segunda-feira, novembro 21, 2005 |
Condes e outras histórias
Na esteira do texto do Ilustre AdaS e da sua paródia envolvendo ocultismo e sociedades secretas, focou-se o Conde de St. Germain, tendo-me recordado a figura em causa.
Aparentemente, este senhor existiu mesmo, sendo considerado um imortal e um alquimista no sentido próprio do termo, detendo a real capacidade de transformar metais menores naquele metal precioso que dá pelo nome de “ouro”.
Mas nem só de ouro ou de ilusão de ouro vive o Homem. E este termo aplica-se-lhe na perfeição: para além deter o segredo da Alquimia e da Pedra Filosofal, este Homem detinha também o segredo da imortalidade.
Presume-se que tenha nascido em 28 de Maio de 1696, na Transilvânia, região remota da Roménia e que deu frutos conhecidos e reconhecidos por esse Mundo fora, até porque Hollywood tomou conta desses mitos ou quase-mitos, sendo que Vlad, o Empalador, se transformou num senhor Morcego que gostava de chupar…
Mas tergiverso. O referido Conde de St. Germain veio a deixar a companhia dos vivos em 27 de Fevereiro de 1784. Dizem. Mas há quem diga que ainda não, aparecendo esporadicamente e dando um ar da sua graça pelos anos fora. A última vez que deu sinal de vida foi em 1926.
Ora, de 1696 a 1784, nada há a assinalar de extraordinário em termos de longevidade, mas se estendermos isto para 1926, já dá o que pensar. E é fazer as contas…
Este Conde, aparentemente, andava sempre acompanhado de um cesto contendo excelentes pedras preciosas, que distribuía pela Corte como quem distribui rebuçados. As gajas agradeciam. Não sei era de que forma, uma vez que este nunca foi visto a comer ou a beber. Pela mesma ordem de ideias, nunca fornicou. Aí sim, foi burro.
De resto, sendo possuidor do elixir da juventude, toda a vida aparentou ter quarenta e cinco anos, idade que revela alguma maturidade e sabedoria adquirida.
O que me faz reflectir num conto de Jorge Luís Borges, chamado, precisamente, «Os Imortais», em que há alguém que, ilusoriamente, tenta chegar a uns Seres Superiores que detêm o segredo da Imortalidade e que vivem alcandorados numa fortaleza rochosa. Para lá chegar, tem de passar por uns seres estranhos, ainda sob a forma humana, mas com uns comportamentos animalescos e pouco inteligentes, embora sem serem agressivos. Uma destas criaturas acompanha-o na sua saga, aguardando a sua volta enquanto ele sobe a escarpa por um caminho de acesso difícil. Esta história poderia levar-nos facilmente para o Velho da Montanha, mas fica para outra vez. Bom, voltando ao relato, o gajo sobe o caminho secreto que lhe foi apontado pelo outro - que dominava muito pouco o dote de poder expressar-se oralmente (próprio sensu, não comecem já com coisas…) - e acaba por ter acesso a uma fortaleza que está completamente deserta.
Fazendo o caminho inverso, depara-se novamente com aquela tribo que não é propriamente agressiva, mas que o faz seu prisioneiro. Prisioneiro, é como quem diz, porque tinha toda a liberdade de movimentos à excepção do acesso à água que passava num rio próximo. Quase morto de sede, vai este rapaz forçar a sua ida até ao rio, de onde bebe sofregamente. Está tudo estragado. A vigilância, ao contrário do que seria de esperar, é afrouxada ou inexistente. Os seres estranhos andam por ali a pastar. O nosso herói tenta encetar uma conversa com o gajo que o acompanhou lá ao outro lado e nada obtém em troca. Por algum acaso, cita Homero e os seus escritos e, curiosamente, aquele «bicho» completa uma das suas frases. Descobre-se tudo. Aquela coisa que ali estava era Homero em pessoa, não sei quantos milhares de anos depois!
Bom, se a história não respeita fielmente o original, perdoem-me, mas ficam com a ideia. A fonte da imortalidade era a água do rio e os seres imortais eram aqueles que por ali se arrastavam, que tinham perdido quase por completo a capacidade da fala, já não me recordo muito bem porquê, mas havia um significado qualquer que eu agora não descortino.
O certo é que para cada acção há uma acção contrária, que anula a primeira. Por isso, a partir daquele momento, o sujeito em questão passou a explorar o Mundo e a provar a água de todos os rios que podia, até que, finalmente, uns trezentos anos depois, provou a água libertadora que buscava.
Pode ser esta a razão que move o aparecimento e desaparecimento do Conde de St. Germain, embora desconfie que não. Cá para mim, o senhor em causa deve ter ido finalmente para Agharta, no centro da Terra, para se ir juntar aos seus colegas Superiores Desconhecidos que neste momento já deve conhecer bem.
Uma vez perguntaram a um criado do Conde de St. Germain se era verdade que ele tinha seiscentos anos (há quem defenda que ele não nasceu propriamente em 1696…). Este, pouco surpreendido, disse friamente que não saberia responder a essa pergunta, uma vez que só estava ao serviço do Senhor Conde há cerca de duzentos anos…
Nota final: quem não gostava do Conde de St. Germain dizia que ele era filho de um judeu português chamado Aymar. Repare-se aqui que os portugueses já eram benquistos na altura…
Aparentemente, este senhor existiu mesmo, sendo considerado um imortal e um alquimista no sentido próprio do termo, detendo a real capacidade de transformar metais menores naquele metal precioso que dá pelo nome de “ouro”.
