terça-feira, outubro 18, 2005 |
AINDA DURA
A minha demanda por uma casa em Tóquio dava um livro. Mas aqui, quem quer livros compra-os! - não se dá nada a ninguém, a não ser uns pacotes de lenços de papel a fazer publicidade a coisas que eu não sei ler e que tanto podem ser armazéns de materiais de construção como desodorizantes íntimos para senhora. Felizmente o meu muco não se queixa da minha iliteracia...
Mas, nisto das casas, deixem-me contextualizar. No nosso Portugal, usufruo desse estatuto tão raro e estranho que é o de ter contraído empréstimo bancário para a aquisição de habitação própria permanente. Quanto ao empréstimo, nada a dizer. Quanto à procura do imóvel até encontrar um que valesse a pena adquirir, aí, meus amigos, aí haveria lugar a sermão e missa cantada, tivesse eu tempo. Dos felizmente poucos agentes imobiliários que me foram mostrando casas guardei uma imagem pouco positiva. Pareciam-me todos navegar num mar opaco de interesses duvidosos - duvidosos, essencialmente, porque nunca senti que correspondessem aos meus. Quando falavam com quem queria comprar, pareciam só defender os interesses de quem queria vender – e, ao que me dizem, a inversa é igualmente verdadeira. Daí que, desde cedo, tenha dito aos meus sobrinhos: “antes sejais refractários que agentes imobiliários!”. Depois deixei cair o assunto, mais ou menos pela altura em que o mais velho começou a aprender a falar – mas penso que a mensagem tenha ficado.
Era esta a moldura mental que eu trazia para lidar com essa gente que ganha p’ra cima de um dinheirão a alcovitar paredes, tectos e chão: os dois pés atrás e uma grossa vergasta à frente. Mas cedo lancei a vergasta para incineração (salvo seja) e avancei os dois pés – um a seguir ao outro, que esta gente não gosta de gestos repentinos.
Já contactei quatro agências imobiliárias, todas elas reputadas por trabalharem com clientes estrangeiros. Estou convencido de que houve intervenção directa do governo japonês para garantir a matemática perfeita do assunto: duas enviaram agentes do sexo masculino, uma enviou uma agente do sexo feminino e a outra enviou uma senhora mais velha. “Fifuti-fifuti”, como diriam os locais, ensaiando uma igualdade de oportunidades entre géneros que outras estatísticas teimam em desmentir.
O mais estranho é que os quatro agentes imobiliários partilham um perturbador traço comum: a existência de uma qualquer característica que apela à piedade cristã e desarma eventuais tentações de animosidade. Um usa fatos descosidos; outro tem os dentes podres, uma tem a carta de condução apreendida mercê de um somatório de manobras perigosas que espelham a sua dispersão mental e a senhora mais velha usa uns óculos com lentes espessas como toucinho do mais gordo e ainda tem que olhar para as plantas dos apartamentos com uma lupa para conseguir distinguir a casa de banho da sala de estar.
A franqueza e a seriedade de qualquer um dos quatro é desarmante. Ouvir comentários como “o senhoria está a pedir não-sei-quanto mas é um preço disparatado para o estado actual do mercado e é provável que venha a descer para não-sei-quanto”, ou “o inquilino anterior pagava x mas o senhorio já deve estar convencido de que não vai conseguir encontrar outro tonto que esteja disposto a pagar o mesmo”, era algo de que não estava à espera. Há um cuidado genuíno em tentar saber o que eu quero e preciso – e não apenas o quanto eu posso pagar, coisa que faria esmorecer o mais dedicado samaritano.
Tenho aprendido mais sobre o Japão com o senhor dos fatos descosidos e com a senhora de quem os volantes fogem com medo do que aprendi em tudo o que tenho lido – Ginas e Tânias à parte. São boas pessoas e querem mesmo arranjar uma casa de que eu goste e esteja dentro do orçamento. Eu é que sou o cliente; as casas e os seus donos são um recurso que me pode satisfazer, quando não são um obstáculo. Não há o amiguismo português do “olhe que isto já é um grande favor que lhe estou a fazer” nem as tentativas espúrias de dourar pardieiros dizendo que têm imenso cachet e que é a casa perfeita para mim ou a única que posso pagar. Apenas me mostram as casas – que eu escolho pela planta e não pela profissão de fé no critério do agente - e aguardam que eu diga sim, não ou quem sabe. Não são intrusivos, não me telefonam, não me pressionam e têm aquele ar de esperança na redenção de cada vez que abrem a porta de uma nova casa – ou de um novo buraco de merda, que a esperança é cega e por isso imorredoira.
Talvez esta seja a principal razão porque ainda não escolhi casa: o processo tem sido tão agradável e a pressão é quase inexistente, permitindo-me aprender tanta coisa. E digam-me que agência imobiliária portuguesa teria o “desplante” de dizer ao cliente “a nossa comissão é de tanto mas se quiser também pode negociar esse valor”? Nenhuma que eu conheça, pelo menos.
Era esta a moldura mental que eu trazia para lidar com essa gente que ganha p’ra cima de um dinheirão a alcovitar paredes, tectos e chão: os dois pés atrás e uma grossa vergasta à frente. Mas cedo lancei a vergasta para incineração (salvo seja) e avancei os dois pés – um a seguir ao outro, que esta gente não gosta de gestos repentinos.
