sábado, agosto 18, 2007 |
O meu Agosto não tem praias com areia branca nem o cheiro a preguiça (uma espécie de suor misturado com carvão e cerveja morta) que se evola das férias. O meu Agosto não tem gajas em bikini nem barrigudos em manga cava. Não há famílias em sesta no pinhal. Não há carros de bombeiros a acelerar para combater fogos florestais. O meu Agosto, do Verão, só tem um calor pesado e inclemente - e um coro frenético de cigarras que se ouve por todo o lado. Que é como quem diz: o meu Agosto é bonito, como o vosso, mas de maneira diferente.
Todas as cidades que trabalham ficam lindas em Agosto. Há um suspiro de alívio físico que parte das ruas, dos prédios, de todo o lado - e há um espanto renovado por isso, como se não se passasse o mesmo todos os anos.
Ontem caminhei quatro horas, entre Tamachi e Gotanda, com vários desvios pelo meio (dá sempre um ar chique, isto de meter referências geográficas pelo meio que fazem pouco sentido para quem lê...). Caminhei ao lado de alguém que também não tinha pressa. Nesta cidade, neste micro-mundo, caminhar parece quase uma transgressão - e será, porventura; é, pelo menos, a melhor forma de testemunhar que há cantos estranhos onde patos, morcegos, insectos e carpas ainda resistem porque querem resistir. Não são jardins nem laguinhos; são becos que dão para canais acimentados, cursos de água que ainda não se conseguiram extinguir. Caminhámos depois de uma exposição de um senhor que passou largos meses a fotografar cavalos e que nos disse que "os cavalos o tinham ensinado uma nova concepção, mais larga, do que é a vida" - descontado o pretensiosimo de quem clama ter aprendido tal coisa, é uma declaração sábia na humildade: nós, enquanto espécie, o mais que conseguimos ensinar às outras limita-se a "senta", "rola" ou "dá a patinha"...
O meu Agosto é bonito. Não há sal nos lábios nem areia nos sítios menos próprios - há molho de soja num pratinho e tremores de terra (um mesmo agora, enquanto escrevo), e um conforto grande e miudinho que existe porque quer existir.
Arrotos do Porco:
Muito bom dia, Senhor da Vareta Funda. Bom dia vara. Este meu Agosto também se revela diferente, pesado, um ar húmido a que não estava habituado. Um abraço para ti, Senhor da Vareta Funda (Eu, de óculos escuros) |
olá Vareta o meu agosto pios não é assim tão bonito, pero tambien hay terremotos, calor, y até japos (gajas) y estoy en el Este no es tan exagerado como ahi, pero assim humildemente tamben tenemos de todo y el todo, es relativo |
Ó Tokyo eyes, belos textos! E com que belas frases foste já mimoseado! Pois a mim apenas me disseram que sou um freak, mas um freak inofensivo, e doutra vez chamaram-me profiterole (bonito por fora e oco por dentro) desfiz-me em baba!!! Cumprimentos a toda a largura para ti e para a prole do VF - designada nas caixas de comentários por vara ass: a degeneração blogosférica previamente conhecida por Língua Morta. "Sou eu, não tenhais medo!" |