quarta-feira, janeiro 16, 2008 |
Tardia e pungente declaração de amor à Manuela Lopes
- à Martita e ao Puto, que sabem tudo ser verdade
Estávamos no nono ano, Manuela; eu com orelhas de abano e tu num lugar à janela numa carteira delapidada, o sol delineando-te o perfil na sala de aula atravancada. Estávamos no nono ano, Manuela; e tu gostavas de brincos de plástico em forma de talhada de melancia. Estávamos no nono ano e um certo rigor monástico, uma certa placidez bovina que dos teus olhos transparecia juntava-se à graça equina do teu nariz oleoso. Pontes, chumbos, um dente podre bem vistoso quando Manuela sorria – usavas saia pelo joelho, botas pelo artelho e o teu namorado tinha um Seat Ibiza vermelho. E eu, eu nem uma pizza te podia pagar na Bela Itália... nem um bolo de bolacha no snack-bar Cristina – existência prístina, espartana, remediadas solas de borracha no meu errar pelas ruas da cidade nabantina. Estávamos no nono ano, Manuela; e a Isabel Martins deu-te “um”. Engano, por certo; inferências ruins – sentada à janela tu bem lhe disseste que trabalharas para o “dois”. Reprovaste; e depois?... Atalharas caminho na matemática escolar; serões nos Brasões e visitas a Tomar era agora o que te esperava... Manicura e estética teórico-prática; mão segura nos cortes de cabelo e na mise de rolos – e o dente podre fincando-se em bolos; amuletos, Sete-Estrelo, sorte prá vida, saúde na pele e no pêlo... Manuela cabeleireira depois do nono ano. E eu? E eu e as orelhas de abano?... Recordo o teu ar ensosso, o teu esgar de permanente azia, teu corpo de menos carne e mais osso e a merda dos brincos-melancia... – quando não eram argolas da Matutano!... Eras boçal e tremenda; crente n’O Amor e uma Vivenda; voz gutural e aos repelões, rainha do Centro Social dos Brasões... Naquele nono ano não tiveste a escola toda... passados quase vinte anos pergunto-me se ainda terás quem te f...
- à Martita e ao Puto, que sabem tudo ser verdade
Estávamos no nono ano, Manuela; eu com orelhas de abano e tu num lugar à janela numa carteira delapidada, o sol delineando-te o perfil na sala de aula atravancada. Estávamos no nono ano, Manuela; e tu gostavas de brincos de plástico em forma de talhada de melancia. Estávamos no nono ano e um certo rigor monástico, uma certa placidez bovina que dos teus olhos transparecia juntava-se à graça equina do teu nariz oleoso. Pontes, chumbos, um dente podre bem vistoso quando Manuela sorria – usavas saia pelo joelho, botas pelo artelho e o teu namorado tinha um Seat Ibiza vermelho. E eu, eu nem uma pizza te podia pagar na Bela Itália... nem um bolo de bolacha no snack-bar Cristina – existência prístina, espartana, remediadas solas de borracha no meu errar pelas ruas da cidade nabantina. Estávamos no nono ano, Manuela; e a Isabel Martins deu-te “um”. Engano, por certo; inferências ruins – sentada à janela tu bem lhe disseste que trabalharas para o “dois”. Reprovaste; e depois?... Atalharas caminho na matemática escolar; serões nos Brasões e visitas a Tomar era agora o que te esperava... Manicura e estética teórico-prática; mão segura nos cortes de cabelo e na mise de rolos – e o dente podre fincando-se em bolos; amuletos, Sete-Estrelo, sorte prá vida, saúde na pele e no pêlo... Manuela cabeleireira depois do nono ano. E eu? E eu e as orelhas de abano?... Recordo o teu ar ensosso, o teu esgar de permanente azia, teu corpo de menos carne e mais osso e a merda dos brincos-melancia... – quando não eram argolas da Matutano!... Eras boçal e tremenda; crente n’O Amor e uma Vivenda; voz gutural e aos repelões, rainha do Centro Social dos Brasões... Naquele nono ano não tiveste a escola toda... passados quase vinte anos pergunto-me se ainda terás quem te f...
Arrotos do Porco:
Xiii. Fizeste-me lembrar da Maria João. Nem lhe conseguia dirigir a palavra. Mas depois, passado uns anos, vi-a gorda que nem uma mongoloide a trabalhar numa padaria. Se resquícios houvera dessa paixão do nono ano, passaram-me logo. Jesus... |
A mim fez-me lembrar do Pulguinhas, um pretendente que eu tive na escola primária. Era gordo e badocha e dava-me pastilhas elásticas. No recreio juntávamo-nos sob o olhar plangente da professora... Acho que hoje é bombeiro lá em P.Sôr. |