quinta-feira, agosto 31, 2006 |
Isto da blogosfera está cheio de conversa que não interessa a ninguém. Se a gente fosse a fazer fé no que para aí vê, devia haver mais gente na T.V. sentada em mesas coloridas a largar dichotes para o ar que gente sentada em casa a vê-los porque não tem vontade de pegar no comando para mudar de canal. É só heróis e doutores e gente muito culta e lida e ouvida e organizada. Felizmente que há uns otários que ainda vão bulir de manhã para pôr o país a mexer, aqui como o Gonçalves, não é? Mas nós não somos bonitos, nem lemos aquele autor arménio que vendeu três livros, dois dos quais na FNAC de Santa Catarina, nem ouvimos aquele cantautor romeno que recuperou as tradições dos pastores do Baixo Volkgesteinschüarkgezut, actualizando-as com batidas que bebem da melhor tradição do blá-blá-blá e depois ninguém consegue ouvir aquilo. Entre a malta que papa as novelas e os gajos que sacam filmes afegãos sobre a gestão dos silêncios numa família em contexto urbano, quem é que fala do que interessa? Ninguém!
Ah, mas isso vai mudar tudo. Oh, se vai!
Ah, mas isso vai mudar tudo. Oh, se vai!
Arrotos do Porco:
Gonçalves, kamarada e amigo, a partir de hoje, eu também sou um Gonçalves. Chegará o dia, garanto-te, en que todos seremos Gonçalves. Abaixo os Marcelos! Ass: Gonçalves www.tapornumporco.blogspot.com |
Crónica dos péssimos exemplos por nós dados aos vindouros Pronto, a Festa já acabou, era altura de lá ir eu, adoro o fecho da alegria dos outros, quando todas as luzes se apagam, e apenas as sombras começam a divagar pelos muros. Confesso que foi mais a fome do que a curiosidade que me moveu: porque eu sei que, sempre que a Festa acaba, há nos latões uns coiratos óptimos, uns restos de côdeas de pão, umas latas ainda com um morno fundito de cerveja... O problema é a crise: quando eu pensava que ia ali estar sózinho, já se tinham instalado mais três cães, dois moldavos e uma velha recolectora, por acaso, com ar de gaja que tinha votado toda a vida no Salazar. Enfim, um arreganhar de dentes, um ladrar para um lado e para o outro, derrubámos os contentores, felizmente, havia lá comida para todos. Mesmo morta, a Festa do "Avante" ia fazer a felicidade e dar de comer a -- deixa-me cá contar... -- sete almas, do ponto de vista de S. Francisco de Assis; do ponto de vista da Opus Dei, uma alma e duas meias-almas, já que a velha, como salazarista, também devia ser católica, e os moldavos, como ortodoxos, só contavam por metade, enquanto eu e os cães nem sequer existíamos. Enquanto mastigava um coirato frio, pensei então naquela triste cena da televisão, a Marcela, mais o "homem sério" do Benfica, ao lado do Sérgio Godinho -- ilustre comentador futebolístico --, e do Jerónimo de Sousa. Só faltava ali o Pacheco Pereira, mas devia estar a escrever o último tomo da Biografia do Cunhal, o volume Além-Túmulo, onde ele comunica com o Comité Central através de pancadas de mesa de pé de galo... Na realidade, é por causa destas conexões transversais, deste permanente encosto ao que estiver a dar, e deste descarado cavalgar a onda que esta merda está como está e NINGUÉM, e quando digo NINGUÉM é um NINGUÉM mesmo raso, daqueles profundos, de um extremo ao outro, NINGUÉM os consegue arrancar de lá, porque todos se conhecem, e porque todos vivem de imensas e permanentes palmadinhas nas costas. Pedem-nos, em vida, que pratiquemos, uma política de separação de resíduos, mas, quando chega aquela típica hora de aflição, do salve-se-quem-puder português, é mesmo tudo ao molho, e fé em deus. Puta que os pariu!... |