quinta-feira, março 16, 2006 |
DROGA, LOUCURA, MORTE
Zeca Galhão ouvira falar nas propriedades psicotrópicas de uma erva vulgar, o estramónio ou figueira-do-inferno, que tinha fama de ser muito poderosa como alucinogénico dissociativo. Colocou, como lhe tinham indicado, uma folha no sovaco e esperou. Cinco minutos e nada. Dez minutos. Sentia-se um bocado lento de movimentos e a cabeça anormalmente leve. Passado um quarto de hora, ainda não sentia nada de especial, mas reparou melhor e pareceu-lhe que as paredes do quarto, repletas de cartazes da Magda de Moscavide, ondulavam e emitiam uma luminosidade estranha. Levantou-se para observar melhor e – Céus! – as paredes estavam cobertas de notas de 100 euros! Zeca começou a esgatanhar a parede com as unhas, a arrancar furiosamente as notas da parede e a atafulhá-las nos bolsos das calças. A Magda saíra do poster e começava a rebolar-se sedutora aos pés do Zeca, mas os olhos dela eram pequeninos e piscavam como os do Presidente da República.A popa cheia de laca, o tom de pele alaranjado-escuro e saliva aos cantos da boca também lhe faziam lembrar o Presidente. Repeliu a ucraniana um pouco confuso. Pelo canto do olho estava a ver um bebé a tocar trompete atrás da porta. Foi até à janela apanhar ar. A paisagem da Parede pareceu-lhe estranha. A Parede era um glorioso vale cercado por montanhas que eram os joelhos de uma figura humana de proporções cósmicas. Estava reclinado no horizonte e perdia-se no céu, tendo o Sol por cabeça. O mar eram umas imensas calças de ganga e a Caparica e o Cabo Espichel os seus dedos. Estava serenamente imóvel. Sempre estivera ali, fora do tempo, contemplando o Cosmos e a Parede. Zeca, assombrado, sentiu-se pequeno como uma pulga. –“É Deus!...Estou a ver Deus!...” - pensou. – “Esteve sempre ali e eu nunca reparei nele…”. Saltou pela janela e caiu. Caiu durante horas enquanto pensamentos fulgurantes lhe cruzavam o cérebro à velocidade da luz, num cósmico remoinho refulgente e multicolor. Caiu sem estrondo numa superfície mole, peluda e viscosa que pulsava expelindo vagas de odores urinários que o nauseavam. Era uma gigantesca vagina e ele resvalava numa massa orgânica purulenta. Ele sabia que era da D. Tânia, esta descomunal vagina, que o queria engolir e digerir. Em pânico, trepou por entre os pêlos argamassados contra os grandes lábios que escorriam muco, tentando fugir. O coração do Zeca cavalgava acelerado e sentia o sangue a latejar na cabeça. – “Tenho de fugir!” Correu aos tropeções pela virilha, entre as pastadas de pó-de-talco, suor e esmegma e de um salto, atingiu o chão do quarto. Silêncio. Uma enorme morcela rôxo-escura, que se vestia como o Quentin Tarentino, liquefazia-se em silêncio sobre o soalho. Zeca correu pela porta, mas esta dava para uma igreja em vez da habitual sala de estar. A pedra parecia estar a passar e a realidade voltava agora ao normal. Olhou para o relógio e constatou boquiaberto que tinham passado dez dias. Doía-lhe muito a cabeça. Onde estava afinal? Que fizera tresloucado pela alucinação? Olhou para si e viu que estava vestido de noivo. No altar estava a D. Tânia sorridente. O olhar silencioso dos convidados cercava-o. “Zeca Galhão, aceita como sua esposa, Tânia Kalupeteca da Silva, por sua esposa, para o bem e para o mal, até que a morte vos separe?” – Disse o padre. Zeca engoliu com dificuldade o nó na garganta que o sufocava e disse um sumido “sim”. Ela sorriu, pensando nas noites de sexo desenfreado e louco que iriam ter.
