terça-feira, outubro 26, 2004 |
PEQUENA HISTÓRIA (verídica)
Uma vez apanhei um táxi na cidade de Havana. Lá há dois tipos de tarifas: as que estão tabeladas e contabilizadas por um contador electrónico e as que são discutidas com o taxista. Tinha sido uma noite torrencial como já não se via em Cuba há algum tempo, com uma tempestade tropical a assolar a ilha. As ruas estavam molhadas e desconfortáveis e eu queria ir a esse tradicional bar/restaurante, sobejamente conhecido por ter dado guarida a muitas das bebedeiras que Ernest apanhou por lá.
Chegado ao pé do táxi, discuto com o motorista a tarifa para me levar ao destino.
«Três dólares daqui até à ‘La Bodeguita’» - proponho eu em castelhano.
«No, trés dólares, no» - responde ele.
«Entonces, quanto?» - pergunto eu.
«Trés dólares» - replica ele.
Uma vez apanhei um táxi na cidade de Havana. Lá há dois tipos de tarifas: as que estão tabeladas e contabilizadas por um contador electrónico e as que são discutidas com o taxista. Tinha sido uma noite torrencial como já não se via em Cuba há algum tempo, com uma tempestade tropical a assolar a ilha. As ruas estavam molhadas e desconfortáveis e eu queria ir a esse tradicional bar/restaurante, sobejamente conhecido por ter dado guarida a muitas das bebedeiras que Ernest apanhou por lá.
Chegado ao pé do táxi, discuto com o motorista a tarifa para me levar ao destino.
«Três dólares daqui até à ‘La Bodeguita’» - proponho eu em castelhano.
«No, trés dólares, no» - responde ele.
«Entonces, quanto?» - pergunto eu.
«Trés dólares» - replica ele.
Fiquei meio estupefacto mas decidi agarrar a oportunidade. Tinha sido uma negociação difícil, como podem compreender…
Já no táxi e a caminho do local, estando o motorista a fazer conversa de circunstância, do género «noite terrível, não se via chover assim há muito tempo, foi uma violência» e depois de nos ter tentado vender os «puros genuínos», vira-se para mim e para o meu irmão e sai-se com esta: «Los senhores no tendrán un cuarto de viagra que me puédan dispensar?».
Eu e o meu irmão, julgando não ter percebido bem, perguntámos em coro «Qué?»
«Si no tiénen un cuarto de viagra para mi. Puedo pagarlo» - diz o gajo.
«Foda-se, o gajo disse mesmo o que percebemos da primeira vez!» - pensámos nós, garantidamente, ao mesmo tempo.
«No senhor» - resposta novamente em coro e a olharmos um para o outro a sorrir com a doidice daquele país, vertida naquele tipo naquele preciso momento.
Terminado o percurso, deixámos o táxi e, depois de ele ter partido em busca de outro cliente, desatámos a rir à gargalhada. Nunca nos passaria pela cabeça aquela situação mas é compreensível, face ao estado das coisas numa das últimas das designadas «economias de Esquerda».