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Vareta Funda

O blog dos orizicultores do Concelho de Manteigas


quarta-feira, outubro 26, 2005

Vareta, modestamente contrariado, reconhece o brilhantismo alheio...

Levado pelos linques da Querida Guitarra, encontrei um fabuloso exercício de crítica literária, creio que o primeiro verdadeiramente sério sobre a "obra" de Margarida Rebelo Pinto, no blog Esplanar, de João Pedro George. É de leitura obrigatória.
Puxando a brasa à minha cavala, ainda que ostentando uma cara de goraz com todos, pouco fresco e já frio (leiam, leiam o Esplanar que perceberão o meu fascínio piscícola...), esforcei a minha cabeça (de garoupa) e, escavando nos arquivos deste blog, encontrei, qual robalo debaixo da capa de sal, um post de 2003 em que tentei emular o "estilo" Rebelo Pinto sem nunca ter lido uma linha - diria mesmo uma alforreca - escrita pela senhora. Modestamente afirmo que não andei lá muito longe: sensivelmente a distância a que o carapau anda da costa...
Ora recordai...


E X C L U S I V O ! ! !

Honrando a recente mas fulminante tradição nacional da "trash literature", orgulhamo-nos de apresentar, em pré-publicação, o primeiro capítulo do mais recente lançamento do género no nosso país. A autora, por razões óbvias, pretende manter o anonimato mas dispõe-se a dar a cara. Assim, só avisa as amigas do café e as vizinhas invejosas nem se chegam a dar conta de que é ela a mulher por detrás do esperado sucesso de...

SOU TÃO CABRA COMO AS OUTRAS


CAPÍTULO I - Aquele filho da puta...

