender o Terrorismo de Estado contra o Terrorismo, a restrição de liberdades como meio de controle do risco de atentados, a conotação simples do terrorismo como um mero problema de oposição entre religiões auto-proclamando-se assim os cavaleiros defensores da ideia da Europa e de Ocidente. É uma falácia óbvia. Os seus intentos são apoderar-se do Poder o mais que conseguirem. E com o beneplácito dos cidadãos europeus. A sua acção é, pelo contrário, contra a Civilização Ocidental, pois preconizam, para que nos defendamos do terrorismo inegrista islâmico, um retrocesso inaceitável e que deixemos cair os mesmos valores que nos definem.

Estes homens e mulheres ensinam nas nossas universidades, escrevem nos nossos jornais, falam nas nossas televisões, gerem o nosso dinheiro nos bancos. E fazem-no cada vez menos “por baixo do pano” do regime democrático. Fazem-no cada vez mais sem oposição e mais impunidade. Malgrado um grau de passividade que já nos impede de ir insultar o fascistóide João César das Neves à porta do teatro Armando Cortez, por exemplo, há ainda quem manifeste lucidez e presença de espírito – valha-nos isso – em defesa de uma ideia de uma sociedade plural, solidária e justa: ontem á noite, foi obviamente António Barreto, claro.

Arrotos do Porco:

Não assisti ao debate mas não me custa rigorosamente nada concordar com o teu relato

Também não tenho dúvidas em estar de acordo com as tuas posições

Mas...

associar o “sotaque da beira alta” à igreja - cardeal - discurso retrógrado, conservador, inculto e intolerante – etc

Não é um pouco –como dizer... – redutor?



Caro Papo,

Acho que te melindras sem razão no teu justificado orgulho altibeirense. Nessa passagem do texto, isso é referido circunstancialmente com o objectivo de compor a descrição do cardeal. Não é para ser lido como um facto em desfavor de nenhum dos sotaques que ele mistura, mas apenas para acentuar a estranha combinação de sotaque beirão com o ritmo do fraseado e acentuação italiana. Talvez algo maldosamente esteja implícito que essa é mais uma característica esquisita ou desagradável do senhor. É óbvio que não simpatizo com ele. Diria mesmo que ele me causa alguma repulsa. Mas isso digo. Tenho família na referida região e sinceramente aprecio muito a diversidade de pronuncias e variantes regionais do português do transmontano ao micaelense, sem desfavor de nenhum ou primado do meu próprio (Lisboeta gutural).



TAMBÉM O meu comentário era maldosamente “provocador” e escrever no “fio da navalha” entre o mordaz o caricatural o crítico e o sério pode-se facilmente escorregar para o campo que se critica (o que não tem que ser o teu caso)

Acima de tudo era uma provocação





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