Mas nem só de ouro ou de ilusão de ouro vive o Homem. E este termo aplica-se-lhe na perfeição: para além deter o segredo da Alquimia e da Pedra Filosofal, este Homem detinha também o segredo da imortalidade.
Presume-se que tenha nascido em 28 de Maio de 1696, na Transilvânia, região remota da Roménia e que deu frutos conhecidos e reconhecidos por esse Mundo fora, até porque Hollywood tomou conta desses mitos ou quase-mitos, sendo que Vlad, o Empalador, se transformou num senhor Morcego que gostava de chupar…
Mas tergiverso. O referido Conde de St. Germain veio a deixar a companhia dos vivos em 27 de Fevereiro de 1784. Dizem. Mas há quem diga que ainda não, aparecendo esporadicamente e dando um ar da sua graça pelos anos fora. A última vez que deu sinal de vida foi em 1926.
Ora, de 1696 a 1784, nada há a assinalar de extraordinário em termos de longevidade, mas se estendermos isto para 1926, já dá o que pensar. E é fazer as contas…
Este Conde, aparentemente, andava sempre acompanhado de um cesto contendo excelentes pedras preciosas, que distribuía pela Corte como quem distribui rebuçados. As gajas agradeciam. Não sei era de que forma, uma vez que este nunca foi visto a comer ou a beber. Pela mesma ordem de ideias, nunca fornicou. Aí sim, foi burro.
De resto, sendo possuidor do elixir da juventude, toda a vida aparentou ter quarenta e cinco anos, idade que revela alguma maturidade e sabedoria adquirida.
O que me faz reflectir num conto de Jorge Luís Borges, chamado, precisamente, «Os Imortais», em que há alguém que, ilusoriamente, tenta chegar a uns Seres Superiores que detêm o segredo da Imortalidade e que vivem alcandorados numa fortaleza rochosa. Para lá chegar, tem de passar por uns seres estranhos, ainda sob a forma humana, mas com uns comportamentos animalescos e pouco inteligentes, embora sem serem agressivos. Uma destas criaturas acompanha-o na sua saga, aguardando a sua volta enquanto ele sobe a escarpa por um caminho de acesso difícil. Esta história poderia levar-nos facilmente para o Velho da Montanha, mas fica para outra vez. Bom, voltando ao relato, o gajo sobe o caminho secreto que lhe foi apontado pelo outro - que dominava muito pouco o dote de poder expressar-se oralmente (próprio sensu, não comecem já com coisas…) - e acaba por ter acesso a uma fortaleza que está completamente deserta.
Fazendo o caminho inverso, depara-se novamente com aquela tribo que não é propriamente agressiva, mas que o faz seu prisioneiro. Prisioneiro, é como quem diz, porque tinha toda a liberdade de movimentos à excepção do acesso à água que passava num rio próximo. Quase morto de sede, vai este rapaz forçar a sua ida até ao rio, de onde bebe sofregamente. Está tudo estragado. A vigilância, ao contrário do que seria de esperar, é afrouxada ou inexistente. Os seres estranhos andam por ali a pastar. O nosso herói tenta encetar uma conversa com o gajo que o acompanhou lá ao outro lado e nada obtém em troca. Por algum acaso, cita Homero e os seus escritos e, curiosamente, aquele «bicho» completa uma das suas frases. Descobre-se tudo. Aquela coisa que ali estava era Homero em pessoa, não sei quantos milhares de anos depois!
Bom, se a história não respeita fielmente o original, perdoem-me, mas ficam com a ideia. A fonte da imortalidade era a água do rio e os seres imortais eram aqueles que por ali se arrastavam, que tinham perdido quase por completo a capacidade da fala, já não me recordo muito bem porquê, mas havia um significado qualquer que eu agora não descortino.
O certo é que para cada acção há uma acção contrária, que anula a primeira. Por isso, a partir daquele momento, o sujeito em questão passou a explorar o Mundo e a provar a água de todos os rios que podia, até que, finalmente, uns trezentos anos depois, provou a água libertadora que buscava.
Pode ser esta a razão que move o aparecimento e desaparecimento do Conde de St. Germain, embora desconfie que não. Cá para mim, o senhor em causa deve ter ido finalmente para Agharta, no centro da Terra, para se ir juntar aos seus colegas Superiores Desconhecidos que neste momento já deve conhecer bem.
Uma vez perguntaram a um criado do Conde de St. Germain se era verdade que ele tinha seiscentos anos (há quem defenda que ele não nasceu propriamente em 1696…). Este, pouco surpreendido, disse friamente que não saberia responder a essa pergunta, uma vez que só estava ao serviço do Senhor Conde há cerca de duzentos anos…
Nota final: quem não gostava do Conde de St. Germain dizia que ele era filho de um judeu português chamado Aymar. Repare-se aqui que os portugueses já eram benquistos na altura…