terça-feira, outubro 19, 2004 |
O TEXTO EM QUE EU NÃO EXPLICO PORQUE ESTIVE TANTO TEMPO SEM ESCREVER
i.
Os dois pastéis de bacalhau que hoje comi como entrada ao almoço repousavam sobre um belo pires de café da Delta. E porque é que eu vos falo do pires? Falo por que era um daqueles bem antigos, de quando o símbolo da Delta ainda era um grão de café humanizado, com olhinhos esbugalhados, sapatorros de atacadores e boina preta como símbolo de identidade regional. Confesso que não desgosto da publicidade de hoje em dia, em que qualquer gaja se despe e geme para provar o quão bom é qualquer produto anti-calcário para sanitas. Mas há em mim, algures entre o baço e o resto, uma costela de Peter Pan (o que é que foi?! antes de Peter Pan que de Sininho!) que tem umas certas saudades do tempo em que o Brise Contínuo falava e cantava. Foi-se a fábula, ficou a carne. Valha-nos isso, que ainda estamos longe da Quaresma.
ii.
Comprei um ou outro móvel no IKEA. Sim, confesso. Não percebo porque é que estes suecos não chegaram mais cedo a Portugal. Ou melhor, o IKEA devia ser português porque é português o espírito que lhe está subjacente: os móveis não são grande coisa mas fazem as mesmas vezes de uns melhores; aquilo não é bem madeira mas disfarça; a montagem nem sempre corre bem mas dá-se um jeitinho e aquilo aguenta-se; às vezes compra-se gato por lebre mas pelo menos não nos levam couro e cabelo. Um conceito empresarial a que se podem aplicar tantos chavões da sabedoria popular lusitana não devia ser pertença dos suecos!
iii.
Por falar nisso, alguém saberia o que era a Suécia antes dos ABBA? Mais: alguém saberia o que era a Roménia antes dos O-Zone? Ou Israel antes de Ytzar Cohen and the Alpha Beta?
iv.
Não fui a um certo almoço de sábado. E tive pena. Nesse certo almoço estavam várias pessoas que eu queria rever – pessoas capazes de gestos grandes e nobres e surpreendentes. Mas não pude. Podia invocar que fora censura do actual Governo, mas não. Apenas não pude.
v.
Amanhã tocam em Lisboa os Magnetic Fields. Que o mesmo é dizer: amanhã actua em Lisboa o Stephin Merrit. Que o mesmo é dizer: vai haver demonstração do mais puro génio musical a preços quase módicos na Aula Magna, a partir das 21h30. Que o mesmo é dizer: eu, que não sou (sempre) lorpa, lá estarei. Que o mesmo é dizer: nem que chovessem pregos eu deixaria de ir ouvir o gajo que é o verdadeiro cruzamento entre Rei Midas e um copo misturador de toda a música com maior ou menor qualidade dos últimos… 90 anos?
vi.
O Ferreira do Zêzere venceu o Benfica por 3-2 num jogo de treino de FUTSAL. Viva Ferreira do Zêzere.
vii.
Em Tomar é tempo de Feira de Santa Iria. Por todo o país, é tempo de apanha da azeitona. Fatos impermeáveis, mantas, caimbos, varas, cestas, sacas, tararas, lagares, ceiras, meduras, graus de acidez... Às vezes sabe-me bem lembrar-me que, no fundo, sou um homem do campo.
viii.
Também me sabe bem mostrar que domino a numeração romana.
ix.
Precisava de ter que dizer menos sobre certas coisas para arranjar mais tempo para pensar no que quero dizer.
x.
Por isso, por hoje, não digo mais nada.
i.
Os dois pastéis de bacalhau que hoje comi como entrada ao almoço repousavam sobre um belo pires de café da Delta. E porque é que eu vos falo do pires? Falo por que era um daqueles bem antigos, de quando o símbolo da Delta ainda era um grão de café humanizado, com olhinhos esbugalhados, sapatorros de atacadores e boina preta como símbolo de identidade regional. Confesso que não desgosto da publicidade de hoje em dia, em que qualquer gaja se despe e geme para provar o quão bom é qualquer produto anti-calcário para sanitas. Mas há em mim, algures entre o baço e o resto, uma costela de Peter Pan (o que é que foi?! antes de Peter Pan que de Sininho!) que tem umas certas saudades do tempo em que o Brise Contínuo falava e cantava. Foi-se a fábula, ficou a carne. Valha-nos isso, que ainda estamos longe da Quaresma.
ii.
Comprei um ou outro móvel no IKEA. Sim, confesso. Não percebo porque é que estes suecos não chegaram mais cedo a Portugal. Ou melhor, o IKEA devia ser português porque é português o espírito que lhe está subjacente: os móveis não são grande coisa mas fazem as mesmas vezes de uns melhores; aquilo não é bem madeira mas disfarça; a montagem nem sempre corre bem mas dá-se um jeitinho e aquilo aguenta-se; às vezes compra-se gato por lebre mas pelo menos não nos levam couro e cabelo. Um conceito empresarial a que se podem aplicar tantos chavões da sabedoria popular lusitana não devia ser pertença dos suecos!
iii.
Por falar nisso, alguém saberia o que era a Suécia antes dos ABBA? Mais: alguém saberia o que era a Roménia antes dos O-Zone? Ou Israel antes de Ytzar Cohen and the Alpha Beta?
iv.
Não fui a um certo almoço de sábado. E tive pena. Nesse certo almoço estavam várias pessoas que eu queria rever – pessoas capazes de gestos grandes e nobres e surpreendentes. Mas não pude. Podia invocar que fora censura do actual Governo, mas não. Apenas não pude.
v.
Amanhã tocam em Lisboa os Magnetic Fields. Que o mesmo é dizer: amanhã actua em Lisboa o Stephin Merrit. Que o mesmo é dizer: vai haver demonstração do mais puro génio musical a preços quase módicos na Aula Magna, a partir das 21h30. Que o mesmo é dizer: eu, que não sou (sempre) lorpa, lá estarei. Que o mesmo é dizer: nem que chovessem pregos eu deixaria de ir ouvir o gajo que é o verdadeiro cruzamento entre Rei Midas e um copo misturador de toda a música com maior ou menor qualidade dos últimos… 90 anos?
vi.
O Ferreira do Zêzere venceu o Benfica por 3-2 num jogo de treino de FUTSAL. Viva Ferreira do Zêzere.
vii.
Em Tomar é tempo de Feira de Santa Iria. Por todo o país, é tempo de apanha da azeitona. Fatos impermeáveis, mantas, caimbos, varas, cestas, sacas, tararas, lagares, ceiras, meduras, graus de acidez... Às vezes sabe-me bem lembrar-me que, no fundo, sou um homem do campo.
viii.
Também me sabe bem mostrar que domino a numeração romana.
ix.
Precisava de ter que dizer menos sobre certas coisas para arranjar mais tempo para pensar no que quero dizer.
x.
Por isso, por hoje, não digo mais nada.
Arrotos do Porco:
Apenas um comentário lateral a propósito do pires da "Delta". É talvez uma empresa única em Portugal pela sua filosofia de proporcionar bem estar a todos os seus colaboradores. Lembro uma frase de Rui Nabeiro na SicNotícias. Perguntado se não poderia maquinizar mais a empresa, respondeu que sim, mas que isso iria retirar postos de trabalho. Mesmo preferindo outras marcas de café, ninguém me verá recusar um Delta! |
Peter Pan e Sininho são as personagens que eu e o homem por quem sou maluca encarnamos na nossa (tempestuosa) relação. Beijo... |