terça-feira, fevereiro 13, 2007 |
A SLIGHTLY EROTIC WET DREAM
Á noite, algures entre dormir e a vigília, começou por sentir o odor forte da folhada molhada – uma espécie de mofo ácido ligeiro - o silêncio abafado, a sua respiração e o sangue a fluir surdo nos tímpanos; o ar húmido em golfadas curtas e a roupa colada ao corpo. Arrepios de calor e o suor nas pálpebras. Durante horas não vislumbrou uma clareira por onde entrasse o céu e ter de afastar constantemente os ramos do caminho começou a incomodá-lo. Os pés molhados nas grossas botas acentuavam esse vago desconforto. Agora, na beira duma escarpa, tanto quanto o nevoeiro deixava ver às vezes, vislumbrava-se um fundo vale verde-escuro e a encosta densamente arborizada em frente. Cascatas caíam de alturas em silenciosos fios longínquos verticais sobre paredes verdes. O carreiro perdia-se por entre árvores, pequenos canais de água corrente, as muitas frondes de fetos e paredes de musgo. Uma ténue ansiedade quase insensível assomava-lhe a garganta se durante muito tempo fosse só a mata o seu único horizonte. Qualquer sinal de acto humano, sugerido que fosse e que pontuasse o verde incandescente, amainava por momentos a inquietude e o prazer da solidão. Numa curva escura uma velha ponte de pedra verde e escorregadia de musgo. Um vale que começava mesmo ali: um beco de pedra e plantas e uma cascata. Sentou-se e lembrou-se daquele outro sítio com uma fonte e com um pequeno lago circular talhado na pedra. Quatro pequenos canais em direcções cardiais – os quatro rios do Paraíso – e um banco de pedra e silêncio. Uma vaga construção onírica, desejo, melancolia e prazer. Aqui não precisou de fingir consigo próprio e despiu camadas como a cebola e a cabeça ficou vazia, sem pensar ou categorizar; e ajeitou a almofada por baixo da cabeça, esticou as pernas para a parte fresca dos lençóis e sentiu o coração leve; abriu as pernas da mulher, sentiu-lhe o odor da folhada, o nariz e os lábios tocaram-lhe os pelos que eram as folhas dos fetos, lambeu a parede da cascata que soube a terra e a um agridoce visco muscinal. Ela gemeu baixinho e na densa floresta - junto á ponte - ele olhou para trás e um tronco rangeu. Uma mão estava na barriga dela que era a parede quente da cascata e um dedo penetrou devagarinho a parede de ervas e lama; ela mexeu os rins e levantou o rabo por momentos. Ela passou-lhe as mãos por entre os cabelos e benévolos ramos roçaram-lhe a nuca.
FIM
Arrotos do Porco: