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Vareta Funda

O blog dos orizicultores do Concelho de Manteigas


quarta-feira, fevereiro 16, 2005

EPHEMEROPTERA

Foi no ano de 1799 que os naturalistas Alexander Von Humboldt e Aimé Bompland partiram num navio da armada espanhola em direcção à Nova Andaluzia. Passaram em Tenerife, onde subiram ao vulcão do Teide e pasmaram com o gigantesco dragoeiro de Icod, que ainda hoje existe. De Cumaná, chegaram a Caracas e a S. Fernando de Apure, de onde encetaram uma longa viagem pela floresta dentro, subindo o rio Orinoco até ao Rio Negro, na fronteira com o Brasil. Foi uma longa viagem de vários meses rio acima, na companhia de índios e missionários jesuítas portugueses, espanhóis e alemães de tez azulada por vidas inteiras de picadas de mosquitos e hábitos mal tingidos a desbotar na pele. O cão de Bompland foi comido por um jaguar e Alexander viu índios que comiam lama e lhe ensinaram a fazer curare. Os teodolitos, termómetros, lunetas astronómicas, instrumentos geodésicos, assim como as colecções de plantas e animais ainda incógnitos para o homem civilizado, enchiam muitos barris bem selados, em fila nas pirogas e que se perderam-se várias vezes. Uma vez, tiveram que passar das cabeceiras do Orinoco, pela densa selva, cerca de sessenta milhas de terra firme até atingirem o Rio Negro e neste porem novamente as embarcações a flutuar.

Cruzaram os Andes em muitos milhares de milhas, passando pelo desértico Chasco e subiram ao Monte Chimborazo, sob frios glaciais e com as roupas do século XVIII, até aos 6. 267 metros de altitude. Charles Darwin, sessenta anos depois e como amava profundamente a memória de Humboldt, fez da costa do Chile, a mesma ascenção e sofreu da puna – o mal de altitude – para ver o que o alemão engenheiro de minas viu: os esplendor da Amazónia passadas as enormes montanhas. Aimé Bompland acabou preso por sete anos, por suposta espionagem, no Paraguai e o amigo lamentou a sua perda até ao fim da vida. De regresso á Europa, partiu em 1825 para a Sibéria e os Montes Altai, na Ásia central, onde viu tigres e xamãs que lhe deram drogas visionárias extraídas de cogumelos.

Alexander Von Humboldt escreveu os relatos das suas viagens nas Visões da Natureza, na Narrativa Pessoal às Regiões Equinociais do Novo Continente e no Cosmos, uma obra em vinte cinco volumes, inacabada. Classificou, ordenou, descreveu e emocionou-se com as paisagens que viu. Lançou as bases de muitas ciências e mereceu a reverência de contemporâneos e de muitos depois dele. Um dia, já avançado em anos, trabalhava numa sala do Museu de História Natural de Berlim. Passava em revista uma ordem peculiar de insectos que têm asas apenas numa parte da sua vida, para depois as perderem e lembrou-se do dragoeiro e dos tigres. Lembrou-se dos macacos fumados que os índios guardavam nas tendas como reserva de alimento e única mobília. Lembrou-se, de em pleno llano, encontrar um homem, Carlos del Pozo, que inventou uma máquina eléctrica de grandes discos e baterias. Lembrou-se dos índios que já só falavam castelhano e andavam vestidos de branco na missão de Catuaro. Lembrou-se do amigo Bompland e do seu tiro certeiro, matando as aves que Humboldt depois classificava e nomeava de acordo com as as afinidades naturais. Lembrou-se do termómetro com que mediu a temperatura na cratera do Teide. Ao fim do dia, o secretário Willem, foi encontrá-lo nú, pálido, com os lábios azuis e já frio, caído aos pés do armário dos insectos sem asas. Dos Ephemeroptera. – aqueles que têm asas efémeras.


Arrotos do Porco:


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