quinta-feira, janeiro 19, 2006 |
LUSO BEAT
Este post é sobre mim. Desculpem lá, mas a minha pessoa é um tema tão bom como qualquer outro. E depois prometo evitar o tom laudatório, até porque não escrevo sobre “o meu tempo” que aliás, também o é agora, pesem embora já quatro décadas esforçadas sobre os meus ombros. Pois é. Eu pertenci à “beat generation” portuguesa. Eu e os outros beatnicks não dispensávamos as golas altas, as t-shirts marinheiro Andy Warhol, as canabáceas, os copos, o Alan Ginsberg, o Kerouac, o Louis Malle e o iluminado e douto Alan Watts e seu Budismo Zen. Mas por cá grassava o nacional-cançonetismo e o Almirante Américo Tomás, que a malta desprezava com todas as forças. Os muitos copos de cerveja eram empurrados ao som do Dave Brubeck, Miles Davis e de leituras eróticas do Bocage, pois afinal de contas éramos portugueses (na foto: Assento à esquerda de óculos escuros e um confrade, o Brejnev Juiz Cuecas tocando flauta com tiras de papel de prata retirado do maço de Português Suave sem filtro enrolados nos óculos e tocando flauta de dedilhação barroca. Ele agora é um famoso arquitecto e só pensa em sexo anal com raparigas muito mais novas que ele.). Eu tinha uma amiga que queria ir criar galinhas e fundar uma comunidade de amor-livre nas margens barragem de Santa Clara. Mas eu não fui com ela pois tive que fugir á guerra colonial e o DRML já não ia em mais cantigas com a minha conversa das precedências. Se calhar eu ser vogal da direcção da ALOOC (Associação Livre de Objectores e Objectoras de Consciência) também os punha um bocadinho de pé atrás. Não era a mesma coisa que ser Jeová. Nesses atribulados finais de oitentas defendíamos a emancipação feminina (queimei vários soutiens de amigas, mas geralmente por causa do morrão do cigarro), a não – discriminação dos homossexuais (chamava-mos paneleiro aos nossos amigos rabos só muito de vez em quando e só nas costas deles). O patchouli comprava-o eu na loja de produtos naturais do Centro Comercial Terminal da Estação do Rossio. Mas era muito bonito. Gostava de reaver uma cassete com uma gravação, em que embroados, tocámos uma versão lírica do “Sobe sobe, balão sobe” em piano, adufe e violino chinês. Eu cantava. Um gajo saltava de cama em cama como quem bebe água e ninguém se chateava por um gajo trocar, sem querer, os nomes pelo de outra colega de turma. Uma noite bebemos três garrafas de gin a estudar para a cadeira de Apicultura, passei por duas camas diferentes, não dormi e tirei dezoito nessa manhã. Mais cool não havia que passar o Still dos Joy Division vezes sem conta, enquanto rebolávamos nas almofadas indianas no descanso da confecção culinária de uma mousse de farinheira. De grossas botas de montanha a arrastar pelos corredores da Universidade comentava-se o último número do “Combate”, o jornal oficial do PSR. Por falar nisso, cheguei a descer a Av. Da Liberdade ás duas da manhã em cima do capô de uma Renault 4 gritando em alta voz “Viva o PSR!”. O gajo que ia ao meu lado vive agora na Tasmânia. Se tenho saudades? Bof. Nem por isso: beat crazy, beat crazy!
