terça-feira, março 08, 2005 |
Microfábulas – XI
Havia, certa vez, um quarentão de voz titubeante e olhar esgazeado que vivia atormentado por toda a sorte de fobias. “Lá vai o maniento de merda!”, diriam uns; “Lá vai o Augustinho!”, diriam os mais educados. O diminutivo servia de certidão à sua condição de solteiro agarrado às saias – ou calças, por força das varizes – da mãe. Ao solteirio e às fobias, Augustinho aliava uma frontalidade que o mais das vezes se confundia – com alguma legitimidade – com a mais exemplar estupidez. E o povo que com ele convivia aceitava Augustinho como um curioso “apontamento de reportagem”, o “taradinho com medo das doenças”, inofensivo e fácil de menosprezar.
A pensão por viuvez que a mãe de Augustinho auferia lá ia dando para cobrir as despesas pois o “seu menino” não conseguia arranjar trabalho. A última tentativa tinha sido com um comerciante amigo do defunto Major Augusto que, por consideração para com a viúva, colocara a hipótese de empregar Augustinho nos seus escritórios. Bastaram dois minutos de entrevista para que o comerciante mudasse de ideias:
- Ora bom dia, Augusto! – disse o empresário estendendo a mão para apertar.
- O senhor desculpe-me… é dextro? – perguntou Augustinho, recuando um passo.
- Ora essa! Sou dextro, pois!
- Escusar-me-á que o não cumprimente mas compreenda: nos dextros é a mão direita que se utiliza para as actividades de limpeza subsequentes às necessidades fisiológicas…
Posto na rua após dois ou três berros do furibundo comerciante, Augustinho lá se viu na contingência de explicar à mãezinha que o emprego se perdera porque “O Senhor Raimundo queria por força que eu lhe apertasse a mão com que limpa o rabo!”. A mãezinha suspirou e lá lhe foi ferver a chávena e fazer uma infusão de camomila para acalmar os nervos ao Augustinho.
Ora num dado dia, Augustinho lá cedeu à recomendação da mãe e foi dar um passeio pela vila. Quis o destino que se cruzasse com um ciganito de 12 anos que andava a vender pensos rápidos e o Borda d’Água e que ficava com a libido feita numa cama elástica quando sentia o cheiro do desinfectante. Sem que Augustinho se apercebesse muito bem do que se estava a passar, quando deu por si já o seu membro viril estava a ser gulosamente sugado pelo ciganito que, para maior distracção, se empalava num grosso talo de couve-galega. Augustinho, estulto mas pragmático, pensou de si para consigo: “Emporcalhado já estou, deixa lá isto ir até ao fim…” e o fim rapidamente chegou, beneficiando dos dotes do mocito e da rebarba do protagonista.
Retornado a casa, Augustinho estava nauseado e transtornado, carregado de culpa e imundície. Despiu-se o mais rápido que pode e agarrou em vários frascos de álcool etílico que foi despejando alternadamente sobre o corpo e sobre a roupa que trouxera vestida. Quando se sentiu mais refeito, foi à cozinha buscar os fósforos – nunca mais envergaria as vestes que haviam testemunhado a sua descida mais abjecta.
Nisto, vzzzzzzzzzzzt!
Moral 1: boa parte dos incêndios domiciliários resulta de acidentes e imprudências, em especial da falta de cuidado na proximidade entre combustíveis e fontes de combustão.
Moral 2: há várias instituições de solidariedade social que têm programas de recolha de roupa usada que é depois distribuída pelos pobrezinhos ou vendida na Feira da Ladra.
Havia, certa vez, um quarentão de voz titubeante e olhar esgazeado que vivia atormentado por toda a sorte de fobias. “Lá vai o maniento de merda!”, diriam uns; “Lá vai o Augustinho!”, diriam os mais educados. O diminutivo servia de certidão à sua condição de solteiro agarrado às saias – ou calças, por força das varizes – da mãe. Ao solteirio e às fobias, Augustinho aliava uma frontalidade que o mais das vezes se confundia – com alguma legitimidade – com a mais exemplar estupidez. E o povo que com ele convivia aceitava Augustinho como um curioso “apontamento de reportagem”, o “taradinho com medo das doenças”, inofensivo e fácil de menosprezar.
A pensão por viuvez que a mãe de Augustinho auferia lá ia dando para cobrir as despesas pois o “seu menino” não conseguia arranjar trabalho. A última tentativa tinha sido com um comerciante amigo do defunto Major Augusto que, por consideração para com a viúva, colocara a hipótese de empregar Augustinho nos seus escritórios. Bastaram dois minutos de entrevista para que o comerciante mudasse de ideias:
- Ora bom dia, Augusto! – disse o empresário estendendo a mão para apertar.
- O senhor desculpe-me… é dextro? – perguntou Augustinho, recuando um passo.
- Ora essa! Sou dextro, pois!
- Escusar-me-á que o não cumprimente mas compreenda: nos dextros é a mão direita que se utiliza para as actividades de limpeza subsequentes às necessidades fisiológicas…
Posto na rua após dois ou três berros do furibundo comerciante, Augustinho lá se viu na contingência de explicar à mãezinha que o emprego se perdera porque “O Senhor Raimundo queria por força que eu lhe apertasse a mão com que limpa o rabo!”. A mãezinha suspirou e lá lhe foi ferver a chávena e fazer uma infusão de camomila para acalmar os nervos ao Augustinho.
Ora num dado dia, Augustinho lá cedeu à recomendação da mãe e foi dar um passeio pela vila. Quis o destino que se cruzasse com um ciganito de 12 anos que andava a vender pensos rápidos e o Borda d’Água e que ficava com a libido feita numa cama elástica quando sentia o cheiro do desinfectante. Sem que Augustinho se apercebesse muito bem do que se estava a passar, quando deu por si já o seu membro viril estava a ser gulosamente sugado pelo ciganito que, para maior distracção, se empalava num grosso talo de couve-galega. Augustinho, estulto mas pragmático, pensou de si para consigo: “Emporcalhado já estou, deixa lá isto ir até ao fim…” e o fim rapidamente chegou, beneficiando dos dotes do mocito e da rebarba do protagonista.
Retornado a casa, Augustinho estava nauseado e transtornado, carregado de culpa e imundície. Despiu-se o mais rápido que pode e agarrou em vários frascos de álcool etílico que foi despejando alternadamente sobre o corpo e sobre a roupa que trouxera vestida. Quando se sentiu mais refeito, foi à cozinha buscar os fósforos – nunca mais envergaria as vestes que haviam testemunhado a sua descida mais abjecta.
Nisto, vzzzzzzzzzzzt!
Moral 1: boa parte dos incêndios domiciliários resulta de acidentes e imprudências, em especial da falta de cuidado na proximidade entre combustíveis e fontes de combustão.
Moral 2: há várias instituições de solidariedade social que têm programas de recolha de roupa usada que é depois distribuída pelos pobrezinhos ou vendida na Feira da Ladra.
Arrotos do Porco: