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Vareta Funda

O blog dos orizicultores do Concelho de Manteigas


sexta-feira, março 14, 2008


Se não estivesse a chover, eu estaria a caminhar. Uma opção como outra qualquer, a de caminhar. Ou assim seria, se não estivesse a chover. A chuva não é um imponderável mas é incontornável. E bem vinda, ainda que me impeça o caminhar. Não que seja esta água que cai a tolher-me os passos; é a ideia da chuva – e se ela cai!… - que me prende em casa.

Chove; estou em casa. O “ponto e vírgula” faz sentido porque se tornam duas ideias conexas, estas de chover e de eu estar em casa. Ouve-se chover, lá fora – o que implica estar dentro e implica estar a chover. Implicância minha, que a chuva – tadinha… - de pouco ou nada tem culpa. Como eu. Como tu. Haverá porventura outro conceito mais estúpido que o de culpa mas não me ocorre, de momento. Até porque chove e, ao chover, poucos são os conceitos que se não dissolvem. Pois se até o caminhar se dissolve…

Não se dissolveria o amor, não fora o caso de estar já dissolvido. O conceito menos que a palavra – mas ainda assim… Triste prostituição, esta do amor. É preciso uma certa bravura, hoje em dia, para usar a palavra sem cair no ridículo. Sempre pensei do ridículo ser cama mais macia que as pedras da calçada – mas ainda assim… Cair por cair, que caia a chuva que me faz não caminhar. O amor… o problema é encará-lo enquanto substantivo. Não é grande, o problema; é só estúpido. E o verbo, ainda será alternativa? Talvez… “Eu amo” ainda implica uma certa responsabilização, mais por parte do “eu” que por parto do “amo”. Mas tudo isto soa a nada, a esferas fora da linguagem, a qualquer nada como “eu chovo”. A chuva não requer tradução nem explicações – cai; não sou eu que a entorno. Quando cai em mim, não exclamo “está a chover-me!”, nunca me aproprio dela na linguagem. Porque raio nos haveríamos de apropriar do amor?… Mesmo se nos limitarmos a generalidades: imagine-se uma mãezinha tricotando com desvelo umas botinhas de lã para a sua menina; pergunte-se-lhe “o que está a fazer?” e inquira-se que sentido teria – por mais sincera que fosse – se a mãezinha respondesse “estou a amar”… e provavelmente estará mesmo, mas não bate a bota com a perdigota neste desencontro entre a dignidade e a beleza de uma condição e a indignidade dos sons e da grafia que a tentam representar. Crie-se um grupo de trabalho e plebiscite-se nova linguagem! Eu, assim como assim, vou ver cair a chuva e vou não caminhar com empenho.

Arrotos do Porco:

Oiça, Senhor da Vareta Funda: acaso o senhor está apaixonado?! Acaso ama e não quer assumir, ou tem medo de assumir e, por isso, fica em casa enquanto chove, implicando consigo próprio?!

Se ama, ame e mai'nada! Porque, acredite, Senhor da Vareta Funda, o amor é lindo.

ai... ai.... (Suspiro)



e olha vareta que nosotros no podemos llover, como mucho podemos llorar

pero si podemos amar y

amamos claro!





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