sexta-feira, maio 19, 2006 |
Poesias de qualidade e distinção, vol. 1 – ou, como também há quem lhe chame, Introdução à displasia poética
Poema com referências geográficas que quase ninguém conhece, o que ajuda ao exotismo e àquela ideia do poeta viajante e viajado
assalta-me em plena Hanabusayama
um destemido perfume de cerejeiras
que não morreu com as primeiras chuvas
puta que pariu as presenças intangíveis!
queria agarrar aquele perfume
como as tuas formas
e guardá-las incorruptíveis
em cuba inox
ou num jerrican de bom plástico
apareces de novo num corvo
na margem do rio Meguro
(ali como quem vai de Gotanda para Oosaki
do lado direito de quem segue para Shinagawa
ao pé de um restaurante antigo de tonkatsu)
como apareces num saco de plástico
que prevarica boiando na água
és tu, em tudo o que é belo ou não
(nos canteiros floridos de Hanzomon
como na sujidade nocturna de Okachimachi)
ah!, se visses por mim tudo o que és e não sabes...
todos esses defeitos menores e singulares
tão mais teus que as calmas virtudes
esses feios multiplicadores do encanto
(como a improvável beleza das ruas de Ebisu)
ah!, mostrar-te as nódoas que te alindam
esfregar-te a cara na verdade de ti
sufocares na tua graça, mínima e plena
e devolveres-me o ar
e as outras cores do mundo
(apareces num corvo porque outros pássaros não há
podias aparecer num caracol, dizendo ao espelho
“um dia, tu e eu havemos de foder”
mas o caracol não voa
a menos que o atires
com muita força
p’ra cima)
o teu passo é ligeiro quando desces a Takeshita
o peso de quem és carrego-o eu
de ti, conheces um nome e as cores que o dizem
mas há um castanho
esse castanho de castanho que se te agarra aos olhos
que só cabe em palavra nenhuma
- até porque eu, de oftalmologia, percebo pouco
Poema com referências geográficas que quase ninguém conhece, o que ajuda ao exotismo e àquela ideia do poeta viajante e viajado
assalta-me em plena Hanabusayama
um destemido perfume de cerejeiras
que não morreu com as primeiras chuvas
puta que pariu as presenças intangíveis!
queria agarrar aquele perfume
como as tuas formas
e guardá-las incorruptíveis
em cuba inox
ou num jerrican de bom plástico
apareces de novo num corvo
na margem do rio Meguro
(ali como quem vai de Gotanda para Oosaki
do lado direito de quem segue para Shinagawa
ao pé de um restaurante antigo de tonkatsu)
como apareces num saco de plástico
que prevarica boiando na água
és tu, em tudo o que é belo ou não
(nos canteiros floridos de Hanzomon
como na sujidade nocturna de Okachimachi)
ah!, se visses por mim tudo o que és e não sabes...
todos esses defeitos menores e singulares
tão mais teus que as calmas virtudes
esses feios multiplicadores do encanto
(como a improvável beleza das ruas de Ebisu)
ah!, mostrar-te as nódoas que te alindam
esfregar-te a cara na verdade de ti
sufocares na tua graça, mínima e plena
e devolveres-me o ar
e as outras cores do mundo
(apareces num corvo porque outros pássaros não há
podias aparecer num caracol, dizendo ao espelho
“um dia, tu e eu havemos de foder”
mas o caracol não voa
a menos que o atires
com muita força
p’ra cima)
o teu passo é ligeiro quando desces a Takeshita
o peso de quem és carrego-o eu
de ti, conheces um nome e as cores que o dizem
mas há um castanho
esse castanho de castanho que se te agarra aos olhos
que só cabe em palavra nenhuma
- até porque eu, de oftalmologia, percebo pouco
Arrotos do Porco:
O bicho da poesia, mais tarde ou mais cedo ataca sempre a diáspora lusa. Não podes escapar, caro Vareta. Ah... e atrás da peosia vem a incontornável vontade de mestiçar o fado luso em inúmeras exóticas mulheres. Já começa. Nota-se muito bem nos teus alexandrinos. Um forte abraço, pá! |
O Festival da Eurovisão foi ontem, amigo. Será que o viste? :) Já te disse que és genial vezes demais. Hoje não digo. |