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Vareta Funda

O blog dos orizicultores do Concelho de Manteigas


quinta-feira, março 24, 2005

UM FETICHE DE PÀSCOA

Em 1963 o realizador, dramaturgo, peoeta e escritor Pier Paolo Pasolini, para a obra colectiva Rogopag , que consta de curtas metragens de Rossellini, Godard, Pasolini e Gregoretti (produtor), fez “La Ricotta” (O requeijão). O filme é um pseudo-“making of” de um filme abstruso e barroco sobre a vida de Cristo em que o personagem do realizador famoso é Orson Welles (com um ar super-estiloso de óculos de massa fininhos, tipo Bairro Alto), que hesita e repete ad nauseam a cena da crucificação. Basicamente, tenta compor um quadro de descimento da cruz próximo da estética maneirista do pintor Jacoppo Pontormo [é um fresco que está em Florença na Igreja se Sta. Felicitá, a seguir à Ponte Vechio, a dos ourives. Paga-se um euro para acender as luzes mas vale a pena. Lindo de morrer – (comentário abichanado) - Durante as filmagens, um figurante que é um operário desempregado e faz de um dos ladrões crucificados com Jesus, tenta em vão comer (um requeijão) durante toda a filmagem. Primeiro dá a sua ração, distribuída pela produção do filme, à família esfomeada que come em silêncio no meio de um campo florido (Lindo de morrer- novo comentário abichanado). Depois obtém outro requeijão que tenta, em vão, comer. A filmagem da cena da crucificação é repetida vezes sem conta e o figurante fica atado a uma cruz - e esquecido - e sempre com fome. Uma rapariga – também figurante do filme- dança semi-nua durante um intervalo causado por uma visita do presidente da câmara ás filmagens e o figurante-ladrão entusiasma-se sexualmente, ejaculando enquanto está preso á cruz (não se vê, mas percebe-se muito bem).

Finalmente consegue refugiar-se para comer. Membros da equipa de produção, espantados com a sua fome (crónica, de pobreza) dão-lhe toda a comida que ele consegue comer e gozam ostensivamente come ele (e a sua fome). O figurante empanturrado é novamente içado para a cruz para nova filmagem e morre de congestão. O facto de ter ejaculado preso a uma cruz e a sugestão de Pasolini de que o verdadeiro Cristo é ele e não o do filme, esfomeado e humano, mereceu-lhe uma queixa do Vaticano e uma prisão de quatro meses. No ano seguinte, 1964, Pasolini fez o Vangelo Secondo Mateo, um dos mais belos filmes de todos os tempos (preto e branco, 8 mm). O texto é ipsis verbis o do Evangelho, a banda sonora – Missa Congolesa – batuques cantados em latim, Blues, Gospel, Bach e a mais bela fotografia que já se tinha alguma visto no cinema (cada fotograma é de parar em still image no DVD e apreciar com um nó na garganta). Maria, mãe de Jesus, é Marguerita Caruso de 13 anos e tem um olhos pretos enormes; Jesus é um jovem estudante espanhol de 19 anos, de sobrancelhas unidas e o cabelo curto, penteado para trás, que vocifera de raiva todo o filme- Enrique Irazoqui. (Actualmente é economista e professor universitário, um grande especialista mundial em inteligência artificial).

Na Páscoa, tentem ver estes filmes. Se já viram, sabem que ambos são profundamente emocionantes e muito belos.




Enrique Irazoqui – Cristo






Marguerita Caruso (Maria) e Pasolini



Fotograma de La Ricotta.


P.S. Este post tem os seus laivos vagamente abichanados, mas pronto. São as fraquezas humanas.

Arrotos do Porco:

Abichanada é a tua prima!




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