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Vareta Funda

O blog dos orizicultores do Concelho de Manteigas


quarta-feira, agosto 23, 2006

Uma das canções da minha vida

Isto sim, isto é que era música, nos tempos em que havia respeito.

Arrotos do Porco:

meu querido
tenho estado a cantar esse espanto nos concertos do algarve

muitos beijos
:)



The End

Eu sei que está tudo à espera, mas, muito francamente -- e felizmente --, há mais vida para além dos blogues.

Aí vai: apertem os cintos, isto vai dar forte e feio -- hoje, cai-me tudo em cima, olé, olé!... --, "O Independente" acaba amanhã.
Antes de "O Independente", havia o "Expresso", cuja realidade oscilava entre as flatulências do Professor Marcelo e as dores de barriga do Júdice, onde a Cultura eram aqueles com quem o Alexandre Melo e a Clara Ferreira Alves já tinham ido, ou estavam para, ou ainda sonhavam, ir para a cama. Sobre tudo isso, pairavam os caprichos da Almôndega Semiótica, e sua dilecta concubina.

Por mais extraordinário que isto hoje possa parecer, quando esse semanário -- "O Independente" -- apareceu, ele veio representar uma poderosa e importantíssima fonte de oposição, em Portugal -- oposição, no sentido único em que eu o entendo: maturidade da Opinião Pública, ou seja, capacidade de, passo a passo, o cidadão poder entender até que ponto a sua realidade política, histórica, financeira, cultural e local eram verdades, ou puros objectos de ficção... e poder REAGIR.

Num tempo em que tudo se tornou ficção, obviamente, já não há espaço para quaisquer "Independentes".

Durante os seus anos de glória, dizer "Independente" era dizer "Paulo Portas", um dos melhores prosadores jornalísticos da nossa contemporaneidade.
Semana atrás semana, ele, e a sua equipa -- mas ninguém se lembrava da equipa -- transformavam a "période vache", que foi o I Cavaquismo, numa espécie de telenovela do "Jornal do Crime".
Ali se criaram e trucidaram mitos; ali se soube daquelas balelas que eram as fugas aos impostos dos ministros, a cunha explícita e implícita, o descarado desvio de Fundos, o nepotismo, o concubinato, a baixaria de saias fru-fru, as primeiras grandes ascensões de droga, no "Frágil" e no "Alcântara-Café", as alturas em que o Bonga rebentava as tias todos do Estoril, e mais as vidas porcas de algumas pessoas, o alpendre das traseiras do Arq. Taveira -- a longa metragem mais célebre de Portugal, que, apesar de nunca ter ido a Hollywood, Cannes, Veneza ou Berlim, e ter sido vista por uma escassa minoria -- o filme menos visto, mas mais comentado, em Portugal... -- recebeu tudo o que era óscares, leões de ouro, e até o Medalhão das Caldas, coisa que fez roer de inveja o próprio Manoel de Oliveira. Longas cenas estáticas, um sobe e desce de gajas com as caras meio desfocadas, para não se identificarem os focinhos dos maridos, uma pila miserável, tipo a do Marques Mendes, uma mãozinha a bater nas garupas e a dizer, "anda, anda lá...", uma profundidade de diálogos digna da Rita Ferro e da Margarida Rebelo Pinto. Que eu saiba, o Luís Miguel Cintra não apareceu no filme -- aparece em todos -- não por não querer, mas por o outro achar que aquela bunda tinha pelo a mais.

Adiante.

Leonor Beleza foi ali tratada abaixo de capacho, e nunca lhe perdoou. Outros tantos tiveram -- "forever and ever" -- a reputação destruída para sempre.
A coisa era tal que, num belo dia, o basbaque médio português confundiu o "Independente" com a Realidade, o que era igualmente falso: o "Independente" não era, senão, uma leitura, com bastantes tiques, de uma parte da Realidade, a realidade que convinha à multidão de gentes tortuosas que o utilizaram como rampa de lançamento, para se alcandorarem nalguns poleiros deixados vagos, por aquele permanente, e sem oposição, disparar de tiros aos pratos. Dali saltaram, dos que me lembre, para a Estratosfera -- alguns até os deixámos de ver... -- O célebre M.E.C. (Miguel Escreves um Nojo), o Pedro Paixão, a Inós Pobreza, e o próprio Portas, que, de brilhante prosador, acabou em lambe-botas -- "Miss Fardas" -- de quem lhas estendesse (As próximas -- se este dedinho que eu tenho aqui não me enganar -- vão ser as do Semanário "Sol").