"Estou-me bem a foder!", pensou Carmo enquanto limpava as axilas e os seios com uma pequena toalha de turco humedecida. Gostava daquela toalha. Comprara-a nos Armazéns Paris em Lisboa, nuns saldos, há dois ou três anos. Não tinha sido barata, mas o turco era bom, fofo, não largava pêlo, e os seus tons de laranja e verde casavam na perfeição com o mosaico de pastilha da Roca que, por capricho, mandara instalar na casa de banho contígua ao seu quarto de dormir. Achava-se malandra e moderna ao formular aquele pensamento cru mas genuíno. "Estou-me bem a foder!", repetiu para consigo e não conseguiu reprimir uma pequena risada. "Ai, Carmo, Carmo!", pensou ela e agora excuso de escrever mais isto porque a leitora já se deve ter apercebido de que quando eu ponho uma frase entre aspas isso quer dizer que é a protagonista a pensar. Portanto: "Ai, Carmo, Carmo!", pensou ela, mas isto já nem era preciso eu escrever. "Tens 37 anos, mulher, e ainda coras um bocadinho quando a palavra foder te vem ao espírito..." As reticências, claro, ela não pensou, mas permitem à leitora imaginar que a palavra espírito ficara a ecoar na mente da protagonista. Assim: espírito, espírit, espír, pír, pír, pí. E pí-pí-pí fez nesse preciso momento o seu relógio despertador, uma peça bem patusca em plexiglás que comprara por tuta e meia num daqueles desvarios consumistas que a levara à Habitat do Colombo numa tarde de chuva. Agora, a minha editora disse-me para fazer aqui um parágrafo.
(parágrafo)
"Ainda bem que ponho o despertador para me lembrar de tomar a melatonina. Como sou uma mulher muito viajada e sofro constantemente com o jet-lag por causa das viagens que faço à América do Sul e à Ásia para escolher produtos assim típicos e giros e não muito caros para depois vender na minha loja que é ali na Alta de Lisboa, vocês sabem, ao Lumiar?, uns prédios novos?, pois, e depois vendo-os aí mas antes viajo para os ir comprar e aquilo cansa-me muito e antes que me dê para aqui uma fibromialgia tomo mas é uns comprimidinhos que me indicou a Caetana e que diz que são de melatonina e que o marido que passa o tempo entre Lisboa e NY toma e que diz que fazem um mar de bem e que uma pessoa nem sente as horas de sono que perde." No fim deste longo pensamento, e jogando a toalha no cesto da roupa - uma coisa amorosa, em palhinha, que se tinha vendido muito bem na loja, neste Verão - avançou até ao quarto de dormir, abriu o seu closet e fez a sua escolha da roupa que iria levar para o jantar dessa noite. Sim, porque era de noite. Quer dizer, se ía jantar, devia ser de noite. A menos que fosse no pino do Verão, daqueles dias que nunca mais acabam, chega-se às dez horas da noite e vai-se a ver e ainda é de dia e é uma grande maçada porque uma pessoa vai de férias carregada com vestidos de noite e passa dias e dias sem usar mais nada senão uma saída de praia. Mas o que interessa é que a Carminho, a personagem que criei para protagonista e que, vão ver quando chegarem ao fim do livro, é parecedíssima com uma amiga minha que concerteza não conhecem, a Carminho, dizia, ía jantar. "Não acredito que aceitei este jantar com o Salvador Lorvão d'Albuquerque. Ele é um amor, é civilizadíssimo, as nossas famílias conhecem-se desde sempre, as nossas mães passavam férias juntas em São Martinho do Porto, e a irmã dele, a Lenicha, foi minha colega no Sagrado Coração de Maria, e isso tudo. Mas é um traste. Só não penso mais nisso agora para não antecipar o diálogo que vai acontecer a seguir." É para fazer parágrafo outra vez, não é?
(outro parágrafo)
Bom. A Carmo saiu de casa, desceu à garage (pronunciar gá-rá-ge, que é como diz a gente que é como a gente), entrou no seu carro - e isso, minha rica leitora que me desculpe, mas para marcas de carro é que eu não tenho cabeça - e lá foi ao restaurante. E no caminho pensou: "Aquele Salvador... Combinar num restaurante da Linha com vista para o mar só para dar uma de romântico...". O restaurante, posso-vos adiantar, era o Porto de Santa Maria. À entrada, cumprimentou o Francisco Pinto Balsemão e a Mercedes.
- Tita!, mas você 'tá óptima! E o Chico também está com um ar estupendo!
O casal Balsemão não lhe respondeu porque não a conheciam e a Carmo lá viu o Salvador, já sentado à mesa, e caminhou até à mesa onde estava sentado o Salvador que esperava por ela.
- Olé, Salvador!
- Carmo! Viva!Um beijinho.
- E então, Salvador? Que desculpa é que arranjou para que a Inez, a sua mulher, não desconfiasse deste jantar fora de casa?
- Ouça, Carmo. Você nem acredita. Não sabia muito bem o que havia de dizer e lembrei-me duma coisa que nunca falha: disse-lhe que tinha uma reunião no escritório e que depois íamos todos jantar.
- Mas desde quando é que você trabalha num escritório?!
- Carmo, ouça. Isso também não tem importância. A Inez não é pessoa de reparar e se perguntar alguma coisa digo-lhe que foi p'aí num escritório qualquer.
- E o que é que você tem p'a me dizer, Salvador?
- Carmo, ouça. Não sei. Apeteceu-me estar consigo.
- Você é um charme, Salvador! As coisas que você diz!...
- Não, ouça, Carmo. É que foi mesmo assim. Lembrei-me de si e tive que lhe tufonar no momento. Assim uma coisa género saudade, percebe?
- Desde a última vez que foi lá a casa nunca mais disse nada...
- Carmo, ouça. Isto é complicado. A Inez, a quinta dos pais, os cães...
- Eu percebo, Salvador. Mas fiquei à espera duma palavra, sei lá. Que me tivesse tufonado a dizer que foi bom, que me queria voltar a ver.
- Mas ouça, Carmo. Isto nunca pode ser nada de sério, não é?
- P'amor de Deus, Salvador! Até me faz rir! Ah ah ah! E acha, você acha, que eu queria algo de sério? Consigo? P'amor de Deus...Nesse momento, deram-se as mãos por cima da mesa e com as postas de cherne ainda mal debicadas, saíram os dois e entraram cada um em seu carro rumo à casa de Carmo. E, no caminho, Carmo pensava: "Estou-me bem a foder! Vou para mais uma noite de cama com este querido que encorna uma das minhas melhores amigas... Se não fosse comigo, eu era a primeira a ir-lhe contar... Onde é que já se viu! Aquele filho da puta... (pausa) Carmo! Tu hoje estás uma ordinareca nos teus pensamentos!" E soltou mais uma risadinha...

Este é o livro que pode mudar a sua vida. E lembre-se: foi aqui que você leu primeiro!

Arrotos do Porco:

primeira! eeeeehhhhhhhhhhhhhh!
há vareta fresquinho!!!!!!
eeehhhhhhhhhhhhh! :DD


vou ler
8)



pois, foi antes de eu chegar cá à vara!
não tinha lido

e tá lindo
e lido

:D



Tem um bocado de Saramago, é preciso limar isso para chegar a Nobel.




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