Já contactei quatro agências imobiliárias, todas elas reputadas por trabalharem com clientes estrangeiros. Estou convencido de que houve intervenção directa do governo japonês para garantir a matemática perfeita do assunto: duas enviaram agentes do sexo masculino, uma enviou uma agente do sexo feminino e a outra enviou uma senhora mais velha. “Fifuti-fifuti”, como diriam os locais, ensaiando uma igualdade de oportunidades entre géneros que outras estatísticas teimam em desmentir.
O mais estranho é que os quatro agentes imobiliários partilham um perturbador traço comum: a existência de uma qualquer característica que apela à piedade cristã e desarma eventuais tentações de animosidade. Um usa fatos descosidos; outro tem os dentes podres, uma tem a carta de condução apreendida mercê de um somatório de manobras perigosas que espelham a sua dispersão mental e a senhora mais velha usa uns óculos com lentes espessas como toucinho do mais gordo e ainda tem que olhar para as plantas dos apartamentos com uma lupa para conseguir distinguir a casa de banho da sala de estar.
A franqueza e a seriedade de qualquer um dos quatro é desarmante. Ouvir comentários como “o senhoria está a pedir não-sei-quanto mas é um preço disparatado para o estado actual do mercado e é provável que venha a descer para não-sei-quanto”, ou “o inquilino anterior pagava x mas o senhorio já deve estar convencido de que não vai conseguir encontrar outro tonto que esteja disposto a pagar o mesmo”, era algo de que não estava à espera. Há um cuidado genuíno em tentar saber o que eu quero e preciso – e não apenas o quanto eu posso pagar, coisa que faria esmorecer o mais dedicado samaritano.
Tenho aprendido mais sobre o Japão com o senhor dos fatos descosidos e com a senhora de quem os volantes fogem com medo do que aprendi em tudo o que tenho lido – Ginas e Tânias à parte. São boas pessoas e querem mesmo arranjar uma casa de que eu goste e esteja dentro do orçamento. Eu é que sou o cliente; as casas e os seus donos são um recurso que me pode satisfazer, quando não são um obstáculo. Não há o amiguismo português do “olhe que isto já é um grande favor que lhe estou a fazer” nem as tentativas espúrias de dourar pardieiros dizendo que têm imenso cachet e que é a casa perfeita para mim ou a única que posso pagar. Apenas me mostram as casas – que eu escolho pela planta e não pela profissão de fé no critério do agente - e aguardam que eu diga sim, não ou quem sabe. Não são intrusivos, não me telefonam, não me pressionam e têm aquele ar de esperança na redenção de cada vez que abrem a porta de uma nova casa – ou de um novo buraco de merda, que a esperança é cega e por isso imorredoira.
Talvez esta seja a principal razão porque ainda não escolhi casa: o processo tem sido tão agradável e a pressão é quase inexistente, permitindo-me aprender tanta coisa. E digam-me que agência imobiliária portuguesa teria o “desplante” de dizer ao cliente “a nossa comissão é de tanto mas se quiser também pode negociar esse valor”? Nenhuma que eu conheça, pelo menos.
Arrotos do Porco:
Ah, grande vareta. Tu não t'a mofines, rapaz. Leva isso com calma, que pelos vistos vais no bom caminho. E entre a senhora dos óculos e o magano dos dentes podres, 'hádes'... bom, o sono e o cansaço iam-me levar a dizer um profundo disparate. Por uma vez não vou enveredar por essa senda já tão batida, e vou apenas dizer que me soube bem ler a tua posta fresca, e mai nada. E o dia tá a despontar. Cheira-me que tenho que ir meter esta gente toda a mexer, e tal... |
Vareta, queres comprar uma Transalp? Esta mota é a ideal para ti, pertence a um gajo que, tal como tu vais estar, esteve fora 3 anos (a mota ficou cá numa garagem), agora voltou e quer vender a mota. Fazes o mesmo. |
tation do caralho, pá. já me foi aos comentos. Dizia eu que esta foto é enigmática: -quem são os senhores? - o que dizem um ao outro? - porque estão tão próximos? - o que significa aquela perna ligeiramente flectida no panilas da direita? - e o rabeta da esquerda, porque tem o cotovelo tão rígido? - e porque aquela aparente pressãio na mão, parecendo querer conduxzir a mão do seu interlocutor na sua direcção e para baixo, muito mais para baixo,? é tudo muito estranho. Mas estranha a valer é a panca do fin0 em insistir que não ganha nada com a venda de uma puta de um transalp podre... Mimuncho, trabalhador do caruncho: e tens DUAS HORAS para dedicar a essa merda, pá? rica vida! ;) |
AH, AH, AH, AH! E quem disse que ele esteve a falar? Cá para mim estiveram foi a conhecer-se. No sentido bíblico do termo. |
Mimalho, para enviares email usa o meu dos tratadores. Estou de mal contigo porque és de Coimbra e do Benfica e a Académica... e Alvalade... ... pronto, não se fala mais nisso. Aparece por cá que eu hei-de ter um armário para visitas. |
Uma imobiliária de Chelas, a Cajós´s Real Estate está certamente na disposição de te ajudar. Arranjam-te uma casinha no Japão num instante. Mandas o guito num envelope em numerário que eles arranjam-te a casita. |