Este post é sobre mim. Desculpem lá, mas a minha pessoa é um tema tão bom como qualquer outro. E depois prometo evitar o tom laudatório, até porque não escrevo sobre “o meu tempo” que aliás, também o é agora, pesem embora já quatro décadas esforçadas sobre os meus ombros. Pois é. Eu pertenci à “beat generation” portuguesa. Eu e os outros beatnicks não dispensávamos as golas altas, as t-shirts marinheiro Andy Warhol, as canabáceas, os copos, o Alan Ginsberg, o Kerouac, o Louis Malle e o iluminado e douto Alan Watts e seu Budismo Zen. Mas por cá grassava o nacional-cançonetismo e o Almirante Américo Tomás, que a malta desprezava com todas as forças. Os muitos copos de cerveja eram empurrados ao som do Dave Brubeck, Miles Davis e de leituras eróticas do Bocage, pois afinal de contas éramos portugueses (na foto: Assento à esquerda de óculos escuros e um confrade, o Brejnev Juiz Cuecas tocando flauta com tiras de papel de prata retirado do maço de Português Suave sem filtro enrolados nos óculos e tocando flauta de dedilhação barroca. Ele agora é um famoso arquitecto e só pensa em sexo anal com raparigas muito mais novas que ele.). Eu tinha uma amiga que queria ir criar galinhas e fundar uma comunidade de amor-livre nas margens barragem de Santa Clara. Mas eu não fui com ela pois tive que fugir á guerra colonial e o DRML já não ia em mais cantigas com a minha conversa das precedências. Se calhar eu ser vogal da direcção da ALOOC (Associação Livre de Objectores e Objectoras de Consciência) também os punha um bocadinho de pé atrás. Não era a mesma coisa que ser Jeová. Nesses atribulados finais de oitentas defendíamos a emancipação feminina (queimei vários soutiens de amigas, mas geralmente por causa do morrão do cigarro), a não – discriminação dos homossexuais (chamava-mos paneleiro aos nossos amigos rabos só muito de vez em quando e só nas costas deles). O patchouli comprava-o eu na loja de produtos naturais do Centro Comercial Terminal da Estação do Rossio. Mas era muito bonito. Gostava de reaver uma cassete com uma gravação, em que embroados, tocámos uma versão lírica do “Sobe sobe, balão sobe” em piano, adufe e violino chinês. Eu cantava. Um gajo saltava de cama em cama como quem bebe água e ninguém se chateava por um gajo trocar, sem querer, os nomes pelo de outra colega de turma. Uma noite bebemos três garrafas de gin a estudar para a cadeira de Apicultura, passei por duas camas diferentes, não dormi e tirei dezoito nessa manhã. Mais cool não havia que passar o Still dos Joy Division vezes sem conta, enquanto rebolávamos nas almofadas indianas no descanso da confecção culinária de uma mousse de farinheira. De grossas botas de montanha a arrastar pelos corredores da Universidade comentava-se o último número do “Combate”, o jornal oficial do PSR. Por falar nisso, cheguei a descer a Av. Da Liberdade ás duas da manhã em cima do capô de uma Renault 4 gritando em alta voz “Viva o PSR!”. O gajo que ia ao meu lado vive agora na Tasmânia. Se tenho saudades? Bof. Nem por isso: beat crazy, beat crazy!
Arrotos do Porco:
É tudo falácia! É tudo patranha! O Assento é rapaz de muito mais idade e desde cedo que frequentou o Café Gelo e outros meios (ainda) mais duvidosos. A elite literária lisboeta que está na ala de geriatria de Santa Maria lembra-se bem do Assento, que passava a vida entre o Rossio e o Regimento de Lanceiros 2, a ver se tinha sorte com os magalas. O grande Minervino Pereira, poeta, bêbedo, anti-fascista e pessoa pouco limpa, de modoo geral, imortalizou o Assento de então com os seguintes versos, publicados em edição de autor policopiada a stencil em papel de pasteleiro: "Se Assento te chamaram, tal não foi sem intento. Se há homens verticais, nunca o foste ou não és mais. Nasceste com o talento de dar ao cu bom polimento, No colo dos marechais e outras tropas que tais. Se Assento te chamaram, aí encontras teu alento: Consola-te o sentar na protuberância que calhar. Com ou sem espavento, em "coisas" pequenas ou de jumento, És "Marialva" a montar, mas não és Maria - que azar..." Era assim, o Minervino. Tinha maus vinhos e maus fígados, mas duas filhas que metem cobiça! |