O "Independente" -- também conhecido nalguns meios pelo "Intendente", vá-se lá a saber por quê, deve fazer parte da especialíssima má-língua que caracteriza o Português -- custava a fazer. A sua sede física -- "noblesse oblige" -- era no mesmo prédio do Cinebolso, ou seja, enquanto, em baixo, passava, em sessões contínuas, o "Taradas por Animais", o "Vaginas em Fúria" e o "Negros Insaciáveis", em cima, já se congeminava o novo mapa político, isto tudo à sombra do Cavaco, coitado, que já então vivia enfronhado naquele seu irremediável, e autista, provincianismo mental, sem saber, ou sem querer saber, que, à custa dele, à custa do contra-ele e do assim-assim, os piolhos grassavam por toda a parte.

Não há boa escrita sem um bom broche. Como dizia o Cesariny, à saída do Olympia, "como tu sabes, há dias em que me apetece escrever, outros, em que tenho vontade de fazer um broche". É um direito constitucional, lá posto -- deus me perdoe, escapou-se-me esta... -- pelo Jorge Miranda, "et pour cause..." E como não havia boa escrita sem um um bom broche, era..., fazia..., foi... História, aquele frenesi das quartas-feiras, quando as "bombas" da edição de sexta já tinham sido todas artilhadas, ver a a "Doida" descer do seu gabinete editorial, para mamar na primeira coisa grossa que lhe aparecesse pela frente, e havia alguns excelentes -- hoje extintos -- enrabadouros, punhetórios e brochanários, nas vizinhanças: ele era os sanitários do Fórum Picoas, sobretudo os do primeiro andar, hoje fechados a cadeado, tais eram as frequências e as visitas das celebridades, e menos celebridades, que lá iam, onde havia gente gentil que vigiava a porta, enquanto o brilhante prosador ajoelhava, perante um imigrante clandestino da Cova da Moura; ele era o w.c. da Rodoviária da Casal Ribeiro, onde não se podia entrar, porque as portas tinham, como em São Francisco, ou Bruxelas, ou Berlim, "glorious holes", buracos do tamanho de uma farinheira de Barcelos, por onde saía uma serpente tesa, que era chupada de fora, sem se ver a cara -- quantas vezes... felizmente... -- do seu proprietário; e os chichis do Cinebolso, ainda hoje, graças a um milage do I.P.P.A.R. e a uma intervenção directa da U.N.E.S.C.O., ainda em laboração: são dos poucos lugares do Mundo, onde, no corte feito na porta, em baixo, se costumam ver dois pares de pés, a mostrar como num mundo superpovoado ainda se pode fazer uma adequada gestão dos espaços públicos. A China tem mesmo muito a aprender connosco.

O "Independente" fecha amanhã. Também já não existia. É sua coveira uma chimpanza com mãos grossas e peludas, cuja única invenção, para o anedotário nacional, foi o célebre sósia do Carlos Cruz. Em resposta, o "Expresso", por sua vez, vai lançar um novo caderno, desta vez, já não sei dedicado a quê, talvez aos vãos de escada devolutos de Lisboa, e é coisa que se esgota em duas semanas.

Preocupante, no meio disto tudo, é que o grande jornalismo desapareceu, substituído pelo rame-rame de uma crónica diária dos interessese instalados, e daqueles dos quais ainda nem sequer suspeitamos, mas já estão à porta.

Como nada acontece por acaso, o "Independente" fecha as portas, justamente no momento em que o "Sol" se prepara para abrir a sua cripta e proceder à trasladação de uns ossos muito, muito, antigos.
Numa espécie de tsunami bacoco, não se espantem, pois, de ver muitos dos nomes que andaram a rodar pelo "Expresso", pelo "Público", pelo "24 Horas", pela "Visão", pela "Sábado", pelo "Jornal do Crime", pelo "Correio da Manhã", pelo "Diário de Notícias"... ah, sim, o rebotalho todo, mais a Clara Ferreira Alves, a Carrilha e o Portas, como subdirector, a emergirem no horizonte.
Vai ser um "Sol" muito especial, o sol dos Invernos da Lapónia, em que o divno astro não põe o nariz de fora do horizonte, durante seis meses.

"Black-out".

Preparem-se para polir o vosso castelhano, o inglês e o francês: doravante, até a informação iremos ter de importar.





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