sexta-feira, outubro 28, 2005 |
O Vareta não gosta de americanos bêbedos e explica porquê...
Vocês devem pensar que é fácil...
Vocês devem pensar que é fácil...
Esta menina toca harpa e guincha
Este senhor toca guitarra e geme
Um gajo sai do trabalho, cansado, sem jantar, mal almoçado e cansado, não sei se já tinha dito. Ora este gajo cansado sai a correr do trabalho às seis e pouco da tarde, ultrapassando freneticamente os micro-japonos na caminhada para o metro, alimentado pela convicção de que às sete da tarde começa o concerto da Joanna Newson no Shibuya O-West, a que se seguirá o Sr. Bill Callahan, vulgo SMOG. Este gajo cansado, que se cansa a correr para o metro para ir a casa trocar de farpela, sai a correr do apart-hotel a que chama casa para ir para Shibuya, rogando pragas aos pastelões que encontra pela frente e que mais parecem estar na Procissão do Senhor dos Passos, em Dornes, que nos passeios de uma capital. Este gajo cansado do trabalho chega ainda mais chegado a Shibuya e ainda se cansa mais porque se engana na rua em que corta, perdendo assim preciosos minutos de música e muitas energias. Já cansado, este gajo cansado chega à porta desse prostíbulo musical chamado Shibuya O-West já pelas 19h20, desdizendo da sua vida, pensando que a essa altura já a menina Joanna espraiasse os dedos langorosos pela harpa. Consideravelmente cansado, este gajo que já se vinha sentindo cansado há mais de uma hora lá compra o bilhete (depois de andar quase 10 minutos a tentar dar com a merda da porta da baiuca) e entra para uma sala pouco maior que um quarto de arrumos onde, no palco, quatro japoneses e uma japoninha engraçadinha iam tocando e cantando umas cantigas modernas, bonitinhas, Sigur Ros do Sol Nascente com uns laivos de TuxedoMoon. Fixe. O gajo cansado fica feliz por ver que o esforço valeu a pena, que a menina Joanna ainda não passeia o langor dos dedos e da voz e do colo bem arrumado no vestido vermelho pelo palco. Já mais bem disposto, o gajo ainda cansado começa a ficar com os calores... o letreiro à porta dizia que aquilo tinha capacidade para 500 pessoas e talvez nem estivessem as 500 – fosse como fosse, posso garantir-vos que a capacidade estimada tem um zero a mais. O gajo cansado (não, não vou sair disto nem vou fazer parágrafos tão cedo) vê o grupo japonês sair do palco, vê mudarem o palco e não vê nenhuma harpa, levando-o a pensar de si para consigo: “Ó catano!... Mas tu queres ver que o filho da mãe da bilheteira me mandou para a sala errada?!...”. Preocupado, o gajo cansado olha à sua volta e fica tranquilo quando vê um paneleirote com uma t-shirt dos SMOG... pfff!... ainda se fosse uma langorosa t-shirt da langorosa menina langorosa Joanna, tão langorosa... Posto isto, aparecem outros japoneses irrelevantes, tipo Jimi Tenor dos pobrezinhos, com pouco ar e pouca graça quando comparados com a fabulosa matriz inicial. E eles vão-se embora e o gajo cansado bebe uma jola e aparece no palco a harpa e depois a menina de vermelho. E que faz ela? Senta-se à harpa, ajusta o suporte do micro, levanta-se e desata a cantar, a capella e sem micro, uma bonita cantiga. Corajosa – mas pouco langorosa, ainda. Quando se escarrancha no banco e ataca a harpa com uma doçura infinita, que transformam aquele instrumento grande numa coisa ora melódica, ora groovy, ora rock, aí sim: aí o cansaço e os calores perdem importância e tudo se cristalizou naqueles dedos e naquela voz, naquele artesanato tão perfeito que só dá vontade de... bom... de pegar na langorosa Joanna... e... enfim, pois... logo ali assim, em cima da harpa... bom... só dá vontade que aquilo nunca acabe. Mas acaba. Não há mal que sempre dure nem bem que não se acabe, diz um japonês meu amigo, e assim é. Acabou, o gajo cansado olha à volta e já se via gente um bocadinho entornada. Em particular dois americanos, grandes e broncos como convém à preservação do estereótipo. Eis que chega ao palco o Sr. Bill Callahan, vulgo SMOG, de guitarra acústica em punho, e desata para ali, plóim plóim plóim, a tocar umas coisas muito simples na guitarra e a cantar. E o senhor canta mas canta. É irritante – especialmente para gajos cansados – porque aquela voz é sem falha, é robusta, é profunda. E o que canta é lento, é pesado, é sofrido. E, no meio disto, os palhaços dos americanos iam gritando umas bocas para o palco, iam andando aos tombos pela sala aos encontrões em toda a gente e, quando um bife fanchono lhes pediu para fazerem menos barulho começaram a gritar “We’re tax payers! We can say whatever we want!”… Pois sim… Eles que pagassem impostos lá na terra deles que aquilo, para um gajo cansado, já era demais. Quando o Sr. Callahan saiu do palco senti-me com as baterias carregadas de música e decidi não esperar pelo encore. Eu queria mesmo era o langor perpétuo daqueles dedos da menina Joanna...
Arrotos do Porco:
Controla-te, pá!! Posts tão grandes são p ser lidos transversalmente, ou é mesmo na esperança de que se chegue a meio aos vómitos?????????????????? Lol just kidding. Inspiração em alta! |
estou escrevendo sobre um porco faminto pelo discurso antropofágico de um homem, teatro. boa inspiração rogeryocoelho@gmail.com |