quarta-feira, janeiro 03, 2007 |
Lições de Sabedoria Oriental, por Vareta Funda
Apesar de bem consciente de que o Tao não se ensina, confesso-me algo corruptível. Há duas coisas a que não digo não: uma boa posta mirandesa e ninfetas japonesas que me chamem “Mestre” e dirijam olhares de volúpia para o meu baixo ventre. E então se a ninfeta vem lavadinha por baixo e me traz uma posta mirandesa para depois do... bom; adiante.
Apesar de bem consciente de que o verdadeiro Tao inominável e inapreensível não se pode transmitir por palavras, quando me vejo perante um rebanho de gajas a puxar-me o atilho da yukata e a pedir-me por tudo “Mestre!; ensina-nos o caminho dessa grossa e forte rectidão que te faz tão respeitado!”, então aí fraquejo e abraço o princípio do confucionismo quanto à aprendizagem relacional.
Faço-o naturalmente, sem pensar e não o fazendo – que é como elas gostam mais, banhando-se na ilusão de que são elas que... bom; adiante – respondendo apenas ao Tao que ressoa no meu coração; o Tao que verdadeiramente se assoa no meu coração e a minha acção, que o não é, é mais nada que o sagrado muco tornando-se caminho. Não percebem? Melhor: deixá-las meias perdidas é que é bom, a ver se voltam à procura dos próximo capítulos... bom; adiante.
Os princípios que tento transmitir são uma herança, uma viagem ininterrupta desde os grandes sábios da China antiga até aos mestres Zen de hoje em dia, viagem essa que se projecta axiomaticamente à luz da sabedoria portuguesa de nomes como Bandarra ou Zandinga. Eu próprio não percebo isto muito bem mas disseram-me que é assim que se escreve nas teses de Doutoramento.
De maneira que, apesar de bem consciente de que o Tao é o Tao e eu sou burro como uma porta, lá vou tendo umas conversas que pretendem iluminar o caminho de algumas... de algumas... ehr... de algumas. Usa a ser assim:
“Certo dia estava Mestre Vareta pescando à linha no tanque de Ichigaya quando Keiko, sua discípula (chamo-lhes assim quando estou de bom feitio...), o interpelou: “Mestre”, disse ela, esfreg... bem: “Mestre, que virtudes devo eu possuir para me tornar num agente do bem neste mundo?”. Eu respondi: “Numa terra distante, chamada Castelo do Bode, havia um príncipe que gostava de besuntar a verga com comida para peixes de aquário, pondo-a depois “de molho” na barragem e esperando que os peixes viessem... hum... ehr... dar-lhe beijinhos, percebes? Nisto, num dado dia, há uma boga que lhe diz: “Ó príncipe, pá, ou bem que tu és menos somítico com a comida ou bem que te arranco essa merda à dentada.” O príncipe deu por si muito espantado e mais ficou quando um achigã lhe disse: “Não dês ouvidos a essa porca que eu, mesmo sem comida, abocanho-te isso tudo sempre que tu quiseres.” E no que foram águas calmas reinou profunda desarmonia e dissensão. O príncipe procurava o seu próprio bem, colocando-o objectivamente como o bem dos outros. Nenhuma verdadeira virtude pode ser procurada – se o for, ela será automaticamente o seu próprio antídoto – e não sentirás o doce sabor da harmonia mas apenas o fel do veneno e, quiçá, um valente esquentamento como o que aquele palhaço apanhou.” Keiko e o Mestre riram-se e ficaram amigos. Ela pôs-se de joelhos para o ajudar a mudar o isco e...”