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Vareta Funda

O blog dos orizicultores do Concelho de Manteigas


sexta-feira, fevereiro 25, 2005

Microfábulas – IX

Havia, certa vez, uma zelosa funcionária pública, assistente administrativa em meio de carreira, sobre a qual pesava o fardo de ter sido apanhada, há já largos anos, em poses menos próprias com o seu Director de Serviços de então. Poucas coisas tanto perdurarão na função pública como a memória das falhas alheias e esta era uma falha que se passava de concurso de acesso em concurso de acesso, verdadeiro “facho olímpico” dos avisos sobre maus costumes e falta de vergonha – ou de cautela, dependendo do prisma. “Lá vai a Rainha do Sexo Anal!”, diriam uns; “Lá vai a Maria Eduarda!”, diriam os mais educados.
De nada valera a Maria Eduarda ter-se tentado defender, na altura, com os argumentos de que não era casada nem comprometida: ainda que o “Senhor Director” fosse divorciado, a imagem que ficava era a da jovenzinha lorpa que se deixara levar ao engano. “E logo por trás!”. De nada lhe valera ser diligente e dedicada no trabalho, com uma eficiência que aumentava rancores alheios e acusações de falta de solidariedade. De nada lhe valera pensar que, anos depois, aquando de uma licença de parto, a sua reputação ressurgiria impoluta – mal regressou, logo começaram os ditos de espírito e os remoques… “Não sabia que agora também se engravidava por detrás! Eh eh eh!”… De nada lhe valera coisa alguma: Maria Eduarda trazia na testa o ferrete do comportamento ignominioso, ferrete que a seguira nas mudanças de serviço e mesmo de instituição. “A Maria Eduarda não se havia de espantar. Estas coisas sabem-se, sabe como é…”, diriam as colegas de ocasião, antes e depois de se rirem nas suas costas – e bastava a expressão “rir nas suas costas” para que todas se lembrassem do ocorrido e rissem mais um bocadinho.
Já se não recordava Maria Eduarda de como ganhara imunidade aos dichotes, aos reparos, às insinuações. Fazia o seu trabalho porque dele precisava para o sustento, passando ali as horas estritamente necessárias, sem procurar um relacionamento amistoso, um espírito de equipa ou qualquer simpatia. Sentia-se uma peça num monólito que por vezes se assemelhava a uma engrenagem – imagem mental que nunca poderia partilhar com alguém sem temor de ouvir como resposta qualquer comentário sobre “peças bem oleadas” ou um outro surgido da vasta temática da lubrificação. Tentava dedicar-se a uma vida pessoal e familiar que pouco mais lhe dava que umas migalhas de alento e expiava o seu momento de fraqueza nas obras sociais da Igreja.
Num dado dia, estava Maria Eduarda a almoçar na cantina do organismo público em que trabalhava quando a seu lado se sentam duas colegas carregando tabuleiros com o mesmo peixe cozido com legumes que ela comia. “Isto nem de propósito, hein? À Maria Eduarda calhou-lhe uma posta do rabo, eh eh eh!”.
Nisto, vzzzzzzzzzt!

Moral 1: a qualidade de serviço nas cantinas públicas deixa muito a desejar, não sendo tão raros como isso os casos de intoxicações alimentares mais ou menos severas.

Moral 2: os locais de trabalho concebidos sob a óptica do “open space” poderão contribuir para que a convivialidade no exercício de funções não ultrapasse os limites tidos por socialmente aceitáveis.

Arrotos do Porco:

Estas tuas histórias continuam impagáveis, mene.

Eh, eh, eh!



Vareta, o sexo anal é uma coisa muito mal vista na Administração Pública. Vá-se lá saber porquê...
Mas tenho alguma pena da pobre moça ter sido fulminada (snif...)
Uma história bestial, como sempre.



Pois é, lá pela minha tasca há uma que ficou conhecida como "teresinha dos cavalos"... fosse ela à cantina... e que parte lhe calharia?




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