segunda-feira, abril 23, 2007 |
Abril, mês de doutrina...
Sermão aos peixes - vol. 1
De como se tornou chique falar mal de...
Michael Nyman
Qu'isto já se sabe - é tal e qual como os gases... Vão-se juntando todos na tripa e de repente é propulsão a níveis inimagináveis. As modas vão tal e qual - e mal de quem cai nelas. E o pobre do Michael caiu.
Nem foi bem ele, coitadinho. Quis o destino que toda a gente achasse muita piada à Holly Hunter a tocar piano - claro: mulher mais ou menos vistosa, muda, a tocar piano e dada aos calores... que homem não sente uma certa empatia por esta ideia? - e à música que ela tocava. De quem era a música? Ora "diz que é um senhor já meio antigo que escreve umas cantigas para filmes e música assim esquisita, tipo tiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiii tiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiii pim pim pim tiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiii". E assim se descartava, entre a populaça ígnara e com má dentição, toda uma vida de trabalho do que é, apraz-me dizer, um dos nomes maiores da música do século xx - e do xxi também, que eu não sou propriamente famoso pela prudência.
Atentai no que eu vos digo, que eu não duro sempre e falo pouco: sem vaca não há bife; sem Nyman há música mas não é tão boa. Ante um aforismo deste calibre, cumpre-me explicá-lo um bocadinho - e só um bocadinho porque isto é quase poesia e já se sabe que poesia explicada deixa de o ser. Nyman é um compositor de excepção ainda que sem ser absolutamente excepcional. É o carma do compositor contemporâneo - e é bem tramado. Só se deixa de ser contemporâneo uns bons anos depois de morrer - e só se passa a ser excepcional quando, um ou mais séculos depois, se verifica que a sua herança estilística, tímbrica, rítmica perdura ainda nas obras de outros. E eu já não vou estar cá para ver mas cheira-me que sim, que a do Shô Nyman vai.
Isto, claro, isto se levarmos de vencida vários adversários:
- o despautério dos mortos de fome (leia-se outros compositores contemporâneos) que se assanham contra quem vende mais de seis cópias de um disco;
- a afronta de meia dúzia de "opinion makers" que, por causa de Nyman, foram à Wikipedia ver o que raio era "música contemporânea" e de lá sacaram as habituais armas de arremesso - "Nyman? Pfff... É um Ligeti adocicado. O trabalho dele para piano é Cage sem talento; para orquestra é um roubo descarado à música antiga - Pourcel, Dowland, Mozart... uma vergonha!"
- os toscos do costume - "aquele cd d'O Piano era giro; depois ouvi outro que era uma seca e os outros eram todos iguais"
- os selectivos atrofiados - "qu'ele só resulta bem com o Greenaway... quando ele se vende para outros projectos sai sempre merda"
- os desconhecedores - "Michael quê? É o guitarrista dos Genesis?"
Nyman é um senhor. Escreve música e escreve bem. Sem ele não teríamos tanta gente que redescobriu que havia "outra música" e se pôs a escrevê-la também. Olhem "para casa" - que seriam The Gift ou Rodrigo Leão, para citar os mais óbvios, se não tivessem ouvido Nyman? Diferentes, pelo menos. E provavelmente mais iguais aos outros.
TPC: ouvir em repeat "All imperfect things", de O Piano, pelo menos 50 vezes. Depois parar e perceber a ironia do título.
Arrotos do Porco:
A nota intelectualóide: e o Simeon Ten Holt? 'Canto Ostinato' para 4 pianos? E o Steve Reich e o Terry Reiley e mesmo o Wim Mertens? A musica ficava mais pobre mas era só um bocadinho, desculpa lá, pá. Toshiba e Tiri Te Kanawa e Abraço e sayonara para ti! |
Tristeza do caralho! URSOS DO CARALHO! Vou de VRRRUUUUUUMMMMMMM... e só volto daqui a muitos dias BIBA O 25! BIBA A LIVERDADE! BIBAM OS FERIADOS E MAISAS PONTES E E AS FÉÉÉEEEEEEERIAS..........! VRRRRUUUUUUMMMMMMMM! DE CONA! (VêDê, haveis de dizer porque não se consegue conamentar no seu belogue?) |