<$BlogRSDUrl$>

Vareta Funda

O blog dos orizicultores do Concelho de Manteigas


quinta-feira, outubro 27, 2005

SEMI-DEPRESSÃO

De repente sentiu-se desamparado. Nada havia a fazer. Todo o seu mundo tinha ruído.

O desespero assaltou-o enquanto arrumava as coisas. Para onde iria?

Abriu a porta e saiu. Uma leve neblina escondia as formas que constituíam o ambiente que o rodeava. Um universo branco à sua volta.

Lembrou-se dos seus cinco anos de idade e de quando acompanhava a sua mãe às compras na Feira de Agosto. Esta feira realizava-se em Setembro. Como tudo no seu país, quando se fazia, fazia-se tarde. Olhava as galinhas dentro das gaiolas. Tinham um ar adoentado e espirravam de uma maneira que nunca tinha visto. Devia ser um resfriado qualquer, porque ainda faltavam muitos anos para a Pandemia.

Pensou duas vezes e embrenhou-se em si mesmo. Queria ser veterinário. Tinha amor pelos animais, mas estes detestavam-no. Qualquer cão, gato, grilo, formiga ou gafanhoto tinha especial predilecção por mordê-lo, arranhá-lo, picá-lo ou simplesmente ignorá-lo.

Estavam todos contra ele. Até sua mãe, mulher da vida numa pequena aldeia, não o tinha recebido de braços abertos. Todos sabem que foi de pernas abertas, pelo método natural. Ela suportava-o, apenas.

Recordava o estaladão que levara nesse dia na feira, por se ter aproximado dos animais doentes. Afinal, talvez ela gostasse um bocadinho dele. Mas não, vendo bem e atendendo aos parcos recursos económicos de que usufruíam, a reacção dela devia-se tão-somente ao tentar evitar gastos supérfluos na botica. Já bem lhe bastava todos os anti-fúngicos e um ou outro antibiótico de vez em quando.

Ser mulher da vida é fodido. Ou melhor, ser mulher da vida é fodida. Resume-se a isto e a dois dedos de conversa, um carinho na orelha do «amigo» de ocasião e passa para cá umas verdinhas. Que, no caso, não eram propriamente verdes. Verdes eram as de vinte escudos e, tanto quanto se lembrava, vinte escudos nem sequer davam direito a uma aspiração. No mínimo, cinquenta. E as de cinquenta eram acastanhadas ou da cor do barro.

Tudo quanto o rodeava era pérfido e mal-intencionado. Todos se uniam contra ele. Não tinha amigos nem brinquedos, nem carinhos nem muito que comer.

E cresceu nestas condições, sub nutrido e a viver à sombra da giesta. Que, como toda a gente sabe, não é o mesmo que viver à sombra da bananeira. A bananeira é, desde logo, uma árvore. A giesta não. Podia ter dito que tinha crescido à sombra do morangueiro, planta de baixo porte, mas com um ar simpático e que dá frutos vermelhos. Mas seria desenquadrar o espírito depressivo da sua fase de desenvolvimento e assim não seria um retrato fiel.

Aliás, a sua subnutrição era devida a alimentar-se dos frutos da giesta - que eu desconfio que não existem e, caso existam, não deverão ser vermelhos como os morangos - e das ervas que crescem em volta dos ribeiros, acrescidas de uma ou outra rã.

Perninhas de rã ainda hoje lhe viravam o estômago do avesso. Principalmente por causa daqueles ossos pontiagudos que lhe perfuravam as paredes do órgão digestivo. Isto para não mencionar os problemas de evacuação. Mas dava-lhe gosto trincar a seu bel-prazer as cartilagens dos bichos.

(a depressão vai continuar, talvez haja algum prozac pelo meio, quem sabe…)

Arrotos do Porco:

Na qualidade de entendido, venho esclarecer o Sr. Chouriço que as giestas têm fruto, como todas as plantas superiores. O que acontece é que nem todos são fruta, isto é frutos comestíveis. Os frutos das giestas (Cytisus sp. pl.) chamam-se "vagens" e têm pêlos. Há muita gente que gosta de abocanhar coisas com pêlos, mas frutos de giesta não é habitual.


Na qualidade de entendido, venho esclarecer o Sr. Chouriço que as giestas têm fruto, como todas as plantas superiores. O que acontece é que nem todos são fruta, isto é frutos comestíveis. Os frutos das giestas (Cytisus sp. pl.) chamam-se "vagens" e têm pêlos. Há muita gente que gosta de abocanhar coisas com pêlos, mas frutos de giesta não é habitual.




<< Voltar ao repasto.

This page is powered by Blogger. Isn't yours?