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Vareta Funda

O blog dos orizicultores do Concelho de Manteigas


quarta-feira, maio 10, 2006





A TEOLOGIA QUÍMICA

Escrevi num transe durante seis dias, e o manuscrito tinha, depois de pronto, seiscentas e dezanove páginas. Foi uma espécie de escrita automática. Não fazia ainda ideia da natureza do texto que produzi naquela semana. A minha Teologia Mistica estava escrita, eu acredito, numa língua que não conheço – o grego demótico – e depois passei mais uma semana a traduzí-lo como um macaco em frente à máquina de escrever, ou seja sem saber o que fazia, batendo ao acaso nas teclas. Aparentemente tinha reproduzido, ao pormenor da vírgula, um texto de S. Dionísio Areopagita. Isto descobriu Timóteo sob a influência psicoactiva da Salvia divinorum, de uma dose tripla de Nembutal e uma lata de Patex ; e confesso que versado em línguas antigas era coisa que não imaginava que um segurança do Saldanha Residence fosse. Orgulha-se da sua glossolália crónica quanto volátil. Dizia-me que compunha poemas ora em minóico linear B, ora em acádico cursivo, ora em nabateu. Mas tomo-o por bona fide, pois não tenho mais a quem recorra neste assunto.Transcrevo aqui uma passagem deste texto que escrevi sob a influência de um cocktail do cogumelo Psilocibe cubensis (psilocibina), do cacto Lophophora wiliamsii (mescalina) e da liana amazónica Banisteriopsis caapi var. ovalifolia, rica em DMT. Ah, e ainda uns snifes de óxido nitroso, umas pastilhas de quetamina e um caldo que Líquido Coração. Tenho agora as minhas dúvidas se o texto é fidedigno, pois discrepâncias de estilo fazem-me suspeitar da autenticidade da minha recriação do discurso dionísico.

“Deus não existe, no sentido em que Deus é uma não-coisa; é impessoal e sem atributos, pois associar-lhe qualidades seria, por oposição aquelas antitéticas ou exclusivas das primeiras, reduzi-lo a um estado de finitude incompatível com aquele que é Uno, Absoluto e, enfim, tudo contém em Si mesmo. O Bem, o Belo e o Verdadeiro são atributos de um Deus, que por possuir assim personalidade, só pode ser, tão só, uma emanação menor do Divino, o Demiurgo das Escrituras. Assim como o Uno Absoluto se faz homem, a tempos, para se comunicar como Homem, também o Deus pessoal é Criador mas também criado. Por isso, o verdadeiro e absoluto Deus é inominável; por isso está imóvel e no entanto mas nada é mais célere que Ele. Através d´Ele escrevo estas linhas, vejo, ouço e penso os meus pensamentos. Através d´Ele correm os rios, ficam as pedras onde estão e cada ente na sua própria natureza. Ele é o substrato último do Ser, o Chão em que tudo assenta. No entanto, ele é o Vazio, o abismo da Vacuidade. Mesmo o Tempo, que criou ao ordenar a sucessão dos objectos, lhe é estranho, pois para Ele, os éons do princípio ao fim dos tempos são indistintos do Aqui e Agora eterno em que reside. A sua sede é a Eternidade e nunca a temporalidade. O Demiurgo, esse sim, vive na torrente da sucessão e como tal teve um íncio do tempo e como tal morrerá também, retornando à matriz inicial una e indivisível. Os objectos, os fenómenos não são entidades por direito próprio, pois nada o é. Mesmo alma imortal que que vive no Homem e é na sua centelha, idêntica a Deus, pois nada reside fora d´Ele. O que são as ondas senão o Oceano? O que é uma mossa no metal dum vaso? Onde está o colo quando me levanto ou o punho quando a mão se abre? (...) ilegível (...) Não gerado, não criado, inominável e pensá-Lo seria confiná-lo ao um conceito, uma finitude e como tal, Deus é também incomensorável com o humano pensamento. No entanto, é, no mais íntimo de nós, Ele que testemunha, silencioso e imóvel, tudo o que vemos, sentimos e pensamos. E nem ele nem nós somos os pensamentos nem as sensações. Não são estes distintos da matéria, ao contrário do fugitivo sujeito - a Testemunha que preside ao desfilar da sucessão quer dos objectos exteriores quer dos seus pensamentos, que no fundo, são ontologicamente indistintos e apenas o jogo da Matéria, animada em Deus. É portanto, obrigação do Homem reconhecer a sua verdadeira natureza divina, deixando cair a ilusão de que possui um Ego e uma personalidade. Como é incompatível com os limites e os nomes , apenas se pode apontá-lo directamente, e no íntimo do coração dizer: - "Tu és aquilo!"

Recebamos agora os estigmas do reencontro “.

O resto são sucedâneos sem interesse de transcrições canónicas e comentários ao Brydadaranyaka Upanishad e ao De Visione Dei de Nicolau de Cusa e ainda uma lista de compras do Continente.

Arrotos do Porco:

Não? Então vai-te com a puta da tua mãe, ó atrasado mental.




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