FIM
Zeca Galhão ouvira falar nas propriedades psicotrópicas de uma erva vulgar, o estramónio ou figueira-do-inferno, que tinha fama de ser muito poderosa como alucinogénico dissociativo. Colocou, como lhe tinham indicado, uma folha no sovaco e esperou. Cinco minutos e nada. Dez minutos. Sentia-se um bocado lento de movimentos e a cabeça anormalmente leve. Passado um quarto de hora, ainda não sentia nada de especial, mas reparou melhor e pareceu-lhe que as paredes do quarto, repletas de cartazes da Magda de Moscavide, ondulavam e emitiam uma luminosidade estranha. Levantou-se para observar melhor e – Céus! – as paredes estavam cobertas de notas de 100 euros! Zeca começou a esgatanhar a parede com as unhas, a arrancar furiosamente as notas da parede e a atafulhá-las nos bolsos das calças. A Magda saíra do poster e começava a rebolar-se sedutora aos pés do Zeca, mas os olhos dela eram pequeninos e piscavam como os do Presidente da República.A popa cheia de laca, o tom de pele alaranjado-escuro e saliva aos cantos da boca também lhe faziam lembrar o Presidente. Repeliu a ucraniana um pouco confuso. Pelo canto do olho estava a ver um bebé a tocar trompete atrás da porta. Foi até à janela apanhar ar. A paisagem da Parede pareceu-lhe estranha. A Parede era um glorioso vale cercado por montanhas que eram os joelhos de uma figura humana de proporções cósmicas. Estava reclinado no horizonte e perdia-se no céu, tendo o Sol por cabeça. O mar eram umas imensas calças de ganga e a Caparica e o Cabo Espichel os seus dedos. Estava serenamente imóvel. Sempre estivera ali, fora do tempo, contemplando o Cosmos e a Parede. Zeca, assombrado, sentiu-se pequeno como uma pulga. –“É Deus!...Estou a ver Deus!...” - pensou. – “Esteve sempre ali e eu nunca reparei nele…”. Saltou pela janela e caiu. Caiu durante horas enquanto pensamentos fulgurantes lhe cruzavam o cérebro à velocidade da luz, num cósmico remoinho refulgente e multicolor. Caiu sem estrondo numa superfície mole, peluda e viscosa que pulsava expelindo vagas de odores urinários que o nauseavam. Era uma gigantesca vagina e ele resvalava numa massa orgânica purulenta. Ele sabia que era da D. Tânia, esta descomunal vagina, que o queria engolir e digerir. Em pânico, trepou por entre os pêlos argamassados contra os grandes lábios que escorriam muco, tentando fugir. O coração do Zeca cavalgava acelerado e sentia o sangue a latejar na cabeça. – “Tenho de fugir!” Correu aos tropeções pela virilha, entre as pastadas de pó-de-talco, suor e esmegma e de um salto, atingiu o chão do quarto. Silêncio. Uma enorme morcela rôxo-escura, que se vestia como o Quentin Tarentino, liquefazia-se em silêncio sobre o soalho. Zeca correu pela porta, mas esta dava para uma igreja em vez da habitual sala de estar. A pedra parecia estar a passar e a realidade voltava agora ao normal. Olhou para o relógio e constatou boquiaberto que tinham passado dez dias. Doía-lhe muito a cabeça. Onde estava afinal? Que fizera tresloucado pela alucinação? Olhou para si e viu que estava vestido de noivo. No altar estava a D. Tânia sorridente. O olhar silencioso dos convidados cercava-o. “Zeca Galhão, aceita como sua esposa, Tânia Kalupeteca da Silva, por sua esposa, para o bem e para o mal, até que a morte vos separe?” – Disse o padre. Zeca engoliu com dificuldade o nó na garganta que o sufocava e disse um sumido “sim”. Ela sorriu, pensando nas noites de sexo desenfreado e louco que iriam ter.
FIM
Arrotos do Porco: