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Vareta Funda

O blog dos orizicultores do Concelho de Manteigas


quinta-feira, novembro 17, 2005

Microfábulas - XVIII

Havia, certa vez, um funcionário português do Secretariado de uma organização internacional que buscara no estrangeiro a prosperidade que o seu antigo bacharelato do ISLA não lhe proporcionara na lusitana metrópole. De estrangeiro em estrangeiro, acabou num estrangeiro distante, em Yokohama, no Secretariado da Organização Internacional das Madeiras Tropicais, onde passava os seus dias “inputando” documentos na formatação oficial da Organização, atendendo telefones e tirando fotocópias. “There goes the fucking sardine!”, diriam alguns; “Lá vai o Silvestre!”, diriam os mais educados, ao vê-lo passar no corredor do Pacifico Yokohama Center carregando volumosos maços de documentos inúteis, no ritmo próprio que o salto compensado no sapato esquerdo, que tentava obviar a diferença de nascença no tamanho das pernas, conferia à sua passada.

Para além da grossa camada de borracha debaixo da planta do pé esquerdo, Silvestre dava nas vistas pelo rosto rubicundo e luzidio e pela sua volumetria: uma larga elipse que confinava – a custo – os seus quase cem quilos distribuídos por uma altura mediana de 1,63m. Sorridente e prestável (e ainda para mais “slightly handicaped”...), Silvestre era o funcionário perfeito para uma organização internacional, possibilitando aos delegados dos 59 Estados Membros aquele sentimento reconfortante de “ainda bem que estamos a fazer qualquer coisa por estes desgraçados...”. Claro: a organização tratava de madeiras e não de pessoas, mas um caso humano visível tem muito mais impacto que uma colecção de estatísticas sobre o mercado madeireiro.

Silvestre era uma mascote, a personificação do bem que a vontade comum de vários países podia operar sobre todas as pessoas, mesmo a que nasciam com uma perna maior que a outra, chumbando assim nos requisitos físicos para a “certificação social”. Como um bom português, Silvestre aceitava humildemente, com um sorriso entre o resignado e o obstinado, as migalhas de comiseração alheia, viessem elas dos brasileiros que contavam anedotas sobre padeiros portugueses; das altas e imponentes norueguesas; dos robustos ganeses ou dos bizarros papuas. Recebia palmadinhas nas costas com a alegria primacial de uma foca amestrada que recebe uma sardinha. Ou uma boga.

Vida pessoal não a tinha, o nosso Silvestre. Vivia nos subúrbios de Yokohama, num apartamento com 35 metros quadrados (“Caibo lá eu, é o que importa!”, dizia ele, com a esperteza dos simples...), as paredes forradas com os diferentes posters da organização. Espartanamente regrado, só num vício o aleijadinho condescendia: manga erótica, com desenhos de colegiais com roliços seios quase a rebentar nas apertadas blusinhas do uniforme de marinheira sendo estupradas por monstros multicéfalos dotados de incontáveis tentáculos penianos que procuravam quiçá o Além em cada orifício (sempre ocultado, claro) das pobres rapariguinhas. E assim passava Silvestre boa parte dos seus serões, folheando revista atrás de revista (pelo menos as páginas que não estavam coladas...) e desdizendo da sua malformação congénita que o tornava tão avesso ao contacto com o “belo género”. Por pecaminosos que fossem esses seus minutos de alívio, bastava ao rapaz persignar-se e passar a cara por água para conseguir dormir o sono dos justos e acordar no dia seguinte com a bonomia de um cachorrinho.

A cada Novembro, a excitação aumentava no Pacifico Yokohama com a perspectiva da Sessão de Outono do Conselho da Organização. Para além do bulício da chegada das delegações, a Silvestre agradava-lhe especialmente o lote de ninfetas que a municipalidade de Yokohama destacava para o apoio à conferência e que passavam os dias a manusear desastradamente máquinas de café com que ninguém sabia operar. Enquanto guilhotinava com mil cuidados os cartões de identificação de cada delegado, Silvestre via-se na pele do “velho porco” das suas manga, cuja excitação sexual era representada graficamente por uma bolha de ranho a sair do nariz. Daí que, enquanto olhava despudoradamente para as saias e colos das meninas, Silvestre fosse volta e meia levando uma mão ao nariz, confirmando a inexistência de tão comprometedoras bolhas.

Nisto, vzzzzzzzzzzzzzzzzt!

Moral 1 – Uma guilhotina, como qualquer outro instrumento afiado, deve ser manuseada com cuidado e concentração, sob pena de lesões graves no seu utilizador.

Moral 2 – Se um desgraçado se desgraça um pouco mais, mais razões para caridade têm as pessoas normais.

Arrotos do Porco:

O Vareta é grande!

Veritas evidens non est probanda



Epa essa da bolha de ranho para mim é novidade, mas é uma manifestação somática muito expressiva sim senhora.
Ele há dias que ando com uma enorme moncada verde ao dependuro, será disso?

Fantástica estória. Coidado do senhor. Terá ficado emasculado ou foi apenas um dedo?...



Epa essa da bolha de ranho para mim é novidade, mas é uma manifestação somática muito expressiva sim senhora.
Ele há dias que ando com uma enorme moncada verde ao dependuro, será disso?

Fantástica estória. Coidado do senhor. Terá ficado emasculado ou foi apenas um dedo?...



Epa essa da bolha de ranho para mim é novidade, mas é uma manifestação somática muito expressiva sim senhora.
Ele há dias que ando com uma enorme moncada verde ao dependuro, será disso?

Fantástica estória. Coidado do senhor. Terá ficado emasculado ou foi apenas um dedo?...



Desculpem lá, mas não sei o que se passa com o blogger ás vezes.




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