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Vareta Funda

O blog dos orizicultores do Concelho de Manteigas


terça-feira, janeiro 24, 2006



UMA HISTÓRIA SIMPLES

[do baú, de Janeiro de 2005]

A imensa planície do Maine, extensa de campos e pastagens é apenas cortada por uma ou outra cerca ou caminho vicinal, sob o céu cinzento. Rectângulos verde-escuro da aveia. Rectângulos castanhos das folhas em pousio; rectângulos verde-claro do azevém. Rectângulos amarelados do restolho do trigo. Uma única árvore solitária agitada pela brisa de Outono. Mimosa tem uma ideia muito ténue de o dono a ter levado para pastar ali. Mas lá ia mascando sozinha, a erva fresca, enquanto sacudia as moscas com a cauda. Era uma produtiva Frizean-Holstein, de úbere generoso e rosado. Tivera um vislumbre de existência quando viu uma foto, talvez sua, numa lata de leite condensado deitada fora no meio da pastagem. Seria ela? Ou uma qualquer vaca? Não são todas as vacas uma mesma vaca? Deu mais uns passinhos vagarosos em direcção a um tufo mais denso.
-“Desculpa a interrupção. Sou o autor. Um gajo que finge chamar-se Assento da Sanita e que está a criar um texto sobre uma vaca num portátil “Asus”.
- “Sim. E eu uma vaca fictícia que está a falar contigo. Topas?
-“Deixa-te de ares senão eu trato-te do canastro. Sou o teu Criador. Quem dita as regras aqui sou eu. Pode ser que te lixes.”
-“O que é que querias? Que me prostrasse em adoração, Ò Criador! Tu queres é que os pacóvios que lerem isto achem que “ele até me faz lembrar, assim o Jorge Luís Borges, com aqueles trocas de registo, bla´, blá, blá”…Haja saco. Paneleiro.”
-“Estás a passar das marcas. Vou-te mandar para o caralho. Puta de vaca.”
-“Quero lá saber. É tudo só na tua cabeça. Estás para aí sozinho. Vai mas é trabalhar, que eu bem sei que és funcionário público.”
-“Isto é demais. Está decidido. Vais-te mas é com os porcos. Não querem lá ver. Porra para isto”.

Apenas um leve sussurro surdo antecedeu o silêncio que se seguiu. Uma revoada de estorninhos ao longe e um redemoinhar da brisa nos freixos, como mesmo antes de começar a chover. A vaca olhou os leitores com os seus olhos grandes e engoliu. O bolo alimentar passou da boca ao esófago, ao barreto, ao folhoso e…BUUUUUMMMM!!!!!... Uma apocalíptica explosão rebentou-lhe na pança, atirando com violência em todas as direcções, pedaços rodopiantes de tripa, pele preta e branca, pedaços do úbere cor-de-rosa com uma tetinha agarrada, um corninho, duas vértebras ainda com pele ás pintinhas agarrada, pedaços gelatinosos de mioleira, um chocalho, um fígado e baldes e baldes de sangue. Os pedaços da vaca fumegante pulsavam no prado ainda quentes. Um pedaço de colón recheado de bosta, que tinha subido na vertical uns setecentos e tal metros, acabou por cair atrasado com um “ploc”mesmo junto à cerca de arame.

FIM.

Arrotos do Porco:

Tenho a certeza de que, daqui a uns anos, haverão jovens tenras e delicadas da Faculdade de Letras a fazer teses sobre "o neo-ruralismo-abjeccionista na obra de Assento da Sanita". És grande, pá!


Venham elas com as teses para sessões de autógrafos que ficam a saber o que é a Vida.




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