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Vareta Funda

O blog dos orizicultores do Concelho de Manteigas


sexta-feira, julho 01, 2005

Sexta-feira é dia de...




Os The Sound, como os The Go-Betweens e outros, foram uma banda muito injustiçada pelo público. Eu sei que este conceito é um bocado esquisito: se o “público”, designação genérica e monstruosa, é injusto, então nas mãos de quem é que está a justiça? A resposta, não sendo óbvia, é evidente: está nas minhas mãos e por isso cabe-me hoje fazer justiça aos The Sound, do grande e falecido Andrew Borland.

Se se fala nos The Sound a quem passou pelos anos 80 e acha (erradamente) que os conhece, o mais provável é ouvir qualquer coisa como “Ehn… eram assim um subproduto dos Echo & The Bunnymen / Teardrop Explodes / The Chameleons / Joy DIvision (riscar o que não interessa)”. Se o interlocutor é alguém que conhece realmente os The Sound, a reacção é mais padronizada ainda: “Como é que os gajos não foram os maiores destes todos?!”. Se a primeira é espúria, a segunda enferma de um lirismo eivado de injustiça e sede de vingança. A verdade – absoluta, já que sou eu quem modestamente a pronuncia – é que eles deviam ter sido grandes, sim, mas grandes a uma escala moderada. É que nunca nos podemos esquecer que a tentação da grandeza em grupos como estes, criados nas fileiras da new wave e do indie rock britânico, acabava por resultar em coisas como os Simple Minds da segunda metade dos anos 80 ou piores (lembro-me, assim de repente, de alguns álbuns dos Big Country de que não me queria lembrar…).

Assim, pobretes mas alegretes, os The Sound lá se escaparam à vocação messiânica e gigantista de gente como os quatro irlandeses que dizem “tu também” e fizeram música com uma honestidade e com uma devoção muito particular, que está bem evidente, por exemplo, nesse EP esmagador que dá pelo nome de “Shock of Daylight”, datado de 1984. Na altura, em que por via dos meus então oito anos ainda não tinha a turba de seguidores que hoje compra qualquer disco ou detergente que eu aqui recomende, as vendas foram tão expressivas como a cara da Leonor Silveira. Mas urge redescobri-lo (está disponível em cd em edição conjunta com o álbum Heads and Hearts) e ouvi-lo com frequência, digerindo aquela impressionante consistência rítmica e o trabalho dos dois guitarristas e a discrição precisa dos teclados e a produção equilibrada de Pat Collier. Em particular, recomendo que, enquanto estiverem a aborrecer-se de morte ao atravessar a(s) ponte(s) para irem pôr os pezinhos a lavar em água com sal, prestem particular atenção a esse monumento da “visceralidade oitentista” (neologismo registado) que é “New Way of Life”, canção avassaladora e belíssima. As guitarras rockam, o baixo pula, os tambores vibram, os pratos batem como lésbicas e as teclas gemem como putas – música lúbrica!, música viva e contangiante. Aqui deixo a letra, garantindo o alcance mesmo àqueles mais desfavorecidos de entre vós que não lêem estrangeiro.

"new way of life"

Light a flame in the dark
Acende a luz nas escadas
Light a flame in my heart
Abre a janela e as portadas
Light a candle to see me through these times
Acende a vela contra os maus odores
Hands reach for hands now
As mãos secas e gretadas
We just need each other now
Precisas de Atrix às carradas
Someone to hold on to in these times
E de Prozac para os maus humores
There's a new way of life - It's up ahead
Que estranha forma de vida - tens que a viver
Looks like an open road - But what's up ahead?
Que história mal parida - tens que a escrever
With my opened arms I'm frightened too
Tens o braço irritado da depilação
Looks like the new way of life
Que estranha forma de vida
Takes me away from you
Que estranha vermelhidão
Always kept caution close at hand
Cautela e caldos de galinha
Never threw it to the wind
Seja tua ou da tua vizinha
I am wary of the unknown
São reconfortantes tradições
But I can't stay the same
Mas esta merda de vidinha
Never change, never change
Não é p’ra uma alma como a minha
We must take this future and make it our own
Hoje é sexta, é dia de Euromilhões…

Arrotos do Porco:

ehhh :)
Voltaram sexta feiras musicais.

Calma, agora vou ler a posta. E não, não conheço The Sound (mas conheço os Go-Betweens...).





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