terça-feira, maio 03, 2005 |
Vareta responde…
O Senhor Selvagem desafiou-me a responder a uma espécie de “diz-me que livros lês dir-te-ei quem és” de pacotilha que vai circulando por aí. Eu não sou gajo para me agachar ante um desafio, ai isso é que não sou! Vai daí, tirei-me dos meus cuidados e alinhavei as respostas que seguem a este prenúncio dos inquéritos de Verão que brevemente assolarão a desmiolada imprensa portuguesa. Ora…
Não podendo sair do Fahrenheit 451, que livro quererias ser?
Quereria ser Fahrenheit 451, de Ray Bradbury, dando origem a uma pescadinha de rabo-na-boca literária em que, qual Penélope que trocasse o tricô pelas letras, o autor continuamente criasse e destruísse a mesma obra – no fundo, seria uma homenagem em prosa àqueles que, como eu, já deram joelhadas incautas no malfadado botão “restart” de alguns PC’s sem terem gravado os documentos em que estavam a trabalhar…
Já alguma vez ficaste apanhadinho por uma personagem de ficção?
Muitas vezes. Desde a Ana d’Os Cinco até a uma menina chamada Paula Oliveira de quem o meu pai me falava e que afinal não existia e era só um pretexto para eu comer a sopa, foram muitos os arroubos por personagens de ficção. O mais forte talvez tenha sido por Isabel II no A Rainha e Eu, de Sue Townsend…
Qual foi o último livro que compraste?
O Norwegian Wood, do Haruki Murakami. Foi por razões profissionais, claro: um aspirante a gajo cool e meio urbano-depressivo como eu nunca compraria de moto próprio um livro que traz escrito na capa “Mais de 4 milhões de exemplares vendidos em todo o mundo!”, nunca. Para já, parece-me muuuuito original: é o primeiro livro que leio em que o narrador rememora o seu passado e pensa nas pessoas que conheceu e nos amores que correram mal, tudo sob um véu de alguma nostalgia açucarada. A tradução parece-me ser acintosa mas não domino o japonês o suficiente para ler no original… Para o mês que vem compro antes a Gina, que costuma ter histórias parecidas mas mais ilustrativas.
Qual foi o último livro que leste?
O Embrace, do sul-africano Mark Behr. E que grande livro! Oitocentas e tal páginas em letra miudinha! E ainda por cima está escrito em estrangeiro! É um bocadinho fanchono, à imagem do autor, mas acho que foi o melhor livro que já li sobre alguns aspectos da adolescência e sobre a descoberta da voz enquanto instrumento e sobre a África do Sul. A DIFEL publicou em Portugal o primeiro romance do Behr, O Cheiro das Maçãs, mas este deve ser uma carga de trabalhos para traduzir.
Que livros estás a ler?
Isso… isso é uma história muito comprida… Não acredito que os livros sejam para ler de enfiada ou com disciplina. Isso fazia-se com os porcos, dantes: matava-se um porco e ia-se comendo a eito, do mais perecível para o menos. Com os livros não vale a pena – eles não apodrecem e a mosca da fruta não simpatiza com eles. De maneira que os vou lendo, um dia um, um dia outro, um dia mais um e mais outro e ainda aquele que estava há meses em repouso. Entre os títulos mais relevantes que estou a ler tenho que destacar O novíssimo Príncipe, de Adriano Moreira, particularmente pertinente nas cercanias de mais um 25 de Abril; os quatro volumes da Defesa do Estado Português da Índia, publicados pelo Ministério dos Negócios Estrangeiros; o Conselhos para Rapazes, do Dr. Georges Surbled, célebre higienista francês que escreveu esta obra dirigida como um alerta moral aos jovens da primeira metade do século XX e que tem passagens ilustrativas sobre os malefícios do onanismo; e um pequeno opúsculo intitulado Razões para a presença de Portugal no Ultramar – excertos de discursos do Prof. Marcelo Caetano, porque é sempre formativo ver como se defende o indefensável. A juntar ao lote temos o incontornável Renato Solnado e o seu Nome de Thriller; o Álamo de Oliveira e o Pátio d’Alfândega – Meia Noite; Sampaio Bruno e A Ideia de Deus; Pier Paolo Pasolini e Uma Vida Violenta; Pierre Pierard e Uma História da Igreja; e mais um Douglas Coupland, e mais um Nick Hornby, e mais um Jonathan Coe, e mais a Aparição, a belíssima Aparição do Vergílio Ferreira, e mais O Homem Universal do Pascoaes; e mais um Vian e um Mann que me emprestaram e eu tenho que ler senão parece mal. E ainda haveria mais, mas assim o que se assume como um espírito caótico na leitura passaria por cagança e isso, meus amigos, isso é que não! Se há coisa por que sou reconhecido e louvado é precisamente pela modéstia que sempre me caracterizou!
Que livros (5) levarias para uma ilha deserta?
Lusts of a Moron, de Momus, vulgo Nicholas Currie; Matar-se a si próprio, de Aiddan Higgins; Doces e Cozinhados, de Isalita; um álbum encadernado a couro com vários volumes de Cruzadex e, obviamente, The Virgin Encyclopedia of 80’s Music.
A quem vais passar este testemunho (três pessoas) e porquê?
À Quinta Coluna, porque são nossos amigos.
Ao Impertinente, porque é verrinoso e cáustico e eu gosto.
Ao Sublimado e Corrosivo, porque me apetece.
