quarta-feira, maio 17, 2006 |
Poesias de qualidade e distinção, vol. 1 - ou, como também há quem lhe chame, Introdução à poesia des-cadente.
Ode a uma discreta filipina
- ou uma descida aos infernos do neo-realismo pós-modernista
à Amy
ou lá como raio se chama ela
ou para a outra…
Monica, não era?
aquele senhor ali quer falar contigo
sim, esse
o gordo
o do fato amassado e pasta na mão
vai, então
senta-te bem perto dele
as tuas costas convidam o seu toque
e ele aceita
a tua perna destapada toca o tecido ordinário
das calças mal cortadas
dá-lhe de beber, com urgência
e ele que beba depressa que
esse não interessa
é só um dos sozinhos – não vai pagar a escola da tua filha
nem ao menos a conta do telefone
não; esse é dos que volta para casa
e olha para a mulher que tem na cama
(com as pernas tortas e princípio de sifose)
e lhe vira costas
e se fecha na casa de banho a pensar em ti
agora vais fingir que te apetece cantar
mal começas e apetece-te mesmo
são três minutos de harmonia
sozinha
sabem-te bem as palmas das colegas
- breves tréguas nas rivalidades do deve e do haver
está ali um grupo
és o “main request”
já são da casa
o mais novo, o que tenta chegar com a mão onde não deve, dizendo
do teu vestido ser uma estrada de seda
o careca, que se acha valente por te dizer “punha-te um bocado de wasabi na senaita…
ias ver o que era gozar!”
o chefe, emaciado e com outros interesses
todos os porcos que odeias sorrindo
porque sabes que não te fodem
- nem que eles se fodam
o teu corpo ainda é teu
só concessionas algumas partes
e alugas o sorriso e a conversa
essa alegria de pacotilha
em língua que não é tua
é o dinheiro
ou a verdade mais surda
também eles são companhia
um estrangeiro
americano? não
menos mal, ainda assim
os estrangeiros costumam estar sozinhos
de estado civil
acende-lhe o cigarro
deixa cair a piada sobre o isqueiro que tiras do decote
conversa, encontra conversa
“estás vermelho. é da bebida?” – já te saíste melhor
“não. é dermatite seborreica.”
isto é o que tu menos queres
a honestidade é caruncho, num mundo destes
dói-te mais a cara por trás da máscara
mas que o sorriso não se apague
mantém o aprumo
pede uma bebida – ele é estrangeiro, pode pagar
até que lhe tocas instintivamente
espantada pela falta de esforço
pelo repentino repouso
mas já passaram os minutos da ordem
há outra mesa para ti
mais tarde
esmagas no algodão os traços da noite
inteira
vês o que fica de ti
agora, que não fazes companhia,
estás sozinha
e não achas préstimo ao teu corpo grácil e firme
na cama ainda por fazer
- e se te custava alguma coisa puxares o edredon para cima quando te levantas...
Ode a uma discreta filipina
- ou uma descida aos infernos do neo-realismo pós-modernista
à Amy
ou lá como raio se chama ela
ou para a outra…
Monica, não era?
aquele senhor ali quer falar contigo
sim, esse
o gordo
o do fato amassado e pasta na mão
vai, então
senta-te bem perto dele
as tuas costas convidam o seu toque
e ele aceita
a tua perna destapada toca o tecido ordinário
das calças mal cortadas
dá-lhe de beber, com urgência
e ele que beba depressa que
esse não interessa
é só um dos sozinhos – não vai pagar a escola da tua filha
nem ao menos a conta do telefone
não; esse é dos que volta para casa
e olha para a mulher que tem na cama
(com as pernas tortas e princípio de sifose)
e lhe vira costas
e se fecha na casa de banho a pensar em ti
agora vais fingir que te apetece cantar
mal começas e apetece-te mesmo
são três minutos de harmonia
sozinha
sabem-te bem as palmas das colegas
- breves tréguas nas rivalidades do deve e do haver
está ali um grupo
és o “main request”
já são da casa
o mais novo, o que tenta chegar com a mão onde não deve, dizendo
do teu vestido ser uma estrada de seda
o careca, que se acha valente por te dizer “punha-te um bocado de wasabi na senaita…
ias ver o que era gozar!”
o chefe, emaciado e com outros interesses
todos os porcos que odeias sorrindo
porque sabes que não te fodem
- nem que eles se fodam
o teu corpo ainda é teu
só concessionas algumas partes
e alugas o sorriso e a conversa
essa alegria de pacotilha
em língua que não é tua
é o dinheiro
ou a verdade mais surda
também eles são companhia
um estrangeiro
americano? não
menos mal, ainda assim
os estrangeiros costumam estar sozinhos
de estado civil
acende-lhe o cigarro
deixa cair a piada sobre o isqueiro que tiras do decote
conversa, encontra conversa
“estás vermelho. é da bebida?” – já te saíste melhor
“não. é dermatite seborreica.”
isto é o que tu menos queres
a honestidade é caruncho, num mundo destes
dói-te mais a cara por trás da máscara
mas que o sorriso não se apague
mantém o aprumo
pede uma bebida – ele é estrangeiro, pode pagar
até que lhe tocas instintivamente
espantada pela falta de esforço
pelo repentino repouso
mas já passaram os minutos da ordem
há outra mesa para ti
mais tarde
esmagas no algodão os traços da noite
inteira
vês o que fica de ti
agora, que não fazes companhia,
estás sozinha
e não achas préstimo ao teu corpo grácil e firme
na cama ainda por fazer
- e se te custava alguma coisa puxares o edredon para cima quando te levantas...