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Vareta Funda

O blog dos orizicultores do Concelho de Manteigas


sexta-feira, novembro 25, 2005

Nine Horses - Snow Borne Sorrow
...ou o Silva, o Mano e o Frito


Digam lá que o trabalho gráfico de Wes Mills não é fantástico...



E pronto. O álbum "Snow Borne Sorrow", dos Nine Horses, é o álbum do ano. A minha opinião firma-se na minha opinião - e não há alicerce mais fundo nem terreno mais firme!


David Sylvian e Steve Jansen escolheram para " terceiro cavalo" nesta aventura conjunta o alemão louco que dá pelo nome de Burnt Friedman - para além de uma daquelas listas de convidados à Sylvian, recheada de nomes tão modestos como Sakamoto, Stina Nordenstam, Arve Henriksen ou Theo Collins. Mas os nomes diluem-se num conjunto de canções tão perfeito como eu já não ouvia desde a última vez em que David Sylvian se dispôs a fazer um conjunto de canções tão perfeito. Sim: sacrilégios à parte, este é o melhor disco desde o "Secrets of the Beehive" (sem que tenha muito a ver com o "Secrets of the Beehive").


Quem ouviu os Japan, o primeiro álbum a solo de David Sylvian ("Brilliant Trees"), os Rain Tree Crow, o "Dead Bees on a Cake" o "Blemish" sabe que a "soul" foi sempre uma influência presente na forma do rapaz Silva pensar a música e a estrutura das suas canções - ouça-se a fantástica versão do "I second that emotion", que se encontra em qualquer boa colectânea dos Japan, ou a estrutura do "Red Guitar", ou o "Midnight Sun", ou o "Late Night Shopping" . Neste projecto Nine Horses, a soul é uma das pedras base, transmutada por uma alquimia sonora a que se poderia chamar (ou chamo eu) "uma festa do caraças numa casa minimalista". Não há notas a mais, neste disco, não há riffs escusados, não há solos demasiado vistosos: há um virtuosismo sublimado nos metais que aparecem só quando devem e como devem, no vibrafone, no piano discreto mas inconfundível de Sakamoto e nos coros, coros soul como nunca antes se ouviram num disco de David Sylvian!


Há nove canções, das quais oito nos trocam as voltas por fugirem à linearidade canónica nos tempos e na estrutura, estimulando os sentidos e crescendo em beleza e espaço. E depois há "The day the earth stole heaven". É a canção do ano, diz-me a minha opinião do alto de si mesma. Assim, não podia deixar de a trazer aos vossos olhos, na língua de Casimiro de Brito e Rui Nunes, com os votos de bom fim-de-semana.


The day the earth stole heaven

Let me tell you about a friend
Eu, que não sou de intrigas, tenho que vos dizer que certa gaja
She contends she will always love me
É profícua em lirismos serôdios sobre sentimentos "para sempre"
It’s this ability to lie and deceive
Sem deixar de ser dissimulada como uma velha cortesã
That has lost me completely
- o que me condena a um destino digno dos Bórgia
I could remind her of the facts
Eu podia tentar apelar à racionalidade
Make her calm down and relax
Refrear-lhe o ânimo e impôr alguma calma
But why bother?
Mas para quê o dispêndio
It’s the shallowest defense
Se a volatilidade é desenganada...

To my utter astonishment it is over
Então vem a gaja e diz-me que se acabou
That little girl she wants to leave me
A sirigaita quer deixar-me, ao que parece
That little girl wants something more.
Diz que quer mudar de vida e de perspectivas (e eu disse-lhe "bastava tirares os entrolhos, ó burra de merda!...")
I’m optimistically inclined
Eu sou um gajo optimista e despreocupado
Given time she’ll change her mind
E pensei que aquilo fosse um arrufo passageiro...
It’s unlikely
Passageiro o tanas!

Let me tell you about a friend
É com preocupação pedagógica que vos falo desta tipa
She contends she will always love me
Das suas palavras doces de amor "iterno"...
If you look at her sideways
Se a olhais de soslaio
She will let you know
Ela deixar-vos-á saber
Today’s the day the earth stole heaven
Que quando se cai do Paraíso esfacelamos o focinho na terra
If you look at her sideways
Se a olhais de través
She will curse you out
Ela vos amaldiçoará
Today’s the day the earth stole heaven
E vereis que do Paraíso à Terra dista apenas uma rasteira de São Cipriano
If you look at her sideways
Se a olhais por cima da burra
There can be no doubt
Vereis com plena clareza
It’s over
Que aquilo é azeitona já bem espremida

Arrotos do Porco:

Secrets of the Beehive é um disco fantástico e tinha um efeito altamente afrodisíaco nas minhas companhias femininas, que soi dizer-se não deixei de aproveitar amíude...

Eu li um livro do Casimiro de Brito, será um defeito de personalidade?!!!...

Quanto ao disco dos Nine, vou ouvir, cou ouvir.

Abraços Vareta.





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