O Senhor Selvagem desafiou-me a responder a uma espécie de “diz-me que livros lês dir-te-ei quem és” de pacotilha que vai circulando por aí. Eu não sou gajo para me agachar ante um desafio, ai isso é que não sou! Vai daí, tirei-me dos meus cuidados e alinhavei as respostas que seguem a este prenúncio dos inquéritos de Verão que brevemente assolarão a desmiolada imprensa portuguesa. Ora…
Não podendo sair do Fahrenheit 451, que livro quererias ser?
Quereria ser Fahrenheit 451, de Ray Bradbury, dando origem a uma pescadinha de rabo-na-boca literária em que, qual Penélope que trocasse o tricô pelas letras, o autor continuamente criasse e destruísse a mesma obra – no fundo, seria uma homenagem em prosa àqueles que, como eu, já deram joelhadas incautas no malfadado botão “restart” de alguns PC’s sem terem gravado os documentos em que estavam a trabalhar…
Já alguma vez ficaste apanhadinho por uma personagem de ficção?
Muitas vezes. Desde a Ana d’Os Cinco até a uma menina chamada Paula Oliveira de quem o meu pai me falava e que afinal não existia e era só um pretexto para eu comer a sopa, foram muitos os arroubos por personagens de ficção. O mais forte talvez tenha sido por Isabel II no A Rainha e Eu, de Sue Townsend…
Qual foi o último livro que compraste?
O Norwegian Wood, do Haruki Murakami. Foi por razões profissionais, claro: um aspirante a gajo cool e meio urbano-depressivo como eu nunca compraria de moto próprio um livro que traz escrito na capa “Mais de 4 milhões de exemplares vendidos em todo o mundo!”, nunca. Para já, parece-me muuuuito original: é o primeiro livro que leio em que o narrador rememora o seu passado e pensa nas pessoas que conheceu e nos amores que correram mal, tudo sob um véu de alguma nostalgia açucarada. A tradução parece-me ser acintosa mas não domino o japonês o suficiente para ler no original… Para o mês que vem compro antes a Gina, que costuma ter histórias parecidas mas mais ilustrativas.
Qual foi o último livro que leste?
O Embrace, do sul-africano Mark Behr. E que grande livro! Oitocentas e tal páginas em letra miudinha! E ainda por cima está escrito em estrangeiro! É um bocadinho fanchono, à imagem do autor, mas acho que foi o melhor livro que já li sobre alguns aspectos da adolescência e sobre a descoberta da voz enquanto instrumento e sobre a África do Sul. A DIFEL publicou em Portugal o primeiro romance do Behr, O Cheiro das Maçãs, mas este deve ser uma carga de trabalhos para traduzir.
Que livros estás a ler?
Isso… isso é uma história muito comprida… Não acredito que os livros sejam para ler de enfiada ou com disciplina. Isso fazia-se com os porcos, dantes: matava-se um porco e ia-se comendo a eito, do mais perecível para o menos. Com os livros não vale a pena – eles não apodrecem e a mosca da fruta não simpatiza com eles. De maneira que os vou lendo, um dia um, um dia outro, um dia mais um e mais outro e ainda aquele que estava há meses em repouso. Entre os títulos mais relevantes que estou a ler tenho que destacar O novíssimo Príncipe, de Adriano Moreira, particularmente pertinente nas cercanias de mais um 25 de Abril; os quatro volumes da Defesa do Estado Português da Índia, publicados pelo Ministério dos Negócios Estrangeiros; o Conselhos para Rapazes, do Dr. Georges Surbled, célebre higienista francês que escreveu esta obra dirigida como um alerta moral aos jovens da primeira metade do século XX e que tem passagens ilustrativas sobre os malefícios do onanismo; e um pequeno opúsculo intitulado Razões para a presença de Portugal no Ultramar – excertos de discursos do Prof. Marcelo Caetano, porque é sempre formativo ver como se defende o indefensável. A juntar ao lote temos o incontornável Renato Solnado e o seu Nome de Thriller; o Álamo de Oliveira e o Pátio d’Alfândega – Meia Noite; Sampaio Bruno e A Ideia de Deus; Pier Paolo Pasolini e Uma Vida Violenta; Pierre Pierard e Uma História da Igreja; e mais um Douglas Coupland, e mais um Nick Hornby, e mais um Jonathan Coe, e mais a Aparição, a belíssima Aparição do Vergílio Ferreira, e mais O Homem Universal do Pascoaes; e mais um Vian e um Mann que me emprestaram e eu tenho que ler senão parece mal. E ainda haveria mais, mas assim o que se assume como um espírito caótico na leitura passaria por cagança e isso, meus amigos, isso é que não! Se há coisa por que sou reconhecido e louvado é precisamente pela modéstia que sempre me caracterizou!
Que livros (5) levarias para uma ilha deserta?
Lusts of a Moron, de Momus, vulgo Nicholas Currie; Matar-se a si próprio, de Aiddan Higgins; Doces e Cozinhados, de Isalita; um álbum encadernado a couro com vários volumes de Cruzadex e, obviamente, The Virgin Encyclopedia of 80’s Music.
A quem vais passar este testemunho (três pessoas) e porquê?
À Quinta Coluna, porque são nossos amigos.
Ao Impertinente, porque é verrinoso e cáustico e eu gosto.
Ao Sublimado e Corrosivo, porque me apetece.
Arrotos do Porco: